Últimos dias para ver Joan Brossa no MARGS

Naira Hofmeister
As letras, a sujeira – em todos os seus aspectos – a humanidade e seus dilemas. Tudo aparece representado nas obras do Joan Brossa, em exposição no MARGS até domingo, 5 de março, na mostra De Barcelona ao Novo Mundo. O título alude à pouca divulgação que a arte de Brossa possui na América Latina, em oposição à fama de “catalão mais representativo do século 20” que construiu entre seus conterrâneos. A exposição faz uma retrospectiva das diversas vertentes do trabalho do artista através de objetos, instalações, poemas visuais, livros e cartazes, além de documentos sobre sua trajetória em fotografias e vídeos
Nas três salas do MARGS destinadas à mostra, uma variedade de materiais, temáticas, suportes e indagações. Brossa incorpora um ativista político na instalação que representa uma orquestra com seu regente, que ao invés de instrumentos, tocam a sinfonia da guerra com metralhadoras. A obra – assim como muitas outras – revelam um lado autobiográfico: o artista lutou ao lado do exercito republicano durante a guerra civil espanhola. Che Guevara também é homenageado em uma das obras de poesia concreta do catalão.
Através dessa vertente, Brossa revela a paixão que nutre pelas palavras, mas também o medo que elas podem provocar, como na representação onde, de um revolver, brota a palavra Poema. As relações humanas também estão explicitas na exposição: há analogias entre o casamento e a liberdade, ou o empregado e a exploração.
A mostra é resultado de uma parceria entre a Fundació Joan Brossa, o Institut Ramon Llull e o Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação espanhol, com curadoria de Glòria Bordons e Sérgio Valenzuela. Já foi vista no Museo de Artes Visuales (MAVI, Chile, julho de 2005) e no Centro Universitário Maria Antonia da USP (São Paulo, outubro de 2005). Depois de passar pelo MARGS, a exposição segue para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM, abril de 2006) e para o Centro Cultural Recoleta (Argentina, julho de 2006), encerrando o calendário de exibição no Instituto Camões (Portugal, outubro de 2006). A visitação tem entrada franca, das 10h às 19h.
O artista e sua obra*
Joan Brossa (1919-1998) é filho de uma modesta família barcelonesa. Remonta de sua infância o contato com o teatro popular, a literatura tradicional catalã e os espetáculos de ilusionismo e magia que tanto marcam sua obra. Para o artista catalão, magia é sinônimo de poesia, já que ambas possuem o poder de transformar a realidade. Grande quantidade dos trabalhos de Brossa tenta responder a questões sobre o lugar e a produção da poesia, além de demonstrar preocupação com o homem e com o mundo em que vivemos.
Com o fim da Guerra Civil, na década de 40, Brossa passa a sobreviver do comércio de livros, especialmente aqueles proibidos pelo franquismo. De volta a Barcelona, o artista conhece J.V.Foix, Joan Miró e Joan Prats que o introduzem no movimento surrealista. Em 1947, graças ao contato com Arnau Puig e Joan Ponç, Brossa empreende a aventura de Algol, embrião do que depois seria a revista Dau al Set. Começa daí uma constante ação na trajetória do poeta catalão: a parceria de trabalho e amizade com grandes nomes da arte como Eduardo Chillida, Chema Madoz e Fernando Krahn. No final da década de 40, Brossa realiza odes livres onde começa a reivindicação de uma Catalunha livre de submissões econômicas, políticas ou religiosas.
A partir de 1950, a produção poética do artista empreende um novo caminho, marcado pelo compromisso social, em parte graças ao poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto, que lhe proporciona uma aproximação com a cultura brasileira e latino-americana. A partir daí Brossa passa a produzir odes, sonetos e peças, que na década de 60 vão somar-se à poesia visual, ultrapassando o significado da palavra para concentrar-se na letra.
Na década de 70 o impacto causado pela publicação de Poesia Rasa e os seis volumes de Poesia Escènica colocam Joan Brossa no patamar das figuras capitais da literatura contemporânea catalã, ao mesmo tempo em que seu trabalho nas artes plásticas é reconhecido internacionalmente. Neste mesmo período, o artista começa a trabalhar um novo gênero poético, a sextina, forma medieval com a qual experimentou até ao limite.
Às vésperas de completar 80 anos, Brossa continuava produzindo, até seu falecimento em 1998. Em seus últimos livros se constata uma serena e emotiva reflexão sobre a vida e a morte. Entre os inúmeros prêmios que o artista recebeu destacam-se o Cidade de Barcelona (1987); a Medalha Picasso da UNESCO (1988) e o Nacional das Artes Plásticas (1992).
* Com informações do MARGS

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