Categoria: Geral

  • Sartori conta com a experiência para vencer o tabu da reeleição

    Em 2014, Ivo Sartori começou como um candidato sem chance e acabou
    derrotando o governador Tarso Genro que tentava a reeleição. Venceu com 3,8 milhões  de votos ( 61,2%).
    A tradição de reprovar nas urnas todos os governos vem de longe no Rio Grande do Sul. Fora os períodos ditatoriais em que os interventores eram nomeados,  nenhum governo mereceu voto de confiança para mais quatro anos.
    E, desde que a lei permite, nenhum governador conseguiu a reeleição. Sartori é o sexto a tentar.
    Aos 70 anos, com meio século de carreira política, ele enfrenta um adversário de 33 anos que se apresenta como o novo. E enfrenta a tradição eleitoral, que até agora não deu uma segunda chance a um governante.
    Desde que tomou posse em janeiro de 2015, Sartori não cortejou a popularidade.
    Aumentou imposto, cortou gastos, congelou contratações,parcelou salários,
    reduziu quase a zero os investimentos.
    Segundo a frase que repete, fez “o que precisava ser feito para arrumar a casa”. Em nome desse princípio enfrentou greves  reprimiu manifestações e não hesitou em usar o Batalhão de Choque com bombas e spray de pimenta quando os servidores foram às ruas protestar.
    Ele diz singelamente que começou um trabalho e que está no rumo certo, por isso quer mais quatro anos para “continuar arrumando a casa”, como repetiu em sua propaganda no primeiro turno.
    .As finanças, apesar de todos os apertos, ainda estão desarrumadas. Em 2018, o governo vai gastar R$ 1 bilhão a mais do que vai arrecadar. Serão R$ 8 bilhões de déficit nos quatro anos de Sartori.
    O candidato à reeleição diz que, sem as “medidas amargas” que adotou, seria pior. O rombo em quatro anos seria de R$ 25 bilhões.
    Em sua campanha, Sartori repete a fórmula que foi bem sucedida em 2014. Faz o papel do “gringo” que não promete e tem coragem de tomar medidas impopulares, quando elas são necessárias.
    Seu projeto para “continuar no rumo certo” depende umbelicalmente do Regime de Recuperação Fiscal, o acordo para suspender por três anos o pagamento da dí�vida do Estado com a União. Isso representará uma economia de R$ 11,3 bilhões para o Rio Grande do Sul no período.
    Sua expectativa é que “com os três anos de carência no pagamento da dívida previstos no Regime de Recuperação Fiscal, o Estado reorganizará as finanças e seguirá modernizando a gestão para concentrar esforços no que é essencial ao cidadão.
    O problema é que o acordo é uma aposta. Em tratativas há dois anos, o acordo travou
    diante de uma questão polêmica: a privatização de empresas estatais, condição
    indispensável para o governo federal.
    Um artigo introduzido na Constituição Estadual exige que para privatizar qualquer empresa estatal, o governo deve consultar a população através de um plebiscito.
    Essa lei decorre das privatizações feitas no governo Britto (1995/1998), quando Sartori era líder do governo na Assembléia.
    O Programa de Recuperação Fiscal de iniciativa do governo Temer, aprovado pelo Congresso, permite aos Estados em dificuldades financeiras adiarem por três anos o pagamento de suas dívidas com a União.
    Até agora só o Rio de Janeiro conseguiu cumprir as exigências para aderir ao programa. Além de um rigoroso ajuste fiscal, o programa exige privatizações e controle pela União das finanças do Estado.
    Sartori tem um pré-acordo com o governo Temer. Se ganhar a eleição, terá força talvez
    para efetivar as privatizações que faltam para poder assinar o acordo ainda
    antes do fim deste mandato.
    Se ficar para o próximo presidente, que prioridade ele dará a esse socorro aos Estados?. Se assinar com o Rio Grande do Sul, terá outros 16 Estados na fila. O impacto nos cofres federais será pesado.   .
    Perfil do Candidato
    José Ivo Sartori começou sua vida política no movimento estudantil. Formou-se
    em filosofia na Universidade de Caxias do Sul e foi professor. Filiou-se ao MDB em 1974 e dois anos depois disputou sua primeira eleição, tornando-se vereador, em Caxias. Em 1983 chegou à Assembléia Legislativa. Elegeu-se por cinco mandatos sucessivos.No período de Pedro Simon (1986/1989), foi secretário do Trabalho e Bem Estar Social. No período de Antonio Britto, segundo governo do MDB (então PMDB), foi líder da bancada governista, chegando à presidência do legislativo em 1998.
    Nesse período, tentou duas vezes (1992 e 2000) a prefeitura de Caxias do Sul. Em 2002, chegou a deputado federal com quase 100 mil votos e, então, na eleição seguinte, tornou-se prefeito de Caxias do Sul, com 52,4% dos votos. Reelegeu-se no 1º turno com 54,3% dos votos.
    (Da edição impressa de Setembro)

