FRANCISCO RIBEIRO
Metalúrgico, sindicalista, sociólogo, vice-governador de Olívio Dutra e ministro nos governos Lula e Dilma. Miguel Rossetto foi tudo isso e agora, aos 58 anos, quer eleger-se governador do Rio Grande do Sul pelo Partido dos Trabalhadores.
No PT desde a sua fundação, Rossetto compartilhou de forma engajada a transformação de sua agremiação no maior partido de massas do Brasil. Viveu a glória do PT e o seu alijamento do poder através do impeachment da presidente Dilma.
Único postulante ao Piratini a vincular claramente sua candidatura a do ex-presidente Lula, Rossetto tem a incumbência de levar pela terceira vez levar o PT a governar o estado. Não lhe faltam ideias arrojadas nas áreas de Educação, Saúde, Segurança, propostas que resolveu compartilhar com os leitores nesta entrevista exclusiva ao JÁ.
JÁ: Desde que começaram os debates, o sr. foi o único candidato a vincular sua candidatura à candidatura de Lula, quase cem por cento fora do páreo. Qual é o seu posicionamento?
MR: Nós continuamos defendendo o direito do presidente Lula a concorrer. Continuamos defendendo que o povo brasileiro tenha a opção de escolher o Lula como presidente. Vamos recorrer junto ao STF e junto a todos os organismos internacionais para defender o direito democrático ao presidente Lula. O presidente Lula representa a mudança que o Brasil precisa, que o Rio Grande precisa. Lula, Fernando Hadad, Manoela D’Ávila, representam a esperança do povo brasileiro. O Brasil precisa voltar a crescer, a investir. Com o Lula nós construímos universidades estaduais no Rio Grande do Sul, quase 200 mil casas no Programa Minha Casa, minha vida, otimizamos o apoio agricultura familiar, a Br 101 foi duplicada, iniciamos a duplicação da BR 116, o pólo naval de Rio Grande. Enfim, Lula e Dilma ajudaram muito o Rio Grande do Sul.
JÁ: É muito importante o debate sobre um projeto nacional na medida em que a economia gaúcha faz parte da federação.
MR: Sim. Por isso é preciso uma união de todos pela revogação da emenda constitucional número 95 aprovada pelo Temer, e com o apoio do Sartori, MDB, PSDB, PP, que congela por 20 anos os gastos do governo federal em relação a Saúde, Educação, a infraestrutura nos estados e nos municípios. Esta emenda destrói a nação e a federação. É preciso revogá-la. Brasília tem que assumir as suas responsabilidades.com o Rio Grande do Sul e nossos municípios no financiamento da saúde publica e da escola pública.
JÁ: Há 20 anos o sr, foi vice-governador. Depois foi ministro nos governos Lula e Dilma. No que estas experiências contribuirão caso o sr. seja eleito?
MR: É esta experiência que me estimula e anima a governar o estado do Rio Grande do Sul. Estou preparado. A minha experiência em iniciar um governo num estado com uma grande crise será parecida com aquela que Olívio e eu enfrentamos. Lá também diziam que se nós não vendêssemos o Banrisul não pagaríamos os salários dos servidores em 1999. Nós não vendemos o Banrisul e não atrasamos salários. Criamos a UERGS. Enfim, tenho a experiência de governar um estado grande e complexo como o nosso. Um estado onde o povo quer viver bem e com justiça, voltar a ter esperança.
JÁ: E isso passa, segundo a pauta de todos os candidatos, pelo ajuste das contas. Como sr pretende fazer isso?
MR: É preciso retomar crescimento econômico no Rio Grande do Sul. Faz três anos que temos queda da atividade econômica, quase oito por cento. Isto arrebenta a receita de um Estado. Também é preciso combater a sonegação, melhorar o perfil de gastos, buscar os recursos que são do Rio Grande do Sul. Nós temos uma decisão judicial favorável em relação à Lei Kandir. O governo federal é devedor do Rio Grande do Sul e nós vamos buscar estes recursos. Infelizmente o Sartori fez uma opção pela omissão. Por conta da adesão ao Plano de Recuperação Fiscal ele é omisso ou submisso. Nós vamos, de maneira altiva e dedicada, liderar uma retomada da economia gaúcha. Precisamos voltar a ter empregos, equilibrar as finanças, melhorar o serviço público, e buscar em Brasília aquilo que é de interesse do Rio Grande do Sul para que ele possa se desenvolver.
JÁ: Há muita polêmica em torno Lei Kandir.
