http://issuu.com/marcusleonardobruno/docs/jornalja01?e=0
Autor: da Redação
-
Dilma: a tortura julgada, a anistia sangrada
Luiz Cláudio Cunha *
Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente do Brasil, deve encarar um desafio que intimidou os cinco homens que a antecederam no Palácio do Planalto a partir de 1985, quando acabou a ditadura: a tortura e a impunidade aos torturadores do golpe de 1964.
José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, FHC e Lula nunca tiveram a cara e a coragem de botar o dedo na ferida da impunidade, chancelada pela medrosa decisão de abril passado do Supremo Tribunal Federal, que reafirmou o perdão aos militares e policiais que mataram e machucaram presos políticos.
Na quarta-feira passada (4), quando o país ainda vivia a ressaca da vitória no domingo da primeira ex-guerrilheira a chegar ao poder supremo da Nação, o incansável Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) ajuizou ação civil pública pedindo a declaração da responsabilidade civil de quatro militares reformados (três oficiais das Forças Armadas e um da PM paulista) sobre mortes ou desaparecimento forçado de seis pessoas e a tortura de outras 20 detidas em 1970 pela Operação Bandeirante (Oban), o berço de dor e sangue do DOI-CODI, a sigla maldita que marcou o regime e assombrou os brasileiros.
Dilma Vana Rousseff, codinome ‘Estela’, uma das lideranças da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), empresta sua voz e seu drama nessa ação para acusar o capitão do Exército Maurício Lopes Lima, responsável pela pancadaria na futura presidente e em outros 15 militantes políticos. Presa na capital paulista numa tarde de janeiro de 1970, Dilma foi levada para a Oban da rua Tutóia, onde cinco anos depois morreria o jornalista Vladimir Herzog. Sobreviveu a 22 dias de intensa tortura, como contaria em 2003 num raro desabafo ao repórter Luiz Macklouf Carvalho:
“Levei muita palmatória, me botaram no pau-de-arara, me deram choque, muito choque. Comecei a ter hemorragia, mas eu aguentei. Não disse nem onde morava. Um dia, tive uma hemorragia muito grande, hemorragia mesmo, como menstruação. Tiveram que me levar para o Hospital Central do Exército. Lá encontrei uma menina da ALN (Ação Libertadora Nacional): ‘Pula um pouco no quarto para a hemorragia não parar e você não ter que voltar pra Oban’, me aconselhou ela”.
O relato formal, revelado pelo projeto Brasil Nunca Mais da Arquidiocese de São Paulo, está transcrito nas páginas 30 e 31 do processo 366/70 da Auditoria Militar. Revela-se já nos autos o temperamento forte de Dilma, então com 22 anos, logo após ser transferida para o presídio Tiradentes e ali mesmo ameaçada de um retorno ao inferno: “…na semana passada, dois elementos da equipe chefiada pelo capitão Maurício compareceram ao presídio e ameaçaram a interroganda de novas sevícias…”, denunciou a presa. Dilma contou na Justiça Militar que perguntou aos emissários da Oban se eles estavam autorizados pelo Poder Judiciário. A resposta do militar resumia o deboche daqueles tempos: “Você vai ver o que é o juiz lá na Oban!…”
“Um torturador é um monstro”
Hoje tenente-coronel reformado, Maurício defendeu-se no jornal O Estado de S.Paulo: “Ela esteve comigo somente um dia e eu não a agredi, em momento algum”. A ação do MPF, subscrita pelo procurador regional Marlon Weichert e outros cinco procuradores, cita dois casos notórios entre os seis mortos: Virgílio Gomes da Silva, codinome ‘Jonas’, o líder do grupo que sequestrou o embaixador americano Burke Elbrick (integrado também por Franklin Martins e Fernando Gabeira), e Frei Tito, o dominicano preso pelo delegado Sérgio Fleury e que, transtornado pela tortura, acabou se enforcando meses depois num convento na França. “Tortura é crime contra a humanidade, imprescritível, tanto no campo cível como no penal”, dizem os procuradores que subscrevem a ação.
Apenas dois dos nove ministros do STF – Ricardo Lewandowski e Carlos Ayres Brito – concordaram com a ação da OAB, que contestava a anistia aos agentes da repressão. “Um torturador não comete crime político”, justificou Ayres Brito. “Um torturador é um monstro, um desnaturado, um tarado.
Um torturador é aquele que experimenta o mais intenso dos prazeres diante do mais intenso sofrimento alheio perpetrado por ele. É uma espécie de cascavel de ferocidade tal que morde ao som dos próprios chocalhos. Não se pode ter condescendência com o torturador. A humanidade tem o dever de odiar seus ofensores porque o perdão coletivo é falta de memória e de vergonha”.
