Em 2014, Ivo Sartori começou como um candidato sem chance e acabou
derrotando o governador Tarso Genro que tentava a reeleição. Venceu com 3,8 milhões de votos ( 61,2%).
A tradição de reprovar nas urnas todos os governos vem de longe no Rio Grande do Sul. Fora os períodos ditatoriais em que os interventores eram nomeados, nenhum governo mereceu voto de confiança para mais quatro anos.
E, desde que a lei permite, nenhum governador conseguiu a reeleição. Sartori é o sexto a tentar.
Aos 70 anos, com meio século de carreira política, ele enfrenta um adversário de 33 anos que se apresenta como o novo. E enfrenta a tradição eleitoral, que até agora não deu uma segunda chance a um governante.
Desde que tomou posse em janeiro de 2015, Sartori não cortejou a popularidade.
Aumentou imposto, cortou gastos, congelou contratações,parcelou salários,
reduziu quase a zero os investimentos.
Segundo a frase que repete, fez “o que precisava ser feito para arrumar a casa”. Em nome desse princípio enfrentou greves reprimiu manifestações e não hesitou em usar o Batalhão de Choque com bombas e spray de pimenta quando os servidores foram às ruas protestar.
Ele diz singelamente que começou um trabalho e que está no rumo certo, por isso quer mais quatro anos para “continuar arrumando a casa”, como repetiu em sua propaganda no primeiro turno.
.As finanças, apesar de todos os apertos, ainda estão desarrumadas. Em 2018, o governo vai gastar R$ 1 bilhão a mais do que vai arrecadar. Serão R$ 8 bilhões de déficit nos quatro anos de Sartori.
O candidato à reeleição diz que, sem as “medidas amargas” que adotou, seria pior. O rombo em quatro anos seria de R$ 25 bilhões.
Em sua campanha, Sartori repete a fórmula que foi bem sucedida em 2014. Faz o papel do “gringo” que não promete e tem coragem de tomar medidas impopulares, quando elas são necessárias.
Seu projeto para “continuar no rumo certo” depende umbelicalmente do Regime de Recuperação Fiscal, o acordo para suspender por três anos o pagamento da dí�vida do Estado com a União. Isso representará uma economia de R$ 11,3 bilhões para o Rio Grande do Sul no período.
Sua expectativa é que “com os três anos de carência no pagamento da dívida previstos no Regime de Recuperação Fiscal, o Estado reorganizará as finanças e seguirá modernizando a gestão para concentrar esforços no que é essencial ao cidadão.
O problema é que o acordo é uma aposta. Em tratativas há dois anos, o acordo travou
diante de uma questão polêmica: a privatização de empresas estatais, condição
indispensável para o governo federal.
Um artigo introduzido na Constituição Estadual exige que para privatizar qualquer empresa estatal, o governo deve consultar a população através de um plebiscito.
Essa lei decorre das privatizações feitas no governo Britto (1995/1998), quando Sartori era líder do governo na Assembléia.
O Programa de Recuperação Fiscal de iniciativa do governo Temer, aprovado pelo Congresso, permite aos Estados em dificuldades financeiras adiarem por três anos o pagamento de suas dívidas com a União.
Até agora só o Rio de Janeiro conseguiu cumprir as exigências para aderir ao programa. Além de um rigoroso ajuste fiscal, o programa exige privatizações e controle pela União das finanças do Estado.
Sartori tem um pré-acordo com o governo Temer. Se ganhar a eleição, terá força talvez
para efetivar as privatizações que faltam para poder assinar o acordo ainda
antes do fim deste mandato.
Se ficar para o próximo presidente, que prioridade ele dará a esse socorro aos Estados?. Se assinar com o Rio Grande do Sul, terá outros 16 Estados na fila. O impacto nos cofres federais será pesado. .
Perfil do Candidato
José Ivo Sartori começou sua vida política no movimento estudantil. Formou-se
em filosofia na Universidade de Caxias do Sul e foi professor. Filiou-se ao MDB em 1974 e dois anos depois disputou sua primeira eleição, tornando-se vereador, em Caxias. Em 1983 chegou à Assembléia Legislativa. Elegeu-se por cinco mandatos sucessivos.No período de Pedro Simon (1986/1989), foi secretário do Trabalho e Bem Estar Social. No período de Antonio Britto, segundo governo do MDB (então PMDB), foi líder da bancada governista, chegando à presidência do legislativo em 1998.
Nesse período, tentou duas vezes (1992 e 2000) a prefeitura de Caxias do Sul. Em 2002, chegou a deputado federal com quase 100 mil votos e, então, na eleição seguinte, tornou-se prefeito de Caxias do Sul, com 52,4% dos votos. Reelegeu-se no 1º turno com 54,3% dos votos.
(Da edição impressa de Setembro)
O coordenador dessa estratégia é o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que já tinha anunciado antes de começar a campanha a adesão de mais de cem deputados ao candidato, mas sem divulgar uma lista. O apoio das bancadas apelidadas de BBB – boi, bala e Bíblia – foi fundamental para vitória de Cunha na eleição para presidência da Câmara em 2015 e lhe deu sustentação até que acabasse afastado em meio a uma série de denúncias de corrupção, que inclusive o levaram posteriormente à prisão.
— O apoio ao Eduardo Cunha era para que temas que são caros ao setor andassem e, na época, ele abriu as portas e nós conseguimos avançar em muitas pautas complicadas. Hoje é completamente diferente, hoje vem da base. O setor produtivo está apoiando o Bolsonaro e essa pressão foi ficando cada vez maior — afirmou Tereza Cristina.
— No caso de Eduardo Cunha, ele buscou apoios na igreja. Agora, com Bolsonaro, você vê lideranças religiosas declarando apoio porque ele é o que mais se aproxima do pensamento cristão. Na verdade, quem está fazendo campanha para Bolsonaro é a esquerda radical, que está fazendo com que os pastores se assustem — diz Takayama.
Coordenador da bancada da bala, Alberto Fraga (DEM-DF) tinha traído o amigo Bolsonaro no início da campanha após fechar acordo com o PSDB de Geraldo Alckmin para disputar o governo do Distrito Federal. Patinando nas pesquisas, Fraga voltou a defender o candidato do PSL em eventos e declarou publicamente o seu voto no debate realizado pela TV Globo na terça-feira.
O movimento de Fraga é semelhante ao de vários parlamentares que passaram a defender Bolsonaro apenas em busca da própria sobrevivência. Luiz Carlos Heinze (PP), expoente da bancada ruralista, tenta uma vaga ao Senado e estava neutro no início da campanha devido ao fato de sua correligionária e conterrânea Ana Amélia ser vice de Alckmin. Também com dificuldades eleitorais, decidiu abraçar de vez a campanha de Bolsonaro.
A reaproximação do candidato do PSL ocorreu com vários parlamentares da campanha. Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), que se notabilizou quando presidiu a comissão de Direitos Humanos da Câmara, foi um que abandonou o candidato de seu partido, Álvaro Dias, durante a campanha para se aproximar de Bolsonaro.
A aglutinação das bancadas temáticas em torno de Bolsonaro é um argumento usado por apoiadores do candidato do PSL quando há questionamentos sobre sua viabilidade. Nessa quinta-feira, por exemplo, em transmissão ao vivo ao lado do presidenciável, o pastor Silas Malafaia destacou que somente com as três bancadas acima mencionadas Bolsonaro já deve ter maioria absoluta na Câmara.

