Higino Barros e Tiago Baltz
O primeiro candidato a ser oficializado na corrida ao Palácio Piratini em 2018, Jairo Jorge, do PDT, recebeu em sua casa em Canoas o jornal JÁ no dia 18 de janeiro.
É com o ex-prefeito de Canoas, que o JÁ inaugura uma série de entrevistas com os candidatos ao Piratini. Uma oportunidade ao leitor para saber o que pensa e quais as propostas para quem quer governar o Rio Grande em meio a grave crise financeira do Estado.
Sereno, Jairo conversou por pouco mais de uma hora com os repórteres sobre sua experiência como prefeito de Canoas, onde ficou 8 anos à frente do Executivo. De sua polêmica saída do PT e ingresso no PDT e planos para um futuro governo.
JÁ – O senhor pode fazer uma pequena biografia de sua trajetória?
Jairo Jorge – Eu Tenho 54 anos, faço 55 em maio, sou jornalista – é minha profissão, e vivo dela. Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), trabalhei em vários veículos, TVE, Bandeirantes, Guaíba TV. Estive um tempo em São Paulo e em São José do Rio Preto, trabalhei na TV principalmente. E continuo na TV. Na política, em 1985 fui candidato a prefeito de Canoas, com 22 anos, o mais jovem.
JÁ – Então começou a militar cedo?
Jorge – Desde 1979, antes de iniciar na faculdade. Comecei no movimento estudantil e no movimento da Juventude Católica, Minha origem é no movimento popular .E em 1985, em Canoas, o (senador Paulo) Paim não quis ser candidato e acabei escolhido. Em razão da minha militância sindical e popular.
Fui eleito vereador em 88, o mais votado do interior, com 3 147 votos. Mas não concorri à reeleição, decidi a partir de 92 me dedicar a profissão, fiz uma escolha pelo jornalismo. E fui trabalhar em São Paulo, seis anos. Fundei a TV comunitária, o primeiro canal comunitário do Brasil e que fui presidente dois anos. Retornei e em 2002 participei da campanha de Tarso Genro para governador.
Depois, fui com ele para Brasília e trabalhei como secretário adjunto do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo do presidente Lula, um ano. Depois no Ministério da Educação, mais dois anos, participei da criação e estruturação do Fundeb e Ideb, Prouni, expansão das universidades. Sendo responsável por um orçamento maior que do Rio Grande do Sul.
Em 2006 fui pra Ulbra, até que em 2007 fiz campanha para prefeito, sendo eleito em Canoas, no segundo turno. E em 2012 fui reeleito com 71% dos votos. Encerrei meu mandado com aprovação de 77%, segundo o instituto Methodus.
JÁ – A sua candidatura é de esquerda?
Jorge – Sou um homem de esquerda. E buscamos o campo da esquerda e do centro. Uma candidatura forte de centro-esquerda. Que supere a polarização atual entre direita e esquerda no RS. Na verdade, será uma escolha entre saídas conservadoras e saídas inovadoras.
E muitas vezes, tanto a direita e a esquerda tradicional tem saídas conservadoras – aumentar impostos, vender empresas públicas e até mesmo usar depósitos judiciais, são soluções conservadoras.
Mas, se observar na história da humanidade, as soluções inovadoras sempre tiveram no lado da esquerda. Nunca foi a direita que mudou.
É preciso aqui que a esquerda recupere esse caráter inovador, que tenha coragem e busque novas soluções. Esse é o grande mote para buscar uma solução.
Nos últimos 24 anos o Estado vive uma polarização de chimangos e maragatos, essa luta entre PT e PMDB, com uma passagem do PSDB, parou, estagnou o RS, é necessário um novo caminho.
Mas não pretendo e não vou atirar pedra em ninguém, Sartori – Tarso, Yeda, cada um fez o seu melhor. Cabe a nós buscar soluções inovadoras para corrigir os problemas que nesses anos não foram resolvidos.

JÁ – Mas como se inserir nessa dicotomia política e eleitoral e superar isso?
Jorge – O PDT tem a tradição da política no RS, com o trabalhismo, que foi inovador. E estamos novamente buscando construir soluções inovadoras. A última vez que governamos foi há 24 anos, com Alceu Collares. E sim, participamos de alguns governos, porque é um partido que tem pluralidade e competência para dialogar.
Agora, queremos ocupar nosso espaço com soluções inovadoras para o Rio Grande. É a única saída possível. Não pode ser mais do mesmo jogo. Temos um pé no tradicional e um no inovador.
