Categoria: Geral

  • Embalado por pesquisas PT divulga primeiro vídeo da campanha de Lula/Haddad

    Mesmo sob risco de ter a candidatura impugnada, o primeiro vídeo da campanha de Lula à presidência da República já está no You Tube e sendo compartilhado nas redes sociais.
    No vídeo, a principal presença é de Haddad, o ex-prefeito de São Paulo e vice na chapa petista, mas Lula aparece numa fala de 30 segundos (provavelmente gravada antes da prisão).
    O vídeo foi postado pelo PT nesta quarta-feira, depois que as duas principais pesquisas desse início de campanha colocam o ex-presidente na frente, com índices ainda mais altos do que os anteriores.
    Na segunda-feira, a pesquisa do Ibope registrou 37% das intenções de votos, mais do que o dobro do segundo colocado, o capitão Jair Bolsonaro que aparece com 18%, três vezes mais do que o segundo colocado, Marina Silva.
    Nesta quarta-feira, a Datafolha divulgou a maior pesquisa já feita no país, com mais de 8 mil entrevistados em todo o país. Lula aparece com 39% das intenções de voto, subindo dois pontos. Bolsonaro, com 19%, se mantém no segundo lugar, ganhando mais um ponto.
    A expectativa é de que até o dia 31 de agosto a Justiça Eleitoral decida a situação do ex-presidente, que se encontra preso em Curitiba com uma condenação em segunda instância, que o enquadra na Lei da Ficha Limpa.
    No cenário sem Lula, Bolsonaro assume a liderança, ganhando 3 pontos e chegando a 22% das intenções de voto. Quem mais ganha no entanto é Marina Silva, que dobra de 8 para 16% e Ciro Gomes que também dobra seus votos, de 5 para 10%

  • Eleições 2018: cobertura especial on line e quatro edições impressas

    Teoricamente, no dia 7 de outubro a quase totalidade do poder político no Brasil estará em disputa.
    Apenas um terço dos senadores atuais e os vereadores municipais permanecem em seus cargos.
    Os demais, a começar pela Presidência da República, têm que passar pelo crivo do voto.
    A possibilidade de grandes mudanças, porém, é mais retórica do que real. Em todo caso, a eleição de outubro tem uma importância crucial.
    Nas urnas o eleitor vai dizer se quer a continuidade do projeto iniciado em 2016, com o impeachment e a posse de Michel Temer. Ou se quer voltar ao tempo anterior, do social desenvolvimentismo do período lulista.
    Esta será a escolha e nós não queremos influenciar a decisão do eleitor. Queremos apenas fornecer o máximo de informação ao nosso alcance para que ele possa decidir de maneira consciente.
    Só assim, haverá um poder legítimo, haverá a estabilidade que o país precisa para enfrentar os seus graves desafios.
    O jornal JÁ está preparando uma cobertura especial para as eleições de outubro, na web e no impresso.
    -No site JÁ, um noticiário exclusivo com atualização diária, análises e reportagens.
    -No impresso, quatro edições com serviços, análises e enquetes, com tiragem de 30 mil exemplares distribuídas gratuitamente em pontos comerciais  e logradouros públicos.
    Os anúncios publicados no impresso serão reproduzidos no site e no facebook do jornal visando  80 mil seguidores
    Período: 31 de agosto a 05 de outubro  –
    Datas da circulação: 07 de setembro/14 de setembro/28 de setembro / 5 de outubro
     

  • Simon diz que Sartori lidera pesquisa porque "está no caminho certo"

    Para o ex-senador Pedro Simon (MDB) a liderança de José Ivo Sartori (MDB) nas primeiras pesquisas do Ibope, com 19% da intenção de voto, confirma “uma administração firme e que está no caminho certo”.

    Simon foi crítico de medidas adotadas por Sartori, sob influência do ministro Eliseu Padilha, como a extinção de fundações de pesquisa no início do governo.
    Às vésperas da eleição, ele se manifesta alinhado com as forças que integraram a mesa na convenção que proclamou Sartori candidato à reeleição, que tinha ao centro o candidato do MDB |à presidência, Henrique Meirelles.

    “Ele já sabe o que tem que fazer em relação ao déficit do Estado e os eleitores entendem isso,” disse Simon.

    Sartori está à frente de Eduardo Leite (PSDB) e Miguel Rossetto, empatados com 8%. Simon acrescenta que a Lava Jato não tem uma vírgula contra o governador Sartori. “Ele está acima de qualquer suspeita.”

    Mas a pesquisa Ibope mostra também que no quesito rejeição, Sartori também lidera com 44% dos eleitores que declaram não votar nele em hipótese alguma.

    O ex-senador entende que não se deve atribuir esse fato ao atraso dos salários dos servidores estaduais. “Afinal, o atraso é relativo, pois os funcionários estão recebendo parcelado, mas dentro do mês.”  (S.L.)

    Pesquisa:

    O Ibope ouviu 1.008 pessoas no Estado entre 14 e 16 de agosto. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos e a confiança é de 95%.

    Pesquisa do Ibope divulgada em 17 de agosto
    José Ivo Sartori (MDB): 19%
    Eduardo Leite (PSDB): 8%
    Miguel Rossetto (PT): 8%
    Jairo Jorge (PDT): 6%
    Julio Flores (PSTU): 4%
    Mateus Bandeira (NOVO): 2%
    Roberto Robaina (PSOL): 2%
    Brancos/nulos: 28%
    Não sabe: 22%
    Espontânea
    O pesquisador somente pergunta ao eleitor em quem ele pretende votar, sem apresentar a relação de candidatos.
    José Ivo Sartori (MDB): 7%
    Jairo Jorge (PDT): 3%
    Eduardo Leite (PSDB): 2%
    Miguel Rossetto (PT): 2%
    Julio Flores (PSTU): 1%
    Mateus Bandeira (NOVO): 0%
    Roberto Robaina (PSOL): 0%
    Outros: 2%
    Branco ou nulo: 20%
    Não sabe: 63%
    Rejeição
    José Ivo Sartori (MDB): 44%
    Miguel Rossetto (PT): 12%
    Julio Flores (PSTU): 10%
    Roberto Robaina (PSOL): 10%
    Jairo Jorge (PDT): 8%
    Eduardo Leite (PSDB): 7%
    Mateus Bandeira (NOVO): 6%
    Poderia votar em todos: 8%
    Não sabe: 24%
     
    A pesquisa foi encomendada pelo Grupo RBS – RBS Participações S/A. É o primeiro levantamento do Ibope realizado depois da oficialização das candidaturas na Justiça Eleitoral. Foram ouvidos 1.008 eleitores em 60 municípios, com 16 anos ou mais entre 14 a 16 de agosto. A margem de erro: 3 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.
     