Apesar da veemência de Ayres Brito, o relator da ação contra a anistia, ministro Eros Grau, ele mesmo um ex-comunista preso e torturado no DOI-CODI paulista, manteve sua posição contrária: “A ação proposta pela OAB fere acordo histórico que permeou a luta por uma anistia ampla, geral e irrestrita”. Grau deve estar esquecido ou desinformado, algo imperdoável para quem é juiz da Suprema Corte e também sobrevivente da tortura.
A anistia de 1979 não é produto de um consenso nacional. É uma lei gestada pela ordem vigente, blindada para proteger seus agentes e desenhada de cima para baixo para ser aprovada, sem contestações ou ameaças, pela confortável maioria parlamentar que o governo do general João Figueiredo tinha no Congresso: 221 votos da ARENA, a legenda da ditadura, contra 186 do MDB, o partido da oposição. Nada podia dar errado, muito menos a anistia controlada.
Amplo e irrestrito, como devia saber o ministro Grau, era o perdão indulgente que o regime autoconcedeu aos agentes dos seus órgãos de segurança. Durante semanas, o núcleo duro do Planalto de Figueiredo lapidou as 18 palavras do parágrafo 1° do Art. 1° da lei que abençoava todos os que cometeram “crimes políticos ou conexos com estes” e que não foram condenados.
Assim, espertamente, decidiu-se que abusos de repressão eram “conexos” e, se um carcereiro do DOI-CODI fosse acusado de torturar um preso, ele poderia replicar que cometera um ato conexo a um crime político. Assim, numa penada só, anistiava-se o torturado e o torturador.
A discussão do texto começou numa comissão mista do Congresso onde a ARENA tinha 13 das 20 cadeiras. Tateava-se com tanto cuidado que a oposição conseguiu que parentes de desaparecidos pudessem requerer do Estado apenas uma “declaração de ausência da pessoa”, já que resgatar o cadáver era algo impensável.
Até que, em 22 de agosto de 1979, numa sessão com nove horas de debate, o Governo Figueiredo aprovou sua anistia, a 48ª da história brasileira. Com a decisão, três dezenas de presos políticos do país encerraram a greve de fome de 32 dias que pedia exatamente uma anistia ampla, geral e irrestrita, apesar da credulidade do ministro Grau.
Com a pressão da ditadura, aprovou-se uma lei que não era ampla (não beneficiava os chamados ‘terroristas’ presos), nem geral (fazia distinção entre os crimes perdoados) e nem irrestrita (não devolvia aos punidos os cargos e patentes perdidos). Mesmo assim, o regime suou frio: ganhou na Câmara dos Deputados por apenas 206 votos contra 201, graças à deserção de 15 arenistas que se juntaram à oposição para tentar uma anistia mais ampliada. Se o Governo perdesse ali, ainda teria o colchão dócil do Senado, onde o MDB dispunha de apenas 25 senadores contra 41 da ARENA – dos quais 21 eram biônicos, parlamentares sem voto popular, mas absolutamente confiáveis, instalados ali pelo filtro militar do Planalto.
Perigo terrorista
Não passa de mistificação ou simples má-fé, portanto, dizer que a anistia de 1979 é produto de um consenso nacional, placidamente discutido entre o regime e a sociedade. A oposição, na verdade, aceitou os anéis para não perder os dedos, já que até uma anistia controlada era melhor do que nada. Líderes históricos como Arraes, Brizola e Prestes puderam voltar, mas o governo continuava insistindo na tese do perigo ‘terrorista’.
O fato real é que o único terrorismo que ainda vigorava no país era o do próprio Estado, que se dizia de ‘segurança nacional’. Bancas de jornal, publicações alternativas de oposição e siglas combativas da sociedade, como a OAB e a ABI, eram vítimas de bombas terroristas — e elas, com certeza, não vinham da esquerda.
Um dos mentores do ‘crime conexo’ e signatário da anistia de agosto de 1979 era o chefe do Serviço Nacional de Informações, o finado SNI, general Octávio Aguiar de Medeiros. Menos de dois anos depois, em abril de 1981, um Puma explodiu antes da hora no Riocentro, no Rio de Janeiro. Tinha a bordo dois agentes terroristas do Exército: um sargento que morreu com a bomba no colo e um capitão do DOI-CODI que sobreviveu impune e virou professor do Colégio Militar em Brasília. Um inquérito policial-militar do Exército apurou que o atentado foi planejado pelo coronel Freddie Perdigão. Era o chefe da agência do SNI do general Medeiros no Rio de Janeiro. Nada mais conexo do que isso.
