| GERALDO HASSE Em palestra para cerca de 40 fãs (entre eles filhos, netos e o bisneto) na manhã de sábado (23), o historiador Sergio da Costa Franco autografou a quinta edição do Guia Histórico de Porto Alegre, lançado originalmente há 30 anos. Desta vez o livro foi editado com recursos próprios, sem incentivos de leis culturais, pela Edigal, dirigida por Ivo Almansa, proprietário, também, das Livrarias Erico Verissimo e Martins Livreiro. Em palestra durante o evento, o autor de 83 anos fez uma retrospectiva dos mapas da cidade em seus primeiros 150 anos. O pioneiro foi uma planta simples desenhada em 1825 e que desapareceu na esteira de uma longa questão jurídica entre a prefeitura e os herdeiros do açoriano considerado o fundador da cidade. “Acredito que essa planta tenha sido suprimida pelos herdeiros que reclamavam a posse de uma área enorme — onde hoje está o Parque da Redenção”, afirma o autor do Guia, lembrando que a pendência só foi resolvida no final do século XIX. A segunda planta foi feita em 1836 e republicada em 1839, no período em que Porto Alegre esteve sitiada pelos farrapos. Nela estão sinalizadas as trincheiras dos defensores da cidade considerada “mui leal e valerosa” pelo governo imperial. Dessa última planta consta também o projeto de um loteamento da área equivalente ao Parque da Redenção, ideia recusada pela prefeitura porque esse lugar era reservado para exercícios militares. Curiosamente, observa o historiador, a cidade homenageia vários dos atacantes e silencia sobre vários dos seus defensores. O mais notório injustiçado é o portoalegrense Francisco de Abreu, o Chico Moringue, que ganhou o título de Barão do Jacuí mas não consta como nome de rua. No Cristal há uma Rua Chico Pedro, mas esse Chico não é o Moringue e, sim, um oficial da Brigada Militar que viveu meio século depois de findo conflito entre caramurus e farroupilhas. Em 1844, finda a Guerra dos Farrapos, que foi vencida pelo Barão de Caxias com a ajuda do general Bento Manuel Ribeiro, o “Bento Vira-Casaca”, uma reunião da Câmara de Vereadores realizada na Praça da Azenha (hoje Praça Princesa Isabel) definiu três novos eixos de expansão da cidade: eram as avenidas que mais tarde levariam os nomes de Bento Gonçalves, Carlos Barbosa e Cavalhada. Em 1868 um novo mapa trouxe novos nomes de ruas. A Rua da Praia passou a chamar-se Rua dos Andradas; a cidade ganhou a rua Sete de Setembro em homenagem à data da Independência; e foi nomeada a Rua Riachuelo em alusão à principal batalha da Guerra do Paraguai (1864-70), conflito que inspirou também a criação da rua Voluntários da Pátria. Em 1881 uma nova planta já identificava a existência de novos bairros criados sob influência do transporte coletivo por veículos tracionados por burros, serviço inaugurado em 1873. Uma das linhas principais seguia pela Voluntários da Pátria no rumo de chácaras que se estendiam para os lados de Canoas. Em 1890, um novo mapa registra o incremento na expansão da cidade. Aparece pela primeira vez a Avenida Independência, que se chamava Estrada da Aldeia dos Anjos – primeiro nome de Gravataí. Mais tarde o Caminho do Meio (para Viamão) seria batizado com o nome de Protásio Alves. No mapa de 1896, consta a existência de quatro prados (hipódromos) em diversos pontos da cidade — as corridas de cavalos eram a principal diversão da cidade: Menino Deus (atual sede da Secretaria da Agricultura); Boa Vista (no Partenon); Independência (Moinhos de Vento, atual Parcão); e Navegantes, de existência efêmera, pois já não aparece em mapa de 1906, no qual constam diversos “arraiais” – da Glória (da República), de Teresópolis e dos Moinhos de Vento. Em 1909, o mapa de Porto Alegre registra a fixação de trilhos para circulação dos bondes elétricos, que “promovem uma revolução na cidade”, afiança o historiador. As linhas férreas do transporte coletivo chegam a algumas zonas antes mesmo dos moradores, que são atraídos por loteamentos promovidos pela Cia Força e Luz. Atendendo a reclamações dos pequenos acionistas da Cia Carris, o Correio do Povo denuncia o favorecimento dos grandes acionistas Manoel Py e seu genro Possidonio da Cunha, acusados de ganhar mais com a especulação imobiliária do que com o serviço de transporte de passageiros. Para se defender dos ataques de Caldas Jr., dono do Correio, os acionistas da Carris e da Força e Luz lançam o jornal O Diário, que marcou época na cidade. Em 1920, é editado por Afonso Ferreira de Lima o mapa histórico de Porto Alegre que pela primeira vez diferencia os cinco distritos do centro histórico, estrangulado por becos que privilegiavam a circulação de pedestres e impediam o trânsito de automóveis – o primeiro veículo motorizado apareceu em 1916. “Os becos mediam 12 palmos de largura”, explica o historiador, lembrando que havia becos longos. O Beco da Cadeia, por exemplo, ia da Santa Casa à rua Marechal Floriano. Já o Beco do Rosário ligava a Praça da Matriz à atual Rua Dr. Flores. Após os sucessivos mandatos de José Montaury, que governou a cidade por 27 anos, os novos administradores abriram ruas e avenidas para a livre circulação do automóvel — em 1925, fora lançado o “popular” Ford modelo T, um carro rústico, “quase um jipe”, que custava cinco contos, o equivalente a cinco vencimentos de um desembargador, na época. “Os prefeitos que tiraram as algemas da cidade foram Otavio Rocha e Alberto Bins”, lembra Sergio da Costa Franco, citando como uma das obras mais marcantes a passagem da Avenida Borges de Medeiros sob o Viaduto Otavio Rocha, construções de 1928. Também no centro foi aberta a Avenida Julio de Castilhos para ajudar no acesso ao cais do porto. Nascido em 1935 em Jaguarão e morador de Porto Alegre desde os sete anos de idade, Sergio da Costa Franco viu a cidade crescer extraordinariamente a partir de 1950, quando começaram a chegar – por barcos, trens, automóveis, ônibus e caminhões, e também a cavalo ou em carroças – os milhares de novos habitantes originários de cidades do interior e principalmente das zonas rurais. “Nas últimas décadas”, afirma o historiador, “Porto Alegre não cresceu, inchou”.
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Sai a quinta edição do Guia Histórico de Porto Alegre
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