Categoria: Geral

  • Expointer aponta os melhores produtos da agricultura familiar

    Será divulgado nesta quinta (30) à noite o resultado dos concursos para escolha dos melhores produtos da agricultura familiar expostos na 41ª Expointer, que acaba domingo no parque de exposições de Esteio.

    É o sétimo ano dos concursos que mobilizam dezenas de  famílias que este ano ocupam 280 estandes, um recorde nos 20 anos em que a pequena agricultura se apresenta na festa do agronegócio do Sul.

    Serão premiados por júris técnicos os melhores méis, sucos, vinhos, salames e queijos coloniais.

    No caso do mel, julgado terça-feira à tarde, os itens analisados foram o aroma, o sabor e a textura (densidade/viscosidade). Além disso, pesa o laudo técnico com a análise físico-química do produto.(GH)

  • Pesquisa mostra que jovens querem permanecer no campo

    Mais de 90% dos jovens que estão hoje no campo pensam em permanecer nas propriedades rurais e fazer a sucessão.

    Esse foi o dado que mais chamou a atenção entre as questões que apareceram em uma pesquisa realizada pela Emater/RS-Ascar em 493 municípios gaúchos.

    O resultado do levantamento foi apresentado na manhã desta quarta-feira (29/08), na Casa da Instituição, na Expointer, em Esteio, pela coordenadora da pesquisa, Clarice Bock. O objetivo foi conhecer a realidade dos jovens assistidos pela Extensão Rural e Social.

    Foram analisados 7.896 questionários que foram aplicados com agricultores familiares, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e assentados da reforma agrária.

    “Quase 5.000 respostas foram positivas para o desejo do jovem de permanecer no campo e a renda ficou em terceiro lugar”, comentou Clarice. O desejo de ficar no campo está nos laços familiares, pelo vínculo com o rural, pelas questões financeiras e pela dificuldade de adaptação ao urbano.

    Outro dado que ficou demonstrado foi que a maioria dos jovens que permanecem no campo está buscando qualificação profissional. A grande maioria tem o ensino médio completo e, aproximadamente, 800 estão cursando o terceiro grau.

    Além disso, 74% dos jovens que estão à frente dos empreendimentos familiares são solteiros e do sexo masculino e 68% estão satisfeitos com a remuneração atual. E 96% das famílias pesquisadas entende ter condições de permanecer na propriedade.

    “A pesquisa servirá para termos uma radiografia que irá nos ajudar a planejar ações, criar estratégias que incentivem o jovem a permanecer no meio rural com qualidade de vida”, avaliou o diretor técnico da Emater/RS, Lino Moura.

    Exemplo de perseverança

    Luciana Loewenstein Justin, jovem produtora de Itati, que está participando do Pavilhão da Agricultura Familiar, na Expointer, traz na expressão a felicidade em ter permanecido na “roça”.

    “Não queria ficar na roça. Era muito cansativo ficar embaixo do sol forte. Hoje não. Temos outras formas de trabalhar, por exemplo, em estufas e com a agroindústria da família”, reflete a jovem, que tem mais três irmãs que também tiram o sustento da agricultura. Duas delas fizeram faculdade, mas não exercem as profissões escolhidas. Luciana, que já trabalhou no sistema bancário, hoje toca a agroindústria Cantinho da Natureza, que produz chips de banana, batata-doce e aipim. “Quero muito buscar mais qualificação. Já estou agendada para fazer, em janeiro, curso de morangos e tomates em estufa. Tudo orientado pelo Escritório Municipal da Emater. E vou fazer o curso com os meus pais também. O meu projeto para um futuro próximo é investir na agroindustrialização de produtos à base de morangos.”

  • Emater desenvolve projeto para hortas domésticas na Expointer

    Seja para quem quer produzir um alimento para o consumo da família, mesmo nas cidades, ou para quem busca rentabilidade com a produção em escala comercial, a Emater/RS-Ascar apresenta, no espaço da Olericultura, na 41ª Expointer, opções para cultivo de horta doméstica, comercial ou urbana.

    Os ambientes apresentados no local (estufa, ar livre, sombrite e sistema protegido) contemplam diversas finalidades e diferentes tipos de produtores.