  • As demandas das mulheres no estado mais conservador do país

    Por Jessica Gustafson e Paula Guimarães
    Portal Catarinas
    Santa Catarina ocupa posições de liderança em índices de violência contra as mulheres. É o primeiro em violência doméstica com uma taxa de 225 casos para cada 100 mil habitantes, e o segundo em violência doméstica quando as vítimas são somente mulheres, com taxa de 368,1, atrás apenas do vizinho Rio Grande do Sul que tem 398 – enquanto a média nacional é de 183,9.
    O único estado com nome de mulher do país – e santa – é também o primeiro em tentativa de estupro com índice de 10,8, e o segundo em estupro com 57, perdendo apenas para Mato Grosso do Sul que registrou em 2017 o número de 66 casos para cada 100 mil habitantes – duas vezes mais que a média nacional que é de 29,4.
    Os dados são da última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicada em agosto e retificada em setembro deste ano.
    “As autoridades dizem que somos o segundo em estupro, mas pode ser que passemos a ser o primeiro, porque as mulheres estão denunciando mais. Mas a pergunta é: o que o estado está fazendo para prevenir e erradicar essa violência, o estupro de mulheres e meninas? Não podemos esquecer que dentro desses dados estão as meninas. Essa violência contra as crianças é intrafamiliar”, afirma Sheila Sabag, integrante do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres (CNDM) e presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Mulheres em Santa Catarina (CEDIM).
    Uma das principais reivindicações do movimento de mulheres no estado é a criação de uma secretaria estadual específica e do plano estadual de políticas para as mulheres, pautado desde a última Conferência Estadual de Políticas para Mulheres.
    “As pautas das conferências e reivindicatórias das mulheres de SC não têm retorno do Estado. Falta o Estado enxergar as políticas sociais como deveria. Não governa para as pessoas porque não ouve as pessoas. Um Estado com um ótimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem índice altíssimo de violência contra as mulheres”, coloca a presidenta do CEDIM.
    Antes vinculada à Casa Civil, recentemente a Coordenadoria Estadual da Mulher passou a integrar a Secretaria de Assistência Social que não prevê recursos específicos para a pasta. “Enquanto não houver uma secretaria de estado da mulher não teremos execução de política para mulheres em Santa Catarina. Tanto a coordenação quanto a secretaria de assistência social não executam política para as mulheres, porque não têm recursos para isso. O conselho não têm recursos nem mesmo para trazer conselheiras de fora da capital para as reuniões e seminários”.
    Mais de uma década depois da Lei Maria Penha, Santa Catarina ainda é o único Estado da região Sul que não implantou atendimento policial especializado para mulheres por meio das delegacias exclusivas como prevê a legislação. O CEDIM demanda esforços para a assinatura pelo governo do Pacto Maria da Penha, que consiste na articulação da rede estadual de prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres.
    Elaborado a partir de audiências públicas com a participação da bancada feminina da Assembleia Legislativa e conselheiras estaduais, o pacto foi proposto como forma de diminuir os danos resultantes da falta de atualização dos pactos nacionais.
    “Não podemos ficar a mercê do governo federal, perdemos absolutamente tudo que tínhamos adquirido desde a criação da secretaria PM, em 2003. O Estado coloca a violência contra a mulher como caso de segurança pública. Mas não é somente, tem outras ações e secretarias que precisam atuar em rede para fazer prevenção e enfrentamento”, defende a presidenta do conselho.
    FAMÍLIA PATRIARCAL, A BASE DO CONSERVADORISMO
    Conforme a historiadora e professora da UDESC, Marlene de Fáveri, o estado de Santa Catarina tem uma história fundada pela força das oligarquias desde a colônia, passando pelo império e adentrando na República até os dias de hoje.
    “Os sulistas de maior referência são de direita ou extrema direita. Temos uma história pautada pelo conservadorismo muito forte e que beira o fascismo porque somos um estado com uma imigração branca e que por dois séculos vem excluindo e tratando com preconceito as populações não brancas. Elites políticas têm se revezado no poder, sem nenhuma preocupação com as pautas sociais. A preocupação é com a manutenção de si no poder, fazendo uso privado do bem público”, explica a historiadora.
    Considerado o estado mais conservador do país porque seus cabos eleitorais indicam a maior força do conservadorismo ao longo do tempo, não por acaso é o terceiro com maior adesão ao candidato Jair Bolsonaro, que tem 40% de intenção de voto.
    “SC tem uma continuidade política incrível, normalmente bipartidária. Dependendo da época esse bipartidarismo costuma carregar 90% dos votos”, analisa Reinaldo Lohn, também professor do departamento de história da UDESC.
    “A mensagem do Bolsonaro está caindo num terreno fértil, que vem sendo preparado há muito tempo, e que beneficia as elites de SC. O Bolsonaro é caudatário desses benefícios todos que essas elites têm, ele exprime isso. Ele materializa uma série de trajetórias sociais e políticas do estado, as mais estruturais porque ele se apresenta como candidato da família, da honestidade, tem também o aspecto religioso que é significativo”, explica Lohn.
    Em um estado de proprietários “no sentido simbólico e não material”, constituído a partir da distribuição de lotes de terras pelos colonizadores às famílias no século 19,  a população tem como horizonte social a propriedade. Nesse contexto, a família patriarcal tem um peso social significativo e funciona como mecanismo de controle social e eleitoral – o que explica os altos índices de violência contra mulheres e meninas.
    “Há um predomínio patriarcal seja do pai ou do marido. Em muitos municípios, o poder é materializado em três figuras: o padre, pai e patrão. A figura do pai que é proprietário, gestor, e ao mesmo tempo patrão da família porque acaba gerindo o destino dos filhos e como se dá a distribuição das tarefas e funções domésticas. Em vários rincões redes familiares dominam comunidades inteiras e formam verdadeiras linhagens político-eleitorais. A base social está nas pequenas comunidades do interior, onde se pratica ostensivamente a violência doméstica”, esclarece o professor.
    Ainda que haja pobreza e desigualdade social, a boa colocação do IDH do estado acaba por reforçar a eficiência desses mecanismos de controle social e político. Apesar disso, ao longo dos anos 2000 a direita perdeu força à medida que a esquerda passou a se destacar com alguns quadros como Lucy Choinacki (PT) que se elegeu senadora, e José Fritsch (PT) que fez uma campanha competitiva ao governo do estado, assim como foram eleitos prefeitos de centro esquerda e esquerda em Lages, Florianópolis, Blumenau e Chapecó.
    A possibilidade de uma terceira opção política teve como resposta a união de todos os espectros da direita em um único bloco de poder em torno do ex-governador Luiz Henrique da Silveira do MDB. “O bloco sufocou o crescimento das esquerdas no estado, aliado ao extremo monopólio da mídia e a um processo de desconstrução do PT que é nacional, mas que aqui isso se avoluma. Com o desgaste em torno da aliança do blocão, dois nomes voltam a dividir o conservadorismo, relativamente desconhecidos, o que torna a eleição mais emocionante”, disse Lohn referindo-se às eleições deste ano.
