O agrônomo Nadilson Ferreira, doutor em polinização por abelhas, parecia a pessoa certa no lugar certo até ser afastado do cargo de coordenador da Câmara Setorial de Abelhas, Produtos e Serviços da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul.
Após ocupar o posto por quatro anos, esse PhD criado em Recife foi defenestrado por pretender direcionar ao Conselho Estadual do Meio Ambiente a demanda dos apicultores por normas de controle no uso de agrotóxicos em lavouras e pomares.
Na primavera-verão de 2017, produtores de mel do Pampa reclamaram das perdas de milhares de colméias após pulverizações químicas de lavouras de soja.
Até o início de 2018, era consenso na Câmara que a fixação de normas de proteção às abelhas não caberia à Secretaria da Agricultura e, sim, ao Consema.
Numa reunião da Câmara Setorial em janeiro, surgiram questionamentos levantados por representantes da Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul (Farsul).
Em abril, vencido o prazo para fechar a minuta do documento a ser encaminhado ao Consema, Ferreira perdeu o cargo por insistir na defesa da apicultura, a prima pobre do agronegócio.

“Não me disseram, mas é evidente que eu estava incomodando”, diz ele, salientando que atuava democraticamente em busca de um consenso aparentemente inconveniente para o setor agrícola, representado não apenas por agricultores, mas por uma frente formada por comerciantes de insumos, empresas de aviação agrícola, fabricantes e vendedores de máquinas rurais e, sobretudo, a indústria de produtos químicos eufemisticamente denominados “defensivos vegetais”.
No lugar de Ferreira, agora incumbido de coordenar o programa Mais Água, Mais Renda, da Secretaria da Agricultura assumiu temporariamente Aldo Machado dos Santos, apicultor em São Gabriel, presidente da Cooperativa de Apicultores do Pampa e ex-presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul, que congrega cerca de 90 asssociações de apicultores.
“Eu vou jogar o jogo pra ver até onde eles pretendem chegar”, disse Santos ao JÁ. Nesse jogo evidentemente desigual, ele não dispõe de apoio unânime de todos os líderes da apicultura, atividade que mobiliza cerca de 40 mil produtores de mel e envolve mais de 100 mil pessoas no Rio Grande do Sul.
No ano passado, Santos foi um dos apicultores que mais tiveram perdas de enxames por contaminação de agrotóxicos. Natural de Lajeado mas atuando em São Gabriel há mais de 30 anos, Santos fez por conta própria um mapeamento das principais floradas apícolas do Pampa.
O jogo é realmente complexo. O agronegócio, que engloba toda a cadeia rural e os diversos interesses situados antes do plantio e depois das colheitas, não quer se submeter a regras que gerem obstáculos a seu laissez faire.
No entanto, a ampla rede de empresas fabricantes de insumos (adubos, máquinas, sementes e produtos químicos) não pode ignorar o interesse dos agricultores nos serviços de polinização praticados pela abelhas melíferas e as nativas, sem ferrão.
Umas mais, outras menos, todas as culturas agrícolas se beneficiam das visitas das abelhas, que também polinizam a vegetação nativa, garantindo sua perpetuação. Baseado nisso o cientista Albert Einstein declarou: “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade não terá mais do que quatro anos de vida”.
Categoria: Geral
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Discussão sobre agrotóxicos racha Câmara Setorial de Abelhas do RS
Nadilson Ferreira (foto Tânia Meinerz) -
PT mantém estratégia e anuncia novos recursos para ter Lula candidato
O candidato a vice-presidente na chapa do PT, Fernando Haddad, anunciou na tarde desta segunda-feira 3 que o PT vai entrar com recursos para tentar manter a candidatura do ex-presidente Lula à presidência.
Após visita ao ex-presidente na prisão, em Curitiba, Haddad afirmou que “Lula tomou a decisão de peticionar junto à ONU para que se manifeste sobre a decisão das autoridades eleitorais brasileiras” em relação à sua candidatura.