  • Críticas, propostas, alfinetadas, candidatos repetem o de sempre

    FRANCISCO RIBEIRO
    Debate e vingança são duas coisas que devem ser analisadas e praticadas com certo distanciamento. A expressão facial de José Ivo Sartori, neste sábado (18), ao ler com detalhes os dados da primeira pesquisa do Ibope para o governo do Rio Grande do Sul na eleição deste ano – que lhe dá ampla vantagem sobre os demais postulantes ao Piratini – era com certeza bem diferente daquela, tensa, defensiva de dois dias antes, quinta-feira(16), quando serviu de vidraça aos concorrentes nos primeiros debates realizados na mídia eletrônica, Rádio Gaúcha e TV Bandeirantes, respectivamente.
    O mesmo em relação a Miguel Rossetto (PT), alegre e simpático no final da manhã quente e ensolarada do último domingo (19), no Brique da Redenção, quando, ao lado de Ana Affonso (candidata a vice), e do ex-governador Olívio Dutra, entoou cânticos de luta e pediu a liberdade de Lula junto a vibrante militância petista e sua convidada especial, a musa da esquerda e candidata a vice na chapa liderada pelo PT a Presidência da República, Manoela D’Ávila (PC do B).
    Entretanto, quem tem mais motivos para sorrir é Sartori, 19 por cento das intenções de voto. Rossetto, com oito por cento, aparece em segundo lugar, tecnicamente empatado com Eduardo Leite, mesmo índice, e Jairo Jorge, seis por cento. Vale ressaltar que Sartori também é o que tem a maior rejeição, 44 por cento, contra apenas 12 de Rossetto, oito de Jorge, e sete de Leite.
    Números que na cabeça de todos podem ser alterados conforme a dinâmica da campanha eleitoral, terra incógnita e imprevisível, para mais ou para menos. Certas, depois de reverem áudios e imagens dos debates, são algumas conclusões tiradas pelas assessorias de cada candidato, mais as opiniões e dicas recolhidas nas redes sociais, visando melhorar suas performances. Para tanto, resumidamente, cabe uma recapitulação dos embates da última quinta-feira (16).
    “Rebelião”
    De início, cabe ressaltar que a única diferença nos primeiros debates da mídia eletrônica foi à ausência de Julio Flores (PSTU) no enfrentamento televisivo, impedido de participar segundo os critérios da emissora. No mais, José Ivo Sartori (MDB), Miguel Rossetto (PT), Jairo Jorge (PDT), Eduardo Leite (PSDB), Roberto Robaina (PSOL) e Mateus Bandeira (Novo), defenderam suas propostas em diversos quesitos, mas o destaque ficou no tema da segurança pública. Sartori, pretendente a um segundo mandato, serviu de alvo aos demais candidatos que o criticaram principalmente por parcelar os salários do funcionalismo estadual.
    Na Gaúcha, sob a batuta do mediador, o jornalista Daniel Scola, os candidatos, em quatro blocos distintos, discorreram sobre suas propostas em quesitos como segurança, infraestrutura e, principalmente, soluções envolvendo a economia do estado: pendências em relação aos problemas da dívida com a União, déficit público, impostos, sonegação, renovação da alíquota do ICMS, Lei Kandir, e investimentos que fomentem o desenvolvimento e a criação de novos empregos.
    E coube aos mais radicais, Roberto Robaina (PSOL), e Júlio Flores (PSTU) a abertura do debate radiofônico. Robaina, de cara, salientou que “vivemos uma falsa democracia e que os mais ricos devem pagar pela crise”. Flores, no seu papel de velho militante bolchevique, foi mais além. Conclamou a população gaúcha e brasileira a uma rebelião do tipo as ocorridas no Haiti e na Nicarágua. Argumentou: “somos governados por quadrilhas. É preciso confiscar os bens dos corruptos, construir um governo de trabalhadores, implantar o socialismo”.
    “Saudar a equipe da Guaíba”
    Depois foi a vez de Sartori que, de saída, cometeu uma gafe ao saudar “a equipe da Guaíba” por oportunizar o debate. E, já na defensiva, antecipou-se a futuras críticas contra o seu governo ao enfatizar que para enfrentar a crise atual são necessárias “medidas amargas, duras”. Não adiantou, Mateus Bandeira (Novo) declarou que o governo atual é “retardatário”, incapaz sequer de pagar o funcionalismo em dia. Bandeira tem como principal argumentação, além do seu currículo profissional – já foi presidente do Banrisul, inclusive – o fato dos candidatos do seu partido não serem políticos profissionais.
    Miguel Rossetto, logo a seguir, atacou diretamente o MDB nas figuras do presidente Michel Temer e Sartori, qualificando seus governos como “desastrosos”. Rosseto também foi o único a se pronunciar, seguindo a estratégia nacional do partido, a chamar a atenção para a candidatura do ex-presidente Lula.
    Os dois últimos, Eduardo Leite (PSDB), e Jairo Jorge (PDT), apoiaram-se-se nos seus altos índices de aprovação quando foram prefeitos, Pelotas e Canoas, respectivamente. Os dois também foram os únicos a realçar o papel que terão seus vices que, de certa forma, encarnam as prioridades dos seus governos. Ranolfo Vieira Júnior, delegado, vice de Leite, indica, sem sutileza, a questão da segurança. pública. Já o empresário Cláudio Bier, vice de Jorge, é útil para reforçar a visão de dar força ao empreendedorismo, a desburocratização, e a diminuição dos impostos. Jorge também salientou que fala com conhecimento de causa, pois, ainda em pré-campanha, visitou os 497 municípios gaúchos.
