O senador Pedro Simon leu uma “Carta Aberta” à presidenta Dilma Rousseff na sessão do Senado desta quarta-feira.
– Resista, sra. Presidenta, não se curve à chantagem política em nome da falácia da governabilidade, diz o senador gaúcho.
“Talvez a Senhora, apesar da experiência recente nos mais altos cargos da República, ainda assim não tivesse dado conta de que o poder também tem os seus torniquetes.
Antes, os porões. Agora, as coxias.
Por isso, vou repetir, sempre que necessário, a nossa palavra-chave: resistir.
Resista à continuidade da corrupção.
Antes, lhe exigiam nomes. Agora, trazem-nos.
Repito: os princípios são os mesmos. Resista!
INTEGRA DA CARTA ABERTA À PRESIDENTA DILMA ROUSSEF
“Senhor Presidente,
Senhoras Senadoras e Senhores Senadores:
Hoje, quem sabe, com a permissão do presidente dessa sessão e com o aval de todos os meus pares, eu pudesse modificar essa avocação inicial, para me dirigir, diretamente, à nossa presidenta da República.
Eu poderia me reportar a ela pessoalmente, até porque ela tem me demonstrado, nos nossos poucos encontros formais, uma atenção especial, diria até carinhoso, não sei se por respeito à idade, ou pelo muito que nos une, politicamente, nessa nossa trajetória histórica de luzes e de sombras.
Eu tenho a convicção de que milhões de brasileiros gostariam de ter, neste momento, o mesmo privilégio desta tribuna, cujos microfones têm o poder de levar as nossas vozes, tanto para os lares brasileiros, através da Rádio e da TV Senado, como para os gabinetes de todos os poderes.
Todos esses mesmos brasileiros, estou certo, têm, hoje, uma mensagem à Presidenta Dilma Roussef. Faço-o porque não posso fugir à responsabilidade que me foi dada pelo voto, a mais legítima procuração para falar em nome do coletivo. Faço-o, também, e por que não, pela coerência que me impus na construção da minha própria história.
Procuro uma palavra que possa simbolizar a nossa presidenta, ao mesmo tempo em que traduza o sentimento que deverá alinhavar essa nossa conversa. De um senador a uma presidenta, ambos eleitos e legítimos nas suas funções públicas. Busco, então, na presidenta, uma característica, uma maneira de ser, um predicado que possa completar e justificar o sujeito da minha mensagem.
Poderia ser “trabalho”. Poderia ser “obstinação”. Poderia ser “persistência”. Poderia ser “luta”. Poderia ser, quem sabe, “perdão”. De repente, eu me vejo diante de uma múltipla escolha, de características pessoais próprias da biografia de quem a vida é plena de sentimentos coletivos.
Talvez a melhor palavra para, ao mesmo tempo, constituir-se no mote dessa minha espécie de “carta aberta à presidenta da República”, ao mesmo tempo em que identifique, da forma que eu imagino ser mais fiel, a minha “destinatária”, seja “resistência”. Repito: resistência!
Vou ao nosso mais famoso dicionário. “Resistência”: “ato ou efeito de resistir; força que se opõe a outra, que não cede a outra; força que defende um organismo do desgaste de doença, cansaço, fome, etc.; aquilo que se opõe ao deslocamento de um corpo que se move; luta em defesa; oposição ou reação a uma força opressora; vigor moral, ânimo”
Portanto, Excelentíssima Senhora Presidente Dilma Roussef.
Acho que não preciso justificar a minha escolha, quando me lembro da sua história. Ela tem sido, até aqui, marcada por todos os significados da palavra “resistir”. No campo pessoal. No campo político. Enfim, no campo da sua própria vida.
As masmorras da vida jamais lhe fizeram esmorecer. Nem mesmo quando a força opressora, ou quando o sistema, lhe tentaram minar o último fio dessa mesma resistência. E, consequentemente, da sua existência.
Sei que, nesses momentos, não é fácil “oferecer a outra face”. Perdoar, quem sabe. Esquecer, difícil.
Mas, ainda que tenham sido momentos inesquecíveis, do ponto de vista histórico e pessoal, a Senhora está vivendo, hoje, o tempo mais importante da sua vida.
O princípio é o mesmo: a luta pelos milhões que estão, ou que continuam, lá fora. Dos subterrâneos de ontem e dos gabinetes de hoje. Os que estão lá fora da verdadeira cidadania. Os que estão lá fora, ainda, da verdadeira liberdade. E da verdadeira democracia.