Outro movimento será apresentar junto ao STF “dois recursos, com pedido de liminar, tanto na esfera eleitoral quanto na criminal para que ele tenha o direito de registrar sua candidatura no prazo que foi dado de dez dias” e não tenha que ter o nome substituído neste prazo, como determinou o TSE.
“Essas são as decisões do presidente, em defesa de sua dignidade, do seu pleito e em respeito à soberania do povo de escolher o presidente da República”, acrescentou Fernando Haddad.
Após praticamente o dia inteiro reunido com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Polícia Federal, em Curitiba, nesta segunda-feira (3), o candidato a vice na chapa, Fernando Haddad, falou à imprensa. Disse que Lula decidiu interpor dois recursos no Supremo Tribunal Federal (STF) e um na Organização das Nações Unidas por seus direitos civis e políticos.
Em primeiro lugar, será encaminhada uma petição junto ao Comitê de Direitos Humanos da ONU para que o órgão se manifeste a respeito da decisão “das autoridades eleitorais brasileiras, em relação à determinação de que sua candidatura fosse registrada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
A segunda medida será interpor dois recursos com pedido de liminar no STF, nas esferas criminal e eleitoral, “para que ele tenha o direito de registrar a candidatura no prazo de 10 dias e não haja a necessidade de substituí-lo”, disse o ex-prefeito paulistano e ex-ministro.
Questionado sobre a possibilidade de as liminares serem negadas, Haddad disse que o trabalho está sendo feito “a cada etapa, de acordo com os fatos novos”. “Não imaginávamos que o Brasil contrariaria uma determinação de um organismo internacional, um tratado que subscrevemos e foi aprovado no Congresso Nacional. Vamos esperar a reação do Supremo e na sequência damos novos esclarecimentos.”
Segundo ele, o pedido de liminar acompanha os recursos devido ao pouco tempo para o fim do prazo de 10 dias dado pelo TSE ao julgar o registro da candidatura.
“Temos até terça-feira da semana que vem para que os pedidos sejam julgados pelo menos liminarmente. Vamos tomar as providências para que o povo possa escolher o próximo presidente.”
Sobre a adequação das propagandas da coligação no horário eleitoral, ele explicou que o prazo para a substituição do material foi “muito exíguo” e foram levadas ao tribunal todas as medidas adotadas no sentido de fazer os ajustes em TV, rádio e internet.
(Com informações da RBA) -
TSE estabelece multa de 500 mil para cada propaganda da candidatura Lula
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mandou suspender uma propaganda eleitoral no rádio que apresenta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato do PT à Presidência.
A decisão, expedida domingo à noite, é do ministro Luís Felipe Salomão, acatando uma denúncia do partido Novo.
Salomão fixou multa de R$ 500 mil para cada vez que a peça for reproduzida.
A propaganda de Lula como candidato do PT à presidência está proibida desde a madrugada de quando o TSE impugnou por seis votos a um a candidatura do ex-presidente.
O programa do PT dizia que “a ONU [Organização das Nações Unidas] a mais importante organização do mundo já decidiu, Lula pode ser candidato e ser eleito presidente do Brasil”.
Para o ministro Luís Felipe Salomão, “as transcrições do programa de rádio veiculado não parecem deixar margem a dúvidas, no sentido de que estão sendo descumpridas as deliberações do Colegiado”.
“De fato, o programa expressamente faz referência a Lula como candidato a presidente – de maneira enfática –, em frontal oposição ao que foi deliberado pela Corte”, escreveu ainda na decisão.
Os advogados da chapa deverão apresentar a defesa em dois dias, mas a decisão tem validade imediata.
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Em entrevista a americano, Ciro Gomes critica jornalismo brasileiro
O candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, deu uma alfinetada na cobertura que a imprensa brasileira está fazendo da campanha eleitoral.
Foi no final da muito bem conduzida entrevista de quase uma hora ao jornalista norte-americano, Glenn Greenwald, em São Paulo, para o site The Intercept.