    “Desde a linha comercial, profissional, trazendo técnicas de cultivo, variedades com as empresas parceiras, novos produtos, equipamentos e também a questão de análise financeira. Nós temos opção, por exemplo, de estufa, que pode custar quase R$ 100,00 o m² ou R$ 15, 00 o m². Nosso objetivo é sempre trazer possibilidades para o agricultor, para que ele faça esse tipo de análise. Para o visitante que é sitiante, algumas noções para que ele possa produzir na sua propriedade alguns hortifrutigranjeiros. Também para o morador urbano, como ele pode produzir, por exemplo, chás, temperos, ou mesmo hortaliças, com a produção em substrato, em vaso, ou em sistema de bancadas, dando pelo menos os princípios que ele tem que observar e quais os critérios que ele tem que ter para a sua produção”, explica o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Luís Bohn.

    Dia de Campo

    Na tarde desta quarta-feira (29/08), na Casa da Emater, ocorreu o lançamento do Dia de Campo Soluções Tecnológicas e Sociais para a Olericultura, que será realizado no dia 26 de setembro, na propriedade da família de Elton Bobsin, na Linha Cachoeira, em Maquiné.

    O ato contou com a presença de representantes das entidades promotoras: Emater/RS-Ascar, Agrocomapa, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Prefeitura de Maquiné. O objetivo é mostrar aos produtores novos sistemas de produção e formas de cultivo, visando à diversificação na produção e de mercado, melhorando a qualidade de vida do produtor.

    O evento, que acontecerá das 08h30 às 16h, deverá reunir mais de um mil participantes de municípios da região, e irá abordar possibilidades tecnológicas em uso nos sistemas de produção de olerícolas, com foco na exposição de variedades de brássicas e folhosas, sob sistema de plantio direto e controle biológico.

    Os participantes acompanharão seis estações de exposição de cultivares com diversas características agronômicas, obtendo informações sobre resistência a pragas e doenças, aceitação no mercado, sistemas de produção e produtividade, entre outras. Além disso, poderão conhecer o cultivo protegido através de visita a uma estufa com cultivo semi-hidropônico de morango e tomate. Na estação de solos, os produtores serão informados sobre manejo, fertilidade e conservação de solos, com enfoque em plantio direto e de hortaliças. E na de gestão sustentável, experiências de controle de custos.

    O Dia de Campo também contará com expositores de substratos, fertilizantes, máquinas e equipamentos diversos, controle biológico, equipamentos de irrigação e fontes de energia alternativa, demonstrando diversas possibilidades para o produtor.

    A produção comercial de hortaliças em Maquiné é uma atividade com elevado valor agregado e que demanda uso intensivo de mão de obra, sendo uma alternativa para a agricultura familiar. Em Máquiné, a produção agrícola é baseada principalmente na olericultura e a Emater/RS-Ascar tem papel fundamental no suporte ao produtor, que enfrenta desafios impostos pelas variações climáticas, problemas fitossanitários e constantes mudanças de mercado.

    O Dia de Campo faz parte do calendário oficial das atividades do município, devendo ocorrer anualmente, e é um dos maiores eventos de olericultura do Estado.

  • O velho Paixão parecia estar rindo da confusão que semeou

    João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, o gaúcho inconfundível, nascido no rincão dos Ávila, no distrito do Cerro Chato, em Santana do Livramento, foi sepultado nesta terça-feira, 28 de agosto, no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.
    Ele viveu 91 anos, 70 dos quais dedicados integralmente ao resgate da cultura popular do Rio Grande do Sul, em busca da “alma do povo”, como ele dizia.
    Em sua faina incansável, revolucionária, ele resgatou expressões, já quase extintas, de todas as componentes da cultura popular rio-grandense: dos açorianos, dos negros, dos indígenas, do peão pampeano. Mais de 100 danças e bailados, que já estavam esquecidos, ele resgatou. Não foi bem compreendido.
    Em seu velório, no Palácio Piratini, circularam patrões dos CTGs e falaram da sua “contribuição ao tradicionalismo”, hoje um movimento conservador, nada parecido com o que João Carlos D’Avila pretendia quando fundou um Centro de Tradições Gaúchas em 1948.
    As manchetes dos jornais reduziram-no ao “tradicionalista”, “símbolo do gauchismo”
    Hirto em seu caixão, com o inconfundível boné, no centro de um salão palaciano, ele parecia estar rindo da confusão que semeou.
    Sua obra, em todo caso, ficou e o tempo há de fazer justiça, não ao gaúcho Paixão Côrtes, idolatrado como arquétipo de um tempo perdido. Justiça ao pesquisador que foi buscar junto ao povo as raízes da cultura e da vida social.

