Porto Alegrona


Diretores utilizaram o olhar de diversos porto-alegrenses para compor a narrativa da obra (Foto: Naira Hofmeister)

Naira Hofmeister

Contar e fazer história ao mesmo tempo, uma premissa do jornalismo que foi aproveitada por Cícero Aragon e Jaime Lerner na montagem do longa-metragem Porto Alegre, meu canto do mundo, que teve pré-estréia esse ano mas só deve ser lançado comercialmente em 2007. “É um tema muito vasto e não queríamos fazer um filme institucional nem um almanaque da cidade. Mas tinha que ser numa linha, que acabou sendo um olhar especial sobre a cidade, que é construído pelos depoentes”, define Lerner.

A produção cativou o público mostrando criatividade na hora de falar sobre um tema que tem tudo para cair no clichê. Já nas primeiras cenas, o espectador é surpreendido por uma narrativa emocionante de Saint Hilaire, que, lá pelos idos de 1835, anotava a tomada da cidade pelo exército Farroupilha. As imagens porém, focam o gramado do Beira-Rio, o estádio lotado e as torcidas gremista e colorada disputando a batalha contemporânea do futebol. Passado e presente se unem na polaridade gaúcha.

“Temos uma história de confrontos dramáticos em que a cidade foi o palco. Fomos ligando esses conflitos, que, hoje, graças a Deus, se decidem muito mais no campo de futebol”, brinca Lerner.
As belíssimas imagens aéreas captadas por uma lente olho-de-peixe são um dos destaques da obra – a fotografia do filme é com certeza um ponto alto. “É uma perspectiva muito diferente, a qual as pessoas não estão acostumadas”, compara Lerner, que, além de dividir a direção com Cícero Aragon, assina também a fotografia.

A narrativa ganhou ares experimentais, intercalando poesias, músicas e a voz de personalidades locais – com textos relacionados às imagens. A panorâmica sobre a avenida Osvaldo Aranha, por exemplo, dispensa explicações, já que a trilha sonora escolhida é “Berlim, Bom Fim”, de Nei Lisboa. “Os velhos nos cafés/O Bar João em plena Kriegstrasse/A saga violenta desse parque/O cinza da cidade partido verde ao meio (…) E depois da meia-noite/A fauna ensandecida do Ocidente/Digitando em frente ao Metropol/Berlim, Bom Fim”.

Entre cenas documentais e de ficção, imagens de arquivo se misturam com o perfil atual da cidade e comparam mais de dois séculos de história, costurados por depoimentos de moradores sobre os lugares que construíram a cultura e a sociedade porto-alegrense. Entre os entrevistados estão Luiz Antonio de Assis Brasil, Moacyr Scliar, Luis Fernando Verissimo, Sérgio da Costa Franco, Arthur de Faria e Sandra Pesavento.

Tem ainda Eva Sopher e seu Theatro São Pedro e Giba-Giba no Areal da Baronesa, com uma paradinha estratégica no Beco do Mijo. Os 234 de Porto Alegre são permeados pela tradição de uma cidade sempre provinciana mas hoje (será?) também cosmopolita. “O filme é honesto por não mostrar uma imagem marginal ou oficial. Simplesmente dá informações que permitem várias percepções da mesma historia”, opina Cícero Aragon, que também produziu o documentário.

A primeira montagem teve quatro horas de duração, mas o corte final resultou num filme com pouco mais de 60 minutos. “Esse período do trabalho foi cruel. Depoimentos preciosíssimos ficaram fora”, lamenta Lerner. O famoso Lambe-Lambe do Brique, por exemplo não figura no material final.
O resultado é um filme que, sem ser generalista nem extremamente pessoal, mostra a construção da cidade e sua população, retomando momentos históricos, como o movimento da Legalidade. Porto Alegre, meu canto do mundo recria a identidade da Capital. “As pessoas que conversaram com a gente acharam realmente uma radiografia da cidade, com seus pontos altos e baixos, ricos e pobres”, orgulha-se Aragon.

A cópia exibida nos cinemas ainda não é definitiva, e o atual formato digital deve ser passado para película com a adesão de uma nova leva de apoiadores. Além do cinema, o filme deve ser exibido na TV por assinatura e terá cópias distribuídas em escolas e embaixadas.

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