Helen Lopes
Mesmo com indicadores sociais acima da média nacional, o Rio Grande do Sul está na mira do tráfico internacional de seres humanos. Na maioria mulheres adultas e adolescentes entre 12 e 16 anos, elas são aliciadas em pelo menos oito cidades do Estado – Uruguaiana, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Santa Maria, Rio Grande, Itaqui, Erechim e Porto Alegre.
As informações foram divulgadas nesta terça-feira (6/6) e compõem a pesquisa “O Tráfico de Seres Humanos Para Fins de Exploração Sexual no Rio Grande do Sul”, que faz parte do projeto “Medidas contra o Tráfico de Seres Humanos no Brasil”, do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), com apoio do Ministério da Justiça e da Secretaria da Justiça e da Segurança do Rio Grande do Sul.
Em Uruguaiana e Caxias do Sul, entre 1996 e 2004, foram registrados sete inquéritos policiais. Somente em um houve condenação. Nas outras cidades citadas, as ocorrências foram informadas por Organizações Não Governamentais. Na maioria dos casos, as mulheres estão em estado de vulnerabilidade social – baixa escolaridade, estão desempregadas e têm filhos. Elas são enganadas, na maioria das vezes, com propostas de emprego ou por “namorados”, que na verdade são agenciadores. Existem também dificuldade na identificação dos casos, pois quando são descobertos antes do embarque, são registrados como estelionato.
Por fazer fronteira com outros países, o Rio Grande do Sul é alvo dos grupos criminosos. “A existência da trama de operacionalização do crime organizado nas fronteiras potencializa a ocorrência desses delitos”, sustenta a coordenadora da pesquisa, Jacqueline Oliveira Silva, professora de Ciências Sociais da Unisinos. A pesquisa aponta que o tráfico de pessoas pode estar relacionado com o tráfico de drogas, armas e mercadorias. Mas a pesquisadora não confirma: “As rotas coincidem, sobrepondo os mapas fica claro, porém, é preciso mais estudos neste ponto”.
De acordo com o levantamento, existem duas rotas de destino: uma para Ásia (em locais como Hong Kong) e outra para países da Península Ibérica (Portugal e Espanha). Há também países do Mercosul, que se apresentam tanto como lugares de passagem quanto de destino, como a Argentina.
Outra questão levantada pela pesquisa é a relação entre as estatísticas de pessoas desaparecidas e o tráfico seres humanos. Em todos os municípios onde há tráfico, o número de desaparecidos é grande e são na maioria mulheres adolescentes. Um exemplo apontado é em Caxias do Sul, onde se observou queda no número de desaparecidos depois da descoberta da Conexão Hong Kong (esquema de tráfico de adolescentes desvendado em 1997).
O estudo foi feito a partir da analise dos inquéritos policiais existentes no Estado sobre o tema, de questionários aplicados em membros de ONGs, e órgãos governamentais, matérias de dois jornais diários de grande circulação (Zero Hora e Diário Gaúcho) e de outras pesquisas nacionais. Os dados foram coletados entre outubro de 2004 e maio de 2005.
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