Autor: da Redação

  • "Política gaúcha vive apogeu da esquizofrenia"

    Luiz Cláudio Cunha
    O candidato do PMDB ao governo gaúcho, José Fogaça, já ganhou o primeiro troféu de 2010 do ‘Prêmio Língua Solta, Idéia Presa’.
    Em entrevista ao jornal Zero Hora na semana passada (16), o ex-prefeito de Porto Alegre conseguiu erigir uma tortuosa explicação para a crônica indecisão de seu partido entre as candidaturas presidenciais de Dilma Rousseff e José Serra.
    Disse Fogaça: “Uma imparcialidade ativa não é uma posição em cima do muro. É uma posição altamente proativa, efetiva, em favor da nossa eleição aqui no Rio Grande do Sul. Uma posição extremamente corajosa, inclusive”.
    Fogaça, inclusive, é advogado e não engenheiro, como sugere sua desastrada construção vernacular. Teve sempre muito cuidado com o que diz e escreve, na condição de professor de literatura e de direito constitucional e no papel de compositor com sucessos gravados por Kleiton & Kledir e MPB4.
    Com o verso mal inspirado sobre esta ‘corajosa imparcialidade’, Fogaça refaz o dicionário e desfaz do senso comum.
    Todo mundo sabe que a definição correta para coragem é firmeza, atitude, bravura, destemor, determinação, perseverança. Só a saltada veia poética do beletrista Fogaça poderia pintar a desbotada neutralidade do PMDB murista com as cores vivas e inspiradoras da coragem.
    Em janeiro de 1950, quando Fogaça ainda era um bebê de três anos, morria em Londres o jornalista Eric Arthur Blair, que ganharia a eternidade com um pseudônimo, George Orwell, e um marco literário, 1984.
    Nesta metáfora orwelliana sobre o autoritarismo, o governo estimulava o uso da novilíngua, um idioma que reduzia radicalmente o vocabulário para diminuir a capacidade de pensamento.
    Dela brotava o duplipensar, palavra que definia a habilidade de guardar no cérebro duas crenças contraditórias, aceitando simultaneamente uma e outra. A nova língua, assim, exprimia o contrário do que dizia. O Ministério da Verdade de 1984 mentia ao retificar as notícias, o Ministério da Paz cuidava da guerra.
    O deslize léxico de Fogaça poderia ser apenas um escorregão. Mas ele retrata bem o momento esquizofrênico da política brasileira, que vive seu apogeu justamente no Rio Grande do Sul, um Estado que nunca teve a parede como referencial.
    Gaúcho, por definição, sempre está de um lado ou de outro do muro, nunca em cima. Cinco mil gaúchos morreram nos dez anos da Revolução Farroupilha, lutando pela república.
    A Revolução Federalista de 1893, a mais violenta guerra civil do continente, matou duas vezes mais (10 mil) num espaço de tempo cinco vezes mais curto (dois anos) do que a revolta farrapa, num confronto sangrento que opunha parlamentaristas e presidencialistas.
    Chimangos e maragatos pelearam em 1923 contra o continuísmo de Borges de Medeiros, que um século antes de Hugo Chávez conseguiu emplacar cinco mandatos, antes da revolução que abortou a sexta presidência. Os gaúchos lutaram pela legalidade em 1961 e combateram o golpe de 1964.
    Nos anos seguintes, o muro continuou separando a gauchada. O PSD contra o PTB, a Arena se opondo ao MDB, o PT se alternando no poder com o PMDB. Até a bola divide o Rio Grande em duas metades de cores bem definidas: o azul do Grêmio e o vermelho do Internacional. No eterno Gre-Nal dos gaúchos, ninguém fica em cima do muro, como bem sabe o apaixonado gremista José Fogaça.
    A catatonia da eleição gaúcha pode ser medida pelas alianças forçadas nas cúpulas partidárias que tentam enfiar suas decisões monocráticas goela abaixo do eleitor. Logo ele, que não costuma ficar em cima do muro.
    Em 2006, quando Lula se reelegeu com 60% dos votos do país, sua maior derrota para Alckmin foi justamente no Rio Grande do Sul, onde o picolé de chuchu tucano humilhou o deus petista por 55% contra 33%.
    Agora, o comando nacional do PMDB tenta fazer no Rio Grande o mesmo que o PT fez no Maranhão e em Minas Gerais: contrariar a base e impor a vontade do rei, na força e na marra.
    Na versão gaudéria do quatrilho, o PMDB de Fogaça odeia o PT de Tarso Genro, que exige o apoio do partido de Michel Temer, o vice de Dilma que odeia a seção gaúcha do PMDB, que tem uma preferência esmagadora por Serra, que corteja mais o PMDB do que o PSDB da governadora Crusius, que sobreviveu à tentativa de ‘impeachment’ do PT de Tarso, que odeia todos eles e hoje finge simpatia ou paixão por uns e outros.
    Para enquadrar os rebeldes, Temer agora perde a elegância e promete intervir no diretório de Santa Catarina, ameaçando repetir a dose no Paraná e no Rio Grande do Sul. Nem a ditadura dos gaúchos Médici e Geisel ousou tamanha truculência, mas aqueles eram tempos em que o MDB velho de guerra tinha no comando líderes insubmissos e altivos como Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela e Alencar Furtado.
    Diante da ameaça concreta do trator da chapa Dilma-Temer, nenhuma liderança expressiva do PMDB repudiou o estupro iminente contra a ala sulista do partido, historicamente a mais aguerrida e menos dilmista do país. Em vez da repulsa, o apático e complacente PMDB prefere subir no muro, camuflado pela corajosa ‘imparcialidade ativa’. O duplipensar, que escarnece da inteligência do leitor, é o último degrau da humilhação na política.
    Luiz Cláudio Cunha é jornalista, gaúcho, gremista e, pior, ainda vota em Brasília.

