Retomada Mbyá Guarani: PGE faz reunião na aldeia de Maquiné

ANA BARROS PINTO
Os Mbyá Guarani vão apontar as áreas que consideram essenciais para a vivência espiritual e material da sua cultura e os técnicos da Fepagro vão mostrar os locais onde são feitas as pesquisas.
Com base nesses dados será feito um mapa da área para a negociação.
Esse foi o resultado da primeira rodada de negociação entre os Mbyá Guarani e os representantes do Estado do RS, após a suspensão da reintegração de posse no dia 4 de abril.
A reunião ocorreu segunda feira (17/04) em Maquiné. Primeiro, o grupo técnico do Estado teve uma conversa na sede administrativa; depois foi encontrar os indígenas na aldeia (Tekohá  Ka’aguy Porã), uma área dentro da mata onde o grupo vive desde a retomada, no final de janeiro.
A ideia de mapear a área se mostrou uma necessidade para a negociação pois simplesmente dividi-la, como foi a primeira proposta do governo, destinando uma parte dos 356 hectares aos indígenas, não foi aceita por eles.
Ficou claro aos presentes a complexidade das visões distintas de mundo: os mbyá guarani não tem o sentimento de posse, da cerca da propriedade, e sim do usufruto, do livre acesso à natureza. O cacique André Benites questionou: se colocam uma divisória perto do rio, como a criança vai fazer para se banhar?
 
Ameaça versus respeito
É a dimensão espiritual Mbyá Guarani que está definindo as ações do grupo, e por isso a possível violência embutida numa ação de reintegração de posse – se o povo mbyá não saísse da área a retirada poderia ser à força com a Brigada Militar- foi manifestada como a grande preocupação na abertura da reunião.
Os caciques falaram com muita firmeza sobre a ameaça da reintegração.  José Cirilo enfatizou o significado espiritual da retomada para o povo Mbyá. “Aqui é nosso Tekohá, é lugar sagrado, quem nos guia é Nhanderú”. E deixou claro que por isso eles não deixarão o local. “Se vierem nos tirar vamos dar nossos corpos, mas as crianças vão ficar para que o nosso povo tenha um futuro”. André Benites reforçou: “se a polícia vier não será pra abraçar, vai ser pra bater, ficarei orgulhoso em morrer pelo nosso povo, nossos filhos tem que crescer aqui, o futuro está aqui”.
Eles pediram aos presentes que levem ao governo o pensamento Mbyá Guarani: “aqui é lugar sagrado, esse valor deve ser considerado, respeitado e cada vez mais fortalecido. As crianças estão aprendendo a lidar com a mata, com cobra, aqui tem onça pintada, tem o espírito da mata.” Eles acreditam que se o Estado entender, todos vão ganhar: “o próprio Estado, a sociedade, todos nós”.
 
O procurador Luiz Fernando Krieger também manifestou preocupação com a possibilidade do uso da força. “Por isso pedimos a suspensão da reintegração de posse. Viemos aqui ver como os Mbyá Guarani vivem, compreender um pouco melhor a espiritualidade de vocês e buscar um acordo”.
Para alguns, visitar a aldeia estava sendo a primeira experiência de caminhar numa mata nativa. A observação foi da coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da PGE, procuradora Fabiana Barth, agradecendo aos indígenas pela oportunidade e recepção com cantos e danças tradicionais.
Todos se manifestaram no sentido de construir um acordo.  Estavam presentes os procuradores Silvio Jardim, representante da PGE no Conselho Estadual de Política Indígena (CEPI) e o coordenador da Diretoria de Direitos Humanos da Apergs, Carlos César D’Elia; o coordenador do CEPI Rodrigo Venzon; técnicos das Secretarias do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Rural e da Agricultura; e o diretor da ex-Fepagro Litoral Norte Rodrigo Fravetto. Participaram também representantes das ONGs apoiadoras da retomada: Anama (Ação Nascente Maquiné)  e Aepim (Associação de Estudos e Projetos com Povos Indígenas e Minoritários), além da Raiz Movimento Cidadanista.
Nos próximos dias será feita a caminhada pela mata para mapear as áreas dos indígenas. Ignácio Kunkel, da Secretaria de Desenvolvimento Rural, foi indicado para acompanhar os indígenas no mapeamento pela mata. O objetivo do grupo é concluir a negociação no prazo dos 30 dias a partir da suspensão da reintegração de posse.
 
 

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