Ciro cumprimentou o repórter e disse: “Você devia ajudar um pouco o jornalismo brasileiro a ser mais profissional.”
Fundando por Glenn Greenwald, Jeremy Scahill e Laura Poitras em 2014, o The Intercept busca contribuir para maior transparência de órgãos de governo, empresas e sociedade.
Em 2016, o site ganhou uma sucursal brasileira, com o objetivo de oferecer uma cobertura alternativa de temas de grande interesse público.
Além de jornalista, Greenwald é escritor e advogado especialista em Direito Constitucional, que atualmente vive no Rio de Janeiro.
Em junho de 2013, através do jornal britânico The Guardian, Glenn Greenwald foi um dos jornalistas que em parceria com Edward Snowden levou a público a existência dos programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela sua Agência de Segurança Nacional.
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"A mais profunda e doída divisão nas correntes de esquerda"
Umas das críticas mais contundentes à insistência do PT na estratégia de levar a candidatura Lula até o fim vem do professor Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político, de 82 anos.
Numa de suas últimas manifestações nas redes sociais ele diz que com seu “duplo discurso de insultar o Judiciário e a ele recorrer com a linguagem das Vossas Excelências, com derrota após derrota, também não impediu o PT, e Lula, de promoverem a mais profunda e doída divisão nas correntes de esquerda do País”.
A nota foi escrita depois do julgamento da candidatura Lula no TSE:
“O assunto jurídico está superado. A vitória moral do Fachin é tão relevante quanto minha decisão de não comprar os discos do Lobão. Não altera nada na alternância dos dias e das noites. Persistir nesse “diálogo” entre eles próprios é conversa de médiuns para platéias crentes de que os mortos queridos permanecem zelando por eles e, vez por outra, batendo um papinho com os familiares ainda encarnados.
O caráter dos magistrados não afeta em nada a eficácia das decisões, assim como urna eletrônica não filtra caráter, só votos.
O fato irremediável, irreversível, imexível é que Lula não será candidato, algo decidido em 2016, não agora.
O que agora foi decidido é que o PT não tem como continuar mobilizando o seu eleitorado e apoiadores mediante a possibilidade de uma sessão mediúnica com eficacia sobre o mundo real.
Eleição não é sessão espírita – ainda quando a doutrina do espiritismo seja verdadeira.
A nota do PT é inintelígivel: o que significa, agora, continuar com Lula até o fim? O que quer dizer lutar por todos os meios possíveis até a posse de Lula na Presidência da República?
Vão pegar em armas? E que papel continuará a fazer Fernando Haddad, indo a lugares onde nunca esteve, não conhece a comida local e tem dificuldade de entender a pronúncia? Como irá se apresentar?
A ousada ideia de transferência dos votos de Lula para Haddad conflita com a declaração de ir com Lula até o fim: ou Lula é Haddad ou vice-versa.
Dois Lulas e nenhum Haddad não é promessa a ser levada a sério.
A nota do PT coroa sua falta de noção desde o golpe de 2016: primeiro, o otimismo infundado de que o Judiciário conteria a fúria curitibana; segundo, que o temor das massas enfurecidas impediria os irresponsáveis procuradores da Lava Jato de incapacitarem a vida política de Lula.
O ridículo do powerpoint que passou incólume pela justiça não provocou no PT senão achincalhe, sem perceber a extensão da ousadia da Lava Jato com a complacência do Judiciário; a escuta ilegal da conversa presidencial, motivo de prisão em país democrático, mereceu apenas um pito em Moro, sinal alarmante de que era verdade o que dizíamos desde o início: o alto e médio escalões do Judiciário estão comprometidos com a expulsão da forças populares do circuito legal do poder.
A prisão de Lula sem que o mundo viesse a baixo também não ensinou nada ao PT nem a sua militância fanatizada, com o estímulo de Lula.