  • Três políticos no divã da psicanálise

    tres_no_divaPsicanalista há 60 anos, João Gomes Mariante sonda o inconsciente de três grandes  líderes políticos: Getulio Vargas, Oswaldo Aranha e Flores da Cunha. O autor conviveu com os três e identificou comportamentos suicidas. Vargas foi o único que chegou até o “gesto extremo”:  na madrugada de 24 de outubro de 1954, matou-se com um tiro no peito.
    2010, 200 páginas 16 x 23 cm, 375 gr
    ISBN: 978-85-87270-35-1 R$ 30,00
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  • ARENA DO GRÊMIO: PERGUNTAS SEM RESPOSTA

    Tania Jamardo Faillace*
    Projeto imobiliário, que vai mudar a fisionomia do Humaitá, importante bairro operário de Porto Alegre, foi apresentado em audiência pública. Apesar da grandiosidade da obra e suas consequências, muitas perguntas que seriam fundamentais para a discussão da proposta ainda não tem resposta.
    Chamam a atenção os seguintes dados da transação legal/fundiária:
    1. A obscuridade das transações e documentos legais, doações condicionadas, permutas, e a impossibilidade de se compreender quem, afinal, é proprietário da área.
    2. Quais as posições respectivas, nessa estória: do Governo do Estado, Federação dos Círculos Operários, Grêmio Football Portoalegrense, Grêmio Empreendimentos, e se há mais um agente chamado Empreendimento Arena do Grêmio ou assemelhado, e suas inter-relações.
    3. Há discrepâncias em relação às áreas, seriam 38 ha originalmente, lá pelas tantas alcançando os 66 ha, e também há discrepâncias em seus respectivos valores, havendo a determinar oficialmente quais as perdas do Estado nessas transações.
    4. Não se sabe porque razão um empreendimento turístico-esportivo foi considerado mais importante para a Zona Norte, do que as atividades educativo-pedagógicas de dois colégios, um deles com instalações de altíssima qualidade, inclusive em seu complexo esportivo, com um ginásio como poucas escolas em Porto Alegre dispõem..
    5. Ignora-se igualmente a razão pela qual a Federação dos Círculos Operários foi despejada do bairro Humaitá, dentro do coração da área industrial da RM, e com grande população da classe trabalhadora, para ganhar uma nova doação com o mesmo objetivo (criação da Universidade do Trabalho), na estrada Costa Gama, de população rarefeita.
    6. Não há clareza quanto a ter havido transações financeiras e de que valor (compra, venda, arrendamento, luvas) entre os atores do episódio.
    Chamam a atenção os seguintes pontos negativos no projeto em si:
    1. A perda de uma escola com a qualidade técnica e construtiva da Santo Inácio, e seu entorno ecologicamente preservado. Se o Círculo Operário tem que ser desalojado por inadimplência das condições contratuais e da doação condicionada, que a Secretaria de Educação do Estado assuma a escola em sua integralidade, parece-nos a medida mais adequada e favorecedora da população de Porto Alegre;
    2. A destruição do ambiente natural e da vegetação de grande e pequeno porte em quase sua totalidade, conforme ficou bem claro pelo EIA/RIMA apresentado (400 árvores adultas a serem erradicadas sem reposição, e 195 outras espécies a serem desalojadas e perdidas);