    Essa concentração de poder encontra no monopólio da mídia seu principal aliado para que os patriarcas se mantenham hegemônicos, asfixiando valores democráticos. “É ostensivo e vergonhoso o monopólio da mídia no estado. A gente achou que essa concentração seria reduzida no século 21, mas se agravou. Isso faz com que tenhamos uma voz uníssona. Situação em que fazer oposição é inócuo e até arriscado em algumas cidades, onde ocorrem intimidações próprias de situações políticas autoritárias que acabam predominando sobre relações democráticas. SC parece ser terreno propício para esse tipo de coisa”.
    Para o historiador há uma convivência complementar entre as redes sociais e o monopólio da mídia na produção e disseminação das chamadas fake news que contribuíram para a liderança do candidato do PSL.
    “Vivemos pela primeira vez uma eleição do século 21 com o peso enorme das redes sociais e da dominação de um país ainda por um monopólio de mídia. Então as redes sociais produzem as pequenas fake news e os monopólios de mídia produzem as grandes fake news”.
    AS PERDAS NO PÓS-GOLPE
    O cenário em que as eleições de 2018 acontecem são extremamente complexos e ainda refletem os efeitos do golpe de 2016, que retirou a presidenta Dilma Rousseff do poder, primeira mulher a assumir o cargo. Após o golpe, o Plano Nacional de Políticas Para as Mulheres deixou de ter validade por ausência de atualização e o orçamento federal voltado à essa agenda foi reduzido em 60%.
    Conforme Sheila Sabag, integrante do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres (CNDM), o resultado da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em maio de 2016, sequer foi publicado pelo governo. No próximo ano serão realizadas as conferências municipais e estaduais de políticas para as mulheres as quais terão como desafio reestruturar as políticas públicas que foram sonegadas nos últimos anos e garantir os direitos previstos em lei.
    “Nos últimos dois anos perdemos mais de doze anos de políticas para as mulheres. Essas políticas só vão voltar com a nossa responsabilidade através do voto. Dependendo de quem a gente vote não vamos ter garantia de política pública. Se não tiver a pauta da questão de gênero bem definida não avançaremos. Não é só atuar para diminuir a violência, é preciso também propor ações de autonomia social e econômica dessas mulheres, e garantia dos direitos sexuais e reprodutivos”, afirma Sabag.
    Exemplo do retrocesso para as mulheres marcado pelo período pós-golpe é a não continuidade da implantação e implementação da Casa da Mulher Brasileira, prevista para ser construída em todos os estados da federação e Distrito Federal. Um dos eixos do programa “Mulher, Viver sem Violência”, a casa foi proposta em 2015 como uma inovação no atendimento humanizado às mulheres. No espaço seriam oferecidos todos os serviços especializados para os mais diversos tipos de violência.
    A primeira casa inaugurada em Mato Grosso do Sul é a única em funcionamento atualmente. Em outros estados como Paraná, São Paulo, e no Distrito Federal, o espaço foi construído, mas não oferece atendimento conforme prevê o programa. Em Santa Catarina, um terreno chegou a ser disponibilizado pelo estado para a construção, porém o projeto não teve continuidade porque não houve liberação dos recursos federais, conforme previsto.
    IGUALDADE DE GÊNERO NA POLÍTICA
    Nesta conjuntura, a igualdade de gênero se tornou tema central nas eleições, expressão que ficou nítida no dia 29 de setembro, quando cerca de um milhão de mulheres tomaram as ruas do País contra o primeiro colocado nas pesquisas para a presidência, Jair Bolsonaro (PSL), que utilizou o discurso de ódio como ativo político, proferindo inúmeros discursos de cunho machista, racista, homofóbico e xenofóbico.
    As mulheres são a maioria do eleitorado (52,5%) e foram às ruas dizer #EleNão, porque o candidato representa o retrocesso frente a conquistas duramente alcançadas ao longo de séculos e promete barrar os avanços futuros. Se por um lado, o fascismo ganha um rosto e muitos adeptos, por outro, as candidaturas femininas nunca foram tão expressivas.
    A lei de cotas garantiu que os partidos tivessem no mínimo 30% de mulheres disputando as vagas proporcionais, assim como os recursos dos fundos partidários e eleitoral fossem destinados para o mesmo percentual.
    “A dificuldade se inicia a partir da educação sexista desde a infância, que busca restringir as mulheres aos espaços domésticos e a trabalhos relacionados ao cuidado da família, enquanto os homens são incentivados aos espaços públicos. Essa educação sexista faz com que as mulheres tenham mais dificuldade de se posicionarem nos debates ou, quando se posicionam, muitas vezes são silenciadas, ignoradas ou menosprezadas, inclusive nos espaços de militância de esquerda”, disse Caroline Bellaguarda, que foi candidata a vice-governadora pelo PCB em coligação com o PSOL.
    A sociedade, boa parcela dela, tem indicado que a redução da desigualdade de gênero é essencial para a democracia. A existência de um fosso entre o que a população brasileira quer sobre a igualdade de gênero e a atuação do poder público para promovê-la é um dos resultados da pesquisa de opinião pública sobre mulheres na política, realizado pela ONU Mulheres Brasil, em parceria com o Ibope e o Instituto Patrícia Galvão, e divulgada em setembro.
    Entre as pessoas entrevistadas, 70% delas concordam que só existe democracia de fato com a presença de mulheres nos espaços de poder e decisão. “O Brasil está mudando, e as mulheres são decisivas. A política brasileira precisa acompanhar os anseios da população e eliminar as barreiras entre homens e mulheres nos partidos políticos, na decisão do voto e na gestão das políticas públicas”, diz Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.
    A pesquisa, desenvolvida a partir de 2.002 entrevistas em 141 municípios do País, entre 16 e 20 de agosto de 2018, demonstrou que 81% de brasileiros e brasileiras querem políticas federais de promoção à igualdade. Como destaca o estudo, oito em cada 10 pessoas entendem que a presença de mulheres na política e em outros espaços de poder e decisão aprimora a política em si e os próprios espaços. Os índices apresentam diferenças por regiões, sendo o maior na Região Nordeste, com 84% das respostas em concordância com a afirmação. No Sul, foram 81%, no Norte, 80%, e Sudeste, com 79% dos entrevistados.
    Em contraponto ao cenário eleitoral de 2018, que apresenta nacionalmente apenas 31,6 de candidatas mulheres, 77% das pessoas entrevistadas avaliam que deveria ser obrigatório que os parlamentos em todos os níveis tivessem composição paritária, com a correspondência equitativa entre homens e mulheres.
    Os altos índices de engajamento e interesse dos brasileiros e brasileiras sobre a igualdade de gênero apresentados pelo estudo levam a uma reflexão sobre as contradições sociais existentes atualmente e, principalmente, sobre o esforço reacionário de uma parcela da população para tentar barrar exatamente esses avanços evidentes sobre as questões de gênero.
    Um dos resultados mais surpreendentes da pesquisa refere-se à promoção e ao ensino dos direitos humanos e das mulheres, que foi considerada necessária para 76% das pessoas. Entre quem vive na Região Nordeste, o índice sobe para 79%. Sobre esta temática, a pesquisa também aplicou o recorte religioso, que apresentou pouca diferença entre os índices:  entre as pessoas católicas, 76% entendem que a discussão em sala de aula dos assuntos é de extrema importância, entre os evangélicos o percentual foi de 77%, e pessoas com outras religiões figuraram com 78%.