    Nos blocos subseqüentes, entre réplicas e tréplicas, cada um tentou vender seu peixe e alfinetar o alvo já pré-determinado. Robaina e Rossetto continuaram a associar Sartori a Temer. Leite e Bandeira, por exemplo, no quesito impostos, por pouco não transformam o debate num affaire pelotense, justificado apenas por disputarem o mesmo espaço eleitoral.
    Jairo ponderou nas críticas, preferindo dirigir seu foco na questão do desenvolvimento econômico, no empreendedorismo, na desburocratização para a abertura de novas empresas, na utilização do gatilho do imposto, como fez em Canoas, diminuindo a carga conforme a arrecadação. Sartori, o mais light de todos, manteve-se fiel ao papel do colono honesto, que prefere passar por pão-duro ao invés de irresponsável. E continuou a bater na tecla da coerência do seu plano de recuperação financeira do estado.
    Flores, o mais divertido, defendeu o seu programa revolucionário de instaurar no Rio Grande do Sul uma república dos soviets, conselhos de trabalhadores de todas as categorias, que substituirão as assembleias legislativas. Lênin e Trotsky, diálogo imaginário, além túmulo, talvez o alertem sobre a doença infantil do esquerdismo. Aqui, pós-ditadura militar, não precisa temer o gulag e nem que a repressão o envie pra São José dos Ausentes no inverno.
    “Sartori e a ilha da fantasia”
    No debate da Band, mediado por Ozíris Marins, os seis candidatos – já escaldados via assessorias e redes sociais sobre os furos e acertos no embate da manhã – procuraram, ao longo de duas horas, serem mais abrangentes em suas propostas de governo, mesmo que o tema da segurança pública seja a questão principal na cabeça dos gaúchos e demais brasileiros.
    Sartori voltou a defender a recuperação financeira. Argumentou que, apesar das dificuldades, seu governo não deixou de investir em áreas como educação e saúde. No que foi contestado por Rossetto que colocou números irrefutáveis: 510 mil gaúchos desempregados, a não reposição de efetivos da Brigada Militar, o sucateamento da educação pública. Para ele, Sartori “vive na ilha da fantasia”. Rosseto, além da reposição de cinco mil policiais, pretende criar um batalhão especial para proteger as escolas e suas imediações. Ainda neste quesito, Robaina acrescentou ser necessário mudar a lógica da política de segurança pública, descriminalizando drogas como a maconha, por exemplo, e acabar com o tráfico.
    Jairo Jorge, Eduardo Leite, e Mateus Bandeira colocaram novamente o foco na questão do empreendedorismo, na diminuição dos impostos e na desburocratização. De todos, Bandeira é o maior defensor da desestatização, um dos dilemas do atual governo que além de extinguir diversas fundações, como a TVE, colocou em pauta a venda da CEE, CRM, e Sulgás. Para Bandeira, “o estado não nasceu para ser empresário”. Ao que Sartori: acrescentou: “não é papel do estado minerar carvão ou vender gás”. Questões nebulosas, ainda mais para alguém, caso de Bandeira, que foi presidente do Banrisul. Mas, quanto a esta entidade, foi categórico: “não será privatizada”.
    Do lado oposto, Rossetto, do alto de sua experiência de várias pastas em ministérios nos governos Lula e Dilma, e como vice-governador de Olívio Dutra, uma gestão que, se perdeu a Ford, não vendeu nenhum parafuso público, rema contra a visão mercantilista da sociedade, e centra suas propostas numa educação de qualidade, políticas públicas para a criação de empregos e valorização do funcionalismo. Pretende, se eleito, reverter as extinções das fundações efetuadas no governo Sartori.
    Propor é fácil. Resta sempre a pergunta: de que lugar virá o dinheiro? Sartori – que poderá quebrar a maldição da reeleição para governador no RS- aposta na recuperação financeira através da equação simples de não gastar mais do que arrecada, e na negociação da dívida do estado. Também conta com os ressarcimentos previstos pela Lei Kandir (que isenta de ICMS produtos in natura ou semi-elaborados), um dinheiro que será logicamente bem-vindo. Mas, a fidelidade ao pacto determinado pela União diminuirá o incremento em questões tão sensíveis como o aumento de efetivos nos quadros de segurança pública, escolas, educação, ou o reajuste de salários.
    Enfim, ainda estamos no início e o jogo da sedução para atrair novos eleitores e manter velhos adeptos recém começou. Muita água irá rolar até o início de outubro, e as pesquisas ditarão, como sempre, aos coordenadores de campanha e marqueteiros, táticas e manobras que mantenham vivos os sonhos de cada candidato. Chegar pelo menos ao segundo turno.
     

