Para onde vai a União Européia?

Daniel Vernet

A União Européia enfrenta uma tripla crise: financeira, econômica e política. Não é a primeira vez, e a própria história de construção dessa união foi gerada através de crises, sempre tendo como estratégia a paz e a prosperidade. Mas, depois de 2007, em decorrência das subprimes (bolha imobiliária) americana e, no momento atual, da quase falência grega, a crise parece mais grave do que as outras. Para o ex-diretor de redação do Jornal Le Monde, Daniel Vernet, a pergunta é se: “essa crise vai reforçar ou destruir a União Européia?”
Um grande e suarento público assistiu, atentamente, ontem (quarta, 08), no Studio Clio, a palestra do jornalista francês Daniel Vernet, editor do site político Boulevard Exterieure, que veio a Porto Alegre a convite da Aliança Francesa.
Vernet analisa que a crise grega é profunda, mas não significa uma sentença de morte para o projeto europeu: “agora, neste momento, há negociações em Atenas para saber se os países da União Européia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) vão conceder uma ajuda de 130 bilhões de Euros a Grécia”.
Segundo o jornalista, os 16 países da zona euro estão diante de um problema que não havia sido cogitado quando a moeda única foi criada em 1992, por ocasião do Tratado de Masstricht. Nele ficou estabelecido que – em relação ao PIB de cada país membro – o déficit orçamentário não deveria ultrapassar três por cento e a divida global poderia alcançar no máximo 60 por cento. “Ora, a Grécia chegou a uma situação de quase falência com um déficit de 13 por cento e um divida global equivalente a 160 por cento do PIB. Então, o dilema: salvar a Grécia, acarretando que todos paguem por um problema dos gregos; ou não, correndo-se aí o risco de levar a crise aos demais países da zona do euro”, destacou Vernet.
Ele acrescenta que deverá ser criado um Fundo Monetário Europeu, nos moldes do FMI, mais flexível e abrangente do que o Banco Central Europeu (inspirado no Deutche Bundesbank), o que permitirá a realização de empréstimo de dinheiro aos países da zona euro.
Para ele, o problema da Europa é a falta de competitividade em comparação a países emergentes, como o Brasil. Claro, há exceções, caso da Alemanha, que tem um excedente em sua balança comercial de 200 bilhões de euros, enquanto a França, ao contrário, tem um déficit de 70 bilhões de euros. Entretanto, Vernet salienta que a situação alemã não é imutável: “o superávit alemão se deve ao mercado europeu. A Alemanha tem um déficit de 22 bilhões de euros em relação à China. Isso quer dizer que se a Europa afundar a Alemanha vai junto. Portanto, o modelo alemão, de extremo rigor orçamentário, é discutível”, enfatizou Vernet.
Por outro lado, ele aponta que a crise política remete a uma crise de valores como, por exemplo, em relação ao desejo de integração entre os próprios países membros da União Européia, embora isso ocorra com intensidades diferentes. “Por outro lado, há nações que, apesar de tudo, ainda percebem a União Européia como uma zona de paz e prosperidade, caso da Croácia, que em 2013, se tornará o membro número 28”, ponderou.
Essa crise de valores, segundo o jornalista, explica o crescimento do populismo, cujos aderentes colocam a integração e a moeda única como responsáveis pela maior parte dos problemas.
E o que irá acontecer com a União Européia nos próximos anos?
Embora não se possa descartar a implosão da União Européia, Vernet aposta numa hipótese mais otimista, que compreenderia “o estabelecimento de uma federação, com governo e parlamento democrático representando o conjunto da população européia, com uma espécie de senado que representaria os estados nacionais”.
Em todo o caso, a União Européia dificilmente conseguirá para os seus membros o padrão de prosperidade e bem-estar social construído entre 1957 e 1987, período denominando como “os 30 anos gloriosos”, e que (após o final da guerra fria e a queda do muro de Berlim), achou-se possível expandir para os países da Europa do leste e central. “Mas o outro fundamento, a paz, parece estar mais garantido”, concluiu Vernet.
Por Francisco Ribeiro

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