  • Frustrado, Bolsonaro diz que "problemas nas urnas" impediram vitória no primeiro turno

    Do blog de Leonardo Sakamoto:
    Causou espanto a reação de Jair Bolsonaro (PSL) diante do resultado do primeiro turno das eleições.
    Seu discurso, transmitido através de uma live do Facebook, parecia o de um candidato derrotado e não daquele que recebeu 46% dos votos e têm um caminho mais fácil do que seu adversário, Fernando Haddad (PT) – que teve 29% – para o Palácio do Planalto.
    Não só isso: Bolsonaro foi puxador de votos de seu partido, que deve ser o segundo maior na Câmara dos Deputados, saltando de oito para mais de 52 parlamentares, ficando apenas atrás do PT (56).
    E com um Congresso Nacional que promete ser eminentemente conservador, já tem o aceno das bancadas do agronegócio (…) e das corporações policiais e militares se vencer.
    Nunca a extrema direita teve uma votação tão grande no país. Sob vários aspectos possíveis, ele é o maior vencedor até aqui das eleições.
    Contudo, o ex-capitão estava claramente abatido por não ter liquidado a fatura. O que mostra que não era bravata, ele realmente acredita no que disse no último dia 28, em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes: ”Pelo que vejo nas ruas, não aceito resultado diferente da minha eleição.”
    E completou: ”Se você ver como eu sou tratado na rua e como os outros são tratados, você não vai acreditar. A diferença é enorme”.
    Do seu ponto de vista, portanto, não havia uma Presidência da República em disputa nas eleições, apenas um ritual para confirmá-lo como próximo mandatário neste domingo (7). Não admira, portanto, a frustração.
    Caso confiasse nas pesquisas de intenção de voto, saberia que as coisas não sairiam do jeito que ele que desejava. Datafolha e Ibope, realizadas entre os dias 5 e 6 e divulgadas no sábado à noite, apontavam para 40% a 25% e 41% a 25%, respectivamente.
    Ele ganhou entre cinco e seis pontos e Haddad, quatro pontos, desconsiderando-se as margens de erro. Ambas mostravam que sua curva estava ascendente (e que isso poderia continuar acontecendo), mas que seria muito difícil atingir a maioria dos votos válidos até domingo.
    O resultado dessa frustração foi um discurso com toques de esquizofrenia, paranoia e agressividade.
    Ao mesmo tempo em que prometeu acabar com a divisão do país, trazer paz e ”unir o nosso povo”, afirmou que vai acabar com toda forma de ”ativismo”, apesar de não explicar o que isso significa. Ativismo político, estudantil, sindical, empresarial, social, cultural?
    De direitos humanos, indo contra as leis brasileiras e os tratados internacionais que o país assinou? Ativismo, que significa a militância da sociedade voltada a mudar o que considera errado e apoiar o que acha certo? Se for isso, propôs tolher a liberdade.
    Sem contar que também afirmou disse que o povo do Nordeste vota coagido no PT, região onde perdeu de Haddad, ignorando que o povo tem vontade própria – o que certamente não é um discurso apaziguador.
    Além disso, apesar de bradar que o país está à beira do caos, colocou mais lenha na fogueira incentivando uma teoria da conspiração sem provas ao afirmar que as urnas foram fraudadas. Um de seus filhos havia compartilhado, ainda durante a votação, um vídeo que mostrava uma urna que autocompletava o número 13.
    O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais afirmou que o vídeo era fake, uma montagem, e peritos do tribunal mostraram como foi feita a falsificação grosseira. Mesmo assim, isso foi o suficiente para criar uma onda de indignação e protestos entre seus eleitores. Há quem foi protestar à frente de prédios da Justiça Eleitoral.
    ”Vamos juntos ao TSE exigir soluções para isso que aconteceu agora, e não foi pouca coisa, foi muita coisa. Tenha certeza: se esses problemas não tivessem ocorrido, e tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do futuro presidente da República decidido hoje”, afirmou Bolsonaro. Não importa que o resultado bateu com a pesquisa Boca de Urna Ibope, que deu 45% a 28%. Ele afirma que foi vítima de uma fraude, ou seja, algo ou alguém bloqueou o seu destino.
    Esse tipo de declaração joga fora a legitimidade do voto popular e põe em risco a estabilidade do país. Já teremos muita dificuldade para evitar grandes comoções do lado derrotado, seja ele qual for, após o resultado ser confirmado dada a ultrapolarização em que nos encontramos.
    Enfim, nada disso condiz com a situação privilegiada em que ele se encontra agora. Os discursos de Marina Silva e Geraldo Alckmin, cujas candidaturas tiveram rápida desidratação por conta da corrida pelo voto útil na últimas semanas, foram mais altivos e em nada rancorosos, ao contrário do dele.
    Resta saber se realmente tem dúvidas sobre a possibilidade de sua vitória, se isso é uma tática para comover o eleitorado ou se essa é a forma com a qual age diante de frustrações.
    Até porque, neste segundo turno, será chamado a participar de debates e entrevistas para expor mais detalhadamente suas propostas para o governo e a responder por declarações polêmicas dadas por ele, por seu candidato a vice, o general da reserva Hamilton Mourão (13o salário, ”branqueamento”…), e por seu assessor econômico, Paulo Guedes (CPMF, Imposto de Renda…). Bolsonaro pode se negar a ir e continuar produzindo vídeos, tuítes e memes para a rede.
    (…) Mas depois, em 28 de outubro, não pode se frustrar caso o resultado não seja de seu agrado.
  • Esquerda encolheu para menos de 30% no Rio Grande do Sul

    No Rio Grande do Sul, os candidatos à direita do espectro político – Sartori, Leite, Bandeira – somam mais de 70% dos votos nesta eleição, segundo os dados finais da apuração.
    A esquerda encolheu, para menos de 30 por cento dos votos válidos.
    Miguel Rossetto, do PT, e Jairo Jorge, do PDT, com uma pauta filiada ao trabalhismo mal somam 29%. E os nanicos com programas revolucionários somados não alcançam 1%.
     
     

  • Eleitor gaúcho escolheu o projeto do ajuste e das privatizações

    Na medida em que era uma disputa entre dois projetos, a eleição no Rio Grande do Sul foi decidida no primeiro turno.
    A disputa entre Eduardo Leite e Ivo Sartori no segundo turno, qualquer que seja o resultado, já consagrou a vitória do projeto neoliberal, que tem por premissa o ajuste fiscal e a redução do Estado.
    O projeto social desenvolvimentista, representado por Miguel Rossetto, do PT, e Jairo Jorge, do PDT, foi repelido nas urnas deste domingo 7 de outubro de 2018.
    “Ao Estado cabe cuidar da Segurança, Saúde, Educação e, no mais, proporcionar um ambiente propício ao empreendedor privado, através de concessões, privatizações, terceirizações, alienações. O motor privado é que vai ativar a roda da economia.
    A estrutura do Estado tem que se adequar a esse tamanho mínimo, através da  redução de funcionários, demissões voluntárias, cortes de benefícios. Para chegar ao ideal de não gastar mais do que arrecada”.
    Em linhas gerais, esta é a cartilha de Sartori e de Eduardo Leite.
    Inclusive, a âncora de ambos para alcançar o equilíbrio das contas pública é a mesma: o Regime de Recuperação Fiscal, criado pelo presidente Michel Temer para enquadrar no seu programa de ajuste os Estados em crise financeira, entre os quais o RS era um dos três piores, depois do Rio e Minas.
    Ambos contam com um acordo que ainda não foi fechado, para ficar três anos sem pagar a dívida com a União, economizando mais de R$ 11 bilhões.
    Ambos contam também com a renovação do ICMS aumentado para energia e combustíveis, que vigora desde o início do governo Sartori.
    Ambos começaram na política estudantil, ambos foram prefeitos de cidades importantes, Caxias e Pelotas.
    A diferença é que Sartori, aos 70 anos, vai pedir voto em nome da experiência e do trabalho já iniciado.
    Leite, de 33 anos, vai invocar o novo e dizer que pode fazer mais em quatro anos.
     