O duplo discurso de insultar o Judiciário e a ele recorrer com a linguagem das Vossas Excelências, com derrota após derrota, também não impediu o PT, e Lula, de promoverem a mais profunda e doída divisão nas correntes de esquerda do País.
Hoje, comemoram o campeonato mundial de 6X1 contra, exercitando a linguagem do ódio contra juizes preconceituosos, outros de caráter hesitante, e prometendo arrebatar o Judiciário, o Executivo e a Presidência com o apoio de multidões de almas penadas que, a bem da verdade, mas ignorada pelo PT, não deram as caras.
Continuam acreditando que os rebelados se levantarão das tumbas e apavorarão um Judiciário desalmado. Outra vez, será tudo em vão.
Quando é que o PT e seus militantes pintados para a guerra se darão conta de que só metem medo à própria esquerda dissidente, e apenas por isso, porque é dissidente? O PT e membros estão a um passo de convocarem à mesa da fé o espírito autoritário do antigo Partidão.
O PT e os cronistas de boa fé permanecem na senda de conduzir toda a esquerda ao inferno. Que, esse sim, existe.
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Museu Nacional em chamas é o retrato do Brasil de 2018
O incêndio que destruiu quase todo o acervo do Museu Nacional na noite deste domingo, no Rio, é o “retrato” do Brasil de 2018, submetido a uma política de desmonte dos serviços públicos em todos os níveis.
O Museu não tinha prevenção e os bombeiros, quando o incêndio se alastrou, não tinham água para conter o fogo.
“Todas as unidades (da universidade) estão afetadas por esse política”, segundo o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, à qual o Museu é vinculado.
“Este incêndio sangra o coração do país,” disse o reitor.
Leher reconheceu a falta de condições para enfrentar uma emergência desse porte. “Reconhecemos o trabalho valoroso do Corpo de Bombeiros, mas percebemos claramente que faltou uma logística e uma capacidade de infraestrutura.”
Sem água nos hidrantes, o incêndio avançava enquanto os bombeiros aguardavam a chegada de carros-pipa enviados pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae).
Bombeiros, professores e técnicos do museu dizem que ainda conseguiram salvar algumas peças do acervo, composto por milhões de obras e documentos.
Mas, segundo o diretor de Preservação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, João Carlos Nara, “o dano é irreparável”.
“Infelizmente a reserva técnica, que esperávamos que seria preservada, também foi atingida. Teremos de esperar o fim do trabalho dos bombeiros para verificar realmente a dimensão de tudo.
“É uma edificação muito antiga que foi concebida em um contexto em que não existia o uso de energia, muito menos o uso intensivo de energia como são as edificação acadêmicas, que têm laboratórios, área administrativa, informática”, afirmou Nara.
Ele também afirmou que as instalações do museu contavam com uma brigada de incêndio que realizava “trabalho sistemático” junto ao Corpo de Bombeiros e à Defesa Civil, e que os extintores estavam “em ordem”.
Para a ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura Ivana Bentes, não é possível atribuir à tragédia a um suposto “descaso” da UFRJ. “Não existe política pública para manter e conservar nosso patrimônio. É o mesmo descaso com o patrimônio, a pesquisa, a ciência e tudo que é público. O Museu sobrevive com o mínimo de recursos do Estado.”
Ela lembra que até mesmo o público chegou a contribuir com “vaquinha” para ajudar na manutenção do museu, e disse que tragédias dessa dimensão podem ocorrer em outras instituições que vivem na mesma situação. “São incêndios e tragédias que não são ainda mais frequentes nem sabemos porquê. Na adversidade vivemos e as universidades fazem muito e muitíssimo com muito pouco.”
Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC-RJ), desde 2014, o “Governo Federal não faz os repasses apropriados para a manutenção do Museu”. O órgão também declarou que o incêndio “é um símbolo do descaso do governo atual com a nossa cultura, ciência e patrimônio.”
