Em janeiro de 1955, Roessler fundou a primeira entidade ambientalista do Estado, a União Protetora da Natureza, UPN.
Guilherme Kolling
Henrique Luiz Roessler nasceu em Porto Alegre em 16 de novembro de 1896. Logo pequeno, foi viver em São Leopoldo, onde fez história ao se tornar o pioneiro da ecologia no Rio Grande do Sul e no Brasil. Sempre morou nas proximidades do Rio dos Sinos, que defendeu até sua morte, em novembro de 1963.
Formado em Contabilidade, profissão que exerceu durante alguns anos, dedicou a vida à proteção ambiental: enfrentou com determinação pescadores ilegais, madeireiros, industriais poluidores e caçadores clandestinos. As vezes exagerava no seu idealismo, como conta sua neta Maria Luiza Roessler, autora de um perfil biográfico do avô.
Ela o descreve como um homem que, apesar de ser afável, gentil, de temperamento doce e amoroso, se transformava quando via agressões aos animais. Uma vez, pegou um homem batendo com violência no cavalo que o carregava. Roessler perguntou, ainda calmo, porque ele batia no animal. “Bicho tem que apanhar para obedecer e andar mais ligeiro”, respondeu o interlocutor.
O ecologista puxou o pobre coitado de cima do eqüino e deu de chicote: “Viu, sem-vergonha, é assim que o cavalo sente”. De fato, o pioneiro se tornava um justiceiro, as vezes violento, quando via atrocidades contra o meio ambiente.
Certa vez foi processado por agressão física, em Caxias do Sul. Ao dar com um sujeito que havia matado 40 sabiás e os exibia como troféu a quem passasse pela beira da estrada, puniu o assassino com 40 cassetadas de borracha – antes, o infrator também fora questionado, e respondeu com chacotas e desdém sobre a vida dos passarinhos. A atuação de Roessler foi oficializada em 1939, quando, aos 43 anos, ele se apresentou como voluntário e foi nomeado delegado florestal pelo Ministério da Agricultura – sem remuneração e sem prejuízo ao expediente burocrático que exercia na Delegacia Estadual dos Portos. Fiscalizava atividades como queimadas e pescarias predatórias.
Tido como louco por alguns, coordenou a defesa das matas em todo o Estado, organizando um grupo de 440 guardas florestais por sua conta e risco. Os colaboradores, espalhados pelo Rio Grande, cuidavam da caça e das florestas.
Roessler também concentrou esforços no Vale do Rio dos Sinos, onde um grande número de curtumes poluía os cursos d’água. Fazia constantes denúncias e chegou a aplicar multa em algumas empresas, sem ter autoridade para isso. Foi afastado do posto e perdeu a credencial de fiscal do meio ambiente, em 1953.
A neta conta que seus inimigos descobriram na Constituição um artigo que proibia qualquer cidadão de exercer funções gratuitamente. Ao invés de calar-se, Roessler fundou, em janeiro de 1955 a União Protetora da Natureza, UPN, a primeira entidade ambientalista do Estado, em São Leopoldo.
Leia a matéria na íntegra no Jornal JÁ de dezembro, que está nas bancas.
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