Talvez o ex-preso político Eros Grau, agora ministro aposentado do STF, não soubesse disso, mas o Brasil espera que a ex-presa política Dilma Rousseff, prestes a assumir a presidência da República, tenha plena consciência dessas circunstâncias. Ela tem, por experiência de vida e de sangue, uma biografia que a diferencia bastante de seus antecessores, absolutamente complacentes e omissos nas questões mais candentes dos direitos humanos.
Fernando Henrique Cardoso, descendente de três gerações de generais e respeitado sociólogo de origem marxista, esperou o último dia de seu segundo mandato, em dezembro de 2002, para duplicar vergonhosamente os prazos de sigilo dos documentos oficiais que podem jogar luz sobre a história do país. Lula, um aclamado líder sindical que nasceu do movimento operário mais consciente e mais atingido pelo autoritarismo, sucedeu FHC na presidência, sob a natural expectativa de que iria corrigir aquele ato de lesa-conhecimento de seu antecessor tucano. E o que fez Lula? Nada, absolutamente nada para facilitar e agilizar o acesso à historia contingenciada pelos 21 anos de regime militar.
O sociólogo e o metalúrgico, assim, nivelaram-se na submissa inércia dos últimos 16 anos de governos tementes à eventual reação da caserna e seus generais de pijama. Uma grossa bobagem, já que nem os militares acreditam mais nesses fantasmas. Tanto que o site oficial do Exército, na internet, lipoaspirou sua própria história, que nasce na resistência ao invasor holandês em Guararapes, no século 17, passa pela Independência e pela República, exalta o Duque de Caxias e Rondon e desemboca nas duas Guerras Mundiais.
Sumiu do portal a Intentona Comunista, que reservava o 27 de novembro para a ode de sempre aos mortos da sublevação de 1935, e evaporou-se toda a cantilena sobre 31 de março de 1964, santificada como a ‘Revolução Redentora’ pelos defensores do golpe. Tudo isso é um bom sinal, e um alento para que ninguém mais se acovarde diante dos desafios da história — como fizeram FHC, Lula e o Supremo Tribunal Federal.
Na lente da história, o Exército pode ser visto pelo bem e pelo mal.
Em solo italiano, nos anos 1944-45, a brava Força Expedicionária Brasileira (FEB) lutou pela liberdade na guerra contra o nazi-fascismo, com 25 mil homens que fizeram 20 mil prisioneiros nas tropas do III Reich.
50 mil brasileiros presos
Em solo brasileiro, na ditadura de 1964-85, o Exército e seus companheiros de armas usaram uma força estimada de 24 mil agentes da repressão que, na guerra contra a subversão, prenderam cerca de 50 mil brasileiros, quase 20 mil deles sofrendo algum tipo de tortura. Alguns não tiveram, como Dilma Rousseff, a ventura de sobreviver.
Na campanha antinazista da Itália, tombaram 463 brasileiros, entre pracinhas e oficiais.
Na cruzada antisubversiva do Brasil, caíram 339 dissidentes, entre mortos e desaparecidos, segundo o livro Direito à Memória e à Verdade, divulgado pelo Palácio do Planalto em 2007.
Se a coragem não é suficiente, a ameaça de constrangimento pode ser um alento decisivo para a presidente Dilma Rousseff encarar a questão da tortura, na democracia, com a mesma bravura com que a enfrentou em plena ditadura. Ao contrário do ministro Nelson Jobim, uma figura submissa aos quartéis que inibia qualquer ação mais afirmativa de Lula, Dilma terá ao seu lado o eleito governador gaúcho Tarso Genro, que na condição de ministro da Justiça defendeu abertamente a punição aos torturadores e a revisão da anistia para este tipo de crime, com uma lógica clara como o sol: “No regime militar nenhuma norma, nem o AI-5, permitia a tortura. Este delito não é político, é comum”.
A desastrosa decisão da Suprema Corte brasileira, preservando a anistia para os torturadores, foi qualificada na ONU como “muito ruim”. A Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, a sul-africana Navi Pillay, justificou: “Não queremos impunidade e sempre lutaremos contra leis que proíbem investigações e punições”. O espanhol Fernando Mariño Menendez, jurista do Comitê da ONU, foi mais duro:
“Isso é incrível, uma verdadeira afronta. Leis de anistia foram tradicionalmente formuladas por aqueles que cometeram crimes, seja qual for o lado. É um autoperdão que o século 21 não pode mais aceitar”. O equatoriano Luís Gallegos Chiriboga, perito da ONU sobre tortura, lembrou: “Há um consenso entre os órgãos da ONU de que não se deve apoiar ou mesmo proteger leis de anistia. Com a decisão tomada pelo Supremo Tribunal brasileiro, o País está indo na direção contrária à tendência latino-americana de julgar seus torturadores e contra o senso da ONU luta contra a impunidade”.