    3. A inadequação de um empreendimento de alto luxo como o conjunto Arena, em relação a um bairro como o Humaitá, ocupado predominantemente pela classe trabalhadora e pequena classe média, com atividades industriais ou de pequenos serviços – sabe-se que essas enxertias sociais e econômicas tendem a expulsar os moradores originais pela sobrevalorização fundiária e o aumento dos impostos;
    4. A alta taxa de impermeabilização do solo prevista, (1/3 da área a ser ocupado com um estacionamento para 6 mil automóveis) convidando a mais alagamentos e enchentes numa gleba de cota extremamente baixa, cercada por outras de cota negativa, inclusive um lixão aterrado, mas que ainda emite gases;
    5. O exagero das vagas de estacionamento incentivando o transporte individual paraagravar os problemas viários da Entrada da Cidade; conhecem-se os havidos com o Gigante da Beira Rio, e lá, trata-se apenas da comunicação com a zona Sul (área relativamente menos densificada da cidade), e, no caso presente, trata-se de todo o transporte da Região Metropolitana, inclusive o transporte de cargas e o interestadual;
    Há ausência ou insuficiência de infraestrutura nos aspectos:
    a) viário – não haveria escoamento para a população permanente e a população visitante previstas (jogos, eventos, hotelaria, shoppings, etc.), ainda mais considerando tratar-se da Entrada da Cidade, com grande tráfego da Região Metropolitana, transporte de cargas, e transporte interestadual;
    b) previsão de problemas graves de enchentes e alagamentos pela ausência de um sistema amplo e eficiente de drenagem de águas pluviais e do próprio lençol freático que empapa todo o terreno;
    c) esgotos – não há tratamento de esgotos para a população atual; na conclusão do conjunto Arena do Grêmio, haveria o acréscimo de cerca de 70 mil pessoas a essa população, entre residentes e flutuantes;
    d) coleta de lixo – não há estimativa do que representaria essa nova população em termos de produção de lixo.
    e) segurança pública – tampouco se conhecem as necessidades de efetivos e equipamentos de segurança pública num projeto de tal monta, acrescido a um bairro já com muitos problemas nesse setor.
    Em resumo, serão mais uns vinte mil residentes permanentes, de 30 a 40 mil como clientes dos shoppings e hotelaria e provavelmente mais de 70 mil em dias de eventos, que sobrecarregarão os serviços de água, luz, esgotos, e outros. Sem mencionar um estacionamento para 6 mil carros, que será um atrativo extra para a criminalidade sediada na região e nos municípios vizinhos, etc., etc.
    Tampouco há dinheiro para construir essa ilha da fantasia. O que equivale a dizer que esse dinheiro será buscado no mercado financeiro estatal (BRDE, BNDES, CEF) e no mercado dos investidores em geral.
    Certamente, não chegamos a mencionar a questão da segurança de vôo, embora se possa assinalar que o grupo emprendedor faltou com a verdade ao dizer que o projeto já tinha sido aprovado, com prédios de até 64m de altura. Não o foi, segundo informação do próprio V Comar, que é o órgão que disciplina a segurança aérea e ainda não recebeu o projeto definitivo para pronunciar-se em relação ao mesmo.
    Finalmente, sugerimos a visita à página.

