Já estão na Câmara de Vereadores os seis projetos do Executivo que mudam as regras no transporte público de Porto Alegre, com redução das isenções, fim da obrigatoriedade do cobrador e aumento do prazo para renovação dos ônibus.
Nesta entrevista ao JÁ, o diretor-presidente da empresa, Marcelo Soletti, explica as medidas, endossando o discurso do prefeito Nelson Marchezan Júnior de que “o sistema de transporte coletivo da capital gaúcha está falido”.
Falido, esse é o adjetivo certo para o sistema de transporte de Porto Alegre?
Realmente o sistema está muito mal. Este ano tivemos devolução de quatro táxis, uma linha de lotações que vai deixar de operar e tem linhas da Zona Norte para serem entregues também, que não conseguem operar porque tem queda grande de passageiros, pela crise econômica, questões de segurança… uma série de fatores.
A cidade está fora da curva na questão das isenções. A média brasileira é 21%, nós estamos em quase 36%. O pagante diminui, o não- pagante aumenta e o resultado final é o preço da tarifa. Então a gente precisa achar mecanismos para mudar este cenário.
Com estas medidas de reduzir isenções e gratuidade, não há o risco de cair ainda mais o número de passageiros?
A grande maioria das pessoas não terão prejuízo. O estudante que usa segunda passagem não vai ter prejuízo. A segunda passagem vai pesar para 7% dos usuários que tem vale transporte (pesa para as empresas) e aqueles 4% que é autônomo, que paga separado. Vamos trabalhar para não perder o passageiro da segunda passagem.
A EPTC tem uma avaliação de pra onde vai o usuário? Que medidas a EPTC estuda para trazê-lo de volta?
Só para ter um exemplo, se Porto Alegre voltasse ao patamar nacional de 21%, teríamos 15% de desconto, a tarifa seria R$ 3,55. É um valor razoável para um serviço de transporte coletivo e foge um pouco da competição com aplicativos.
Mas não há garantia de que a retirada de isenções reflita em redução para o próximo ano?
Não tem como garantir redução, o que pode garantir é que tirando, o impacto será menor. O idoso, por exemplo, continua com o benefício, não entram mais beneficiários. Ah, é três centavos por ano, faz diferença? Ao longo de 5 anos são 15 centavos, a vida útil são 25 centavos, cobrador são 75 centavos. Vai fazendo o somatório ao longo do tempo, daqui a pouco nós temos um valor razoável de redução.
Quê mais temos que fazer? Tem uma força-tarefa que reduziu em 42% os assaltos a ônibus nos primeiros seis meses de 2017. É uma melhoria, está voltando a ter alguma segurança. É um trabalho na segurança, na melhoria dos terminais, paradas de ônibus, é um conjunto de fatores. A questão do reconhecimento facial. Hoje a gente tem de 8 a 18% de fraude, de 12 a 24 centavos. Vamos implantar o reconhecimento facial e acabar com a fraude.
A questão do GPS, tu poder saber se teu ônibus vai passar em dez minutos ou em uma hora, chegar na parada e saber que ele vai passar, é um ganho enorme.
O projeto que isenta os idosos a partir dos 60 anos, é uma lei de 1985, quando a expectativa de vida média era 62 anos. A expectativa era que as pessoas usassem na média dois anos o benefício. Hoje, as pessoas vivem até os 74, então as pessoas usam este benefício por cinco anos e mais nove a partir dos 65.
E tem estudante que a família tem renda de 10, 15 mil, será que não tem como contribuir?
O primeiro desequilíbrio do sistema começou com a segunda passagem. Não é a responsável pela situação da Carris. Mas até 2010 ela nunca deu prejuízo. Em 2011 quando entrou já deu R$ 6 (milhões).
Foi mesmo a gratuidade da segunda passagem que pesou mais forte nos prejuízos da Carris?
Sim, sim. Até porque ela é a que mais transporta. Infelizmente naquela época a segunda passagem não foi suportada pelo sistema. A primeira coisa que tem que preocupar é uma tarifa justa. Tem que ter tarifa barata para trazer gente. Depois, tu tem que agregar qualidade. Se tu puder ainda dar integração, aí é o sistema perfeito.