O STF pode sofrer uma grave humilhação internacional ainda este ano — e isso pode ser o primeiro grande constrangimento externo do Governo Dilma. Começou em maio, em San José da Costa Rica, o processo n° 11.552 de Júlia Gomes Lund contra o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ela é mãe de Guilherme Lund, que desapareceu aos 26 anos, junto com outras 70 pessoas, no confronto das Forças Armadas contra os guerrilheiros do PCdoB nas matas do Araguaia, no sul do Pará. Em 2008, a Corte da OEA recomendou ao Brasil a punição aos responsáveis pela prisão, tortura e morte no caso Lund. O Brasil não reagiu e, no ano seguinte, foi aberto o processo contra o Estado brasileiro.
A decisão mais provável da Corte, que não comporta apelação, aponta para uma declaração constrangedora para o STF e para o Brasil até dezembro próximo, definindo que a lei da anistia não abriga os crimes de detenção, tortura, assassinato e desaparecimento dos guerrilheiros. Se isso serve para o combate no coração da floresta, pode servir também para os combatentes da guerrilha urbana que foram torturados no centro da maior cidade brasileira.
Como no caso de uma certa ‘Estela’, uma das líderes do grupo guerrilheiro VAR-Palmares. Com paradeiro certo e conhecido, a partir de 1° de janeiro: Presidência da República Federativa do Brasil, Palácio do Planalto, 3º andar, Praça dos Três Poderes, Brasília, DF, CEP 70150-900.
Sua ocupante, Dilma Rousseff, pode abraçar esta causa com a força de sua história e sua determinação. Agora, basta a sangria da memória. E uma hemorragia de verdade.
cunha.luizclaudio@gmail.com -
Moacyr Scliar retrata o Brasil político dos anos 30
Por Liège Copstein
Moacyr Scliar, autor da mais portoalegrense das literaturas universais, é hoje um imortal da Academia, prolífico escritor responsável por mais de 80 livros em vários gêneros: romance, conto, ensaio, crônica, ficção infanto-juvenil.
Publicado em mais de vinte países. Premiado, incensado, suas histórias ambientadas no bairro do Bom Fim e vizinhanças falam ao coração de qualquer um, em qualquer lugar do mundo. Mas o romance que Scliar está lançando nesta Feira do Livro é daqueles em que ele sai do gheto.
É a história de Valdo, rapaz idealista e apaixonado. A ideia de que a desigualdade fosse uma injustiça e de que houvesse pessoas lutando pelo fim da opressão social muda sua vida e o leva a deixar a estância onde vive rumo ao Rio de Janeiro, onde pretende entrar para o Partido Comunista.
Lá, acredita, o lendário líder do Partido, Astrogildo Pereira, haverá de recebê-lo de braços abertos para conduzi-lo em pessoa às fileiras da militância, onde finalmente sua vida ganhará sentido.
Mas, Astrogildo não está no Rio. Foi a Moscou, sem data para voltar. E Valdo não tem dinheiro. Em vez de lutar para libertar a classe oprimida, torna-se ele próprio um assalariado, operário da construção.
Para piorar as coisas, ele trabalha na obra que culminará num imenso ícone da alienação: o Cristo Redentor. Com o cenário efervescente do Brasil dos anos 30, Eu Vos Abraço, Milhões, da editora Companhia das Letras, parece trazer como personagem principal mais um dos incríveis visionários característicos da obra de Scliar. -
Domingo de votar e ir na Feira do Livro
Um belo domingo de primavera, com dois programas obrigatórios: votar e ir na Feira do Livro.
Confira a programação do dia:
Filhote de Cruz Credo
Adaptação para o teatro do livro autobiográfico do impagável Fabrício Carpinejar, com direção de Bob Bahlis. Penalizado por não aparentar os padrões estéticos mais aceitos em termos de beleza, menino é vítima de bullying na escola.
Às 15h, no Teatro Sancho Pança – Cais do Porto
Sexualidade e a Pessoa com Deficiência
Palestra com a escritora e cadeirante Juliana Carvallho, abordando com bom humor tema que é também objeto do seu livro Na Minha Cadeira ou Sua?, que será autografado na Feira no próximo domingo.