  • Movimento lança Decálogo pela Democracia e busca adesão de candidatos

    Todos os candidatos ao governo do Estado e ao Senado pelo RS foram convidados para a apresentação do Decálogo Eleitoral, que será lançado nesta quarta-feira, 29, no Plenarinho da Assembléia Legislativa, às 19 horas.
    O documento foi preparado pelo Movimento Diálogo, Democracia e Diversidade, que reúne cidadãos e cidadãs de todas as tendências políticas, unidos pela preocupação com as manifestações autoritárias e ditatoriais que ameaçam o já fragilizado ambiente democrático do país.
    “Trata-se de marco importantíssimo na luta de nosso Movimento para que todos os partidos políticos também se engajem na defesa dos valores da democracia”, diz o cientista político Benedito Tadeu Cesar, um dos líderes do movimento.
    O Decálogo propõe princípios norteadores a candidatos e eleitores, de modo a promover a Democracia,
    Na ocasião, será assegurada a palavra às candidatas e/ou candidatos que comparecerem, ou a seus representantes. As presenças de Jairo Jorge e Miguel Rosseto já foram confirmadas.
    Para maiores informações: http://facebook.com/M3D.

     

  • Isenção de ICM para agricultura: a polêmica e as propostas dos candidatos

    Em vigor desde 1996, a chamada Lei Kandir* retira o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de produtos primários ou semielaborados, com o objetivo de fomentar as exportações.

    A própria lei prevê que os Estados sejam indenizados pelas as perdas na arrecadação do principal tributo estadual, mas essa compensação nunca foi feita como deveria. É uma demanda antiga dos Estados exportadores, com ações na Justiça, inclusive.

    Uma tentativa de encaminhar a questão é o Projeto de Lei Complementar 511/18, criado pela Comissão Especial Mista, em tramitação no Congresso Nacional. Propõe alterações na Lei Kandir para garantir que se refere a compensação da União aos Estadosl e Municípios, por conta da perda de receita decorrente de desoneração do ICMS.

    Segundo o Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Tributária do Estado do Rio Grande do Sul (Sindifisco/RS), na proposta em tramitação no Congresso Nacional, cerca de R$ 39 bilhões por ano seriam destinados aos Estados exportadores. O Rio Grande do Sul, um dos maiores exportadores de grãos, tem potencial para receber algo em torno de R$ 3 bilhões por ano.

    Nos últimos cinco anos, a média de ressarcimento foi de apenas 10% das perdas, quando nos primeiros anos da lei era de 50%.

    Conforme a Secretaria da Fazenda, o Estado recebe algo ao redor de R$ 380 milhões por ano como ressarcimento pelo ICMS que deixou de recolher, uma média que veio despencando nos últimos anos.

     Em 2017, o Sindifisco-RS informa que a União liberou R$ 185,3 milhões, sendo que 25% desse valor vai para os municípios. As prefeituras também se beneficiariam com o projeto: em Porto Alegre, por exemplo, seriam cerca de R$ 85 milhões a mais por ano.

    A regulamentação da Lei Kandir precisa ser aprovada até o final de agosto. Caso o Congresso não vote, o TCU deverá regulamentar. Se chegar até esse tribunal, o pleno poderá derrubar o texto benéfico aos Estados.

    Em 21 anos de vigência da Lei Kandir, o Rio Grande do Sul acumula perdas estimadas em mais de R$ 50 bilhões.

    Segundo cálculos do Comitê dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz) os Estados que mais acumularam perdas ao longo de 20 anos foram Minas Gerais (R$ 88,1 bilhões); Rio Grande do Sul (R$ 50,1 bilhões) e Pará (R$ 32,5 bilhões).

    A proposta em tramitação no Congresso Nacional, se aprovada, determinará o repasse anual aos Estados de R$ 39 bilhões, com valores diferenciados nos dois primeiros anos.

    Segundo o projeto, haverá um período de transição com pagamentos específicos para os anos de 2019 (R$ 19,5 bilhões) e 2020 (R$ 29,25 bilhões), sempre corrigidos pelo IPCA. O valor total deverá ser pago no prazo máximo 30 anos.