Talvez a Senhora, apesar da experiência recente nos mais altos cargos da República, ainda assim não tivesse dado conta de que o poder também tem os seus torniquetes.
Antes, os porões. Agora, as coxias.
Por isso, vou repetir, sempre que necessário, a nossa palavra-chave: resistir.
Resista à continuidade da corrupção.
Antes, lhe exigiam nomes. Agora, trazem-nos.
A Senhora nunca deu os nomes, como afirmou, emocionada, naquela sessão aqui do Senado, “porque isso significava indicá-los ao corredor da morte”. Agora, não aceite indicações que não tenham o lastro da ética. Desviar o dinheiro público é, também, encaminhar outros nomes para o corredor da morte pela fome, pela falta de remédios, pela falta de segurança, pela falta de cidadania. Pela escuridão que persiste: a do analfabetismo.
Repito: os princípios são os mesmos. Resista!
Os poderes são harmônicos e independentes. Mas, a harmonia não pode ser alcançada através da imposição, principalmente se ela vier descalça dos melhores valores.
Se o poder tem que ser compartilhado, e se ainda é difícil fugir das tais “base de apoio”, é preciso saber em nome de quem, e de que, falam os “interlocutores”. Que interesses reais movem as tais “indicações”? Do bem coletivo ou dos interesses individuais e de pequenos grupos?
Não se curve à chantagem. Nomeie, apenas, profissionais cujos currículos sejam construídos pela competência e pelo profissionalismo e moldados pela ética. Aqueles que se proponham, tão somente, trabalhar pelo bem comum.
A sociedade brasileira foi às ruas e exigiu “ficha limpa” para todos os que se propõem exercer um mandato político. Isso deve ser estendido para todos os que ocupem um cargo público.
A ficha limpa tem que ser, necessariamente, um critério para qualquer nomeação, em todos os escalões do governo. Qualquer desvio de conduta tem que ser, necessariamente, acompanhado da devida punição. Que se inicia, obviamente, pela destituição do cargo. E que siga todos os demais trâmites legais, para que sirva de exemplo.
O País não pode continuar inerte aos esquemas de corrupção que se instalaram nas entranhas do poder. E, existem dois remédios para curetar essa verdadeira ferida, que sangra recursos públicos. O primeiro é preventivo: que os atos de nomeação sejam acompanhados, necessariamente, pela chancela da probidade do nomeado. O segundo é corretivo: se as luzes do poder ofuscarem a ética do nomeado, que ele não continue se protegendo com o “remédio caseiro” da impunidade.
O episódio recente, que envolveu um dos seus principais ministros, foi um sinal que alimenta, nos brasileiros, a esperança da devida mudança. Antes, as denúncias eram descaracterizadas por defesas pré-fabricadas. Por discursos de continuísmo. Neste episódio, a Senhora deu mostras de que não haverá tolerância com quem usa, em benefício próprio, os holofotes do poder, não importa quem seja.
Tenha a certeza, senhora Presidenta, de que a minha voz, aqui no Congresso, não é isolada. Os seus gestos de resistência terão, aqui, a ressonância construída pelo eco das ruas. Podemos, também aqui, ser minoria. Mas, a experiência recente dá conta de que a vontade popular atravessa as paredes dos gabinetes. Abre as coxias.
A sua resistência, senhora Presidenta, poderá ser, inclusive, um passo dos mais importantes para uma mudança de postura e de conduta, não só no Poder Executivo, mas em todas as outras instâncias, do Judiciário e, principalmente, do Legislativo.
Bom será o dia em que o Congresso votará, apenas e tão somente, segundo as convicções dos parlamentares. Segundo, como deve ser, as aspirações de quem eles representam. Que o voto em plenário não se constitua em um instrumento de troca para a liberação de emendas e a indicação de apadrinhados.
Se a proposta legislativa for aprovada, ou rejeitada, que seja porque as nossas consciências assim o oriente, e não porque se construiu maiorias a poder de promessas nem sempre lastreadas na boa conduta.
Quem sabe essa atitude seja, então, o início, de fato, de uma reforma política? Ou, pelo menos de uma reforma nas condutas políticas?
Simon à Dilma: "Resista,presidenta"
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Comentários
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Caro Senador
Seja sempre o portal da dignidade deste Senado tão carente de ideais congruentes com vontade e necessidade do povo.
Levante esta bandeira da resistência à impunidade.Fça-a conhecida deste povo carente de ídolos honestos.
abraços
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