  • Os bolsonaristas do Morro da Cruz

    Naira Hofmeister*

    Cássio Martins tem 18 anos e quer que a lei do morro onde ele vive, ditada pelos donos do tráfico,  valha também para o “asfalto”. Assim, ele não vai mais precisar esconder o celular sempre que sair dos limites do Morro da Cruz, vila na periferia de Porto Alegre que tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano da capital do Rio Grande do Sul, mas onde ele se sente confortável para ouvir música e checar o Facebook no telefone sem medo de ser roubado. Essa é a justificativa principal para dar o primeiro voto de sua vida para Jair Bolsonaro (PSL), o controverso candidato à presidência da República que promete rigor com a criminalidade.
    Também são os problemas com a segurança que levam Anriel do Prado Neves, 24, a optar pela candidatura de extrema direita do parlamentar e capitão do Exército reformado. Sua convicção é tanta que até colou um adesivo com a cara do candidato na traseira do automóvel que dirige para um aplicativo de transporte. “Sei que tem gente que dá nota ruim por isso, mas tudo bem”, se resigna. Ele já foi assaltado duas vezes quando era taxista, mas o que preocupa mesmo Anriel é o tráfico e a guerra com a polícia. “Dos meus 30 amigos de infância, só sobraram dois. Os outros todos morreram, foram executados”, lamenta. No Morro da Cruz, metade das mortes de jovens entre 15 e 29 anos é por homicídio.
    Para ambos, o perfil “linha dura” do militar, que promete endurecimento da legislação penal e a revisão do estatuto do desarmamento, poderia ajudar a solucionar os problemas.
    Os dois estão na faixa etária em que Bolsonaro se destaca nas pesquisas eleitorais: entre os 16 e os 35 anos. Mas, à exceção de serem jovens, Cássio, Anriel e vários outros entrevistados pelo EL PAÍS no Morro da Cruz pouco têm em comum com o perfil que institutos de pesquisa desenham dos possíveis eleitores do presidenciável do PSL: eles não são os mais escolarizados (chegaram ao ensino médio), nem ricos e tampouco estão no Norte e Centro-Oeste do país. Também não se enquadram no estereótipo que os críticos do candidato dizem ter seus eleitores: são gente de fala branda, que defende opiniões com serenidade e argumentação, busca informações na imprensa e é, inclusive, capaz de discordar das propostas mais radicais de Bolsonaro.
    Anriel, por exemplo, fica “com um pé atrás” sobre a ideia de liberar o porte de armas para a população. Ele tem medo que discussões bobas de trânsito terminem em tragédia se alguém estiver com um revólver na cintura. Por outro lado, a redução da maioridade penal não é um problema. “Aqui, gurizada de 13 anos mata sem dó”, exemplifica. Cássio, por sua vez, gosta da ideia de estar “no mesmo nível” de um potencial assaltante para sentir-se protegido e toparia ter uma arma. Mas confessa que o alerta do pai, sobre o radicalismo de Bolsonaro, o deixa intrigado: “Ele tem receio de que se não conseguir fazer o que pretende, possa dar um golpe ou coisa parecida”, revela.
    Anriel tem perfil mais liberal: admira o ex-prefeito e candidato a governador de São Paulo João Doria (PSDB) e faz discurso contra a burocracia para empreendedores. Mas tem consciência da profunda desigualdade brasileira e acha que ampliar oportunidades aos mais pobres é tarefa do Estado. Quando faz corridas para estudantes (ele detesta pegar passageiros das humanas na federal do Rio Grande do Sul), nota diferenças: “Se eu pego corrida na UFRGS é só Assunção, Menino Deus, bairros finos. Mas se é nas faculdades privadas, o destino é Restinga, Pinheiro, só periferia”. Por isso, embora contrário a cotas raciais, ele é simpático à reserva de vagas públicas a quem tem baixa renda.
    A pesquisa
    A complexidade do pensamento desses jovens eleitores de Bolsonaro e a disponibilidade que eles têm para o debate de propostas chamou a atenção de duas antropólogas que pesquisam juventude, consumo e política no Morro da Cruz há quase uma década e que desenvolvem agora uma nova fase do trabalho que só termina depois das eleições. Foi acompanhando o trabalho de campo de Rosana Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco que a reportagem do EL PAÍS esteve no local numa sexta-feira de agosto. “Eles não são fascistas, pelo contrário, tem argumentos para defender sua posição”, observa Rosana.
    De fato, tanto Anriel como Cássio se sentem incomodados com os rótulos costumeiramente a eles atribuídos quando revelam ser potenciais eleitores do militar da reserva. “Me dizem que sou lixo, mas isso não descreve como sou. Eu não vou discriminar outra pessoa só porque gosta da Dilma ou do Temer”, queixa-se Cássio.
    Anriel também se ressente das frequentes investidas de adversários: “Me chamam de racista. Justo eu, que namoro uma negra… e ela discorda da minha posição, é contra o Bolsonaro”, argumenta, confirmando, aliás, outro dos achados das pesquisadoras.
    Em grupos focais que vem realizando em escolas, as antropólogas Lucia e Rosana perceberam que o voto em Bolsonaro é também uma questão de gênero. “As meninas são muito articuladas na crítica ao machismo que o candidato demonstra”, assevera Rosana. A convicção delas era tanta que foi preciso criar um grupo exclusivamente masculino para que os rapazes se sentissem à vontade para declarar seu voto, o que as pesquisadoras também interpretam como uma reação ao feminismo crescente.
    A namorada de Cássio faz campanha abertamente contra o capitão reformado, mas para ele o candidato não parece preconceituoso e suas opiniões mais polêmicas soam mais como galhofa: “Dizem que Bolsonaro é racista, machista e homofóbico, mas acho que estão distorcendo. Uma pessoa assim não é legal e ele não parece ser alguém ruim”, analisa.
    Ao mesmo tempo, ele é crítico ao ataque de Bolsonaro à deputada federal Maria do Rosário (PT). Em duas ocasiões, o presidenciável do PSL disse que não estupraria sua colega na Câmara Federal porque ela “é feia” e “não merece”. Bolsonaro já foi condenado no Superior Tribunal de Justiça por essa agressão, e ainda responde a outro processo, em andamento no Supremo Tribunal Federal. “Totalmente desrespeitoso”, condena Cássio.