A tradição nossa é na agricultura – mas precisamos inovar, investir em tecnologias, startups.
Se a população nos der a oportunidade de chegar ao segundo turno, obviamente vamos agregar as forças políticas de esquerda, precisamos de uma grande frente de esquerda para ganhar a eleição. Esse papel o PDT tá pronto pra fazer.
JÁ – O senhor fala em mudança, mas veio do PT para o PDT, e o PDT participou em algum momento dos últimos governos, Tarso, Rigoto, Sartori. Afinal, qual a mudança?
Jorge – Primeiro, o PDT tem pluralidade para dialogar com todos os partidos, o que poucos têm, isso é muito bom, foi isso que permitiu ao partido colaborar com governadores diferentes. Não é com política de vencedores e vencidos que vamos mudar algo.
Às vezes as soluções partem de diálogos, com forças diferentes, isso não significa que possa se perder a identidade, ao contrário, eu governei em Canoas com 17 partidos. E fizemos um governo de esquerda progressista. Muitos são de esquerda da boca pra fora, eu tenho ações para mostrar.
É preciso modelos de participação popular. Essa pluralidade do PDT é também minha marca, eu governei desta forma, com diálogo, e de forma moderna, progressiva.
JÁ – Porque o senhor saiu do PT?
Jorge – Minha saída do PT foi um divórcio amigável, eu procurei renovar o PT, mas minhas ideias não cabiam mais no PT e o partido entendeu que não via mais identidade nas minhas propostas. Mas tudo em um processo de respeito. Militei 32 anos no partido e me orgulho de minha trajetória e desejo que o PT se renove e se recupere, que volte a ter a mesma dinâmica, ímpeto que já teve, é importante pra esquerda do país.
Eu escolhi um caminho, tenho identidade com o tema da educação, fui gestor no ministério da educação. Vejo a educação com esse papel transformador, e o PDT entende e acredita nisso.
Eu me sinto confortável e bem recebido, minha trajetória nunca foi marcada por ataques a quem quer que seja, mas fiz minha escolha.
JÁ – E num possível segundo turno, procurarias o PT?
Jorge – As forças de esquerda, as forças progressistas vão sentar. Obviamente que num primeiro turno os partidos vão querer ter seus candidatos. Agora, na eventualidade de chegarmos no 2º turno, vou procurar todas as forças políticas de esquerda, e acredito que podemos formar uma grande força de centro-esquerda para podermos governar o RS.
A esquerda tem que ter essa humildade, quem não estiver no segundo turno apoie quem estiver.
Penso que os gaúchos devem levar ao segundo turno uma candidatura de centro-direita e uma centro-esquerda. Proponho comandar essa frente de esquerda.

JÁ – E esse candidato de centro-direita, o senhor acredita que seja o governador Sartori?
Jorge – Há dois nomes hoje, Sartori e Eduardo Leite. Mas são duas propostas semelhantes e que já governaram o RS, não trazem novidade alguma. Aliás, aprofundaram a crise.
Leite foi prefeito (de Pelotas) e fez uma boa administração. Mas, os eleitores vão buscar o novo e que mostre experiência. Eu tenho o que mostrar e no que inovei, e como fiz isso.
Eu peguei Canoas com orçamento de 477 milhões – recebi em caixa 25 mil, mas não ataquei ninguém, mas eu me preparei para isso. E tomei medidas estruturais nos primeiros cem dias de governo.
E de uma dívida de 175 milhões deixei, em 2017, um orçamento de 1,7 bilhão, graças muito a questão do ICMS que planejamos. Em 2020, serão dois bilhões.
O ICMS de Canoas em 2008 representava 3,9% da arrecadação no Estado. Já o ICMS, de 2017, representa 7,09%. E isso não vem dos recursos do petróleo, da refinaria. O barril de petróleo saiu de 100 dólares para 30, então, a repercussão foi negativa.
“Trouxemos 19 808 empresas pra cidade. E com duas medidas: a desburocratização, reduzindo de quatro meses para 48 horas o tempo para se abrir uma empresa. E a lei do gatilho, quando aumenta a arrecadação do ISS, aumento real, cai a alíquota. Esse dois mecanismos levaram ao crescimento”.
Por exemplo, em Pelotas a participação do ICMS caiu de 1,4% pra 1,2%, com isso podemos mostrar quem tem soluções que podem levar ao aumento de arrecadação.