    Se vingar esta proposta, o Rio Grande do Sul passaria a receber algo ao redor de R$ 3,6 bilhões por ano a partir de 2021. Em 2019, seria R$ 1,8 bilhão. Atualmente, o Estado recebe por ano menos de  10% disso, como ressarcimento pelo ICMS que deixou de recolher sobre as exportações.

    *Lei Kandir, lei complementar brasileira nº 87 que entrou em vigor em 13 de setembro de 1996 no Brasil, dispõe sobre o imposto dos estados e do Distrito Federal, nas operações relativas à circulação de mercadorias e serviços (ICMS).

    A lei Kandir isenta do tributo ICMS os produtos e serviços destinados à exportação. A lei tem este nome em virtude do seu autor, o ex-deputado federal Antônio Kandir.

    O que pensam os candidatos 

    José Ivo Sartori (MDB)

    O governador, candidato à reeleição, aceitou, num primeiro momento, desistir da via judiciária, para obter compensação das perdas causadas pela Lei Kandir.

    A desistência de ações na Justiça contra a União era uma das exigências para a adesão ao Programa de Recuperação Fiscal, que Sartori negocia com o governo Federal. Integrantes do governo estadual chegaram a declarar que buscar ressarcimento pela Lei Kangir era “uma utopia”.

    Agora, as expectativas do governador voltam-se para o projeto que tramita no Congresso, estabelecendo normas para a compensação aos Estados. Diz Sartori:  “É fundamental a pressão junto ao Congresso Nacional visando a votação do projeto que estabelece o repasse de recursos da Lei Kandir para Estados e municípios exportadores”.

    Jairo Jorge (PDT)

    “A Lei Kandir é necessária porque torna os exportadores gaúchos, sobretudo os de soja, mais competitivos no mercado mundial. Ao mesmo tempo, o governo tem de buscar as compensações da Lei Kandir, não pode ficar parado”.

    Júlio Flores (PSTU)

    “Pretendo lutar pelo fim da Lei Kandir que beneficia grandes empresários e fazendeiros. As isenções de impostos devem ser direcionadas às classes trabalhadoras.  Recuperar os créditos da Lei Kandir e acabar com ela é uma necessidade imperiosa, porque são R$ 5 bilhões todo ano que deixam de entrar nos cofres por conta dessa lei.”

    Miguel Rosseto (PT)

     “O Estado é credor de R$ 4 bilhões ao ano junto à União por conta das isenções previstas na Lei Kandir. Uma articulação capaz de buscar esses recursos é necessária.”

    Roberto Robaina (PSol)

     “Requer que a União ressarça o Estado por cerca de R$ 50 bilhões em perdas em consequência da Lei Kandir, uma legislação que precisa ser revogada. Compreendo que a medida traria impacto ao agronegócio, mas uma solução possível seria a criação de um imposto nacional sobre as exportações. Esse tributo permitiria aos Estado ter parte da arrecadação, substituindo o atual modelo em que os governo estaduais perdem e deixam de ser ressarcidos.”

    Eduardo Leite (PSDB)

    “As medidas de reestruturação, que vão dar o fôlego para o desenvolvimento, têm que ser propostas nos seis primeiros meses de governo. As mudanças não podem ser depositadas em temas que são temerários, como a Lei Kandir. Nós temos que trabalhar muito na geração de riquezas do Estado, para estarmos em uma melhor condição quando reencontrarmos a dívida com a União.”

    Mateus Bandeira (Novo)

    “Essa história da Lei Kandir é uma falácia. Não há perdas com essa lei. Ela foi implementada em 1996, promovendo a desoneração dos produtos semielaborados. Nos primeiros três anos, o ICMS gaúcho teve uma ligeira queda em relação ao PIB. Mas, a partir de 1998 – e nesses três anos o Estado recebeu compensações – o ICMS cresceu na proporção do PIB. Portanto, a lei propiciou uma melhoria da competitividade na exportação de produtos semielaborados, por conta da desoneração, permitindo que o Rio Grande do Sul pudesse exportar mais. Isso gerou renda, que ficou aqui. No cenário oposto, se tivéssemos mantido a tributação sobre os produtos semielaborados, será que teríamos exportado tanto? É claro que não. Apontar as compensações da Lei Kandir como solução significa fugir do verdadeiro problema. A equação fiscal não é um problema de receita, mas do tamanho do Estado, da despesa pública.”