MR: Nossa política é clara em relação a redução da receita do ICM que ela produziu no que tange aos estados exportadores, e isto não diz respeito só ao Rio Grande do Sul. O fato é que o Supremo Tribunal Federal julgou este tema, e pela primeira vez nosso estado é credor da União. Brasília deve ao Rio Grande e nós vamos buscar estes recursos. Eles são importantes, e os dados que a Secretaria da Fazenda nos informa indica que somos credores em cerca de R$ 4 bilhões por ano.
JÁ: Na sua agenda de recuperação econômica constam muitos investimentos na área de tecnologia.
MR: Serão investimentos importantes nesta área. Mas, primeiro temos que recuperar este desastre estratégico que o Sartori fez ao acabar com as nossas instituições de pesquisa, com as nossas fundações. Nada justifica, por exemplo, o fim da Fundação de Economia e Estatística (FEE). O Rio Grande do Sul, hoje, não tem informações sobre o seu PIB de 2017. Isto é um escândalo. Para remediar contrata uma entidade privada que não tem condições de realizar esta tarefa. Precisamos de uma entidade de pesquisa agro-pecuária que esteja voltada ao desenvolvimento sustentável, a ecologia. Há uma enorme demanda nesta área. Enfim, nenhuma nação ou estado encontrou lugar no futuro sem investir na educação, na cultura, na ciência, na tecnologia e na inovação. Assim, vamos recuperar nossas instituições de pesquisa. Para tanto o governo deve participar ativamente com diversas entidades, universidades, no fomento a pesquisa vinculada ao desenvolvimento do estado.
JÁ: A extinção das fundações, como a TVE ou FEE, veio no bojo desta febre de privatizações, na diminuição do tamanho do estado. No RS, entre os demais candidatos, não faltam planos para vender estatais como a CEE, CRM, Sulgás, Banrisul. O que o sr. pensa disso?
MR: Isto é uma bobagem, um retorno aos séculos XVIII e XIX. O Rio Grande do Sul é vítima desta experiência da privatização. É sempre bom lembrar a venda, no governo de Antonio Britto, da CRT, de dois terços da CEE, o fim da Caixa Econômica Estadual. A Yeda Crusius vendeu metade do Banrisul. Nós ficamos com menos patrimônio, mais pobres e mais endividados. Nós precisamos de empresas estatais bem governadas, que funcionem. Eu quero uma CEEE funcionando cada vez melhor, produzindo energia e atendendo a nossa comunidade. Eu quero uma CORSAN, a grande empresa estadual garantidora de água e saneamento, com preços adequados. Essas empresas têm um papel importante pro nosso desenvolvimento. Eu não quero vender o Banrisul. Ele é um instrumento de desenvolvimento para o estado, presente nos municípios e regiões, investindo na agricultura, na indústria e no comércio para gerar trabalho e renda. Nós temos, hoje, 510 mil, gaúchas e gaúchos desempregados. Isto é inaceitável. Vamos recuperar o estado sem precisar vendê-lo.
JÁ: Vital pra a recuperação, segundo o seu programa, está a criação de um Fundo para a educação
MR: Nós temos uma política de recuperar a escola pública para a nossa população. O estado é responsável pelo ensino médio da nossa juventude, e compartilhamos o ensino fundamental com os municípios. O Sartori abandonou a escola pública. Todos os indicadores do Indeb mostram a crise da educação. São índices muito preocupantes, pois revelam o baixíssimo desempenho da nossa escola. Isto se deve ao desrespeito aos profissionais, aos professores, ao atraso dos salários, a falta de manutenção das escolas. Nós, através dês Fundo para Educação, vamos recuperar a escola pública como sendo um espaço de educação, de paz, de aprendizado, uma escola viva e com energia, um centro para a nossa juventude na orientação para o mundo do trabalho e da cidadania. Para isso tem que pagar o salário em dia. Não há uma educação de qualidade sem a valorização dos educadores. Também é necessária uma manutenção para que as escolas possam funcionar. Temos escolas sem energia elétrica, sem telhado, sem banheiro. E por último, dar segurança para as escolas.
JÁ: Este Fundo, a médio prazo, visa tranformar as escolas gaúchas em centros de excelência?
MR: Sim. Ensino integral, valorização dos professores, infraestrutura adequada e com um bom processo educativo e pedagógico. Este Fundo especial terá recursos extraordinários, nacionais e internacionais. Isto para que – num prazo de até anos – tenhamos recursos para qualificar a escola publica do Rio Grande do Sul. Isto terá meu empenho direto como governador. O maior indicador de uma sociedade que constrói o seu futuro é a educação. Terei uma dedicação especial, direta com a equipe da área da educação para a recuperação do ensino no Rio Grande do Sul. É um direito da nossa juventude, do nosso povo. Nós vamos assegurá-lo.