JÁ – Qual a sua posição sobre o governo Sartori?
Jorge – O governador Sartori cometeu muitos erros, o principal é colocar a culpa da crise no servidor público, isso foi um erro fatal. Ao contrário, não há educação sem professores, não há segurança sem brigadianos, policiais civis e agentes penitenciários. Temos que valorizá-los. Tem que haver capacidade de criar convergências. Buscar no serviço público a capacidade e inteligência, criar oportunidades. Jamais colocar os servidores e a sociedade contra.

E não pode se eleger sem propostas, a sociedade deu um cheque em branco para Sartori, tem que explicitar o que vai fazer, ele não fez. A população não vai mais querer isso. Soluções absolutamente conservadoras, venda de empresas públicas.
JÁ – E a questão da dívida?
Jorge – Se essa negociação prevalecer, o próximo governador será um fantoche, porque quem vai mandar serão técnicos do tesouro nacional. É uma proposta submissa, perversa.
“Se essa negociação prevalecer, o próximo governador será um fantoche, porque quem vai mandar serão técnicos do tesouro nacional. É uma proposta submissa, perversa”.
É preciso força politica, unificar o Rio Grande e combater isso.
JÁ – Mas sendo o governador uma pessoa que o senhor considera um fantoche, o que fazer?
Jorge – Se eleito vou sentar com o presidente e ser claro, esses termos são inaceitáveis. A população precisa saber e entender – os deputados que votarem a favor estão votando pela manutenção do ICMS, estão aumentado impostos. E a propostas é manter o ICMS até 2023. Quem votar está a favor da privatização de patrimônio que é nosso, do povo gaúcho.

Dividendos do Banrisul serão entregues ao governo federal, e minha proposta é usar esses recursos num fundo para educação. A lucratividade das empresas públicas convergir para um fundo da educação. Modernização das escolas.
Precisamos sair de políticas de governos para políticas de estado.
Proponho uma lei de responsabilidade geracional, para ser aplicada em três áreas, educação saúde e segurança, num ciclo de 21 anos. Pactuar o que é preciso ser feito, com metas indicadores, com sete ciclos de três anos, pra avaliarmos as medidas.
Essa política atual é de enfraquecimento de sindicatos, quem vai negociar em nomes dos servidores, sindicatos fracos? Sindicatos fortes permitem um diálogo efetivo e a construção e trocas de ideais.
JÁ – E como lidar com a questão da Lei Kandir? Há como recuperar esses recursos?
Jorge – Defendo que o governador tome a frente e lidere um novo caminho para a lei Kandir. Hoje, o Sartori quer abrir mão, quem votar favorável a negociação da dívida está também abrindo mão dos ativos da Kandir, na casa de R$ 45 bilhões, e estamos abrindo mão, porque tirando as ações judiciais abrirá mão.
Proponho uma nova negociação. Concordo que o simples abatimento da dívida é algo complexo, temos que fazer uma auditagem. Essa dívida cresceu de forma desmensurada, quando o Collares deixou o governo, em 1995, a dívida era de R$ 25 bilhões e hoje de R$ 73 bilhões. Nós pagamos 25 e a dívida é de 73.
Se assinarmos a negociação, a dívida passa pra R$ 85 bilhões, que não será paga e se soma ainda empréstimos. É paradoxal e insano.
A união invés de usar a TR, que é o indicador usado nas suas dívidas, usa outros indicadores, sem conexão com a receita.
Eu defendo que esse dinheiro da Kandir usemos num fundo garantidor, se tivermos um fundo de R$ 45 bilhões atraímos investimentos. Ninguém faz uma PPP se não tiver garantia, o estado hoje não tem nenhuma garantia.
Temos que buscar soluções. Se as PPPs forem feitas numa modelagem correta, elas têm a capacidade de preservar e fortalecer o Estado.
Talvez em alguns anos o Estado tenha condições de fazer os investimentos por si só, mas hoje não tem, e temos que buscar formas, e PPPs podem ser uma saída.
JÁ – Como o Senhor vê a questão das isenções e da sonegação?
Jorge – As isenções são uma caixa-preta, ninguém sabe quem recebe e qual o resultado, sou favorável às isenções, mas se trabalharmos pra gerar progresso, empregos, temos que saber o quanto foi aplicado e quanto rendeu, isso é transparência. Hoje, não há. Em nome do sigilo fiscal, está se escondendo informações que a sociedade deveria ter o direito de saber, não queremos enfraquecer as empresas. Mas são R$ 9 bilhões de isenções. Saber qual o investimento e o resultado é dever do estado.