  • Um gaúcho chamado Paixão

    Morreu nesta segunda-feira 27 de agosto, aos 91 anos, o folclorista Paixão Cortes, o maior pesquisador da cultura popular riograndense, comparável a Simões Lopes Neto.
    Este depoimento foi gravado em 2010, quando ele foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre.
    Foi o primeiro de uma série que não se completou.
    ***
    ELMAR BONES
    Mesmo quando veste calça jeans, Paixão Cortes dá a impressão de estar de bombacha. Penso nisso quando o vejo descer de um carro do Instituto Estadual do Livro na frente do edifício onde ele mora, na rua André Puente, em Porto Alegre.
    Desce atabalhoado com um pacote de folhetos, livros, papéis. Subo no elevador com ele e dona Marina, sua mulher. Ele segue falando como se estivesse continuando uma conversa. 
    Diz que está chegando da gráfica, onde foi buscar uns folhetos e alguns exemplares do seu livro que será distribuído na Feira. Reclama dos compromissos que não lhe dão folga: “A gente sai dum, entra noutro, sai dum, entra noutro…”
    O apartamento é simples, um conjunto de estofados, uma mesinha com estatuetas, uma do Laçador.
    A dois dias do início da Feira, o patrono está preocupado com a confusão que os jornalistas continuam fazendo nas entrevistas, perguntando sobre o movimento tradicionalista com o qual hoje ele tem profundas divergências.
    Paixão Cortes é o “descobridor” do gaúcho riograndense. Numa época em que os gaúchos eram considerados “almas  bárbasra egressas do regime pastoril”, como escreveu Silvio Romero, ele foi buscar as origens da cultura popular do pampa brasileiro.
    Foram suas pesquisas, com Barbosa Lessa, que levantaram o material original sobre o qual se erigiu o panteão do tradicionalismo, que atualmente ultrapassa as fronteiras do Rio Grande do Sul e chega até ao Japão.
    Hoje, Paixão é, de certa forma, vítima da caricaturização das manifestações gauchescas que se vê nos CTGs. Se irrita com os regramentos artificiais e com as demasiadas concessões ao apelo comercial nos conjuntos de dança e música regional.
    Confundido com o tradicionalismo cetegista, Paixão Côrtes não consegue ter visibilidade para sua obra como folclorista, que não tem similar no Brasil atualmente.
    Por sua figura arquetípica, não consegue se desvincular do gauchismo que tanto critica e por causa disso chegou a ter sua indicação para patrono da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre questionada.
    Embora tenha mais de 40 livros publicados e seja autor de uma obra original na cultura brasileira, Paixão Cortes paga o tributo de ter sido modelo para a Estátua do Laçador e muitos o vêem como o protótipo do gaúcho grosso e fanfarrão, sem sequer suspeitar do intelectual sofisticado, do pesquisador rigoroso que ele realmente é.
    Quando era classificador de lãs, ofício que abraçou aos 17 anos, Paixão Côrtes fez fama por não precisar de instrumentos para calcular a espessura dos fios, que se medem em microns. Com o tato da ponta dos dedos, ele media: “15 microns”, “10 microns”.
    Com a mesma sensibilidade aguçada, com a mesma intensidade primitiva e transbordante que coloca em tudo o que faz, ele se dedica há mais de seis décadas a resgatar as raízes da cultura popular riograndense, a “alma do povo”, como ele diz.
    Uma conversa com Paixão Côrtes é uma torrente, algo que jorra e inunda a gente. Difícil é sintetizar, depois, para colocar no papel algo que dê uma idéia da riqueza de uma lenda, que continua viva e atuante.
    Depoimento gravado no dia 27 de outubro de 2010:
    “Depois que fui indicado patrono não parei mais…é uma série de pedidos… de perguntas… então tu tens que informar as pessoas que vão ou querem participar ou que de uma forma ou de outra estão interligados à tua presença lá… O resultado disso é que tu sai dum entra noutro, sai dum entra noutro…
    Os jornalistas de modo geral… há uma confusão entre o movimento tradicionalista e o folclore. Em razão disso, a pergunta que vem da imprensa, da interrogação da televisão, é o tradicionalismo…
    O tradicionalismo é um movimento popular… com o fim de reforçar o núcleo de sua cultura. O folclore é a manifestação genuína, viva da alma do povo… o tradicionalismo se serve do folclore… o folclorista é o estudioso de uma ciência, o tradicionalista é militante de um movimento.
    Essa noite tava me lembrando… na segunda ou na terceira Feira do Livro em, 1957, eu fui feirante, já levando meus livros editados na época… no começo a feira era uma coisa… não se sabia bem o que era… uns quiosquezinhos… tinhamos nossos livros lá…
