Helen Lopes
Nos próximos seis anos, pelo menos dez empreendimentos de grande porte devem modificar a Orla do Guaíba, entre a Usina do Gasômetro e a Iate Clube Guaíba (Ponta do Dionísio). São eles o Barra Shoping Sul, o Museu Iberê Camargo, o Pontal do Estalerio, a ampliação do Sport Clube Internacional, bem com do Shopping Praia de Belas e a possivel construção do novo Teatro da Ospa, ao lado da Câmara Municipal.
Também há a proposta de instalação de uma marina pública, da nova sede do Foro Central e de um monuneto de Oscar Niemeyer. Especula-se ainda a construção de um condomínio no terreno onde hoje é a Fase, na Padre Cacique. Ainda que alguns ainda dependam de aprovação da Câmara, esses dez empreendimentos devem se somar ao projeto de revitalização da Orla da Prefeitura, dando uma nova face ao espaço.
A circulação de diária deve aumentar em até 50 mil pessoas, além do crescimento do fluxo de automóveis – serão no mínimo mais 11 mil vagas, somando apenas as iniciativas já em andamento.
Até hoje, esses empreendimentos e os impactos decorrentes foram analisadas de forma individualiza, gerando distorções e comprometendo a infra-estrura. O que pode mudar a partir de um estudo inédito que está sendo feito pela Prefeitura. Solicitação antiga do Conselho de Desenvolvimento Urbano, o trabalho irá estabelecer diretrizes gerais para a região e envolve técnicos da SPM, SMOV, EPTC, SMAM E DEP. “Pretendemos olhar essa região da cidade de forma global, pensando na malha viária, na drenagem, na questão ambiental, no saneamento em todos os pontos”, garante o secretário de Planejamento José Fortunati.
Movimento comunitário questiona “revitalização”
A falta de infra-estrutura é a principal preocupação das associações comunitárias. Moradora da Coronel André Belo, no Menino Deus, Odyla Tiecher teme que a região não aguente tanto movimento. “Ninguem nos apresentou os projetos. Estamos preocupados com ruas como a Marcílio Dias e a Bastain, arborizadas e com pouco trafego”, diz ela.
O presidente do Movimento Porto Alegre Vive, arquiteto Nestor Nadruz, também reivindica mais clareza nos projetos. “Não há esclarecimento sobre a questão das alturas. É uma grande confusão uma hora pode outra não”.
Ele critica o impacto ambiental e a descaracterização que prédios altos podem ocasionar à Orla. “Fala-se muito, mas por enquanto, nada pode ser feito porque a área é protegida por decreto. O Barra Shopping é uma exceção porque foi aprovado nos anos 80”.
O arquiteto lembra ainda que o poder municipal já modificou a lei para permitir um empreendimento na área do Estaleiro Só. “Em 1994, a proposta previa quatro andares, sem moradia, agora passou para 14 e não sabemos qual é a justificativa?”, diz ele.
Projetos avançam
O projeto mais adiantado é o Museu Iberê Camargo, no final da avenida Padre Cacique. O prédio começou a ser erguido em 2003 e deve ser inaugurado no dia 30 de maio. Além do acervo do artista, o prédio abrigará livraria, café e uma garagem subterrânea com 100 vagas.
Quase em frente, no terreno do antigo Estaleiro Só, está a proposta mais polêmica: o Pontal do Estaleiro. Aprovado pela Secretaria de Planejamento Urbano (SPM), o pré-projeto do arquiteto Jorge Debiagi e da SVB Participações prevê a construção de cinco torres residenciais de até 14 andares, com 220 apartamentos, além de prédios comerciais, hotel com 200 unidades, marina e estacionamento para mais de 1.400 veículos. Haverá ainda uma esplanada de 700 metros de cumprimento por 50 metros de largura, que será aberta ao público.
