Yeda tenta sair do olho do furacão

Cleber Dioni e Elmar Bones
A governadora Yeda Crusius decidiu não esperar a segunda-feira para tomar providências e tentar tirar seu governo do epicentro do furacão político que há uma semana abala as estruturas do poder no Rio Grande do Sul.
Na tarde chuvosa do sábado, convocou a imprensa para anunciar a saída de quatro auxiliares diretos – dois secretários (já são três), o chefe da representação do Estado em Brasília, e o comandante da Brigada Militar – envolvidos em denúncias de corrupção..
“Eu consultei muita gente, nós somos de um partido cujo estatuto é parlamentarista, nós realizamos uma reunião do Conselho Político e nós queremos reafirmar a bandeira da ética e da transparência, ” disse a governadora.
A posição de Delson Martini, secretário geral do governo, era insustentável desde segunda-feira quando foram divulgadas na CPI do Detran as gravações feitas pela polícia federal na Operação Rodin, onde ele era mencionado em diversos diálogos.
Cézar Busatto, chefe da Casa Civil, foi abatido na sexta-feira com a divulgação da fita de uma conversa entre ele e o vice-governador Paulo Feijó. No diálogo, Busatto dá uma aula de realismo político para justificar porque foi acobertado o Detran e não se investiga o Banrisul. São “fontes de financiamento”, um do PP, outro do PMDB, diz Busatto.
O chefe da representação estadual em Brasília, Marcelo Cavalcante caiu ante a evidência de suas relações com Lair Ferst, um dos pivôs do esquema que desviou R$ 44 milhões do Detran. Mais ou menos o mesmo motivo que derrubou o secretário do Planejamento, Ariosto Culau, há duas semanas.
O comandante da Brigada Militar, coronel Nilson Bueno, é um caso a parte. Ele é acusado de receber diárias por viagens em que não estava a serviço. A Justiça Militar acolheu a denúncia do Ministério Público e o coronel, que nega as acusações, terá que permanecer afastado durante as investigações que apuram os fatos.
Nos comentários que fez após o anúncio das demissões, a governadora manifestou sua indignação “pelo comportamento do vice-governador” e fez questão de deixar claro que a conversa com Feijó ocorreu por conta e risco do chefe da Casa Civil.
“Busatto é um homem espiritualista, um homem de paz, não me avisou, porque achava que podia fazer esse trabalho e resultou nisso que ele saberá enfrentar e dar a volta por cima. Tudo que ele fez na vida não se apaga com uma gravação”.
Com isso rechaça a acusação principal da oposição, de que tinha conhecimento das irregularidades, mas não tomou providências, o que, se confirmado, abriria caminho para um pedido de impeachment.
Sobre o loteamento das secretarias e as fontes de financiamento dos partidos referidas por Busatto, Yeda disse que como deputada federal, via isso acontecer, e que por isso trabalhou contra essas práticas e que, no governo, cortou 30% dos cargos de confiança. “Isso naturalmente provocou reações, todas as mudanças que realizamos geram reações e nós sabíamos que iríamos pagar por isso”, completou.

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