    Eu tenho esses livros… Manual de Danças Gaúchas e Suplemento Musical, eu já vendia meus livros como feirante, a firma nossa era Tradisul, o Humberto Lopes e eu, nós tivemos banca, né (risos) e tem até fotografia… aí tu começa a pensar, porque naquele tempo nem se pensava, entende, nesse aspecto da projeção, que 56 anos depois estaria vivo… e presenciando mais um ato, sempre participando do ato.
    Ai tu começa… mas vem cá… mas chê… mas eu tenho uma fotografia disso ai… aí procurei, pá, pá, pá, achei… meu filho passou para o computar… aparece o Meneghetti* (*Ildo Meneghetti, ex-governador)|… o Humberto Lopes por dentro da barraca, eu pelo lado de fora recepcionando…tu vê, rapaz…
    Além dos livros, tinha disco que a Inesita Barroso gravou* (*Inesita Barroso gravou “Danças Gaúchas”, em 1955, com o selo Copacabana, com as seguintes danças/músicas recolhidas por Paixão Cortes e Barbosa Lessa: Maçanico, Chimarrita Balão,Quero-Mana, O Anu, Pezinho, Meia-Canha,Tirana do Lenço) nem se sabia direito o que era regionalismo, ninguém sabia quem dançava… então, bota no livro, bota o disco, ah…mas isso é tradição, mas e não tem ilustração?…
    Uma vez o Lutzenberger* (*Joseph Lutzenberger, arquiteto, pai do ambientalista) me chamou, para selecionar uns desenhos dele de cenas rurais… ele queria representar o gaúcho, os costumes, o trabalho, os arreios… sábado pelas três horas eu ia lá na casa dele, numa mesa grande todos os trabalhos que ele fazia na semana, dezenas, ele fazia bico de pena… publicou 25 selecionados por mim… tinha um textinho nosso… Barbosa Lessa, o Sanguinetti, Silvio Ferreira… era 1952, nem feira tinha…
    Hoje não tem mais cultura superior, inferior, erudita, tanto faz o astronauta como um índio… todos produzem cultura.
    A Corag vai colocar na Feira o meu livro “Folclore gaúcho festas bailes música e religiosidade rural”, de quatrocentas e tantas páginas. Registra as manifestações mais genuínas da cultura popular riograndense… no interior de Santo Antonio da Patrulha, Mostardas, Tavares… onde ainda correm cavalhadas isso tudo, rezas, sai bandeiras com peditórios, montados a cavalo.
    São os focos originais, herança lusitana, a base do folclore riograndense… é o que ainda resta… nas Missões resta pouca coisa… na fronteira quase nada que remonte às épocas, essas são as manifestações de origem mais remota… a alma do povo.
    Quando souberam que eu era patrono me telefonaram… Paixão , queremos dançar pra ti… Há muito convivo com eles, danço com eles, bebo cachaça com eles…queriam vir….as cavalhadas, os quicumbis, os negros com imperador e tudo… aí fui lá na Feira… ah mas não tem verba…bueno, mas depois se resolveu, diz que vem 90 pessoas…
    Vem noventa, com roupa, máscaras, tambor e tudo… Então peguei esses cinco temas folclóricos e botei nessas folhas para que os jornalistas tenham esses elementos para se louvar… quicumbi, caiambola… que é isso… vão dizer: o Paixão já inventou coisa…mas não taí, ó. Eles vêm aí em carne e osso.
    O negócio é o seguinte: eu sou pessoa de quatro paredes para fora, não para dentro, não sou de palco, nem microfone, nem holofotes, sou de campo… então… vem com o livro, e posso falar: esse é o maior documentário sobre folclore publicado no Rio Grande do Sul valor documental, tudo documento não tem tradição, tradicionalismo, CTG nada disso… aqui é “in loco”…
    Olha aqui o Baile do Masque… homens vestidos de mulher… pô mas, então, como é que é, o Paixão vai trazer travestis, então tem que ter um cuidado louco… (vai folhando o livro) olha aqui a Cavalhada… ó aqui, o terno de reis, ó… ensaios e promessas dos quicumbis….elementos originais… os bichos ao natural.
    Tem a parte de dança… a parte de dança é reconstituição de dança, isso é tradicionalismo… escreve um livro, pesquisa seu ciclano… seu ciclano dança assim, a música é assim… as que nós reconstituímos já tão na casa dos 100.
    Sempre reuni esse material… agora são 100 danças recolhidas… estou escrevendo um livro de 700 páginas que onde vão estar essas coisas todas…
    Naquele tempo nem tinha gravações…era de memória… exercitei e fiz sistema de escrever,  olho e leio, mesmo a escrita musical… gravador foi grande evolução (riso) quando começou era no olho e no ouvido…ó…é assim… olha, vai de novo… e ai tu ia pegando a coisa.
    Essas coisas todas chegam aos dias de hoje…é isso que posso dar de contribuição feita ao lado de professores, ficcionistas, historiadores, sociólogos acho que posso dar essa contribuição, que é a alma do povo, não é matemática, não é número… aprender a alma do povo… importante na preservação dos seus valores… tudo isso é alma do povo isso aprendi na convivência com eles… quando se perde, morreu. (segue)