Estimado em R$ 250 milhões, o complexo depende de uma lei especifica que autorize a construção de unidades habitacionais na Orla, proibida pelo Plano Diretor. A alteração já está tramitando na Câmara, através de um projeto apoiado por 17 dos 36 vereadores. Na quinta-feira, 8 de maio, a proposta recebeu parecer favorável da Procuradoria da Casa e segue em tramitação. “Diminuímos a possibilidade de índice construtivo que fica em uma vez e meia a área do terreno. Já a altura pode ser de até 43 metros, para não tapar a visão do morro”, elucida o vereador João Carlos Nedel, um dos signatários do projeto.
A menos de cem metros do Estaleiro Só, o maior centro comercial da cidade começa ganhar forma. O Barra Shopping Sul irá se integrar ao Supermercado Big e terá 247 lojas, além de um complexo de eventos e estacionamento para 2.700 carros. Em discussão dede a década de 80, o shopping deve abrir as portas em setembro.
Em contrapartida à cidade, a empresa responsável pela obra, a Multiplan Empreendimentos Imobiliários, irá remanejar as famílias que moram de forma irregular ao lado do Hipódromo Cristal e duplicar a avenida Diário de Notícias, entre o Estaleiro Só a via Wenceslau Escobar.
A avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio), entre a Ipiranga e o Estádio Beira-Rio, também será alargada. A obra será feita com recurso federal e municipal e deve iniciar ainda em 2008. Essas ampliações visam atender ao aumento do tráfego de veículos na região, que ainda irá receber o projeto Gigante para Sempre do Sport Clube Internacional.
Mirando a Copa do Mundo de 2014, o clube planeja a ampliar o seu complexo esportivo. No início de março, a Prefeitura concedeu uma área de cerca de 43 mil metros quadrados no entorno do clube para a realização do projeto, que visa a construção de um estacionamento para três mil carros ao lado do Gigantinho “com altura inferior a copa das árvores” e do outro lado, embaixo do que hoje são os campos suplementares, uma garagem com 2.500 vagas. Ainda há previsão de um ou até três edifícios para hotel e centro de tratamento físico.
Outra iniciativa que vem avançando é a ampliação do Shopping Praia de Belas, também já aprovada pela SPM. Será um prédio comercial de 15 andares e um edifício-garagem com 1.800 boxes em frente, na avenida Praia de Belas, entre a Marcílio Dias e a Bastian, com uma passarela ligando ao shopping.
A instalação de uma nova Marina Pública, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho também é prometida. A obra aguarda recursos federais e deve ser viabilizada via Parceria Público-Privada. De acordo com a Prefeitura, o usuário não precisará ser sócio de um clube para utilizar o espaço e os preços deverão ser mais baixos do que os nas marinas privadas.
Próximo ao Anfiteatro Pôr-do-sol, deve ser instalado ainda um monumento do arquiteto Oscar Niemeyer homenagem aos políticos Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. O Caminhos da Soberania terá três metros de altura.´
Relatório busca Integração
Desde o início do ano, a Prrefeitura está promovendo a apresentação “Relatório da Orla” Finalizado em dezembro do ano passado
O estudo, elaborado por técnicos da Secretaria do Planejamento, com apoio de outros órgãos do governo municipal, foi realizado durante dois anos. Nesse período, os 70km da Orla do Guaíba foram analisados, mas com foco principal no trecho que vai da Usina do Gasômetro à Ponta do Dionísio, área próxima ao terreno onde está sendo construído o Barra Shopping Sul. “Optamos por focar as ações nessas localidades, pois é neste percurso que se encontra a cidade mais consolidada e com maior circulação de pessoas”, explicou o coordenador do estudo, arquiteto Marcelo Allet.
A intenção do trabalho é devolver a orla à cidade. A história do afastamento do porto-alegrense do Lago Guaíba começa nos anos 20, com a construção do Porto, que criou uma barreira física linear. Após isso, os diversos aterros realizados na área afastaram ainda mais a população da orla. A situação tornou-se ainda mais grave devido à grande enchente de 1941, que obrigou a implementação de um sistema de proteção contra enchentes, com a construção do muro da Mauá e de diques ao longo do trecho.

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