Perdas
Com 20 milhões de peças e documentos, tratava-se do quinto maior museu do mundo em acervo. Suas obras contavam uma parte importante da história antropológica e científica da humanidade. Talvez o exemplo mais emblemático seja o fóssil com mais de 11 mil anos de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, cuja descoberta nos anos 1970 reorientou todas as pesquisas sobre a ocupação da região.
Ali também estava a reconstrução do esqueleto do Angaturama Limai, o maior dinossauro carnívoro brasileiro, com quase todas as peças originais, algumas com 110 milhões de anos. O sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-em-su, mumificada há 2.700 anos e presenteada a Dom Pedro 2º em 1876, nunca tinha sido aberto. A coleção de múmias egípcias e a de vasos gregos e etruscos evidenciam o perfil transfronteiriço do acervo, que também abrigava o maior conjunto de meteoritos da América Latina.
Menos de 1% dessas obras estava exposta ao público. Centro de pesquisa e pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional é uma referência para pesquisadores das mais diversas áreas, como etnobiologia, paleontologia, mineralogia, antropologia, entre outras.
“Todos que por aqui passem, protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir seu próprio futuro.” Após o incêndio que destruiu o Museu Nacional neste domingo, a frase inscrita em lápide na entrada do local soa como um grito de socorro. -
Campanha presidencial em suspense aguarda a decisão de Lula
São mínimas as chances de que o PT vá alterar sua estratégia de manter a candidatura de Lula até o limite e, só depois de esgotados todos os recursos jurídicos, substituir o ex-presidente por Fernando Haddad, hoje seu vice.
A senadora Gleisi Hoffmann, diz mesmo que o partido “continuará lutando por todos os meios para garantir candidatura de Lula nas eleições de 7 de outubro”.
Neste caminho, o partido tentará manter Lula na campanha, sem falar como candidato, até o dia 17 de setembro, quando os nomes serão colocados na urna eletrônica.
Setores mais realistas, no entanto, avaliam que no campo jurídico não há mais qualquer chance e que “esticar a corda” é perder um precioso tempo para a exposição direta de Haddad, figura quase desconhecida do eleitorado nacional.
Estes querem que Haddad assuma imediatamente a cabeça de chapa para ter mais exposição direta, já que a transferência de votos não será automática e demandará certo tempo.
Em todo caso, a decisão será tomada em Curitiba, onde Lula se encontra preso.
A visita de Haddad, prevista para esta segunda-feira, ensejará a decisão. Uma decisão da qual fica pendente todo o desdobramento da morna campanha para as eleições do dia 7.
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PT pode anunciar a chapa Haddad-Manuela já na segunda-feira
A chapa do Partido dos Trabalhadores com Fernando Haddad no lugar de Lula e Manuela DÁvila como vice, pode ir para a rua já na segunda-feira.
Até o momento a posição do PT é manter a candidatura Lula até esgotar todos os recursos.
Mas desde a decisão do TSE na madrugada de sábado, impugnando o ex–presidente com base na Lei da Ficha Limpa, ganha força dentro do partido a tese de lançar Haddad antes que ele fique eleitoralmente inviabilizado.
Está prevista uma visita de Haddad a Lula na segunda-feira. A última palavra será de Lula, certamente. Mas terá peso a posição que Haddad vai levar.Uma ala petista, ligada ao ex-prefeito, defende que o “melhor cenário” seria fazer o anúncio oficial na segunda-feira (4).
Outro grupo ainda argumenta que a troca oficial precisa ser adiada por mais alguns dias, dentro da estratégia de manter o discurso político de que Lula foi injustiçado – e também porque os advogados avaliam qual a estratégia jurídica para questionar a decisão do TSE.
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Eleições 1989: Ulysses Guimarães, o senhor Diretas, foi abandonado na estrada
Em 1989, a primeira eleição direta para presidente após o golpe de Estado de 1964 se deu num clima de euforia, principalmente entre os que lutaram contra a ditadura militar.
