Geraldo Hasse
Como uma novela em capítulos, a “repatriação” de Ronaldinho rendeu bastante durante as férias nos clubes, quando a mídia esportiva vive uma entressafra de notícias futebolísticas.
No final das contas, mais um clube endividou-se para levar adiante a insustentável utopia do futebol milionário.
Não surpreende que o “ganhador” da parada seja o Flamengo, o clube mais endividado do Brasil.
Nessa história toda, não resta dúvida de que saiu derrotado o esporte, mais uma vez uma enredado numa teia de interesses escusos que fazem dos atletas mercadorias e dos torcedores meros idiotas manipulados num leilão de valores sem lastro.
Quem vai agora administrar a crise das vaidades sem patrocínio? Dirigentes sem compromisso com a seriedade.
Os próprios cronistas esportivos, envolvidos no jogo das especulações, reconhecem que “o dentuço pilantra” está voltando para encerrar a carreira, cansado das exigências da profissão que o transformou numa celebridade sem outro objetivo senão se manter sob os holofotes, orientado pelo irmão-empresário, interessado em extrair o máximo do seu garoto de ouro.
Ambos manobraram até o limite para conseguir um salário de oito dígitos anuais por temporada, um escândalo num país dividido entre um milhão de ricos e cento e tantos milhões de pobres ou remediados que passam dificuldades para chegar ao fim do mês.
A volta de Ronaldinho é uma ópera que se repete a cada temporada. Os jogadores brasileiros passam dois, cinco, dez anos na Europa e retornam tão boçais quanto na saída.
Há exceções como Sócrates, Falcão e Raí, mas a maioria sai do país para “conquistar a independência financeira” e volta dependente de terceiros para dar os passos mais elementares.
Sua autonomia limita-se a dirigir o próprio automóvel. A maioria não sabe safar-se sozinha de uma câimbra.
Atletas medianos ou mediocrizados pelo exercício de uma atividade rica em simulações têm assessor de imprensa/agente de marketing, advogado, empresário/procurador, manicure, cabeleireiro, modista, consultor disso e daquilo, mas o nível cultural continua tão raso quanto antes.
O máximo que frequentam no exterior são shopping centers e consultórios de ortodontistas.
Quando voltam, recitam frases ensaiadas sem dar a menor garantia de que sequer honrarão os contratos milionários.
A maioria dos torcedores tem consciência de que por fastio, cansaço ou lesões seus ídolos já não são capazes de jogar sequer a metade do que demonstraram antes de ser leiloados para o futebol internacional.
Como disse Pelé, deveriam voltar para jogar de graça nos clubes que lhes abriram caminho para a fama e a fortuna.
Ícones de torcedores infantis ou infantilizados, eles raramente ajudam a melhorar a sociedade, antes contribuem para a manutenção do status quo. “Falou status, mandou bem, galera”.
Dessa farsa monumental participam todos: atletas, dirigentes, assessores, radialistas, imprensa e TV, sem faltar os patrocinadores e os torcedores, teoricamente os alvos de toda a pantomima.
O dito futebol profissional é uma atividade marcada pelo mais reles mercenarismo. Em muitos casos, nos grandes clubes, o estrelato futebolístico está associado a diversas modalidades de contravenções penais.
Não é exagero dizer que o esporte mais popular do Brasil e do mundo está sob influência do que alguns chamam de narcofutebol. Uma festa hedonista comandada pela TV.
Pois bem, esses “heróis” das torcidas se repatriam, mas os recursos ganhos ao longo das temporadas ficam majoritariamente lá fora ou voltam na mão de laranjas.
Tanto os clubes brasileiros quanto os internacionais são instituições especializadas na administração de déficits.
Alguns poderiam ministrar cursos sobre sonegação de tributos, lavagem de dinheiro e agenciamento de carreiras políticas, como se viu nas eleições de 3 de outubro de 2010, quando vários atletas aposentados foram eleitos deputados.
A insustentabilidade de um esporte marcado por tamanhas contradições e desigualdades não parece preocupar as autoridades políticas, os dirigentes esportivos e os torcedores em geral – isso a pouco mais de três anos da Copa do Mundo a ser realizada em 12 capitais brasileiras.
Teremos no Brasil um megaevento esportivo com seus desdobramentos culturais, turísticos e econômicos, mas até agora as pessoas envolvidas no assunto dão a entender que nossa única obrigação é construir a tempo as obras de infraestrutura exigidas pela Fifa.
Às vésperas de uma Copa (e dois anos depois, a Olimpíada), a falta de seriedade brasileira é simbolizada pelo gesto “hang loose” de Ronaldinho, que se especializou em saudar a torcida girando a mão direita com os dedos indicador e mingo levantados, sugerindo que está aí para brincar, nada mais.
Como se um artista (da bola, que seja) não tivesse nenhuma responsabilidade social, cultural, econômica ou política.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“O Brasil não é um país sério”
Charles De Gaulle há mais de 40 anos
Ronaldinho, o Flamengo e o narcofutebol
Escrito por
em
Adquira nossas publicações
texto asjjsa akskalsa
Comentários
-
Cara, voce nao tem o que fazer nao?
vai viver sua vida, e larga de escrever besteira! -
Isso é um jornal serio?? Materia totlamente ridicula e sem profissionalismo pela parcialidade so pode ter sido escrito por algum despeitado que não gosta do Flamengo, torcedor do gremio ou membro da imprensa paulista . Paciência né? a dor de cotovelo um dia melhora. Quero ver o que vão publicar quando Ronaldinho voltar a ter suas grandes atuações.
-
Dois comentários rídículos em face de um bem fundamentado texto…só não vê quem não quer ver.
-
bom texto. o problema é que os torcedores do famengo fingem não ver o que acontece. são igual privada aceita todo tipo de merda.
esse narcofutebol acontece em vários outros times.
Deixe um comentário