Hoje, a riqueza do estado está concentrada na região da Serra e região metropolitana e Porto Alegre. Temos que dinamizar isso, e os benefícios podem ter esse papel, e dar publicidade, repensando as empresas e suas estratégias.
E há uma sonegação real, de um lado temos uma carga excessiva e, de outro, temos uma omissão do estado. Em 1991, tínhamos 90 volantes. Hoje, praticamente não há nenhuma, é preciso uma fiscalização, não apenas sistema, inteligência, é preciso uma base material, vamos investir sim numa inteligência fiscal, mas temos que ter uma base material. Hoje não há no RS, eu trilhei quilômetros e quilômetros no Estado nos últimos meses e vi somente uma barreira.
Desde 2008, se nós tivéssemos crescido no combate a sonegação no mesmo patamar do Paraná, que tem uma mesma faixa de PIB que a nossa, o déficit do RS seria mínimo. Eles trabalharam fortemente em inteligência fiscal, mas pra isso tem que ter uma base.
E ainda precisamos reduzir a carga tributária, eu vou propor a lei do gatilho, quando aumenta a arrecadação – aumento real, a alíquota cai, se ocorrer redução nominal – a alíquota sobe, é um gatilho, pra cima e pra baixo. Essa participação é importante e cria um mecanismo que reduz carga tributária.
Hoje não há competitividade. Em SC o ICMS é menor, muitos preferem comparar mercadorias no estado vizinho por isso, temos uma evasão de riquezas. Aumento de impostos é uma politica tradicional, convencional, que não nos levou a lugar nenhum.
JÁ – E qual o tamanho ideal do Estado?
Jorge – O estado necessário, que eu defendo, é sempre fruto do seu tempo. Há setenta anos a sociedade se mobilizou para ter a Aço Finos Piratini, porque era necessário. Era vital a questão energética na época. Foi necessária a existência da CEEE. Quando Brizola foi governador, o RS tinha 30 mil telefones, foi necessário a CRT.

O Estado tem que ser pactuado com a sociedade. Estabelecer novas pontes com a sociedade. Radicalização da democracia, participação efetiva e popular. É a sociedade que tem que dizer o tamanho do Estado. Defendo que a CEEE, Banrisul, Corsan – são empresas estratégicas. Que fiquem com a sociedade. Mas não é um debate de governos iluminados em direção à sociedade, mas da sociedade pra o governo.
É preciso discutir um orçamento de forma democrática. É chave pra sociedade. O orçamento deve ser formado com participação popular. Isso tem que ser retomado. Criar vários canais de participação.
JÁ – Como prefeito o senhor teve experiências de contato com a população, como reproduzir isso no Estado?
Jorge – Esse sistema de participação que criamos foi muito bom. Foram várias ferramentas para que os cidadãos tivessem no centro do governo.
Pra isso precisamos de múltiplos canais. Tem pessoas que gostam de fazer reunião, outras não. Umas querem fazer críticas, outras propostas.
O estado precisa disso, Uma das propostas é retomar a ideia dos Coredes. Empoderar os Coredes, reativá-los e em cada região também criar um escritório regional do governo, com um responsável da região.
Santa Catarina já adota essa estratégia, com secretarias de desenvolvimento regional. Hoje, SC está muito diferente do que o RS, está focando no Desenvolvimento Regional.
Os Coredes e os escritórios regionais vão ser o elemento unificador das ações do estado. Hoje ainda temos uma politica provinciana no RS. A capital manda e o interior obedece. Ainda temos esse portoalegrecentrismo, precisamos romper, governar nas regiões.
Os Coredes são uma base positiva para regionalizar o Estado. Minha proposta é que o governador nas sextas e sábados de cada semana se desloque a um Corede, e que faça essa escuta da sociedade. Ouvindo prefeitos, vereadores e a população. E com isso fazer uma discussão verdadeiramente democrática do orçamento, não só votando, mas definindo efetivamente as políticas regionais, envolver a sociedade. Essa teia de integração é fundamental pra sair da crise.
JÁ – Quais as ações imediatas e estruturais que devem ser feitas no início do governo?