Às 15h20, na Casa do Pensamento – Cais do Porto
Cultura, Guerra e Terror
Debate sobre o Ocidente e o Oriente, cultura e religião, guerra e terrorismo. Com Luiz Antônio Araújo, Sergio Tutikian e Jurandir Malerba.
Às 16h, na Sala dos Jacarandás – Memorial do Rio Grande do Sul
Roda da Vida como Caminho para a Lucidez
O lama budista Padma Samtem autografa sua obra.
Às 17h30, na Praça de Autógrafos – Praça da Alfândega
Adoniran, Letra ou Crônica?
Com Marô Barbieri e Adão Pinheiro, palestra e homenagem ao célebre sambista carioca, que tão bem representava a vida do proletariado no Rio.
Às 18h, na Tenda de Pasárgada – Praça da Alfândega
Cultura Gaúcha em Movimento
Rumos da cultura no Rio Grande do Sul debatidos por Paixão Côrtes, Alcy Cheuiche, Ivo Benfatto e Luís Augusto Fischer.
Às 18h, na Sala dos Jacarandás – Memorial do Rio Grande do Sul
Ciclo Fahrenheit 451: Tatata Pimentel é Ficção Científica
No ciclo inspirado na obra homônima de Ray Bradbury, cada convidado encarna uma obra, sobre a qual conta sua história.
Às 19h, Cine Santander Cultural
Grandes Clássicos da Ficção Científica: Alien, de Ridley Scott
Às 19h, no Cine Santander Cultural
Título do evento: Ciclo Fahrenheit 451: Tatata Pimentel é o gênero Ficção Científica
Local: Sala Leste – Santander Cultural – Área Geral
Participantes: Tatata Pimentel
Inspirado em Fahrenheit 451, do mestre da ficção científica Ray Bradbury, o ciclo lembra a história em que, num futuro totalitário, os livros seriam proibidos e queimados. Graças a uma comunidade de homens-livros, publicações são decoradas e retransmitidas. -
Atrações de sábado na Feira do Livro
O tempo bom no sábado véspera das eleições presidenciais convida a um passeio no primeiro sábado da Feira do Livro de 2010. Confira a programação do dia:
Programa Cafezinho
Com Mauro Borba, Arthur de Faria, Paulo Inchauspe, Bivis
Programa da Rádio PopRock com músicos e escritores convidados.
Às 13hs, no Teatro Sancho Pança – Cais do Porto
Carlos Heitor Cony – Tenda.Doc, Documentário Autor por Autor
Exibição de coprodução entre a TV Cultura e SescTV, série que traça perfis de grandes autores brasileiros. Duração 8 min.
Às 14h30, na Tenda de Pasárgada – Praça da Alfândega
Marcia Tiburi autografa Filosofia Brincante, Ed. Record.
Às 15h, no Deck dos Autógrafos – Cais do Porto
Vida e Obra de Paixão Côrtes, de Luzimar Stricher
Exibição de documentário e homenagem ao patrono desta Feira, com a presença de patronos anterioros como Carlos Urbim e Alcy Cheuiche.
Às 15h, no Auditório Barbosa Lessa, Casa de Cultura Érico Veríssimo
Projeto Jornal Boca de Rua – 10 anos
Exibição do documentário Notícias de uma outra cidade, de Wagner Machado, e oficina.
Às 15h30, na Casa do Pensamento – Cais do Porto
Rato de Redação: Homenagem a Tarso de Castro, um jornalista brasileiro
Sessão de autógrafos com os autores Mauro Gaglietti, Aline do Carmo e Olmiro Schaeffer
Às 17h30, na Praça de Autógrafos – Praça da Alfândega
Flávio Gikovate autografa Sexo: repensando a valorização do desejo para uma sociedade menos violenta e mais equilibrada
Às 18h na Sala dos Jacarandás – Memorial do RS
Padaria Espiritual – O Jornal Vaia e a alegria, com Paulo Seben, Guto Leite e Fernando Ramos.
Em homenagem à Padaria original, movimento intelectual brasileiro do final do século XIX no Ceará, escritores, leitores e afins alimentam com o pão do espírito os sócios e os povos em geral, em programações que tem o livro e a leitura como mote central.
Às 18h, na Tenda de Pasárgada – Praça da Alfândega
Moacyr Scliar autografa Eu Vos Abraço, Milhões, Ed. Companhia das Letras
Às 19h30, na Praça de Autógrafos – Praça da Alfândega
Cliclo Fahrenheit 451 – Claúdio Moreno é Fahrenheit 451, de Ray Bradbury
Inspirado em Fahrenheit 451, do mestre da ficção científica Ray Bradbury, o ciclo lembra a história de um futuro totalitário em que livros são proibidos e dissidentes decoram mentalmente as obras, para que mesmo depois que todas tenham sido queimadas, ainda possam ser retransmitidas. No Ciclo, cada dia um convidado especial passa a ser um livro, dividindo-o com o público.
