Em audiência na Câmara Municipal, enfermeiros reclamaram que faltam ações de prevenção (Fotos: Juliana Freitas/CMPA)
Helen Lopes
O Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (Sergs) denunciou na tarde desta terça-feira, 29 de agosto, na Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal, deficiências no sistema de saúde da Capital.
Conforme a diretora da entidade, Nelci Dias, a gestão está priorizando ações de alta complexidade – exames e tratamentos avançados – em detrimento dos procedimentos de prevenção.
A análise foi feita perante dados do relatório do primeiro trimestre de 2006 da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que aponta um aumento de 26% da mortalidade infantil, em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 66 mortes de crianças de até um ano, 14 a mais que no período anterior, quando faleceram 52. Óbitos de recém nascidos aumentaram 38%, passando de 26 para 36.
O Sindicato reclama que as medidas preventivas na área odontológica também foram deixadas de lado. “Não há mais ações nas escolas de orientação e conscientização”, acusa Nelci, que trabalha como enfermeira há 15 anos.
De acordo com o relatório, os três itens que compõem as atividades básicas diminuíram neste ano – extração de dentes caiu 61% e procedimentos odontológicos coletivos e ações básicas baixaram 14%, cada. Além disso, a entidade afirma que a administração municipal está realizando 2,77% menos exames preventivos de câncer do colo do útero.
O Sindicato também acusa a Prefeitura de estar comprometida com a classe médica, promovendo a contratação de 65 médicos e apenas dois enfermeiros. Os dados indicam que nos três primeiros meses do ano foram feitas 28 mil consultas. Segundo Nelci, esse número representa uma média diária de 16 atendimentos por médico. “É muito pouco. Para isso, 29 profissionais seriam o suficiente”, acredita a enfermeira.
Secretário rebate avaliação do Sindicato
O secretário municipal de Saúde, Pedro Gus, explicou que as variáveis mudam de ano para ano e que o dado de aumento da mortalidade precisa ser consolidado no final do ano para se tornar real. “Não podemos pinçar dados do relatório e analisar isoladamente”, afirmou.
Gus admitiu, porém, que ocorreram problemas internos na Secretaria e que existe deficiência de verbas para compra de remédios. “O primeiro trimestre foi ruim, mas não aceito que se diga que a saúde piorou em Porto Alegre”, rebateu o secretário.
Secretário de Saúde, Pedro Gus: “O primeiro trimestre foi ruim, mas não aceito que se diga que a saúde piorou em Porto Alegre”
Conforme o gerente de Regulação dos Serviços de Saúde da SMS, Eduardo Elsade, os gestores não estão priorizando ações de alta complexidade porque não escolhem o destino dos recursos. “Isso já vem definido do Ministério da Saúde”.
Elsade reclamou que a situação piora porque o Governo do Estado não repassa o dinheiro da saúde aos municípios há 18 meses. A dívida totaliza R$ 208 milhões.
Para o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Oscar Paniz, existem muitas questões “que não estão minimamente resolvidas”, como exemplo, a necessidade de maior controle da SMS na falta de medicamentos nos postos de saúde.
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