Naira Hofmeister
Na entrevista coletiva que reuniu Asne Saierstad e Moacyr Scliar na mesma bancada, na tarde de terça-feira, 30 de outubro, predominaram questões para a norueguesa. Mas aproveitando alguns ganchos da escritora, o médico judeu – e único integrante gaúcho da Academia Brasileira de Letras – soube dar seu recado sobre a intolerância, tema que movimenta o maior sucesso editorial da jornalista, O Livreiro de Cabul.
“Esse é um momento oportuno para debatermos a questão do ocidente versus oriente. Temos que evitar o raciocínio ‘sim, mas’”, polemizou Scliar ao criticar o pensamento que separa as realidades. Por exemplo, “Sim, no Brasil temos muitos pobres, mas os filhos deles sequer vão à escola”.
Na opinião de Scliar, essa maneira maquiavélica de ver o mundo está equivocada. “Precisamos usar a conjunção ‘e’, pois um equívoco não justifica o outro”, provocou. Uma discussão livre de estigmas, na opinião de Scliar, conduziria a um projeto mundial de civilização.
Ainda assim, ele foi duro nas críticas aos costumes machistas que imperam em alguns países orientais. “Alguns médicos são obrigados a examinar suas pacientes através de um orifício num lençol, pois não podem toca-las”, advertiu. “Chega um momento em que a intolerância faz mal à saúde”, atacou.
E conclamou, por fim: “Temos direitos humanos que precisam ser difundidos”, elogiando a imprensa nacional, que considera corajosa no que se trata de cobertura de intolerâncias. “Houve uma época em que havia uma censura violenta”, lembrou do regime Militar, que o proibiu certa ocasião, de escrever um comentário sobre um livro indígena. “A evolução da mídia é notável, e foi ela quem fez o Brasil deixar de ser retrógrado”.
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