    Cátia Cunha, fã de Bolsonaro.
    Cátia Cunha é fã de Bolsonaro / Tânia Meinerz

    A grosseria é o ponto fraco do candidato mesmo na opinião dos mais aficcionados. No Morro da Cruz, uma dessas figuras é Cátia Cunha de Almeida Lopes, 40, que exibe num caderno uma lista com 28 motivos para votar em Bolsonaro e viaja todos os anos para o Rio de Janeiro em busca de um encontro com o ídolo. “Já entrei na casa dele, no condomínio, conheci a família… Mas ver ele mesmo, pessoalmente, foi uma vez só, e por acaso”, recorda, exibindo a caneca em que mandou imprimir a foto que registra o momento. Ela também guarda revistas elogiosas ao candidato, que ocupa o mesmo lugar da dupla Bruno e Marrone no seu panteão pessoal. Mesmo assim, para a técnica em enfermagem, na discussão com Maria do Rosário “ele pegou pesado”, embora tenha sido uma reação dita no calor dos acontecimentos —perdoável, portanto.
    Anriel também relativiza outra polêmica, mesmo mantendo um tom crítico: o voto de Bolsonaro contra Dilma Rousseff, quando ao lado de outros 366 parlamentares, na Câmara, abriu caminho para o impeachment que viria na sequência. Na ocasião, o candidato do PSL fez de seu voto uma homenagem ao coronel Carlos Brilhante Ustra, condenado por torturar presos políticos durante a ditadura militar.
    “Eu tenho pena da Dilma, aquilo não era para ter ocorrido. Passamos uma vergonha na frente de outros países. Ela tinha votos para estar lá”, lamenta. Ainda assim, entende a posição do seu candidato: “Ele estava fazendo política. Bolsonaro é um democrata”, acredita.
    O Morro
    Os bairros onde o Morro da Cruz está localizado não são muito familiares ao porto-alegrense médio (São José é o principal, mas também a Vila João Pessoa e Coronel Aparício Borges). Mas nem por isso a favela é desconhecida da população em geral: lá se celebra anualmente a procissão de Páscoa mais famosa da cidade, com a encenação da via sacra que termina justamente no alto da montanha, debaixo da cruz que lhe dá nome. O morro também está a meio caminho entre as duas universidades mais tradicionais da capital, a católica PUC e a federal UFRGS, e é pelo mesmo corredor onde passam os ônibus dos estudantes que se acessa a comunidade, na avenida Bento Gonçalves, uma das mais importantes artérias de Porto Alegre.
    Não é raro ouvir de um morador do Morro da Cruz que ele “vai pra Porto Alegre” quando precisa sair da localidade (são nove quilômetros até o centro). Lá tem de tudo: supermercado, farmácia, mecânica, padaria. Placas de freteiros e de confeiteiras são muitas, penduradas nas grades de ferro das casas. Mesmo a parte alta do morro é abastecida com transporte coletivo, os postos de saúde atendem a população apesar da precariedade, as escolas estão abertas. Em uma lan house que estava cheia perto do meio-dia de uma sexta-feira, os cartazes avisam: “É proibido pornografia”. Quem não atender é punido com a “perda de todos os créditos”. Já falar palavrão ou ter um ataque histérico são falhas menos graves, custam 30 créditos a quem cometer os deslizes.
    À primeira vista, portanto, o Morro da Cruz não parece uma comunidade vulnerável. Anriel mora com a irmã em uma casa de concreto e rua pavimentada. Cássio ajuda a mãe na creche particular que ela mantém também em construção de alvenaria, bem defronte a uma parada de ônibus. Mas as estatísticas são claras: a região do Morro da Cruz está na posição 581 entre os 722 locais acompanhados regularmente pelo Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil. Segundo o IBGE, 5% dos domicílios da localidade são considerados indigentes – seus moradores sobrevivem com ¼ de salário mínimo por pessoa, algo em torno de 250 reais. Outros 20% estão em condição levemente melhor: são os pobres, cuja renda per capita é de meio salário mínimo. Entre 2000 e 2010, o rendimento médio dos chefes de família do Morro da Cruz caiu pela metade.
    E a realidade pode ser ainda pior do que mostram os dados oficiais, porque há uma imensidão de áreas irregulares no entorno do centrinho mais organizado, nos becos. Essa parte não entra nas estatísticas. Por exemplo, se os dados do IBGE contabilizam uma população de pouco mais de 16.000 pessoas, estima-se que a vila tenha entre 35 e 45 mil moradores. “São muitas ocupações, é impossível saber com precisão”, argumenta Lucia Mury Scalco, que divide seu tempo no morro entre a pesquisa de pós-doutorado em antropologia e um trabalho social que criou depois de 12 anos estudando a população do local.
    No mapa de vulnerabilidade do Departamento de Habitação (Demhab) de Porto Alegre, há duas enormes áreas de risco pintadas de azul sobre a região da favela, além de outras duas pequenas. A maior parte das ocorrências da Defesa Civil na comunidade se refere a desabamentos ou desmoronamentos.

    Vista de um bairro do Morro da Cruz.
    O Morro da Cruz é maior do que aparece nos registros oficiais / TM