Às 19h, na Sala Leste do Santander Cultural
Grandes Clássicos da Ficção Científica: Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de Steven Spielberg
Às 19h, no Cine Santander Cultural
Cordão da Saideira: Artes Olvidadas
Espetáculo poético-musical em homenagem ao legado cultural de Atahualpa Yupanqui, desenvolvido pelo seu filho Roberto “Kolla” Chavero
Às 20h30, na Tenda de Pasárgada – Praça da Alfândega -
Feira abre em ritmo de folclore gaúcho
Por Liège Copstein
A abertura oficial da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre acontece hoje às 19h no Teatro Sancho Pança, no Cais do Porto. Mas diversas atividades acontecem desde a manhã, principalmente o 8º Forum Gaúcho pela Melhoria das Bibliotecas Escolares.
O clima de festa esquenta desde as 16h, com a chegada de grupos das cidades litorâneas Mostardas, Tavares e Santo Antônio da Patrulha, integrantes dos CTGs Xico Borges e Patrulha do Rio Grande.
Numa manifestação espontânea de homenagem ao patrono deste ano, o folclorista Paixão Côrtes, os visitantes virão vestidos a caráter para interpretar, em pleno Cais do Porto, as danças gaúchas típicas de sua região, como a Mazurca Marcada, a Galopeada, a Valsa de Mão Trocada, a Jardineira e a dança do Masquê, onde os homens vestem-se de mulheres e dançam mascarados. Essa dança é única no Brasil por suas características e a tradição vem desde o século XVII. -
A saga do violão extraviado e mutilado
Rafaela Ely
Nei havia tocado em Brasília no dia anterior e voltava para Porto Alegre. No Aeroporto Juscelino Kubitschek teve que despachar o instrumento, pois era muito grande e já levava outro na cabine. Quando chegou ao Aeroporto Salgado Filho, o violão não apareceu na esteira de bagagens.
O músico procurou a equipe da companhia para saber o que estava acontecendo. Eles lhe informaram que o instrumento fora localizado mas só depois é que disseram que ele estava danificado. “Aí eu me preocupei, eles não teriam dito isso se fosse só um arranhãozinho”, lembra o cantor.
O acidente aconteceu porque, na hora de descarregar a aeronave, o violão foi colocado no topo da pilha de bagagens que o veículo de transporte carregava. No caminho, o instrumento caiu na pista e, como se não bastasse, o trator passou por cima dele.
Foi com esse violão que Nei compôs a maioria de suas canções. “Era o violão que eu mais gostava”, desabafa. Ele diz que se sentia muito confortável com o instrumento e que será difícil criar uma afinidade assim com qualquer outro. Por ser o mais usado em shows e pelo seu formato, Nei acredita que aquele violão é também uma identidade que as pessoas associam com ele.
Esse era um modelo Washburn EA44, da série “Festival” de 1993. Sua construção emprega madeiras nobres e suas laterais e a parte de trás foram fabricadas com jacarandá brasileiro. Nei explica que, por causa das mudanças na legislação ambiental, hoje fica inviável fazer um violão igual a esse. Por isso, como indenização, pediu para a empresa um violão da marca Martin, modelo OMC 16OGTE. “Essa é uma mera equivalência de sonoridade”.
Ida e volta a Nova Iorque
Como o acidente aconteceu no final da tarde de sexta, só na segunda-feira, dia 18, que o músico tratou o ressarcimento com a companhia. Ele pediu que a empresa lhe desse o violão Martin, e, para indenização de dano moral, uma passagem de ida e volta para Nova Iorque.
Eles não aceitaram e propuseram R$ 800,00 para a substituição do violão e duas passagens para vôos domésticos. Nei negou a oferta. Em 1993, quando comprou o violão, ele custava US$ 1.100,00. O Martin que ele está pedindo agora vale US$ 1.650,00. “É o mínimo para se equiparar.” Ele explica que não é apenas o valor do violão que importa: “Além da questão meramente técnica, tem a questão subjetiva do instrumento que pautou minha vida”.
No dia seguinte, o músico fez um vídeo-protesto que postou na internet. Em menos de 24h teve 4 mil acessos. Conta que tomou essa atitude, pois acredita que o procedimento padrão das grandes firmas é não negociar com clientes. “Eles preferem entrar na justiça, pois, na média, quem ganha é a empresa.” Para ele isso acontece porque a maioria dos clientes não tem o poder de exercer pressão contra as corporações.