     

  • Onix Lorenzoni negociou o apoio do "baixo clero" a Bolsonaro

     A reportagem é de Eduardo Bresciani, do jornal  O Globo:
    Ao consolidar o apoio das bancadas ruralista e evangélica, e já contando desde sempre com o engajamento majoritário da bancada da bala, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) segue o caminho do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB) na formação de uma eventual base parlamentar para um futuro governo.
    Sem negociar com cúpulas partidárias, Bolsonaro vem conseguindo angariar apoiadores no baixo clero e no varejo. Os representantes das bancadas destacam que no caso de Cunha foi ele quem buscou o apoio de forma ostensiva, enquanto que no caso de Bolsonaro o acerto é uma demanda de reação aos movimentos de suas bases.

    O coordenador dessa estratégia é o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que já tinha anunciado antes de começar a campanha a adesão de mais de cem deputados ao candidato, mas sem divulgar uma lista. O apoio das bancadas apelidadas de BBB –  boi, bala e Bíblia –  foi fundamental para vitória de Cunha na eleição para presidência da Câmara em 2015 e lhe deu sustentação até que acabasse afastado em meio a uma série de denúncias de corrupção, que inclusive o levaram posteriormente à prisão.

    — O apoio ao Eduardo Cunha era para que temas que são caros ao setor andassem e, na época, ele abriu as portas e nós conseguimos avançar em muitas pautas complicadas. Hoje é completamente diferente, hoje vem da base. O setor produtivo está apoiando o Bolsonaro e essa pressão foi ficando cada vez maior — afirmou Tereza Cristina.

    — No caso de Eduardo Cunha, ele buscou apoios na igreja. Agora, com Bolsonaro, você vê lideranças religiosas declarando apoio porque ele é o que mais se aproxima do pensamento cristão. Na verdade, quem está fazendo campanha para Bolsonaro é a esquerda radical, que está fazendo com que os pastores se assustem — diz Takayama.
    Coordenador da bancada da bala, Alberto Fraga (DEM-DF) tinha traído o amigo Bolsonaro no início da campanha após fechar acordo com o PSDB de Geraldo Alckmin para disputar o governo do Distrito Federal. Patinando nas pesquisas, Fraga voltou a defender o candidato do PSL em eventos e declarou publicamente o seu voto no debate realizado pela TV Globo na terça-feira.
    O movimento de Fraga é semelhante ao de vários parlamentares que passaram a defender Bolsonaro apenas em busca da própria sobrevivência. Luiz Carlos Heinze (PP), expoente da bancada ruralista, tenta uma vaga ao Senado e estava neutro no início da campanha devido ao fato de sua correligionária e conterrânea Ana Amélia ser vice de Alckmin. Também com dificuldades eleitorais, decidiu abraçar de vez a campanha de Bolsonaro.
    A reaproximação do candidato do PSL ocorreu com vários parlamentares da campanha. Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), que se notabilizou quando presidiu a comissão de Direitos Humanos da Câmara, foi um que abandonou o candidato de seu partido, Álvaro Dias, durante a campanha para se aproximar de Bolsonaro.
    A aglutinação das bancadas temáticas em torno de Bolsonaro é um argumento usado por apoiadores do candidato do PSL quando há questionamentos sobre sua viabilidade. Nessa quinta-feira, por exemplo, em transmissão ao vivo ao lado do presidenciável, o pastor Silas Malafaia destacou que somente com as três bancadas acima mencionadas Bolsonaro já deve ter maioria absoluta na Câmara.

    — Só as bancadas ruralistas, segurança e evangélica, e se somar a católica, é maioria absolutíssima. O povo não é tolo, nem político também — afirmou Malafaia.
  • A jogada do bispo Edir Macedo para derrubar a Globo

    Na segunda-feira, o bispo Edir Macedo pediu aos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus que votem em Bolsonaro.
    Na quinta-feira, a Rede Record, que pertence à Igreja Universal, transmitiu no mesmo horário do último debate da campanha eleitoral uma entrevista com o candidato, que não foi ao debate.
    Nos 25 minutos que durou a entrevista, a Record bateu a audiência do debate da Globo.
    Jair Bolsonaro, o lider nas pesquisas, já confrontou a Globo numa entrevista em que, acossado por perguntas constrangedoras, que revelavam sua ignorância em questões econômica, ele lembrou os sólidos vínculos que ligaram a Globo à ditadura.
    Com apoio da bancada da  bala, do agronegócio, dos evangélicos e de uma rede de televisão Bolsonaro se sente forte para enfrentar a Globo
    No Estadão desta sábado o jornalista Igor Gielow analisa o flerte entre candidato e emissora: “a decisão de veicular uma entrevista com Jair Bolsonaro (PSL) no mesmo horário do debate dos outros presidenciáveis na TV Globo selou a aproximação do candidato com a Rede Record, controlada pela Igreja Universal do Reino de Deus”.
    Segundo Gielow, “o objetivo de Bolsonaro é ter na Record sua “Fox News”, como dizem seus aliados em referência à emissora noticiosa americana que publica pontos de vista majoritariamente favoráveis ao presidente Donald Trump —largamente espezinhado pela mídia tradicional dos EUA”.
    O jornalista ainda destaca que “para o grupo que controla emissora paulista, além de afinidades eletivas como a proximidade de Bolsonaro de líderes e do ideário evangélicos, há a expectativa de que, eleito presidente, ele mude regras de distribuição de verba publicitária federal”.
    Gielow ressalta que “a Record não declarou apoio a Bolsonaro. O enlace foi sacramentado após o líder da Universal e dono da emissora, o bispo Edir Macedo, ter declarado voto em Bolsonaro, no sábado (29). O namoro, contudo, é mais antigo. Começou em novembro do ano passado, quando Bolsonaro foi apresentado à direção da Record em um evento do Ressoar, o instituto filantrópico da emissora, no hotel Unique, em São Paulo. A apresentação foi feita por Fábio Wajngarten, analista de mídia e empresário ligado a Bolsonaro, que também levou o candidato à direção da RedeTV! e do SBT. O economista Paulo Guedes, guru do presidenciável, fez o mesmo na Rede Globo”.
    Igor Gielow observa que “poucos dias depois do evento em São Paulo, Bolsonaro passou a atacar a Globo, criticando a concentração de verbas publicitárias do governo federal na emissora. Em 1º de dezembro, disse que iria “cortar pela metade” os recursos destinados à empresa. A Secretaria de Comunicação do governo federal tem cerca de R$ 900 milhões anuais para investir em televisão. Hoje, o valor destinado à Globo é pouco inferior aos 40% de participação de mercado que a emissora tem —o chamado ‘share’.”

