Por Elmar Bones
“A saída de Aod deflagra mudanças no Piratini”. A manchete em Zero Hora não podia ser mais cautelosa. Tirou o foco do fato novo, inusitado e jogou para “mudanças no Piratini”. Um fato concreto, surpreendente, uma bomba – tem seu impacto diluído por imprecisas “mudanças no Piratini”.
Não foi diferente com os outros jornais de Porto Alegre. Todos trataram mais ou menos oficiosamente a bomba política do ano – a demissão do secretário da Fazenda, Aod Cunha, o homem mais importante do governo estadual. Até o experiente senador Pedro Simon se espantou: “O Aod saiu do governo? Se não estivesse sentado eu caia”, disse ele quando soube. A mídia, porém, preferiu não dar maior importância.
No entanto, o que a saída de Aod Cunha deflagra é um novo governo Yeda Crusius. As especulações nos jornais dizem que a governadora cede à base aliada, de olho na eleição de 2010. É mais provavel que ela esteja cedendo ao seu projeto de reeleição.
A anunciada saida de Marisa Abreu, da secretaria de Educação vai no mesmo sentido – o governo recua do embate com as corporações, em nome do ajuste fiscal. A nomeação de Ricardo Englert, o interino que pode ficar permanente no lugar de Aod, é outro indicativo
Ainda está para ser feita uma avaliação criteriosa do alcance do ajuste obtido por Aod Cunha. Mas uma coisa é certa: é apenas um começo favorecido por circunstâncias que se alteraram radicalmente. Um resultado primário foi alcançado muitas vezes por governos anteriores. Mas não tinham sustentação. Não havia um ajuste, havia o início de um ajuste que logo era abandonado porque havia uma eleição ali na frente.
O que Aod conseguiu se deveu a dois fatores: aumento da arrecadação e contenção dos gastos. O aumento excepcional da receita decorreu do crescimento da economia, basicamente. A contenção, ainda que se limitasse ao custeio, respondeu pelo resultado primário alcançado em 2008: R$ 300 milhões.
O controle dos gastos seria, numa conjuntura incerta, talvez a única variável ao alcance do secretário para não deixar desandar o ajuste precariamente conseguido.
Se houver a crise prevista, a arrecadação de impostos vai cair, talvez mais do que a economia porque a tendência nessas circunstâncias é aumentar a sonegação.
A saída do secretário da Fazenda indica que a governadora se rendeu à velha fórmula da política tradicional: dois anos para mostrar serviço, dois anos para colher dividendos. E, então, todo o resultado obtido com enorme sacrifício da sociedade é jogado num projeto político.
Nos últimos trinta anos todos foram mais ou menos por este caminho. A consequência para o Estado é conhecida: uma dívida impagável, um orçamento que não cobre as depesas básicas, um corpo funcional inchado e descontente, serviços públicos cada vez piores.
O consolo é que até agora nenhum conseguiu fazer o sucessor ou se reeleger.
Yeda muda secretariado pensando em 2010
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Comentários
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AOD sai como herói, falta a imprensa explicar melhor esse deficit zero… a qual custo no futuro?
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