No vídeo, ele explicou toda a situação e mostrou o violão destruído. O material repercutiu na internet, principalmente no Twitter. Nei conta que em menos de 24 horas a central de bagagens da companhia já ligava para fazer uma proposta. No dia 21, músico e empresa fizeram acordo de que o violão seria pago e o vídeo retirado do ar. O novo violão ainda não chegou, mas o prazo estabelecido foi de trinta dias. O vídeo sumiu da Web.
Apesar de estar completamente destruído, Nei guarda o violão antigo. Ele pretende restaurá-lo “não para tocar, mas para colocar na parede”.
Quando pedimos uma foto dele com o resto do instrumento, Nei disse que não: “É muito doloroso”, argumenta. Apesar da dor, o músico se diz “muito agradecido pela mobilização das pessoas e pela presteza da companhia”. O seu novo violão foi despachado de Nova Iorque no dia 27 e deve chegar para o músico na noite do dia 28.
Rafaela Ely, estudante de jornalismo. -
Feira tem orçamento de R$ 2,9 milhões
Por Liège Copstein
A 56ª Feira do Livro de Porto Alegre recebeu na terça,26, repasse de R$ 300mil da Prefeitura, que representam cerca de 10 por cento do orçamento de R$2 milhões e 900 mil necessários à sua realização. A Feira abre na próxima sexta-feira.
O repasse veio da Secretaria Municipal da Cultura. O convênio assinado pela Câmara Riograndense do Livro (CRL), na presença do prefeito José Fortunati, do presidente da CRL, João Manoel Maldaner Carneiro, e do secretário municipal da Cultura, Sergius Gonzaga, foi apenas a formalização dos entendimentos que já há meses vinham sendo alinhavados entre Câmara e Secretaria, através de seu comitê gestor. “A Feira expunha suas necessidades e a Prefeitura consultava sua disponibilidade”, explica João Carneiro.
Grande parte dessa verba, sujeita a prestação de contas, será convertida em serviços por órgãos da própria municipalidade, tais como EPTC, Smam, Smov, Procempa (que garante o acesso wireless à internet no espaço da Praça) e Smic.
Só para se ter uma idéia dos arranjos que são necessários, neste ano foi preciso realocar os artesãos para o trecho da rua General Câmara conhecido como Ladeira, uma vez que o Largo dos Medeiros também será ocupado pela Feira, em função da diminuição do espaço pelas obras do Projeto Monumenta. Como a Ladeira normalmente costuma ser utilizada como estacionamento de motos, a EPTC terá que providenciar nova sinalização para o local durante o evento.
Parcerias
O orçamento total da Feira – neste ano, em torno de R$ 2 milhões e 900 mil – sempre foi alocado principalmente de três formas: convênios com órgão públicos, patrocínio de apoiadores e recursos dos sócios da CRL, através inclusive das inscrições para participar do evento.
A edição que começa na próxima sexta-feira tem quase 2 milhões oriundos de parcerias estimuladas pela Lei de Incentivo à Cultura ou Lei Rouanet, em que empresas privadas podem destinar os valores de seus débito com ICMS (estadual) ou Imposto de Renda (federal) a projetos culturais.
O restante foi captado através de outros patrocínios, convênios como o da Secretaria Municipal de Cultura, e recursos dos próprios livreiros. Todas essas verbas estão sujeitas a prestação de custos e devolução de excedentes, embora segundo João, “tenhamos sempre calculado bem o aporte de recursos e fechado as contas com pouca diferença”.
Ele afirma que apoiadores nunca faltaram à Feira, entra crise ou sai crise. “Nossas parcerias são pensadas para durar. Temos o cuidade de não aceitar dois apoiadores da mesma área de atuação, por exemplo. Neste ano, além dos patrocínios da Gerdau, da Prefeitura de Porto Alegre e da Rede Zaffari, tivemos três novos apoiadores master: a Fiat, a Net e a Ades, além da Refap atuando especialmente na área Infantil e Juvenil”. -
Feira do Livro atrai 3 mil escolas
Por Liège Copstein
A Feira do Livro vai tirar crianças da escola. Calma, explica-se. Com seus vários projetos dirigidos ao educador e às crianças, a feira atingiu este ano o recorde de 3 mil escolas estaduais cadastradas através do diálogo contínuo durante o ano com 12 mil professores.
Segundo a coordenadora da área infanto-juvenil, Sônia Zanchetta, foram milhares de e-mails trocados contendo sugestões, críticas, “até xingamentos, todo tipo de comunicação”, brinca ela.