  • Forum da Liberdade 2010

    REABILITAÇÃO DO INDIVIDUALISMO E DA GANÂNCIA COMO VALORES MORAIS
    5 mil participantes, a maioria com menos de 30 anos
    Tania Jamardo Faillace[1]

    O XXIII Forum da Liberdade, realizado nos dias 12 e 13 de abril, em Porto Alegre, no Centro de Convenções da PUC, trouxe algumas novidades.
    Para principiar, teve como seu mote e pauta os seis princípios político-econômicos que balizam o ideário neoliberal, conforme foi concebido pelo economista austríaco Ludwig von Mises, falecido em 1973.
    Esses seis princípios focalizam alguns temas-chaves do século XX, como a oposição capitalismo-socialismo, o que é a inflação, o intervencionismo estatal, a questão da liberdade individual, etc., aos quais Von Mises dá interpretação diferente das outras escolas econômicas.
    No caso da inflação, por exemplo, considerada uma decisão arbitrária do Governo para aumentar a oferta de moeda circulante, ao invés de uma tentativa para resolver uma crise econômico-produtiva por via monetária.
    Contrariamente ao rigorismo quase matemático que caracteriza normalmente a Ciência Econômica, seja qual for seu objetivo final no desenvolvimento das sociedades, o ideário de Von Mises é fundamentalmente subjetivo e psicológico, e é expresso numa linguagem coloquial, dentro da perspectiva do homem comum, a nível de suas percepções individuais imediatas, e não a nível de sua reflexão.
    Não busca, pois, estabelecer as categorias econômicas ou sociais dentro de critérios históricos, sociológicos, ou científicos, recorrendo a alguma metodologia, mas se embasa nas impressões subjetivo-emocionais de um indivíduo isolado de seu contexto e de sua história.
    Assim, um de seus seguidores, o jovem engenheiro Luiz Leonardo Fração, presidente do Instituto de Estudos Empresariais, define sua visão do que seria a liberdade absoluta: a propriedade absoluta do próprio corpo e a liberdade total para decidir suas ações.
    Instado a definir o que seria a liberdade individual absoluta dentro de uma sociedade – Fração está convicto de que cada um vive sua liberdade absoluta como melhor lhe parece, sem dever satisfações a quem quer que seja, muito menos ao Estado e aos grupos sociais.
    Essa liberdade absoluta coexistiria com a liberdade absoluta das outras pessoas, não sendo admitida a hipótese de que duas liberdades absolutas forçosamente se tornam relativas uma com referência à outra.
    Esse ideário, que tem algumas afinidades com o anarquismo individualista do “é proibido proibir” da contracultura dos anos 70 – não implica em despreocupação com o mundo material, como era de praxe naquela época, mas, pelo contrário, assume como legítimas a luta pela riqueza e a concorrência econômica sem normas e sem fiscalização.
    Conforme Eduardo Marty, argentino e fundador do Junior Achievement da Argentina, está em tempo de serem reabilitados moralmente os sentimentos de ganância e o individualismo, e aposentar de vez o altruísmo e o espírito de sacrifício que a cultura ocidental considera como valores maiores.
    Esses neoliberais filosóficos pregam o egoísmo sem culpa, e rejeitam normas, regulamentos, leis, limitações. E, a nível de produção, rejeitam o planejamento econômico como regra, a proteção dos mercados, as taxas aduaneiras, e a fiscalização das práticas comerciais hoje consideradas desleais, como o dumping e assemelhados.
    Para eles, o mercado sozinho controla tudo, podendo equalizar as discrepâncias entre os concorrentes, e, inclusive, reduzir o impacto dos cartéis e dos monopólios na economia geral. Tudo isso seria espontaneamente equilibrado pelo mercado. Isto é, o consumidor escolheria livremente os melhores produtos e os mais baratos, sem necessitar de proteção ou regras do Governo.
    Na linguagem dos jovens neoliberais, o Governo, qualquer governo, é uma espécie de usurpador da liberdade dos indivíduos. E qualquer ingerência sua nos negócios das pessoas é considerada como uma prepotência e ameaça de tirania.
    Dentro dessa doutrina, em sua interpretação jovem (os mais velhos são menos radicais), o Governo torna-se uma Categoria ao invés de uma Função. Coisa que, certamente, há de surpreender os sociólogos em geral. Assim, o Governo é uma categoria não só diferente, como antagônica à Sociedade na qual age, e essa Sociedade não é composta por grupos de interesses conflitantes, mas por indivíduos que defendem encarniçadamente sua liberdade individual e também sua propriedade individual.
