Ponto de Cultura movimenta comunidade GLBT

Alexandre Böer comemora as novas instalações (Fotos: Naira Hofmeister/JÁ)

Naira Hofmeister
Uma casa ampla, de dois pisos na rua Jacinto Gomes, 378 (bairro Santana) deve ser o novo local de encontro do público homossexual de Porto Alegre. O Ponto de Cultura GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgêneros) mantido pelo Grupo Somos – Comunicação, Saúde e Sexualidade é o primeiro local voltado ao estudo e discussão da cultura gay no Estado.
“A cultura tem sido muito importante para enxergar a sexualidade de forma diferente, sem moralismo”, acredita Alexandre Boër, coordenador do espaço e militante da causa gay.
A primeira atividade do local foi a abertura da mostra Um olhar atrás das cores, do fotógrafo Walter Karwatsky, um ensaio fotográfico em preto e branco, feito na Parada do Orgulho Gay, em 2005, no Parque Farroupilha.
Além da mini-galeria, que vai abrigar exposições como a de Karvatski, a casa conta com um espaço multimídia, biblioteca e acervo de filmes em VHS e DVD, que abordam a sexualidade ou produzidos por artistas homossexuais. Entre os títulos podem ser encontradas obras de Truman Capote ou Andy Wharol. O catálogo de filmes transita entre clássicos como A Cor Púrpura, de Steven Spielberg, Beleza Roubada, de Bernardo Bertolucci, até o recente O Segredo de Brokeback Mountain, do diretor Ang Lee, que narra um romance entre caubóis homossexuais.
Mesmo dedicado especialmente à comunidade GLBT, o Ponto de Cultura também está aberto a heterossexuais. “A nossa lógica é sempre a da inclusão, nos interessa desmistificar essa crença de que gay é apenas sexo”, resume Alexandre.
O atendimento ao público acontece de segunda à sexta-feira, das 14h às 19h, e os empréstimos gratuitos de material podem ser feitos mediante a apresentação da identidade e comprovante de residência para o cadastramento.
Mudança para ampliar atendimento
Depois de cinco anos na Voluntários da Pátria, a sede do Grupo Somos se transfere para a Jacinto Gomes em busca de acessibilidade e espaço: “Mudamos para proporcionar esse Ponto de Cultura”, conta Boër. Também foi instituído o Centro de Referência Adelmo Turra, que homenageia o histórico militante morto em 1995, e que propõem a reflexão sobre a homossexualidade.

A biblioteca contém um acervo sobre homoerotismo e sexualidade

No espaço, além das atividades culturais, seguem acontecendo os projetos de apoio e debate da causa gay no Estado. Um dos mais importantes, na visão do coordenador do Ponto de Cultura, é o trabalho desenvolvido com profissionais da educação pública do Estado: “Há muitos professores que não sabem como lidar com a homossexualidade na sala de aula”.
Há também uma atividade de fomento à criação de novos grupos no interior do Estado. “Não interessa ao SOMOS ser uma organização super forte e centralizadora”. Para combater isso, já foram selecionadas 30 lideranças do interior do Estado, que receberão capacitação e apoio logístico para formação de novos núcleos de debate a apoio da causa gay.
“Explicamos que eles devem estar atentos às atividade nas Câmaras de Vereadores de sua cidade, propor projetos e acompanhar os Conselhos Municipais, de saúde ou direitos humanos, por exemplo”. A idéia é levar as atividades do Ponto de Cultura de Porto Alegre a essas futuras sedes GLBT no Estado, realizando exposições itinerantes, debates e conversas sobre a questão homossexual. “Já temos alguns parceiros, entre eles, a própria UERGS”, comemora Alexandre.
Preconceito: uma questão histórica
Com as atividades do Centro de Cultura GLBT e do Centro de Referência Adelmo Turra, o que pretende o SOMOS é ampliar a conscientização da sociedade perante os gays. “A sexualidade não é uma escolha, é um imperativo”, prega Bôer. O militante acredita que, ainda hoje, muitos gays desenvolvem relações heterossexuais por pressão e medo da sociedade. “É inacreditável que as pessoas se assustem mais com dois homens se beijando do que se dando tiros”, exemplifica.
A causa também não se restringe ao Estado. Interligados com organizações semelhantes em todo o território nacional, os representantes do SOMOS coletam dados e experiências de sucesso: “Segundo um grupo da Bahia, a cada dois dias um homossexual é morto por sua orientação sexual”. A atual bandeira é de apoio ao projeto da deputada federal Iara Bernardi (PT/SP), que criminaliza a homofobia.
“Sabemos que não é isso que vai mudar a cabeça de um preconceituoso, mas ao menos, essa pessoa vai pensar duas vezes antes de chamar alguém de veado ou bichinha”, protesta. Para Boër, o que incomoda é que ambas as práticas sexuais possuem obrigações iguais, mas não ganham os mesmos direitos. “Homossexual é obrigado a votar, a pagar impostos, tem os mesmos deveres do resto da população, mas não têm amparo legal para casar, por exemplo”.
Há ainda a luta pelos direitos dos gays em todo mundo. Segundo o militante, a homossexualidade é crime em oito países. “No Irã, dois gays foram enforcados recentemente por se amarem”, lamenta. Para Alexandre, a Igreja é uma das principais responsáveis pela criação e manutenção do preconceito. Ele refere à Antiguidade Clássica, quando a homossexualidade era aceita com naturalidade, por exemplo. “Temos que entender que isso faz parte de um processo histórico, que passa pela criação do pecado e posteriormente, pela taxação de doença”.
Boër narra páginas desconhecidas da II Guerra Mundial, onde, junto com judeus, homossexuais e ciganos foram encarcerados nos Campos de Concentração. “Depois que a guerra acabou, os judeus que restaram foram libertos, mas os gays, continuaram presos por que era crime ter uma sexualidade diferente”. Foi para fugir desse processo que um médico declarou pela primeira vez que a prática era uma doença: “Doentes não podem ser presos”.
Alexandre não vê razões para estudar a ‘causa’ da homossexualidade, mas luta simplesmente pela aceitação e respeito aos gays na sociedade. “Sempre pesquisa-se o desvio, ou seja, parte-se do pressuposto de que os heteros são normais. Porque nunca se pesquisou a origem da heterossexualidade?”, ironiza.

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