  • Umidade pode prejudicar a qualidade da safra de trigo este ano

    Quase 90 por cento das lavouras de trigo no Rio Grande do Sul estão entre as fases final de enchimento de grãos e início da maturação.
    O que preocupa os triticultores  neste momento é a persistência do tempo úmido e quente prevista para as próximas semanas.
    A se concretizar esse cenário, mais que a quantidade, a qualidade
    final do grão poderá sofrer sérios danos, resultando em um produto final de
    baixo valor.
    De acordo com o Informativo Conjuntural, divulgado pela Emater/RS-Ascar nesta quinta-feira (04/10), apesar da recente ocorrência de chuvas intensas, acompanhadas de granizo e ventos fortes, a situação da cultura ainda é considerada boa, com o potencial de produtividade se mantendo estável, ao redor dos três mil quilos de trigo por hectare.
    Também evolui para a fase de enchimento de grãos a cevada, que apresenta
    boa formação de espigas e grãos.
    O clima úmido do período favoreceu o desenvolvimento de doenças fúngicas, principalmente manchas foliares, determinando que os produtores realizem tratos culturais, visando proteger as espigas da cevada e preservar a qualidade dos grãos a serem colhidos.
    As lavouras mantêm bom stand a campo, prospectando boa qualidade industrial
    (cervejeira).
    Outras culturas
    A canola está finalizando a fase de enchimento de grãos basicamente no
    Planalto Médio, e em maturação e colheita no Noroeste, com 33% da área
    estimada da região (12,5 mil ha) já colhida.
    As áreas da cultura que estão evoluindo para o estádio de maturação apresentam desuniformidade entre plantas.
    Milho – A alta umidade no solo prejudicou a evolução do plantio, que avançou
    pouco e no momento atinge 47% da área prevista para a safra.
    As lavouras recém plantadas apresentam boa emergência e desenvolvimento inicial
    adequado, com poucas necessitando controle em relação ao ataque de
    lagartas.
    Nas semeadas há mais tempo, segue aplicação de adubação
    nitrogenada em cobertura e de herbicidas para controle de invasoras.
    Feijão 1ª Safra – Produtores continuam implantando as lavouras em todo o
    Estado, já alcançando cerca de 52% da área prevista. A fase é de germinação
    e desenvolvimento vegetativo.
    Os agricultores também já estão realizando a adubação nitrogenada em cobertura nas primeiras lavouras semeadas. Até o momento, há pouca presença de pragas e doenças, não sendo necessários tratamentos fitossanitários nas lavouras. Na região Centro-Serra, as lavouras semeadas apresentam boa germinação e emergência, além de ótimo estande de plantas.
    FRUTÍCOLAS
    Citros – Apesar das chuvas frequentes na região do Vale do Caí, os períodos
    de tempo bom têm permitido que os citricultores realizem a colheita das últimas
    frutas dos pomares cítricos.
    Em relação às bergamoteiras, está no final a colheita da Montenegrina, cultivar com maior área de cultivo e produção tanto no Vale do Caí quanto no RS. A safra de bergamotas foi de muito boa qualidade, com frutas suculentas, casca lisa e pouca incidência da pinta-preta, principal doença das bergamoteiras.
    Já entre as laranjas, ainda está em colheita a cultivar Valência, de colheita mais tardia. A Valência é a fruta cítrica com maior área de cultivo no Estado e se destina à elaboração de suco, tanto na indústria como nos lares, bares e restaurantes.
    Criações
    Bovinocultura de leite – A produção de leite tem apresentado crescimento em
    decorrência da maior oferta de forragem, pois a produção de azevém está na
    sua fase mais favorável.
    O clima do início da semana passada proporcionou um quadro bastante positivo para as pastagens de inverno, porém, a grande quantidade de precipitações no final de semana fez com que os animais fossem retirados das pastagens para não haver muito pisoteio. Os produtores com bom planejamento apresentam resultados muito satisfatórios em relação à produção de leite, fator que, aliado ao aumento do preço pago, gera um ótimo momento para o setor.
    Apicultura – Os enxames já mostram bastante atividade e os produtores estão
    colocando melgueiras e cera nova nos ninhos. No entanto, o excesso de dias
    chuvosos na região Sul e Campanha prejudica o trabalho das abelhas. Apesar
    disso, tem início o caça-enxame, manejo no qual os produtores distribuem as
    armadilhas para recuperar enxames e aumentar o número de colmeias. Esse
    período exige atenção ao manejo da colmeia, visando o direcionamento para a
    produção. O manejo de caixilhos e a renovação de quadros são importantes
    para garantir colmeia forte e ganhos de produção para o próximo ciclo. A
    expectativa de produção é de 15 a 25 quilos por colmeia.

  • ARI pede respeito às regras e aceitação do resultado eleitoral

    NOTA DA ARI: DEMOCRACIA E VERDADE
    Na antevéspera do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 e no contexto de uma disputa política caracterizada pelo acirramento de posições e ideias, por episódios de violência, por discursos autoritários e pela ampla disseminação de informações falsas em redes sociais, a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) manifesta sua preocupação com o futuro do país e reafirma seu compromisso irrenunciável com a democracia e com a liberdade de expressão.
    Com 82 anos de atuação na defesa do jornalismo responsável e do direito dos cidadãos a informações verdadeiras, independentes e plurais, a ARI posiciona-se intransigentemente pelo respeito às regras do jogo democrático, confiando que as instituições brasileiras, fortalecidas por três décadas de normalidade democrática, saberão conduzir a transição de poder em todas as instâncias do Executivo e do Legislativo, em consonância com a vontade soberana da população.
    Na condição de entidade representativa dos profissionais de imprensa do Rio Grande do Sul, a ARI acredita que a verdade, o voto livre e consciente, a aceitação do resultado eleitoral e o exercício da cidadania por todos, governantes e governados, são pré-requisitos para a construção de um país melhor e mais próspero.
     