    São esses jovens, portanto, avessos tanto ao Governo como à organização estatal, e também aos serviços públicos. Fração diz textualmente: “por que seremos obrigados a aceitar serviços que não queremos? escolas que não queremos, por exemplo? ainda se tolera contribuir voluntariamente com aqueles que não podem, mas que essa contribuição seja obrigatória, seja um imposto, é um ROUBO.”
    Para ilustrar esse pensamento, algumas dezenas de rapazes, moças e até adultos, contratados pela Vittapromo (empresa promotora de eventos) distribuiram aos presentes folhetos contra a cobrança dos impostos no Brasil, vestindo camisetas coloridas com os nomes dos impostos e taxas cobrados pelo poder público, desde Imposto de Renda, até IPVA, IPTU, e taxas de apoio a atividades estratégicas (marinha, aeroportos, etc.)
    PROGRAMAÇÃO
    As atividades em si constituiram-se em palestras de abertura e painéis, absolutamente simétricos, cada um correspondendo a uma das lições de Von Mises: Capitalismo, Socialismo, Inflação, Intervencionismo, Investimento Estrangeiro, Políticas e Idéias.
    Como palestrantes, pessoas de destaque empresarial e político, em sua maioria da linha liberal tradicional; outros, adeptos da versão neoliberal, e apologistas do estado mínimo; e, finalmente membros de entidades que defendem a eliminação da função estatal, substituída talvez, por uma espécie de auto-controle e auto-governo espontâneos.
    A abertura do evento foi feita pelo presidente mundial da Renault-Nissan, Carlos Ghosn, um cidadão do mundo, de família líbano-brasileira, mas que fez sua vida na Europa, nos Estados Unidos, e no Japão, onde introduziu alterações profundas no sistema trabalhista e cultural daquele país, acabando – dentro da Nissan – com o emprego vitalício, e demitindo 20 mil operários de uma só vez para equilibrar as finanças da empresa. Ghosn afirmou seu gosto pelos desafios, e seu desejo de fazer fortuna pessoal como os grandes motores de sua trajetória profissional.
    Os pronunciamentos mais diretos e objetivos, do ponto de vista de uma ação estratégica no macro campo econômico real, foram feitos pelos banqueiros Henrique Meirelles (Banco Central), e Pedro Moreira Salles (Itaú – private bank). O primeiro explicou a política monetária seguida pelo atual governo brasileiro e a razão de seu êxito; e Moreira Salles, também numa palestra expositiva e ilustrada, analisou a situação econômico-financeira do País, que considera muito positiva, e seus acertos, que impediram que o Brasil fosse contaminado pela crise, e hoje se tornasse referência de crescimento econômico no mundo.
    Também falaram Armínio Fraga, sobre sua experiência no governo anterior; e alguns teóricos do “anarco-capitalismo”, como David Friedman (norteamericano), e Eduardo Marty (argentino), mencionado antes, além de Hélio Beltrão, Fundador do Instituto Mises Brasil, fundador do Conselho de Governança do Instituto Millenium, conselheiro do Grupo Ultra, e detentor de outros títulos e cargos.
    Junto com o venezuelano Marcel Granier, Beltrão recebeu um prêmio destaque do IEE – Prêmio Libertas 2010. Dono de um discurso muito inflamado, mas sem fazer proposições concretas quanto às estratégias recomendadas contra o Governo, Beltrão parece considerar que todo o problema do mundo atual consiste em haver Governo e Estado. Não explicou, porém, o que propõe em troca. Já Granier, presidente da RCTV, que não teve renovado seu contrato de concessão pelo governo venezuelano, foi agraciado pelo Prêmio Liberdade de Imprensa 2010. Seu discurso foi um discurso moderado.
    ELOGIOS A PINOCHET
    Em relação à política mundial, as maiores e mais inflamadas críticas se dirigiram aos governos “populistas” da América Latina, com muitas acusações contra Chávez, chamado de tirano e ditador e outros adjetivos assemelhados, e um pouco menos a Evo Morales.
    Assim, os anos Pinochet no Chile foram criticados por seus desmandos no campo dos direitos humanos, mas foram elogiados pela abertura total de sua economia ao capital estrangeiro. Essa análise da economia chilena desde os anos Pinochet até hoje, foi abordada em linhas gerais por Eliodoro Matte Larrain, presidente das Empresas CMPC (produtora de celulose), diretor do Banco Bice e do Bice Corp e da Mineradora Valparaíso. A CMPC, para quem ainda não sabe, possui, 2,2 milhões de ha em pinheiros e eucaliptos no Chile e comprou recentemente a Unidade Guaíba da Aracruz/Fibria.