Jorge – Muitas ações precisam ser tomadas, é preciso um novo estado, não serão com 27 ou 19 secretarias que vamos estruturar o estado, é preciso uma estrutura mais leve. Não serão com sete oito níveis hierárquicos que vamos resolver, três já é o bastante – desenvolvimento, formulação e execução, não tem sentido mais do que isso.
Quanto menor o nível hierárquico, mais rápido chega-se aos resultados, uma reestruturação do Estado tem que ser no início do governo. Essa ideia dos Coredes e escritórios regionais, redução da carga tributária, é preciso uma segunda revolução educacional, a primeira foi o Brizola que fez nos anos 50. O RS era um estado de analfabetos, metade da população não sabia ler e escrever. Foram 6302 construídas em quatro anos. Elas ajudaram o RS a se tornar uma referência na educação.
Hoje somos o 15º colocado nos índices de educação, deixamos de ser referência. Hoje, o Ceará fez mudanças importantes. Vamos buscar essas ideias.
“É preciso uma segunda revolução educacional, a primeira foi o Brizola que fez nos anos 50”.
Não há soluções fáceis. Toda e qualquer solução hoje pro Rio Grande do Sul é difícil, e não são soluções rápidas.
Desburocratizar, hoje nós levamos 900 dias pra dar um licenciamento ambiental. Em São Paulo são 150 dias, em Santa Catarina são 90. A empresa abre em SC. Uma pequena hidrelétrica leva de quatro a seis anos para ser instalada, em SC seis meses.
Aqui em Canoas, o shopping levou 57 dias para conseguir as licenças. O Barra Shopping em Porto Alegre levou cinco anos.
JÁ – E qual a sua proposta para a área da saúde?
Jorge – A politica do atual governo está levando a uma asfixia da estrutura hospitalar, especialmente dos hospitais de pequeno e médio porte.
Essa estrutura foi construída pela sociedade – instituições filantrópicas beneficentes que nasceram porque o estado não prestou serviço e elas assumiram. A sociedade criou essas estruturas. E neste atual governo, uma das primeiras medidas foi acabar com o incentivo IOSP para os hospitais, vamos retomar.
O grande problema hoje da saúde é ausência de política regional, temos que incentivar ações nas estruturas regionais. Evitar sombreamentos, hoje regiões vastas, como Palmeiras das missões, Sarandi, não tem UTI.
Tem que ter cobertura. Nunca tivemos uma dívida tão grande com as prefeituras – o estado já ficou quatro meses sem repassar nada aos municípios. O necessário é uma politica regional, com a volta dos incentivos aos hospitais, é o necessário.
JÁ – E qual a leitura desse quadro de área de segurança? O que fazer?
Jairo – Perdemos nos últimos anos quase seis mil brigadianos. Desde o governo Tarso até o Sartori. Veja, quando Collares assumiu, em 1991, tínhamos 29 980 PMs. Desde então, a população cresceu 25% e nos temos uma redução para 15 800 brigadianos, números de meados de 2017. Agora entrarão novos brigadianos, mas não melhora substancialmente. É o menor número de PMs nos últimos 30 anos.
É uma crise de números alarmantes, mas de 180 assaltos a banco. Crescimento da população carcerária por políticas que estão sendo implementadas e que estão nos levando a um aprofundamento da sensação de falta de segurança.
Exige técnica, estratégia, tecnologia e reflexão. Exige que olhemos as experiências bem-sucedidas, como de Nova York, Bogotá, Pernambuco, olhar o que deu certo.
A atual politica transforma os presídios em centros de treinamentos para facções criminosas. Com exceção do presídio de Canoas. Aqui em Canoas, presidiários usam uniforme, tem disciplina e com oportunidades de trabalho e estudo.
Hoje, estamos 50% por cento acima da capacidade prisional, temos 36 mil presos para 24 mil vagas.
O caminho é buscar o denominador comum dessas experiências exitosas. De um lado, termos inteligências, dados pra enfrentar o crime. Não há hoje uma sistematização desses dados e um trabalho pra enfrentar a violências, não há o uso inteligente da tecnologia, eu levei em 2011 a proposta do cercamento eletrônico e o Estado ainda não fez.
“Não é com masmorras medievais que vamos melhorar”.
É necessário um cercamento eletrônico para que possamos enfrentar o crime. Tirar deles o seu oxigênio, os carros, os roubos e furtos de veículos. É dai que eles buscam dinheiro, e conseguem armas e drogas. O crime anda sobre rodas.
