Carla Ruas
Para desgosto de vizinhos e clientes, o Hortomercado Quintino, tradicional ponto de compras do bairro Moinhos de Vento, está quase desativado. Com mais de 30 anos de atividade, o local já reuniu 28 pequenas lojas, que formavam um excelente centro gastronômico da cidade.
Mas venceu, em 31 de agosto, o prazo final para o fechamento dos poucos estabelecimentos que ainda restavam no local. O galpão na rua Quintino Bocaiúva foi negociado pelo proprietário. E ainda abriga um último lojista, que resiste às pressões.
É o dono da loja de especiarias Arco Verde, Gilberto Chies, que ainda ocupa um espaço na construção que já está em obras internas de desmanche. Mesmo assim, ele atende clientes, muitas vezes aflitos para saber o destino do seu comércio, que vende desde vinhos até nozes, queijos e temperos.
“Estou aqui por tempo indeterminado”, garante. Ele aguarda a determinação da justiça sobre o preço da indenização que vai receber para sair do seu ponto de venda nos os últimos 28 anos.
Chies: “Passei quase 30 anos fazendo minha clientela”
“Não é justo sair por uma bagatela”, diz ele, referindo-se ao valor pago de indenização às outras 10 lojas que entraram com ações judiciais: cada uma recebeu cerca de R$ 500 mil.
Outra preocupação de Chies é com a mudança dos mais de mil itens que ainda guarda no estoque da loja. “Estou procurando um lugar grande e perto, porque passei quase 30 anos fazendo minha clientela do bairro”.
O comerciante lamenta que os lojistas não foram avisados com grande antecedência de que teriam de abandonar seus pontos. Ele lembra que tudo começou há três anos, quando as lojas que iam sendo desocupadas ficavam vazias, sem receber novos inquilinos.
“Tinha uma placa na frente dizendo que o local ia ser alugado, mas os proprietários estavam fazendo exatamente o contrário”, reclama. Logo, o esvaziamento gradativo começou a incomodar. Quanto menos lojas alugadas, menor a movimentação do espaço.
Para o proprietário da loja Delícias do Mundo, Mauricio Gonçalves, a saída do Hortomercado acabou sendo uma benção. Depois de 30 anos vendendo no local, ele foi um dos últimos a sair em agosto.
“Já eram poucas pessoas freqüentando e as vendas ficaram muito ruins”. Com a indenização recebida, ele montou uma loja na rua Benjamin Constant, nº 761. “Estamos muito bem e os clientes são os mesmos”, garante.
Mas a freqüentadora de anos do local, Maria Helena Preis, diz que o atrativo do Hortomercado era encontrar tudo no mesmo lugar. “Era um espetáculo”, resume. Hoje ela está muito decepcionada com o fechamento dos estabelecimentos. “Cada vez que venho tem menos lojas, é uma pena”.
Fim de uma tradição
A parte interna do galpão está em fase avançada de desmanche.
O Hortomercado abriu as portas em 1975, e tinha como principal atrativo o supermercado de produtos básicos Cobal. O galpão ainda comportava diversas lojas que complementavam as necessidades dos clientes, e por isso passou a ser muito freqüentado.
No início da década de 1990, o supermercado fechou e por cinco anos as pequenas lojas sobreviveram sozinhas. Depois desse período, a rede de supermercados Rissul ocupou o espaço por quatro anos.
Nestes áureos tempos, o hortomercado ganhou status de centro gastronômico e oferecia, além das lojas de frutas e verduras, também restaurante, bar, floricultura, peixaria e queijaria. Com o fechamento do Rissul, as lojas ficaram isoladas novamente.
Para Chies, este fator não é determinante para a sobrevivência dos estabelecimentos. Ele sonha com a continuidade do Hortomercado com características semelhantes ao centro de compras mais tradicional de Porto Alegre.
“Se a Prefeitura comprasse esse galpão, não precisaria investir nas lojas e teria um segundo Mercado Público”, acredita. Assim, o ponto seria incorporado à memória da cidade e não destruído. “Não sabemos nem porque o prédio está sendo vendido”, lamenta.
Assim, o grande terreno na Quintino Bocaiúva, entre Marquês do Pombal e Cristóvão Colombo deve mesmo dar lugar a um novo empreendimento no bairro.
Último lojista resiste no Hortomercado Quintino
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