JÁ: O sr. falou em pagar os salários em dia. Este é um dos principais pontos de ataque contra o governo Sartori. O sr, não atrasará?
MR: É o compromisso primeiro do meu governo. E a partir daí reorganizar as escolas, a saúde e a segurança públicas. É inaceitável a continuidade – 33 meses atrasando salários – deste desrespeito e desvalorização do serviço público e do povo gaúcho. O direito ao salário, e em dia, é um direito sagrado de quem trabalha, seja no setor público ou privado.
JÁ: Outra área muito sucateada é a da Saúde.
MR: A primeira coisa será chamar prefeitas e prefeitos, profissionais do SUS e demais credenciados da rede hospitalar, gente dos conselhos municipais e regionais de saúde para reorganizar um planejamento de investimentos. Vamos regularizar os repasses para os municípios e para o SUS, algo que o Sartori, sistematicamente, atrasa, algo em torno de R$480 milhões. Isto tem desorganizado o sistema, ampliado a crise nos hospitais. Nos três anos e meio do governo Sartor, 1490 leitos saíram do SUS. Isto é inaceitável, gera filas enormes e dificuldades de atendimento. É preciso reorganizar o sistema, o governo deve voltar a ter um papel de coordenação. Isso foi abandonado..
JÁ: Dentro desta reorganização está a interiorização das especializações?
MR: Sim. Vamos trabalhar com as prefeituras no SUS em duas diretrizes. A primeira delas é a criação de centros, policlínicas regionais, para exames e processos especializados. Isso acabará com as filas para fazer certos exames – cardiologia, ginecologia, ou cirurgia –, e procedimentos como Raio- X, tomografia. Resolve-se isso qualificando esses centros regionais, evitando, assim, que a população precise viajar em busca de atendimentos especializados, em busca de um hospital ou de um exame .A segunda diretriz será avançar na qualidade do atendimento primário, da Unidade Básica de Saúde(UBS), do posto de saúde, do primeiro contato da população com o sistema. Além dos médicos, temos fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas. Eles qualificam a rede do atendimento primário de saúde, onde 80 por cento das necessidades a população são atendidas. Também vamos avançar em centros especializados para os idosos. A população gaúcha é cada vez mais idosa e é muito importante que o sistema acolha com carinho os nossos velhinhos.
JÁ: O quesito mais debatido é o da Segurança. O sr. propõe a realização de um Pacto. Como será?
MR: A segurança é um tema vital para a população gaúcha que hoje vive com medo frente ao total descontrole do aumento da criminalidade e da violência. E isto tem um responsável, o governo Sartori, que desorganizou o sistema de segurança pública no Rio Grande do Sul. Hoje são quase cinco mil policiais a menos, nos bairros e nas ruas de nossas cidades. Porto Alegre tem hoje um número maior de assassinatos, proporcionalmente ao tamanho de sua população, maior do que o Rio de Janeiro. Assaltos e roubos aumentaram quase cem por cento. Nas escolas e nas universidades temos casos de alunos que deixam de estudar porque têm medo de ficar numa parada de ônibus. Por isso, vou criar um batalhão especial para proteger os alunos e as escolas através do remanejamento de efetivos. Serão profissionais capacitados e especializados para este fim. Eles garantirão entradas e saídas da comunidade estudantil através de corredores de proteção.
JÁ: O maior problema é a reposição do efetivo policial. Como o sr. pretende fazer isso?
MR: Não se faz segurança com menos policiais. Vamos recompor gradativamente os efetivos da Brigada e da Polícia Civil, do Instituto Geral de Perícia(IGP), da Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE)., Corpo de Bombeiros. Também vamos incorporar o que temos de melhor em termos de tecnologia de segurança para ampliar a proteção a nossa população. Fazer uma integração dos serviços de inteligência da Brigada Militar e da Polícia Civil.
Eu quero uma Brigada Militar fazendo o policiamento preventivo, comunitário, nos bairros e nas vilas, dialogando e apoiando a população. Assim como eu quero uma Polícia Civil investigando cada vez mais o crime organizado e o tráfico de drogas, desmanche de carros e roubo e celulares. No meu governo as facções criminosas não vão controlar os presídios e transforma-los em escolas do crime. Temos que rediscutir, pensar num outro sistema prisional, que por um lado contenha os criminosos, e do outro ressocialize os apenados. É esta a estratégia do plano de segurança pública que estamos trabalhando. A uma série de propostas sendo analisadas. Temos profissionais muito competentes nas nossas polícias analisando isso.
Rossetto: “Não vendemos o Banrisul e não atrasamos salários”
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