    Na área acadêmica, destacou-se no evento, o professor espanhol Fernando Navarrete, que é também economista do Banco de Espanha. Navarrete discorreu sobre os anos de estagnação da Espanha franquista, e os erros cometidos pelo governo socialista que se seguiu, até que, nos últimos anos, fosse assumido o modelo neoliberal em sua plenitude, com privatizações generalizadas e abertura total do mercado, o que foi facilitado pela União Européia. Hoje, aplaude ele, a Espanha conquista espaços internacionais e investe em países estrangeiros, como é o caso do Brasil (Telefonica, banco Santander e outros empreendimentos).
    No quarto painel, surpreendeu a declaração de Arthur Badin (CADE) de que o petróleo brasileiro seria monopólio estatal, quando, – a partir do governo FHC, e os primeiros dos leilões da Petrobrás, – quase 60% de suas ações foram parar em mãos de petrolíferas estrangeiras, sendo que sua política econômica e de preços é determinada lá fora. Questionado posteriormente a esse respeito, Badin não contra-argumentou – parecia não se lembrar dos “contratos de risco” votados ao tempo de Ernesto Geisel, em 1974, mas só postos em prática do governo FHC em diante.
    Do último painel, participaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jorge Gerdau Johannpeter, e o ex-presidente venezuelano, Jorge Quiroga. Fernando Henrique fez um pronunciamento de linha histórico-sociológica, enfatizando a questão das liberdades democráticas, não apenas a liberdade individual, mas comentando que os maiores tiranos são os egressos das classes populares.
    Johannpeter também enfatizou a liberdade (mote título do Forum) e os 23 anos de existência do mesmo, tendo participado dele outras vezes, enquanto Quiroga fez um discurso muito empolgado, de linguagem direta a favor também do neoliberalismo e das liberdades individuais, e acusando com muita veemência os “governos populistas” da América Latina e sua política de estatizações.
    Curiosamente, nada foi comentado sobre os governos neoliberais que atentam contra as liberdades democráticas, como a Colômbia, o Peru e o Chile, com suas práticas anti-indigenistas.
    Também a questão ambiental não foi tocada durante o evento, uma vez que todos advogaram o crescimento econômico ilimitado.
    AEROPORTOS PÚBLICOS
    Numa linha um tanto diferenciada, falou o empresário brasileiro-norteamericano David Neeleman, proprietário de quatro empresas de aviação, Jet Blue Airways e Morris Air (norteamericanas), e Westjet (canadense). Agora ele investe no Brasil com a empresa Tudo Azul, que pretende inovar em matéria de qualidade de aviões e serviços.
    Neeleman mostrou posicionamentos diferenciados quanto a dois assuntos: sua surpresa ao saber que as empresas de aviação brasileiras compram aviões lá fora, quando “os aviões da Embraer, afirmou ele, são os melhores do mundo em matéria de egurança, conforto e operação. Comprei 15 e pretendo ir até a 90 aeronaves, se tiver condições de alargar o mercado”.
    Outro tema que o distinguiu dos demais, foi sua afirmação de que os aeroportos comerciais devem ser sempre públicos. “Aeroportos não devem ter lucros, mas servirem às necessidades de transporte das pessoas.
    Aeroportos privados tendem a encarecer todos os serviços, os custeios das empresas e os preços das passagens. Há mais segurança para todos, empresas e passageiros, se o aeroporto for público”. Informou também que, nos Estados Unidos, a generalidade dos aeroportos é público, seja a nível federal, estadual ou municipal.
    Neeleman ainda não teve, certamente, a oportunidade de ser informado a respeito de alguns objetivos do ministro da Defesa, Nelson Jobim, com relação ao assunto. Nem com respeito às pressões de algumas empreiteiras em ação em Porto Alegre[2], para semear espigões na zona Norte, interferindo com a segurança de vôo.
    A opinião desse empresário, de tipo bastante jovial, é de que os aeroportos precisam ter grandes áreas de reserva para expansões futuras. Cercar fisicamente um aeroporto, diz ele, compromete o desenvolvimento econômico da região.