    Luiz Adolfo Lino Souza
    Presidente da ARI
    Batista Filho
    Presidente do Conselho Deliberativo da ARI

  • Enchendo de abelhas os eucaliptais gaúchos 

    Espécie vegetal nativa da Austrália, o eucalipto ocupa cerca de 500 mil hectares no território gaúcho, configurando-se como a mais rica fonte de mel do Rio Grande do Sul. Programa de fomento pretende chegar a 30 mil colméias nos hortos florestais da Celulose Riograndense.
    GERALDO HASSE
    Técnico agrícola formado em São Leopoldo, Atilio Lopes trabalhava na área de silvicultura da antiga Riocell quando foi incumbido de arranjar uma área para o veterano Ascindino Curtinaz colocar um dos seus apiários dentro dos eucaliptais da empresa.
    Foi no ano de 1986 que Lopes acomodou o novo amigo no Horto Colorado, em Butiá, onde, além de milhares de hectares de eucaliptos, havia um viveiro de mudas para suprir plantios em diversas regiões do Estado.
    Ali poderiam ser colocadas centenas de colméias, mas o apiário pioneiro de Curtinaz continha apenas 40 caixas, uma vitrine modesta para alguém que já era uma lenda viva da apicultura gaúcha.
    Embora também produzisse mel, Curtinaz fez-se respeitar no mundo apícola por ter dado seu sobrenome a um modelo de colméia bastante usado por apicultores gaúchos, que até então se dividiam entre a caixa Langstroth americana (inventada em meados do século XIX) e as nativas Schenk, criada em 1904 pelo alemão naturalizado brasileiro Emilio Schenk (1870-1945), e Schirmer, opção oferecida pelo apicultor Bruno Schirmer (1905-1973).
    Entretanto, como lembra Lopes, os maiores inventos de Curtinaz não foram as caixas de madeira, mas dois equipamentos metálicos: uma desperculadeira de favos e um descristalizador de mel.
    Ocupado com a fabricação, venda e entrega desses materiais, Curtinaz nem sempre tinha tempo para vistoriar suas colméias instaladas em diversos locais, além do horto de Butiá.
    Às vezes, “esquecia” suas abelhas. Certo dia, já no final dos anos 1980, procurou Lopes, que tinha como missão prioritária comercializar toras grossas demais para passar nos picadores da indústria – era tanta madeira, fornecida a 62 serrarias, que não sobrava tempo para acompanhar o trabalho dos apicultores dentro dos eucaliptais da companhia.
    Alegando ter-se perdido na imensidão do horto de Butiá, Curtinaz pediu ajuda para localizar seu apiário. Guiado por Lopes, que tinha o mapa das ‘minas de mel’ na chamada região carbonífera, foi ao local exato onde o apiário fora instalado. Nada.
    Meliantes haviam roubado todas as caixas naturalmente cheias de mel. “Levaram até os estaleiros das colméias”, lembra Lopes, que orientou Curtinaz a levar suas abelhas para um local mais bem vigiado — a Fazenda Barba Negra, em Barra do Ribeiro, onde a indústria de celulose de Guaíba mantinha seu maior viveiro de mudas.
    Ali, ajudado pelo filho Clenio Curtinaz, o velho apicultor produziu mel até o final da vida. Dias antes de falecer em fevereiro de 2018, aos 90 anos, foi visto na Barba Negra vistoriando seu apiário – era época de preparar as colméias para a próxima safra. Ele tinha ali 137 caixas, segundo o cadastro oficial do programa de fomento*.
    *O segundo da lista foi Flavio Baptista da Rosa, que colocou suas abelhas no Horto São Francisco, em Charqueadas. Ele faleceu em 2016, mas seu apiário (que chegou a produzir 10 toneladas num bom ano) continua ativo nas mãos do neto Rafael Baptista.
    Ao longo de mais de 30 anos, Ascindino Curtinaz foi um exemplo vivo da prática da apicultura nos eucaliptais cultivados para a produção de celulose.
    Seu nome serviu como chamariz que ajudou a empresa a atrair outros produtores de mel interessados em explorar as floradas concentradas nos meses do outono – de março a junho. Entretanto, dependendo da região, das condições climáticas e das variedades de eucaliptos, as floradas podem ocorrer em outras épocas, inclusive na primavera e no verão.
    Somando talhões modernos de origem clonal a capões tão antigos que são popularmente chamados de “eucaliptos crioulos”, a espécie vegetal nativa da Austrália ocupa cerca de 500 mil hectares no território gaúcho, configurando-se como a mais rica fonte de mel do Rio Grande do Sul.
    Segundo Lopes, que foi ficando com a incumbência de administrar as levas de apicultores migratórios e perenes que procuravam os hortos da empresa, a variedade que mais atrai as abelhas, pelo volume de néctar, é o Eucalyptus saligna.
    Também é respeitável a florada doEucalyptus robusta. Além desses, continua sendo citado como rica fonte de néctar o Corymbia citriodora, novo nome do popular eucalipto cidró, cujas folhas fornecem o óleo essencial usado como repelente de insetos, em produtos de limpeza e na indústria farmacêutica.
    Iniciado pela Riocell, continuado pela Aracruz e mantido até hoje pela Celulose Riograndense, o programa de fomento apícola permite à empresa exercer uma função social junto a escolas para excepcionais em dezenas de municípios onde produz madeira para fabricar celulose.
    Houve anos em que os apicultores doaram à companhia sete toneladas de mel destinado à merenda escolar.
    No início, o produto era entregue às escolas em embalagens plásticas de 500 gramas sem rótulo. Um dia, por não ter sua origem especificada, o produto foi apreendido por agentes da saúde pública do município de Charqueadas.
    A partir desse episódio, por ordem do gerente florestal Renato  Rostirolla, o mel ganhou identidade própria e passou a ser envasado no entreposto apícola da cidade de Ivoti, cujos apicultores  se sentiram motivados a fundar uma cooperativa.
    Quando o programa de fomento estava maduro, Atilio Lopes animou-se a produzir mel e fundou o Apiário Atemel, marca formada pela fusão do seu nome com o de seu sócio, o agrônomo Edgar Melgarejo, então gerente de silvicultura da indústria de Guaíba.
    Sem nunca ter mais do que 200 colmeias vistoriadas apenas em feriados e fins de semana, o Atemel produziu mel durante 17 anos, chegando a vender cinco toneladas no seu melhor ano-safra.
    Em 2013, os dois sócios decidiram vender seus equipamentos a apicultores que vêm quitando sua dívida com mel, ano após ano.