O segundo elemento é um policiamento ostensivo e comunitário. O policiamento comunitário é fundamental. Criar vínculos com a comunidade.
O terceiro elemento são os projetos sociais, educação, educação profissional, ambientes de lazer e cultura.
Tem que haver esse triênio – tecnologia, inteligência, com policiamento comunitário e investimentos sociais. E novo modelo prisional, novos presídios como os de Canoas. Não é com masmorras medievais que vamos melhorar.
JÁ – E de onde tirar o dinheiro para esses investimentos?
Jorge – Minha proposta é criar uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), chamada de RS Investimentos, para administrar os ativos do Estado. Temos muitos ativos, áreas e imóveis, mas o modelo tradicional não consegue transformar em recursos. Há propriedades abandonadas que poderiam ser locadas – parceiras com iniciativa privada, trazendo dividendos. Ou até vender se necessário, porque não são mais estratégicas ao Estado.
E esses recursos do RS Investimentos, minha ideia é aplicá-los exclusivamente na segurança. Estamos falando de milhares de áreas que podem ser melhores geridas e que hoje o Estado não consegue transformar isso em dividendos.
Em 2011, por exemplo, o cercamento eletrônico custaria 20 milhões. Hoje, claro, seria mais, mas podemos conseguir o dinheiro.
JÁ – O atual governo extinguiu as fundações estaduais? Qual a sua opinião sobre isso?
Jorge – O governador Sartori agiu como exterminador do futuro. No afã de fazer algo fez o que não levou a lugar nenhum.
Ali estava uma possibilidade de transformação do RS. Poderia ter feito diferente, preservar a inteligência – os pesquisadores e cientistas. Se a produção eventualmente não era a desejada – isso tinha que ser discutido, se a produção científica não estava rendendo é culpa do gestor e não dos servidores. Foi um enorme equívoco. Mas é possível recuperar essas funções, talvez não nas mesmas estruturas que existiam.
Temos que discutir um caminho, criar uma estrutura mais leve – sem cargos de comissão, com no máximo dois níveis hierárquicos.
Outro erro foi exterminar instituições que tinham papel de pensar o futuro do RS, caso da FEE e Metroplan, as séries históricas são importantes para desenharmos o futuro, as tendências da economia, e isso foi exterminado, as consequências podem ser perversas se isso não for revertido.
Poderia ter sido feito tudo de forma diferente – com resultado muito melhores do que aconteceu. O governo perdeu receitas, com a Cientec, por exemplo, e ficou com as despesas, aumentou porque levou funcionários estatuários pra dentro do serviço público, e portanto gerou distorções, aumentou as despesas, foram medidas inócuas.
JÁ – O PDT fala em revolução da educação, como fazer?
Jorge – Tivemos a experiência do Brizola na década de 50, uma mudança muito importante que revolucionou o Estado para a sua época. O novo desafio é fazer uma segunda revolução educacional que prime pela qualidade, criatividade e inovação.
Veja, o Banrisul já teve R$ 1 bilhão de lucro. Eu digo que vamos criar um fundo para a educação e todos os recursos serão drenados para isso. Pra escolas modernas, turno integral. Usando esse lucro do Banrisul e de empresas estatais.

JÁ – A eleição nacional pode ter interferência no quadro do Rio Grande do Sul?
Jorge – O Rio Grande do Sul está num outro patamar, tem sua independência, aqui se vai pra um lado diferente. Nacionalmente ainda me parece cedo. O PDT está apresentando a candidatura do Ciro Gomes, que me parece maduro e pronto para o desafio. Precisamos de experiência, atitude e liderança. E o Ciro tem a marca da liderança. E o exemplo, ele abriu mão da sua aposentadoria como governador. Essa força do exemplo é importante.
O Temer, hoje, representa um retrocesso perverso para o Brasil – venda de patrimônio, integrismo, esse caminho o Brasil já rejeita. Basta ver, é o governo que tem a menor taxa de aprovação da história – 94% rejeitam o governo.
E temos um compromisso do Ciro. Caso eleito, vamos construir para o caso da dívida. Algo que nos permita respirar.
JÁ – Como vê o julgamento de Lula?
Jorge – A sociedade brasileira exige que o Lula tenha um julgamento democrático, correto, onde sejam avaliadas as provas, não ilações. E dentro da ordem pública, que todos possam se manifestar.