O resultado é que tantas turmas de alunos vão participar das programações do evento, que Sônia chamou mais escritores, além dos agendados, para integrarem a contação de histórias e debates com leitura prévia das obras. E esses autores extra virão gratuitamente e por seus próprios recursos, tamanho é o desejo de participar de um dos encontros.
Esta ano o Teatro Sancho Pança, palco desses momentos, teve sua capacidade reduzida de 1000 para 500 lugares, numa medida ousada porém racional: a meta é melhorar a qualidade do local das palestras e espetáculos.
Confira algumas das maiores atrações da área infanto-juvenil, gratuitas como todos os espetáculos da Feira:
Oficina Histórias para Contar em Casa, onde são os familiares que vão aprender formas e técnicas de contação de histórias, além de exercícios e brincadeiras. Dia 30/10, 10h30, no QG dos Pitocos.
Peça teatral Filhote de Cruz Credo, baseada no livro de Fabrício Carpinejar. Autobiografia de Carpinejar, que por ter uma aparência fora dos padrões estéticos vigentes, sobre agressões (bullying) na escola. Dia 2/11, às 17h, no Teatro Sancho Pança.
Encontro com o músico e escritor Frank Jorge (da banda Graforréia Xilarmônica), Rock´n roll, Literatura e outras coisas mais, dia 4/11, às 9h, na Casa do Pensamento.
Exibição do filme Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo. Daniel (Pedro Tergolina) tem 15 anos e mora no interior do Rio Grande do Sul. Em sua existência restrita, vive seus pequenos dramas: uma namorada que não sabe o que quer, o melhor amigo sendo acusado de ladrão e o pai que reaparece depois de 15 anos. Dia 5/11, 14h, com audiodescrição para deficientes visuais, na Ducha de Letras.
Contação de histórias com Chico dos Bonecos, poeta, contista e arte-educador mineiro que trabalha com o resgate de brinquedos e brincadeiras antigas. No repertório, contos e fábulas oriundos da literatura oral. Dia 6/11, 14h, na Arena das Histórias.
Oficina Histórias para Contar em Casa, onde são os familiares que vão aprender formas e técnicas de contação de históris, além de exercícios e brincadeiras. Dia 30/10, 10h30, no QG dos Pitocos. -
Feira do Livro Quase Pronta
Por Liège Copstein
A menos de uma semana da abertura oficial da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, a maioria das barracas no entorno da Praça da Alfândega já está montada, e as que ocuparão o espaço infantil, no cais do porto, já se encontram em fase final.
“Estou satisfeita com a organização este ano”, afirma Sonia Zanquetta, a responsável por aquele setor. Satisfação é o sentimento da maioria dos participantes, não só porque a Feira costuma ser um acontecimento festivo também para os que trabalham nela, mas porque ficou para trás a ameaça de que a versão 2010 não acontecesse na praça, em função das obras do projeto arquitetonico Monumenta.
Veteranos do evento, como o livreiro Rudimar Bernardes, da Editora AGE, comemoram: “Nossa expectativa é a melhor possível, depois de toda a polêmica sobre se a Feira seria na praça ou não. Acho que a economia do Brasil está estabilizada e em crescimento, há muitos fatores que vão contribuir para que a gente tenha uma bela feira”.
Afinal, Quem Somos
A AGE, por exemplo, entre os 35 lançamentos que trará, aposta nos títulos de tema espírita, o segmento de longe mais procurado nas vendas de livros no país. É do seu time, por exemplo, o escritor Moacir da Costa de Araujo Lima, estudioso de física quântica e espírita, autor da obra “Afinal, Quem Somos”, que sugere respostas surpreendentes para inquietantes perguntas como: que é realidade? Quanto dela percebemos? Como aumentar a influência de nossa consciência nos acontecimentos? “Todo mundo precisa se encontrar de alguma forma”, filosofa Bernardes, que participa da Feira já há 25 edições.
Em sua opinião, a Feira é realmente ainda o momento de trazer os novatos ao vício da leitura. É quando muita gente pode vir a ter ser primeiro contato com o livro, e mesmo com a verba curta encontrar a felicidade em um balaio, por livros a partir de 3 R$.
Ele, que já esteve ao lado de Mario Quintana e inclusive fez a editoração eletrônica do célebre Lili inventa o Mundo, espera apenas que este ano não haja surpresas tão desagradáveis como o temporal do ano passado, que manteve as barracas fechadas por dois dias, influindo muito no resultado final. “Foi o que me acontece de mais negativo em todos esses anos, mas é assim mesmo, este ano está de novo todo mundo alegre e na torcida para superar os melhores anos do passado”.