Se tu aumentar o passageiro pagante, todo mundo vai pagar menos e talvez fique atrativo para quem largou o ônibus. Agora, se continuar aumentando isento, daqui a pouco vamos ter 50% de isenção… Vou dar um exemplo, se no ano anterior tivesse menos passe livre – tiveram oito, vacinação duas, eleição duas, Navegantes… Se tivesse três a menos, já baixava a passagem a R$ 4. É psicológico também, tu reduz cinco centavos, faz diferença.
Mas o passe livre cumpre uma função social, de a pessoa que mora longe poder sair da sua casa e vacinar o filho, por exemplo.
Mas a gente manteve o da vacinação.
Então tu defende que se corte passe livre para baixar a passagem?
Com certeza. Hoje, por exemplo, a pessoa paga caro a semana inteira e no domingo tu vai dar passe livre, o cara acaba nem usando, ele faz outros programas. Eleições, por exemplo, hoje todo mundo vota perto de casa, ninguém mais vota do outro lado da cidade. Daí tu dá passe livre para todo mundo.
Ou se enfrenta todas estas questões ou realmente o cenário para 2018 e 2019 é caótico. O sistema, do jeito que está, está falido.
O cenário é preocupante, porque o transporte coletivo é vital para a cidade. Vamos deixar que nem São Paulo, que põe R$ 3 bilhões de subsídio? Quem paga é o cidadão.
No contrato prevê rendas extras para as empresas, como o recurso do passe antecipado e a publicidade nos ônibus. Tem uma avaliação de quanto isso tem impactado?
Nos primeiros meses do governo o prefeito disse: “Quero total controle da bilhetagem, quero saber quanto vocês ganham, quanto gastam, para abrir a informação que não se tinha.
A prefeitura tem a informação de quanto as empresas ganham com publicidade?
Isto a gente está regrando através de um projeto de lei, para regrar toda publicidade. Hoje parte vai pro plano de saúde, parte para a Prefeitura. E mais, a questão da bilhetagem, hoje a gente tem acesso a todas as contas, então a gente acessa o volume de vale transporte, passe antecipado e estudantil e qual o custo para se manter a bilhetagem, quanto custa para manter o sistema.
Então, ao final de 12 meses a gente vai saber quanto é a variação entre o que foi vendido e o que foi pago e quanto pode reverter para a tarifa. Se houver sobra, ela tem que retornar para a tarifa.
Tem a questão das receitas antecipadas e de passagens que são pagas e não são usadas. Vocês tem ideia de qual é este montante?
A gente já tem estas informações e agente está setorizando. Vamos poder ter essa conta ao final de 12 meses e a gente vai lançar essa diferença na próxima tarifa.
Diante do cenário que vocês apresentam, não faltam medidas que chamem as empresas a contribuir para sanar o sistema?
Olha, esse ano a gente aplicou 5.600 multas.
Estas multas são pagas?
Elas são pagas, só que não adianta eu fazer 5.600 multas e o serviço continua ruim. Então a gente já convocou as empresas para virem aqui porque ela precisam melhorar o serviço, entregar um ônibus limpo, cumprir o horário, treinar tripulação para ser bem educada. Já tive reunião com uma das empresas, apresentando o relatório de reclamações e a gente vai exigir este retorno. Vai haver sim este compromisso, vamos determinar uma série de medidas às empresas e esperamos que até o fim de 2017 consigamos atrair mais gente. Eles vão ter que melhorar o serviço.
Quando isso vai acontecer?
Não tenho prazo para te dar agora, mas o quanto antes vamos fazer esta rodada com eles e apresentar uma série de exigências. A Prefeitura dentro do seu papel de equacionar a questão do transporte. É um enfrentamento forte, desgastante, ninguém gosta de fazer, mas estamos fazendo.
Presidente da EPTC: "Vamos reduzir isenções e exigir melhorias das empresas"
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Comentários
Uma resposta para “Presidente da EPTC: "Vamos reduzir isenções e exigir melhorias das empresas"”
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Soletti melhore a distribuiçao das linhas, crie mais faixas exclusivas, melhore a segurança e iluminaçao, telhado nas paradas que as pessoas usarao mais os onibus.

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