Porto Alegre tem uma tradição democrática e acredito nas instituições. Acredito que o judiciário tenha a capacidade de corrigir erros. Se um juiz da primeira instância, ou mesmo de segunda, errarem, existem instâncias superiores. E acredito na democracia.
Pensamos, a justiça é a venda e a balança, sem olhar quem está sendo julgado, com equilíbrio. Não podemos ter para um a lentidão e para outro ser célere, a justiça tem que ser equânime, não podemos permitir a seletividade, ela é nociva.
Efetivamente, até hoje, em minha opinião, as provas são frágeis. Mas a justiça teve dar o encaminhamento correto. Independente da questão eleitoral e partidária, está em jogo a democracia. Ninguém está acima da lei e ela não pode ser persecutória.
JÁ – Recentemente o senhor teve bens bloqueados por contratações de empresas para cuidar da merenda escolar em Canoas, como está esse caso e qual a sua explicação?
Jorge – Todo o gestor está sujeito a ações. Eu estou recorrendo, porque acredito na justiça. Foi uma decisão de primeiro grau.
Em 2013 duas empresas que contratavam merendeiras e serventes quebraram e no final do ano 450 pessoas ficaram desempregadas, durante o ano já havíamos tendo problemas. A prefeitura entrou na justiça do trabalho pra pagar salários para os funcionários dessas empresas. Em janeiro de 2014 entramos com uma licitação emergencial, para contratar uma empresa que abrigasse as 450 pessoas que perderam empregos e que fizessem a merenda de 30 mil alunos e a limpeza de 77 escolas.
Um processo licitatório normal leva meses e nós optamos pelo emergencial, e contratamos uma empresa. A oposição judicializou isso, por três vezes foram ao TCE e por três vezes ganhamos. E a licitação normal, que também abrimos junto a contratação emergencial, levou 14 meses. E se não tivéssemos feito o contrato emergencial, 30 mil alunos ficariam sem merenda por 14 meses? Eu seria acionado por desobedecer ao ECA.
Agora me diz, onde está o erro? Se merenda e limpeza escolar não é emergencial, o que será? A população tem bom senso, esse é um processo em que é claro que a prefeitura seguiu todas as regras, Canoas está entre as quatro cidades mais transparentes do RS, quem diz é a CGU.
Uma coisa é corrupção, outras são práticas de gestão, vou procurar na justiça explicar essa decisão e reverterei esse quadro, porque isso de bloquear bens me condena antes da decisão final.
Mas um prefeito inovador paga também um preço, incomoda alguns.
JÁ – O senhor tem andado pelo estado, o que tem visto, qual o Rio Grande que está encontrando?
Jorge – Já visitei 306 cidades, e existem muitos Rio Grandes, com problemas e muitas potencialidades – na agricultura familiar, agronegócio, sistemas cooperativos, temos grandes tradições no cooperativismo.
Entre os problemas, a questão da segurança chama a atenção. O medo chegou aos pequenos municípios. É uma questão chave. Hoje as pessoas vivem com medo.
Há também inúmeras questões de infraestrutura, estradas e energia. Em comunicações, a telefonia está concentrada nas cidades, não chega ao interior.
Saúde, asfixia de pequenos e médios hospitais. O estado não paga os municípios, nunca o Estado deveu tanto aos municípios. E uma crise grande na educação.
Para ser governador tem que conhecer isso, por isso, pretendo ainda neste primeiro semestre visitar todos os 497 municípios do Estado. Percebo que somos um estado heterogêneo, isso dever ser a riqueza do RS, e é preciso conhecer na palma da mão para propor soluções.

JÁ – O Senhor tem então ideia do eleitorado do interior, o que significa e como chegar até ele?
Jorge – A Região metropolitana tem 40% dos votos e o interior cerca de 60%. Mas estou fazendo uma peregrinação pelo Estado.
Em cada cidade que passo planto uma árvore. Um símbolo, só planta uma árvore quem acredita no futuro daquele lugar. É um gesto pequeno e simbólico. Mas estabeleço um vínculo com aquela cidade. E um compromisso de retorno.
A partir de cinco de outubro, intensifiquei as viagens e até maio pretendo visitar todas as cidades do RS. Encontro um espaço muito aberto ao diálogo. As pessoas querem uma mudança – mas não uma aventura. Como ocorre, por exemplo, hoje em Porto Alegre, o Marchezan se transformou em uma aventura sem saber aonde vai dar. Com danos profundos. Uma mudança segura é necessária e nós do PDT podemos fazer isso.

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