Os dois maiores partidos, PMDB e PFL, que somavam mais de 350 parlamentares no Congresso Nacional se uniram numa chapa, quer tinha à frente o nome mais emblemático da oposição ao regime militar: o deputado Ulysses Guimarães, apelidado Senhor Diretas por sua luta pela volta do voto popular, presidente do Congresso que fez a Constituição democrática de 1988.
Além disso, pela maioria que tinham os dois partidos da aliança, Ulysses tinha o maior tempo no horário eleitoral no rádio e na TV, iniciado no dia 15 de setembro, sem a censura. Juntos, ele e seu vice, Aureliano Chaves, somavam 38 minutos na televisão, diariamente.
Só ele, Ulysses tinha 22 minutos diários mais do que o dobro dos dez minutos reservados ao ex-governador de Alagoas e candidato pelo PRN (em coligação com PTR, PST e PSC), Fernando Collor de Mello, o caçador dos “marajás” que viria a ocupar a Presidência da República.
A decepção dos peemedebistas históricos com o resultado da votação no primeiro turno foi tremenda: Ulysses recebeu pouco mais de 4% dos votos.
Ele terminou em sétimo lugar, na última colocação dos principais candidatos, entre as 22 chapas que participaram da disputa.
A derrocada foi atribuida ao fracasso do Plano Cruzado, que tentou conter a inflação galopante, e o desgaste do governo de José Sarney, que assumiu a Presidência após a morte de Tancredo Neves, eleito presidente pelo Colégio Eleitoral em 1985.
Na verdade, a candidatura de Ulysses foi minada por vários fatores: ascensão de Collor apoiado ostensivamente pela mídia, a divisão dos votos oposicionistas com a entrada em cena de personagens como o carismático líder trabalhista Leonel Brizola (PDT),que retornara do exílio, e o ex-prefeito e senador por São Paulo Mário Covas (PSDB).
Também viu a entrada de uma nova estrela no cenário político, o metalúrgico Luíz Inácio da Silva, o Lula, oriundo do novo sindicalismo brasileiro e candidato de uma “Frente Brasil Popular” (PT, PCdoB e PSB);.
Foi Lula quem acabou chegando ao segundo turno, superando Brizola, para enfrentar Collor.
A propaganda de cada um dos três candidatos — Lula, Brizola e Covas — também teve disponível apenas a metade do tempo ocupado por Ulisses no rádio e na TV: dez minutos. O mesmo espaço receberam Paulo Maluf (PDS), Afif Domingos (PL-PDC) e Affonso Camargo (PTB).
Ex-governador de Minas Gerais e vice do último general presidente, João Figueiredo (1979-1985), Aureliano Chaves, o candidato a presidente pelo PFL, amargou um desempenho ainda pior do que o de Ulysses. Ele não alcançou 1% dos votos e foi o nono colocado.
No dia 15 de novembro de 1989, na primeira eleição para presidente desde 1960, quando os brasileiros escolheram Jânio Quadros, o tempo ocupado pelos candidatos na propaganda eleitoral gratuita não foi determinante.
O inesquecível jingle de Ulysses (Bote fé no velhinho/o velhinho é demais/Bote fé no velhinho/que ele sabe o que faz…), criticado por muitos, ficou na memória de uma geração e marcou a sua última e melancólica campanha.
Ulysses Guimarães morreu três anos depois num acidente, quando o helicóptero em que viajava caiu no mar perto de Angra dos Reis, seis dias depois de ele ter completado 76 anos. Seu corpo nunca foi encontrado.. -
"Ampliar a campanha Lula Livre, esticar a corda"
Em artigo nas redes sociais, o historiador Valter Pomar, da direção nacional do PT resumiu a decisão do partido depois da decisão do TSE que por seis votos a um, impugnou a candidatura do ex-presidente Lula, em sessão que terminou na madrugada de sábado.
Segundo Pomar, a estratégia de seguir com Lula candidato até esgotar todos os recursos segue inalterável e o partido deve retomar a palavra de ordem: “Eleição sem Lula é fraude”.