    Na última eleição presidencial, em 2014, 20% dos moradores do Morro da Cruz habilitados ao voto não comparecerem às urnas. Anriel não tem certeza, mas talvez tenha ajudado a engordar as estatísticas: “Acho que justifiquei, porque o candidato que eu ia votar, morreu”, diz, em referência a Eduardo Campos (PSB). Sua substituta na chapa PSB-Rede, Marina Silva, não o atraiu tanto (nem antes nem agora) e ele se absteve.
    Quem votou em uma das cinco zonas eleitorais do bairro São José, onde fica a maior parte do Morro da Cruz elegeu Dilma Rousseff (PT) —a candidata petista venceu Aécio Neves (PSDB) em todas as seções eleitorais da região. A sigla tem certa tradição na localidade: a população do morro sempre foi muito atuante nas assembleias do Orçamento Participativo, criado no final dos anos 80 durante a gestão de Olívio Dutra na prefeitura, figura sempre lembrada e referência no bairro.
    Cássio lembra que os pais e os tios falam rotineiramente que “o PT ajudou muito o povo mais pobre”, mas ele mesmo não sabe opinar sobre se a vida era melhor ou pior antes da era Lula, por exemplo —tinha dois anos quando o ex-mandatário assumiu o poder.
    Por essas e outras razões, as antropólogas acham que o jogo no Morro da Cruz pode ter virado. “Nas últimas semanas, muitas pessoas nos abordam na rua para dizer que vão votar no Bolsonaro. Sabem que estamos pesquisando o assunto e vem nos dar suas justificativas”, revela Rosana.
    Dos rolezinhos a Bolsonaro
    Elas percebem que potencialmente os jovens estão de fato declarando voto em Bolsonaro – e isso surpreendeu a ambas, que acompanham os movimentos da juventude do lugar desde 2009. Elas haviam desenvolvido uma tese de que as excursões aos shopping centers apelidadas pelos jovens da periferia de “rolezinhos” ao mesmo tempo que eram uma atitude juvenil voltada consumo, também tinham um forte caráter reivindicatório de inclusão e de circulação no espaço público. Intimamente, as pesquisadoras concluíram que havia ali um embrião de um movimento político promissor. Quando as ocupações estudantis secundaristas explodiram em 2016 – no Rio Grande do Sul mais de uma centena escolas foram ocupadas durante meses – tudo parecia confirmar a hipótese. Mas quando foram ao Morro da Cruz perguntar aos jovens sobre as “ocupas”, a maioria ignorava ou até desprezava o movimento secundarista. “Eram os vagabundos, maconheiros”, ilustram.
    Foi nesse caldo surpreendente que a candidatura de Jair Bolsonaro começou a decolar, pelo menos no Morro da Cruz, em Porto Alegre. “Não há um padrão nem no perfil dos jovens eleitores de Bolsonaro nem nos argumentos que usam para defendê-lo”, dizem as pesquisadoras. Há simpatizantes do presidenciável em todos os universos possíveis: no Funk, no tráfico, na igreja ou na escola. “Cada um desses grupos juvenis se apega a uma parte do repertório que, em comum, apenas passa pela figura de um homem que oferece uma solução radical à vida como ela é”, sintetiza Rosana, que junto com Lúcia finaliza um livro sobre a pesquisa completa, que deve chamar From Hope to Hate: the rise and fall of Brazilian emergence (Da esperança ao ódio: ascensão e queda da emergência brasileira) .
    Mas há outros elementos em jogo. Anriel, por exemplo, se decidiu no ensino médio, “antes dos protestos” do últimos protestos. Como no Morro da Cruz não há escolas secundárias, Anriel frequentou o tradicionalíssimo colégio estadual Julio de Castilhos, na região central de Porto Alegre, um caldeirão da política local, onde estudaram Leonel Brizola e Luciana Genro, entre uma galeria de celebridades da vida pública brasileira (Caco Barcelos e o avô do atual presidente do TRF4, Carlos Eduardo Thompson Flores também foram alunos).
    A militância estudantil é uma marca do “Julinho”, como a escola é conhecida no Rio Grande do Sul. “Vinha gente principalmente dos partidos de esquerda, como o PSOL. Eu ouvia, mas comecei a procurar o outro lado e vi que concordava mais”, recorda.
    O argumento usualmente desqualificado pela esquerda de que o Bolsa Família incentivava as pessoas a não procurarem trabalho fez sentido para ele – que tinha uma irmã recebendo o benefício, porque a creche da filhinha exigiu o cadastro no programa para aceitar a matrícula da menina. “Eu sei que tem gente que precisa mesmo, mas também conheço muitos que ficaram parados depois. Acho que deveria ser obrigatório, para quem recebesse, ir todos os dias no SINE para arrumar emprego”, opina.
    Ele também desconfiava do expediente utilizado pelos partidos tradicionais para arregimentar apoios da estudantada do Julinho. “Eles ofereciam lanche para quem ia nos protestos”, revela. Às vezes também prometiam algum benefício imediato para jovens lideranças da escola. Mas o problema prático da falta de professores, por exemplo, não era atacado. “A gente nunca teve professor fixo de história e filosofia, posso contar nos dedos as aulas que tive e era muito fácil de passar”, assegura Anriel.
    Acostumado a vincular militância partidária com algum tipo de “pagamento”, ele decidiu adesivar a traseira do seu automóvel no dia em que viu a recepção que o candidato teve no aeroporto de Porto Alegre. Ele estava a trabalho no local – por isso lamenta não ter podido descer do carro para chegar mais perto. “Era um fanatismo impressionante. Nunca vi ninguém receber assim um candidato sem ser pago”, explica.
    Informação
    A militância espontânea é um fator citado por muitos dos eleitores de Bolsonaro no Morro da Cruz entrevistados pela reportagem do EL PAÍS. Outro ponto repetido por vários jovens é que o candidato é visto como alguém sem papas na língua, que não tem medo de dizer o que pensa e cuja comunicação na internet – feita sobretudo por memes – fala diretamente a esse público. “Eu deslizo o meu Facebook e só aparecem as coisas dele, nada dos concorrentes”, exemplifica Juan da Paz, 19 anos.
    Apesar disso, os simpatizantes do presidenciável não são nem de longe pessoas desinformadas. A maioria procura informação fora das redes do candidato e alguns têm o costume de conferir postagens antes de repassar fake news. “Quando morreu a Marielle (Franco), eu quase compartilhei que ela era envolvida com o tráfico. Mas aí vi que nenhum jornal dizia isso e não fui atrás”, revela, aliviado, Anriel.
    Eles também querem ouvir o que os outros candidatos têm a dizer e acompanham entrevistas e declarações. A participação de Bolsonaro no Roda Viva foi acompanhada por todos, mas não na TV, e sim, pelas redes sociais. Anriel, por exemplo, precisou resgatar o vídeo no YouTube na manhã seguinte, embora tenha tentado ver ao vivo: “Travou a transmissão do Twitter dele e não consegui mais assistir”.
    A entrevista ficou registrada na memória como uma batalha entre o candidato e os jornalistas – outro argumento repetidamente levantado a seu favor: “Estão perseguindo ele, o tempo todo tentam fazer ele cair numa pegadinha”, critica. “Ninguém perguntou sobre o que importa: educação, saúde. Só sobre tortura, essas coisas que já passaram”, argumenta o motorista – repetindo, de certa maneira, o pensamento do próprio candidato que mencionou no programa a lei da anistia: “São feridas que não devem mais ser lembradas”.
    Oposição
    Apesar de ter grande apoio, Bolsonaro não é unanimidade no Morro da Cruz —e há muitos jovens contra suas propostas. Mas mesmo quem o critica, reconhece qualidades: “Eu não gosto dele e não votaria nele, mas ele propõe coisas diferentes do que estamos acostumados”, avalia Shaiane Carolina Azevedo, de 19 anos. “As propagandas dos outros são todas iguais”, lamenta Bianca Martins, 20 anos, também contrariada.
    A pauta da segurança, por exemplo, é reconhecida como importante mesmo por seus detratores. “Ele tem objetivos maravilhosos, fantásticos. Quem não quer sair tranquilo, de noite, na rua? Eu tenho filhos e fico preocupada se demoram a chegar do serviço, da faculdade… Mas como ele sugere resolver, vai instigar mais a violência. O Brasil dele não é real”, contesta Fabiana Carniel Gonçalves, 42 anos.
    Por motivos como esses, Camila Diefenthaler Zafanelli, 19 anos, está tentando virar o voto do pai, bolsonarista convicto. “A gente conversa muito em casa, ele super apoia (o Bolsonaro), mas eu estou insistindo”.