    Atilio Lopes, apicultor

    No jardim da sua casa em São Gerônimo, Atilio Lopes plantou uma placa anunciando a venda de mel a R$ 20 por quilo. Com freguesia fiel, o ponto tende a permanecer ativo após as últimas mudanças ocorridas no programa de fomento apícola da Celulose Riograndense, que entrou numa nova fase após a substituição do presidente Walter Lidio Nunes por Maurício Harger a partir de maio de 2018.
    Aposentado a um ano, Atilio Lopes aceitou o convite para continuar cuidando do fomento apícola da Celulose Riograndense, agora como gestor autônomo, em sociedade com Gustavo Zapata, agrônomo uruguaio que nos últimos anos atuava como consultor remunerado do programa.
    A partir de 2019, conforme o novo contrato, a Zapata Consultores terá de tirar sua remuneração do mel produzido pelos apicultores instalados nos hortos da Celulose Riograndense.
    Por conta da virada institucional promovida pela nova direção da empresa, o programa de fomento à apicultura da Celulose Riograndense está desafiado a prover sua autossuficiência.
    Hoje com menos de 100 parceiros, o programa de fomento premedita  encher de abelhas todos os hortos de eucaliptos da Celulose Riograndense.
    À média de uma caixa por cada sete hectares, a meta para 2020 é chegar a 30 000 colmeias, o que representaria cerca de 7% do número de colméias estimado para o Rio Grande do Sul – de 350 mil a 450 mil.
    Para fiscalizar as áreas ocupadas pelos apicultores, monitorar a produção e cobrar o pagamento de cerca de 2,5 quilos de mel por colmeia/ano a título de arrendamento, a Zapata Consultores terá de contratar três técnicos obrigados a circular permanentemente nas diversas frentes de trabalho.
    Aparentemente fácil, o relacionamento entre proprietários rurais e apicultores arrendatários é sujeito a dificuldades inusitadas.
    Por exemplo, enquanto a coleta de mel é feita à luz do dia, a instalação e a retirada dos enxames acontecem de noite, quando as abelhas não saem de seus ninhos.
    Não havendo guardas nem porteiras em muitos eucaliptais, configura-se uma situação propícia a furtos e até a vandalismo. Problema ainda sem solução, eucaliptais sem vigilância podem atrair ocasionalmente pessoas dispostas não apenas a furtar mel, mas a levar embora as colméias com sua valiosa população trabalhadora.
    O abigeato apícola é uma prática emergente que vem obrigando os apicultores profissionais a marcar suas caixas a ferro, como fazem os pecuaristas com seus animais. Sem contar o potencial produtivo, que pode variar de 20 a 40 quilos de mel por ano, uma colmeia equipada com um bom enxame vale tanto quanto duas ovelhas.
    A valorização do mel vem servindo como atrativo para milhares de amadores, curiosos e “hobbystas” – apicultores de fim de semana, também chamados pejorativamente de “gigolôs de abelhas”, pois se limitam a fazer uma ou duas colheitas de mel por ano, sem se preocupar com a sanidade das colmeias. Muitos tocam o ofício apícola com um viés extrativista, similar ao praticado no garimpo, na pesca e na captura de pássaros.A maioria vê na apicultura um fonte alternativa de renda. Chegando a 200 caixas, alguns se tornam profissionais e progridem, chegando a atuar como compradores de mel de produtores menores. Menos arriscado do que a criação de abelhas, o comércio de mel é lucrativo, mas tem sido alvo da vigilância sanitária, que flagrou recentemente no interior gaúcha uma partida de mel uruguaio contendo resíduos de antibióticos.
    No início de 2017, estimou-se em 159 o número de apicultores que poderiam instalar-se dentro dos 220 mil hectares da empresa, entre talhões plantados e áreas de vegetação nativa legalmente obrigatória. Nunca alcançado, esse seria um teto fixado pela gerência de suprimentos florestais após acertar um convênio operacional com o departamento de apicultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que possui um campus rural em Eldorado do Sul, bem no centro geográfico da eucaliptocultura da Celulose Riograndense.
    Orientado pelo professor Aroni Sattler, diretor do departamento, que passou a ter direito a uma participação na produção de mel, o servidor do campus José Odair de Souza foi treinado para operar equipamentos apícolas instalados num imóvel anteriormente usado pelo extinto departamento de suinocultura. Ali passou a ser processado o mel oriundo dos eucaliptais da região, tarefa assumida por Oranilde dos Santos, apicultora de Arroio dos Ratos que aceitou receber R$ 0,50 por pote lacrado. Ela divide a féria com um dos filhos. Até agora a parceria andou razoavelmente bem, mas sua continuidade depende de um novo arranjo operacional entre a Zapata Consultores e o professor Sattler, que já completou o tempo de serviço para se aposentar e pode tomar novo rumo a qualquer momento, embora sem abandonar a apicultura.
    Pelo cadastro existente, os apicultores exploram menos de 20% da área cultivada pela Celulose Riograndense, que ainda pode estender o fomento aos eucaliptais arrendados à Fibria na região de Pelotas. Diante de tamanho potencial, a administração emergente do fomento apícola está convidando novos e velhos apicultores a aderir à parceria. Dá-se preferência aos profissionais de maior porte, que manejam de 1 mil a 4 mil colméias. São poucos, uma dúzia ou pouco mais, talvez. A maioria dos grandes apicultores nativos está estabelecida em redutos do pampa como Cachoeira do Sul, Caçapava do Sul, Bagé, Livramento, Rosário do Sul, Santiago e São Gabriel. São quase todos veteranos na faixa etária dos 60 anos de idade. A maioria reluta em deslocar seus apiários dos sítios explorados há anos.
    Por isso, na próxima temporada, segundo Atilio Lopes, deve chegar aos eucaliptais da região vizinha de Pantano Grande, a 100 quilômetros de Porto Alegre, uma leva de jovens apicultores do sul de Santa Catarina que trabalham para abastecer a Minamel e a Prodapys, exportadoras de mel sediadas em Içara e bastante ativas nos últimos anos em território gaúcho. A expectativa de Lopes é que a chegada do “exército catarina” com suas jamantas carregadas de abelhas deve produzir um choque de dinamismo na apicultura riograndense estacionada nos eucaliptais da Celulose Riograndense. Herdeiros do trabalho de desenvolvimento apícola feito por Helmuth Wiese(1926-2002), o técnico agrícola que criou a Cidade das Abelhas em Florianópolis e distribuía abelhas-rainha no interior do seu Estado, eles são considerados a vanguarda da produção de mel no Sul. Nos Campos de Cima da Serra, onde vêm atuando há alguns anos, são vistos como invasores que exageram na lotação dos pastos apícolas ou, seja, estariam praticando uma apicultura não sustentável.