Eis um trecho do artigo citado:
“Não aceitar o TSE como última instância. Esticar a corda. Ganhar tempo. Aumentar a pressão internacional. Ampliar a campanha Lula livre.
No dia 2 de setembro e nos proximos dias, na Avenida Paulista e noutros locais do país, é preciso realizar atos políticos e culturais estilo “lulaços”.
No dia 7 de setembro, por exemplo no Ipiranga, realizar um ato em defesa de um novo Grito da Independência, na linha “os filhos teus não fogem à luta”, com o mesmo padrão daquele realizado nos Arcos da Lapa.
No dia 13 de setembro devemos fazer um movimento do tipo “vamos visitar o Lula em Curitiba”.
E continuar colocando a campanha Lula na rua.
Portanto, nada de jogar a toalha. Não estávamos e não estamos “cumprindo tabela”.
Um de nossos objetivos segue sendo tentar empurrar a decisão para depois do dia 17 de setembro, para garantir que Lula esteja na urna.
E mesmo que não tenhamos êxito neste objetivo, precisamos deixar claro para a maioria a violência que está sendo cometida, não contra Lula, não contra o PT, mas contra o povo.
Temos que voltar a usar a palavra de ordem “eleição sem Lula é fraude”.
Isto não significa necessariamente que devamos boicotar ou votar nulo. Pode ser, pode não ser. Isso não é uma questão de princípio, é uma questão tática.
Mas mesmo que decidamos participar, a denúncia da fraude precisa ser feita.
Lula é a única alternativa que tem começo, meio e fim.
Todos os cenários sem Lula envolvem tantas incertezas, que seu desfecho mais provável é o aprofundamento da crise.
Ou seja: ou é Lula, ou nada poderá ser como era antes”.
Argumentos da defesa de Lula para manter a estratégia:
No mérito, tivemos o voto do Fachin. Um voto longo e profundo. Desconstruiu o voto do Barroso. Mostrou que não fazia sentido em tratar a decisão do Comitê da ONU como algo menor;
2. Na prática, isso significa que aumenta nossa chance no STF. Até a própria Rosa concordou com quase tudo que o Fachin disse. Discordou em ponto menor, superável no STF;
3. No STF vamos ter que contar com o sorteio. Carmem e os três do TSE estão excluídos. Ficam Lewandowski e Marco Aurélio, Toffoli e Celso.
4. Pediríamos uma liminar para Lula ficar candidato até, pelo menos, o julgamento dos embargos de declaração. Ou até o STF decidir. Vamos avaliar bem o melhor caminho jurídico que devemos seguir para manter a disputa pelo restabelecimento da candidatura Lula vivo;
5. Rosa Weber foi a única que respeitou o art. 16-A – que autoriza seguir em campanha até o final.
6. Barroso inovou para dizer que a decisão do TSE seria a última. Mesmo sendo a primeira, no caso. Mudaram a jurisprudência das eleições presidenciais. Aqui temos uma chance no STF.
7. Com isso, nosso prazo de substituição de dez dias começou a contar. Temos até dia 12 – se não conseguirmos uma liminar.
8. A decisão não era clara sobre o uso do horário eleitoral neste período de dez dias. Estava mais para tela azul, mas decidimos (com Gleisi e Haddad) apostar na ambiguidade. No final, Raquel Dodge pediu para que fosse deixada a “tela azul” até a substituição. Era o que estavam decidindo;
9. De madrugada fiz uma questão de ordem que já estava preparada. Para dizer que Haddad seguia candidato a vice e o tempo é da coligação. Os Ministros pediram um tempo para pensar. Reuniriam-se secretamente para deliberar. E voltaram com a decisão segundo a qual o horário é da coligação.
10. Assim, temos o horário e Lula pode aparecer 25% como apoiador do vice. Será um “vice avulso”. O tempo todo podemos dizer que estamos recorrendo (o que é verdade) para que Lula volte como candidato. E pode mesmo voltar. Da parte jurídica é isso.