    *Reportagem publicada originalmente no site El País com o título “Nem fascistas nem teleguiados: os bolsonaristas da periferia de Porto Alegre”

  • O mel orgânico produzido no RS ganha o mundo mas ainda está na feira

    Geraldo Hasse

    Sinalizando o fim de um inverno extremamente rigoroso, as abelhas reapareceram na manhã ensolarada do último sábado (18) na feira agroecológica do bairro Bom Fim, em Porto Alegre. As respeitáveis Apis mellifera estiveram nas bancas de mel, de frutas, de sucos e de caldo de cana; e também sobrevoaram as mesas dos cafés da vizinhança da Rua José Bonifácio, onde os frequentadores da feira vacilavam diante dos preços dos méis orgânicos – R$ 30 a R$ 35 por quilo – oferecidos por quatro diferentes marcas: Adams, Agromel, Beck e Sítio Viver Bem, que exploram campos e matas nativas do Rio Grande do Sul. Uma ausência notada: a do Mel Tio Gerson, tradicionalmente vendido por feirantes-representantes.

    Os consumidores mais atentos detectaram movimentos contraditórios entre alguns dos apicultores-expositores. Enquanto Marcelo Giffhorn, executivo dos Apiários Adams, de Taquara, colocou na banca um cartaz anunciando para o final de outubro sua retirada do Brique da Redenção após 30 anos, o produtor Eduardo Ellwanger Beck, de Cachoeira do Sul, completava suas primeiras 11 semanas na banca 111, gentilmente aberta pelo amigo Mateus Von Rohr,  produtor de nozes e de tomate orgânico (em recesso por causa do frio) no mesmo município do médio vale do Jacuí.

    Concorrentes frontais que oferecem o mel silvestre orgânico certificado em embalagens de vidro por R$ 35 o quilo, ambos apresentam perspectivas radicalmente diferentes. Se para o jovem apicultor Eduardo Beck a presença no Brique da Redenção é um confiante investimento de futuro, para o veterano Giffhorn a feira se tornou motivo de exasperação. “Está havendo muita picuinha sobre o preço do mel”,  resume ele, lembrando que as pessoas acham caro e ignoram as exigências de qualidade do produto. No fim das contas, acaba sendo pouco compensador permanecer horas na feira para obter uma receita que mal paga a soma das despesas de viagem, mais o custo do produto. Na realidade, os Apiários Adams, com 34 anos de existência, estão dispensando a vitrine do Brique porque estão ganhando muito mais com a exportação de produtos da apicultura.

    O Brasil exporta pouco mais da metade da sua produção de mel a 4 dólares por quilo. A produção anual é de cerca de 40 mil toneladas. A receita com exportação já chegou a 98 milhões de dólares em 2015, mas oscila muito em função da demanda internacional, da concorrência e das oscilações das safras por problemas climáticos. O Rio Grande do Sul já exportou 13 milhões de dólares em 2011, mas a média dos últimos dez anos não passa de 8 milhões de dólares.

    Filho do apicultor Ednelson Beck, que mantém 2500 colméias em diferentes locais arrendados da região central do Estado, Eduardo foi zagueiro de futebol profissional – era chamado de Dutty no Náutico de Recife e em outros clubes – e aplicou na apicultura parte dos recursos ganhos no esporte. Na banca do Brique ele exercita sua paciência ao explicar a freguesas por que seu mel tem o certificado de orgânico. “Uma das regras da certificação diz que o apiário precisa estar pelo menos a três quilômetros de qualquer lavoura para não haver o risco de contaminação por agrotóxicos”. A possível consumidora fica impressionada com a afirmação. O time apícola de Dutty está concentrado nos “campos sujos” de Encruzilhada do Sul, onde a agricultura não entra, porque ali tem muito mato e muita pedra, além de a topografia ser bastante irregular.

    Bom para as abelhas e para os consumidores que podem escolher entre meia dúzia de variedades de méis considerados dos melhores do mundo: o silvestre ou de flores do campo, de eucalipto, de laranjeira, de uva-do-japão, o mel branco dos Campos de Cima da Serra, o mel de quitoco (do litoral norte) e o de bracatinga (denominado melato, porque é feito principalmente com a resina dessa árvore da Mata Atlântica).