  • As novas regras para campanha deste ano favorecem quem busca reeleição

    Francisco Ribeiro
    As eleições de 2018 vieram com uma série de modificações tais como a introdução do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, normas restritivas a publicidade dos candidatos nas ruas, diminuição do espaço de propaganda eleitoral no rádio e na tv.
    Medidas que, além de tornarem a campanha mais curta, podem, segundo a
    cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria
    Lúcia Moritz, “contribuir para reeleger quem já está no jogo, quem já
    tem expertise. Não sei se isso é bom para a democracia”.
    De 1982, ano da primeira eleição para governador pós-golpe de 1964, até última,
    2014, que conduziu José Ivo Sartori ao Piratini, constata-se que o eleitor gaúcho não
    reelege o projeto que está no poder, seja o partido ou o governador desde que a
    reeleição para um segundo mandato foi permitida.
    Algo bem diferente do governo municipal de Porto Alegre onde, durante 16 anos, a maioria reconduziu o projeto petista à prefeitura da capital, um ato e um feito histórico e político.
    Sartori, no caso específico ao governo do estado, seria o primeiro a quebrar aquilo que muitos chamam de maldição da reeleição?
    Para Moritz, Sartori, assim como os candidatos a reeleição ao legislativo gaúcho,
    beneficiam-se deste quadro de regras novas,“pois é necessário tempo para apresentar novas ideias e projetos, principalmente aqueles que são estreantes na vitrine. Então, desta vez, em termos de renovação, é uma campanha muito restritiva, um prejuízo. Cabe a pergunta: até que ponto, para a democracia, isto é bom? Eis aí um grande ponto de interrogação.
    O fato de as pesquisas mostrarem Sartori na dianteira tem muito mais a ver com a visibilidade de estar há quatro anos a frente de um governo.
    No entanto, o índice de rejeição dele é muito grande, 44 por cento, o que não deixa de ser um fator limitador, um sinalizador para uma possível reviravolta e a continuidade da maldição, para o bem, ou para o mal”.
    O fim da polaridade entre a direita e o PT, que esta muito enfraquecido, é para
    Moritz outro fator determinante , “já que facilita o caminho pra quem quer se reeleger”.
    Eduardo Leite, mesmo sendo oposição, é do mesmo campo que Sartori. Temos assim
    uma configuração centro-direita versus centro-direita, o que é algo inédito no Rio
    Grande do Sul.
    Contudo, deve-se levar em conta que o PSDB é um partido que não tem muita estrutura no Rio Grande do Sul. E talvez aí esteja a dificuldade de Leite avançar
    mais. Mas estamos muito no início para determinar que o grande embate seja entre
    Eduardo Leite – que tecnicamente está empatado com Miguel Rossetto (PT) e Jairo
    Jorge (PDT) – e Sartori. E não podemos esquecer que Mateus Bandeira (Novo) disputa o mesmo eleitor que o PSDB, podendo com isso desbancá-lo da disputa no segundo turno, abrindo espaço para Rossetto ou Jorge”.
    Moritz salienta que, como sempre, a máquina partidária fará diferença, e isto é o
    que não falta ao MDB e ao PT: “Numa campanha curta o trabalho da militância, o corpo a corpo em busca do voto, conta muito. Também os meios, os canais tradicionais de campanha ainda serão mais eficientes”.
    “O tempo de rádio e televisão acaba por desequilibrar a disputa, mas depende do desempenho de cada candidato. O mundo digital das redes sociais também terá sua importância, mas não com a dimensão que algumas pessoas acreditam. Nós não temos o mesmo padrão que os Estados Unidos, quando Barack Obama fazia programas bem segmentados, direcionados às redes sociais”.
    Em sua conclusão, Moritz faz um alerta para que os candidatos prestem muita
    atenção no eleitorado feminino gaúcho, que corresponde a 52, 5 por cento de um total
    de 8.354.732 eleitores. E não se trata de acusações de descaso ou de comportamento
    machista, ou misógino. Mas da constatação, através de um estudo de pesquisa de
    intenção, que é entre as eleitoras que se encontra o maior número de indecisos,
    principalmente naquelas de menor nível de escolaridade, nas classes mais baixas. Eis aí um nicho que deverá requerer mais atenção e sensibilidade dos coordenadores de
    campanha e marqueteiros, pois, afinal, como como já indagou certa vez Freud: o que elas querem?