  • Meio século de Petroquímica no Brasil

    A Petroquímica faz História Autores: Elmar Bones e Sérgio Lagranha
    Breve história da indústria petroquímica brasileira –  dos pioneirismos dos anos 1950 até as grandes centrais do seculo XXI.
    A primeira parte relata a campanha que mobilizou o Rio Grande do Sul para que o 3º Pólo Petroquímico brasileiro fosse construído em Triunfo, na década 1980.
    Ganhador do Prêmio Cultura Econômica 2009, conferido pelo Jornal do Comércio.
    2008, 200 páginas 16 x 23 cm, 305 gr
    ISBN: 978-85-87270-28-3 R$ 30,00
    Para comprar direto da editora:
    Deposite o valor correspondente e comunique o depósito por e-mail para jornaljaeditora@gmail.com
    Dados bancários: CEF – agência 0435 – operação 003 – Conta 3744-3
    Lembre-se de enviar o nome e endereço completo para remessa do(s) livro(s) e um telefone para contato. Ou ligue para a editora: (51) 3330-7272

  • Parabéns, presidente

    Christopher Goulart*
    Dia 1° de março é dia de celebração do aniversário de João Goulart, nosso Presidente missioneiro. Se estivesse vivo, meu avô completaria 91 anos de idade em 2010. Por obra do destino, não tive o privilégio da convivência durante sua vida. Nem por isso deixei de interpretar sua mensagem política.
    A cada novo aniversário de meu avô, agradeço pela honra de poder hoje disseminar seu legado no Rio Grande do Sul, com a convicção inabalável de que o caminho por ele apontado é a esperança de um futuro socialmente mais justo. Até mesmo seus mais ardorosos opositores se curvam perante a devoção de Jango para as causas populares, na defesa intransigente do trabalhador brasileiro.
    Falar em João Goulart é refletir sobre as reformas da sociedade brasileira. Nas palavras do próprio Presidente, no famoso comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964: “não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”.
    Durante seu curto mandato presidencial, Jango compreendeu que os contrastes mais agudos que a sociedade brasileira apresentava, naquela fase de desenvolvimento, eram de natureza estrutural, e, em virtude deles, a imensa maioria de nossa população vinha sendo sacrificada.
    Nosso povo sofria em função da injusta e desigual distribuição de renda, no referente à sua participação na vida política do país e na falta de oportunidades de trabalho e de educação que o país oferecia. Como se percebe, esta luta continua atualizada.
    Nosso aniversariante se esforçou em conquistar, na prática, um país mais humanitário. Uma nação de interesses coletivos. Para isso, severos ajustes na máquina pública deveriam ser implantados, o que até hoje nunca ocorreu. E cada vez mais nossa população de excluídos aumenta.
    De resto, a história já é conhecida. Jango pagou um preço caro por posicionar-se na linha de frente na defesa dos mais humildes, desassistidos pelo Estado. Foi no seu exílio que deixou a vida para entrar definitivamente na história. Morreu o homem, mas nunca suas idéias.
    Meu avô: sou grato por continuar ouvindo tua voz e por receber tamanha inspiração política. Mesmo com o transcorrer dos anos, mesmo com o esforço inútil de tanta gente em relegar tua grandeza a um segundo plano, sempre encontrarás este soldado de prontidão. Jamais hesitarei em relembrar teu sacrifício extremo em benefício do povo brasileiro, tua legítima herança do Presidente Vargas e tua qualidade de ter sido o último Presidente Trabalhista do Brasil.
    *Presidente da Associação Memorial João Goulart

