Política externa de Bolsonaro vai sofrer "choque de realidade", diz pesquisadora

Sobressaltos. É a palavra que tem sido usada para sintetizar as reações causadas nos meios diplomáticos pelas declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro e seus ministros sobre assuntos internacionais.
O superministro, Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” do presidente, produz sobressaltos ainda maiores entre os exportadores  e outros agentes econômicos, que dependem  boas relações internacionais para a estabilidade de seus negóciuos.
Além das declarações polêmicas e anti-diplomáticas, as incertezas aumentam com as contradições entre o que dizem os ministros, com o que diz o presidente inclusive.
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, por exemplo,  na semana passada em várias declarações desqualificou afirmações de Bolsonaro sobre questões relacionadas à China, Israel, Venezuela e outros temas.
“Não podemos nos descuidar do relacionamento com a China”, disse Mourão referindo-se às manifestações do presidente eleito de que o Brasil deve se alinhar mais aos Estados Unidos, afastando-se da influência chinesa.
A questão do Mercosul, o mercado comum entre Brasil e seus vizinhos do Cone Sul, é outro ponto preocupante. A futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, defendeu na semana passada a revisão dos fundamentos do bloco sul-americano.
A pesquisadora Miriam Gomes Saraiva, do departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), acredita que, depois da posse,  essa  inclinação de Bolsonaro e seus auxiliares para uma política externa ideológica, de aproximação com os EUA e distanciamento de países identificados como de esquerda, sofrerá um “choque de realidade”.
“Quando começar o exercício do governo, ele vai esbarrar em questões bastante pragmáticas, a começar pela reação de parceiros externos, como a China”, diz a pesquisadora.
O outro elemento que deverá chamar o futuro governo à realidade é o que a professora chama de “custos internos”, caso do Mercosul.
A proposta da deputada Tereza Cristina (DEM-MS), da bancada ruralista no Congresso, contra a tarifa externa comum do Mercosul pode agradar produtores de uva e arroz brasileiros, mas está longe satisfazer as expectativas da indústria, principalmente de São Paulo e da Zona Franca de Manaus.
As declarações desencontradas dos ministros, do presidente e vice-presidente eleitos mostram que o futuro governo “é como uma colcha de retalhos”, diz Miriam.
“O diplomata Ernesto Araújo (Relações Exteriores), alguns militares, o Moro, por exemplo, estão desconectados entre si e não têm uma linha partidária. Então, o governo dele vai ser uma enorme queda de braço.”
Não imediatamente, mas na medida em que a realidade se imponha, a política externa de Bolsonaro deve se dobrar à realidade e aproximar do tradicional. “Não será, creio , de enfrentamento com árabes, China e outros, porque isso provocará problemas sérios.”
Enquanto Bolsonaro e futuros ministros dão declarações polêmicas e se desmentem mutuamente, os parceiros comerciais, vizinhos ou distantes, se movimentam.
Nesta sexta-feira (23), a manchete do diário argentino El Clarín online destaca encontro entre o presidente do país, Mauricio Macri, e o embaixador da China no país, Yang Wanming.
O aperto de mão serviu para confirmar o acordo entre Buenos Aires e Pequim, que deve ser assinado em 2 de dezembro, com um “plano de ação entre os dois países para os próximos cinco anos”, diz o jornal.
A China criticou duramente Bolsonaro no dia seguinte à eleição, em editorial no jornal estatal China Daily, sobre o propalado distanciamento entre o Brasil e o país asiático e o alinhamento com Washington.
A China é o principal parceiro comercial do país. Em 2017 o Brasil exportou aos chineses 47,5 bilhões de dólares e importou 27,3 bilhões. O superávit é da ordem de 20,2 bilhões de dólares.
Com o Mercosul, o Brasil também acumula superávit importante em 2017, com exportações de U$ 22,6 bilhões e importações de U$ 11,9 bi (saldo positivo de U$ 11,7 bilhões).
E com a Argentina, a balança também é favorável, com vendas de U$ 17,6 bilhões e compras de U$ 9,4 bi. Saldo de U$ 8,2 bilhões em 2017.
Para Miriam Gomes Saraiva, é possível que o futuro chefe do Itamaraty, de início, faça mudanças, “até que a moderação e os contrapesos o puxem para a normalidade”.

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