  • Emater pergunta: você sabe de onde vem a erva do seu chimarrão?

    A Emater/RS-Ascar está na quadra 9 da Expointer com um stande onde se pode  conseguir erva-mate para o chimarrão e ainda aprender a identificar a procedência do produto e quais as empresas no Estado com certificação.
    Um das principais tradições do gaúcho é o chimarrão e a garantia de uma boa erva-mate pode ser conseguida com um produto certificado. A Emater/RS-Ascar certifica no Estado dez marcas e outras três estão em processo.

    A certificação feita pela Instituição abrange práticas agrícolas, acompanhamento técnico, atividade de transporte, industrialização, gestão ambiental e da qualidade, além de aspectos relativos à segurança dos trabalhadores.

    “As indústrias procuram nossos serviços porque buscam um meio de garantir a qualidade dos seus produtos frente aos consumidores. Aquelas que conseguem nos informam que o retorno financeiro é imediato”, explica a classificadora da Emater/RS-Ascar, Salete Frare.

    No Estado existem cinco polos de produção de erva-mate, que são o Vale do Taquari, o Alto Taquari, a região Planalto Missões, Alto Uruguai e Nordeste Riograndense. Segundo Antônio de Borba, engenheiro florestal da Emater/RS-Ascar, 60% da matéria prima para a produção de erva no Estado vem do Alto Taquari, que é composto por Ilópolis, Arvorezinha, Putinga, entre outros municípios vizinhos.

    Além de apresentar o processo de certificação da erva-mate, os extensionistas explicam aos visitantes os detalhes relativos à classificação de outros produtos para o consumo humano, como arroz, feijão, lentilha, maçã, uva, laranja, entre outros.

    (Com informações da Assessoria de Imprensa)

  • Violência na Redenção, o assunto do Brique no domingo de sol

    Nem a violência, nem o frio, nem a concorrência da Orla, o novo espaço que os portoalegrenses estão (re)descobrindo, nada parece  abalar o movimento do Brique da Redenção num domingo de sol, como nesta manhã.
    Apesar da aparente normalidade, o assunto inevitável nas rodas de conversa era o tiroteio da véspera, atrás do Araújo Vianna.
    Pelo menos dois tiros foram disparados na tarde de sábado com o parque cheio de gente. Dois feridos foram levados ao HPS. Os relatos de testemunhos apavorados são desencontrados.
    Tudo teria começado  quando um homem desgarrado de seu bando foi apanhado por um grupo rival. Três começaram a espancá-lo, enquanto um quarto comandava. “Não mata, não mata”, gritava.
    O homem já estava no chão levando chutes, quando surgiu um comparsa para defendê-lo. Segundo alguns, empunhava uma pistola, que falhou quando ele tentou atirar. Segundo outros, estava desarmado. Certo é que um dos agressores sacou um revólver e atirou. Ele fugiu mas caiu ferido. Os agressores também fugiram.
    Nem por isso milhares de portoalegrenses deixaram de lotar o brique e o parque neste domingo. Não fosse pelo eco das conversas, ninguém imaginaria cenas de sangue por ali.