  • TVE vai permanecer no morro Santa Teresa

    Uma reunião no final da manhã desta quinta-feira, 25, confirmou: a TVE vai permanecer no prédio do morro Santa Teresa, que ocupa há 25 anos.
    Participaram o secretário da administração, Elóy Guimarães, o presidente da TVE, Ricardo Azeredo, o diretor Técnico Airton Nedel e representantes da empresa de engenharia que faria a reforma da nova sede da TVE.
    A decisão, já tomada, de transferir a emissora publica do Estado para novas instalações no Centro Administrativo esbarrou num problema de engenharia: os técnicos da empresa contratada para fazer a reforma no espaço que abrigaria a TVE constataram infiltrações no teto decorrentes de falhas estruturais.
    O local de 1.800 metros quadrados deveria ser um anfiteatro anexo ao Centro Administrativo, mas nunca foi concluido e transformou-se num imenso depósito das repartições do governo do Estado ( quase 200 caminhões de tralhas foram retirados do local, para dar início à reforma).
    A reparação das falhas constatadas demandaria pelo menos cinco meses de obras.
    Diante disso, a governadora Yeda Crusius teve que recuar e aceitar a proposta feita pela presidente da Empresa Brasileira de Comunicações, Tereza Cruvinel, para que as duas emissoras públicas – estadual e federal – permaneçam juntas no mesmo prédio, o velho edifício do morro Santa Teresa, adquirido no final do ano passado para abrigar a TV Brasil, no Rio Grande do Sul.
    A TVE teria que deixar o prédio até o final de março, o que será impossível diante das novas circunstâncias.
    Uma comissão será nomeada pela governadora para estabelecer as condições de convivência entre as duas emissoras no mesmo local. Pela proposta feita pela TV Brasil a TVE não precisará se comprometer em retransmitir programas da estatal federal. Essa era a principal razão para a governadora transferir a teve pública dos gaúchos. Yeda não quer retransmitir programação da tv federal, criada pelo governo Lula.

  • Funcionários botam na rua campanha pela TVE

    Funcionários da TVE e da FM Cultura estarão no Brique da Redenção no próximo domingo, 20, entre 10h e 17h. Eles estarão instalados em uma barraca defronte ao Colégio Militar a fim de coletar assinaturas para o abaixo-assinado contra a determinação do governo do Estado de desocupar o prédio no Morro Santa Tereza, onde funcionam as emissoras estatais, mantidas pela Fundação Cultural Piratini.
    Estão sendo programados um espetáculo de teatro de rua ao lado da barraca e algumas apresentações musicais.

  • Record procura comprador para o Correio do Povo

    A informação já rendeu notas no condicional em colunas, mas agora está estampada na edição de dezembro do “Jornal da Noite”:
    “O Correio do Povo, de Porto Alegre, está a venda. O financista e banqueiro Ricardo Russowski, que aplainou o caminho para a Record comprar o Banco Renner, recebeu um mandato da Rede Record para ofertar o veículo no mercado nacional”.
    O Jornal da Noite, de 5 mil exemplares, tem 23 anos e é editado por Danilo Ucha, um dos mais experientes jornalistas em atividade no país.
    A edição com a notícia está circulando desde o início do mês e a informação não foi desmentida, embora, ao que tudo indica ninguém foi perguntar nada à direção da Record.
    Ricardo Russowski, ex-presidente do Banrisul, é um executivo financeiro, reconhecido não apenas no Rio Grande do Sul.
    É provável que ele seja procurado por representante de um grupo de empresários gaúchos, preocupado com a transferência do controle do mais antigo diário do Estado.