    Não se sabe até quando os apicultores vão desfrutar de áreas livres das chamadas “contaminações da civilização”. A crônica dos méis orgânicos expostos na feira agroecológica do Bom Fim incrimina a soja como a maior contaminadora ambiental por pesticidas lançados regularmente sobre 5 milhões de hectares cultivados todo ano no Estado, incluindo, nos últimos dez anos, áreas planas antes cultivadas por arrozeiros na Metade Sul. É exatamente que se concentra o maior perigo atualmente, colocando em perigo a leva de apicultores que migrou da Metade Norte do Estado para a região da campanha gaúcha. Os casos mais emblemáticos são os de Pedro Ferronatto, que se mudou de Estrela para Livramento; e Gerson Ferstenseifer, que trocou Arroio do Meio por Bagé.

    Os criadores de abelhas estão tentando criar normas para a convivência pacífica com os sojicultores, mas têm sido praticamente ignorados pelos empresários agrícolas, pelas autoridades e pelos ambientalistas, os quais se mobilizaram fortemente em 2005, quando o Estado ameaçou implantar 1 milhão de hectares de eucaliptos.

    É consenso entre os apicultores que no contato com agrotóxicos, especialmente os neonicotinóides, proibidos em outros países, as abelhas campeiras, que abastecem as colméias, perdem o senso de orientação. Como se estivessem drogadas, ficam pelo campo e morrem.

  • Eleição para deputado estadual no RS tem 14 candidatos por vaga

    Cada uma das 55 vagas a deputado estadual no Rio Grande do Sul será disputada por 14 candidatos, de acordo com os registros no Tribunal Regional Eleitoral.
    São 809 candidatos inscritos na disputa pelo cargo de deputado estadual para as eleições de outubro.
    No total, foram registradas no TRE 19 coligações para deputado estadual no RS.
    A lista dos candidatos está no site do tribunal, que na sexta-feira 17, lançou uma campanha para esclarecer e motivar os eleitores quanto ao voto no pleito de outubro.
     
  • TRE recebe lista de 579 políticos com contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas

    Uma lista com 579 nomes foi entregue ao presidente do TRE-RS, Jorge Dall’Agnol, pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), relacionando os gestores que tiveram  contas julgadas irregulares ou que receberam parecer desfavorável do Órgão de Controle, nos últimos oito anos.
    Eles poderão ser considerados inelegíveis pela Justiça Eleitoral para o pleito deste ano, por terem suas contas rejeitadas pelo TCE-RS, por irregularidade insanável e por decisão não mais passível de recurso.

    O Tribunal de Contas não declara a inelegibilidade de responsáveis por contas julgadas irregulares, pois essa competência é da Justiça Eleitoral.
    Ao Tribunal de Contas compete apenas apresentar à Justiça Eleitoral, até o dia 15 de agosto do ano em que se realizar as eleições, a relação dos que tiveram suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível.
    Confira aqui as listas disponibilizadas à Justiça Eleitoral.

    http://www1.tce.rs.gov.br/aplicprod/f?p=20000:52::IR_1537119

  • TRE define regras para o horário eleitoral gratuito nesta segunda-feira

    Na próxima segunda-feira (20), será realizada, às 15h, no Plenário do TRE-RS (Rua Duque de Caxias, 350, Porto Alegre-RS), reunião com representantes dos partidos políticos e das emissoras de rádio e televisão, para tratar das regras relativas à transmissão do Horário Eleitoral Gratuito nas eleições deste ano.
    Na ocasião, os presentes deliberarão sobre a propaganda eleitoral nos meios de comunicação audiovisuais, com os seguintes destaques: sorteio da ordem de veiculação dos candidatos, elaboração do plano de mídia, divulgação dos tempos de propaganda, definição das emissoras geradoras da rede e prazos para a entrega das mídias.
    O evento terá transmissão ao vivo pela Radioweb TRE Gaúcho.

  • Procuradoria pede declaração de abandono e arrecadação da Casa Azul

    A Procuradoria-Geral do Município (PGM) ingressou com ação judicial pedindo a declaração de abandono e arrecadação do imóvel localizado na rua Riachuelo esquina com a Marechal Floriano, no Centro Histórico, conhecido como Casa Azul.

    O pedido encaminhado na quinta-feira, 16, com base no artigo 1276 do Código Civil.

    Na ação, a PGM pede ainda que, liminarmente, a posse do imóvel seja transferida para o município, a fim de que a prefeitura possa adotar as medidas necessárias à segurança do prédio, como limpeza, retirada de moradores de rua e, principalmente, a execução de obras emergenciais para assegurar a estabilidade estrutural da fachada.

    O processo tramita no 1º Juizado Especial da Fazenda Pública.

    Em maio deste ano, cumprindo determinação judicial de 2016, a prefeitura interrompeu a circulação de veículos e pedestres nas imediações do imóvel, que tem risco de desabamento.

    Está em andamento o processo para contratação para realização de obra emergencial de estabilização da fachada, tendo em vista a situação precária do imóvel e os riscos que oferece à população.

    Na ação ajuizada, a PGM sustenta que, além dos prejuízos usuais causados pelo abandono do imóvel , o desinteresse dos proprietários tem causado despesas ao município.

    A prefeitura já teve que intervir no imóvel, que é privado, em duas ocasiões: em 2010, quando foram empregados R$ 13 mil na execução de obras emergenciais, e em 2012, quando houve desabamento parcial das lajes e foi necessária a contratação de uma empresa para estabilizar as paredes.

    O restauro da fachada da Casa Azul está estimado em R$ 1,6 milhão. O imóvel acumula dívidas de IPTU e taxa de coleta de lixo que somam R$ 275 mil, em cobrança judicial.

    De propriedade dos herdeiros de Emílio Granata, o imóvel foi classificado pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) como Imóvel Inventariado de Estruturação, ou seja, não pode ser destruído, mutilado ou demolido.

    Apesar de reconhecer a importância histórica do imóvel, decisão da 3ª Vara da Fazenda Pública autorizou a demolição do bem em março de 2016, em decisão na Ação Civil Pública 001/1.05.0286206-1, promovida pelo Ministério Público Estadual.

    A juíza condenou o município ao pagamento de multa e absolveu os proprietários do imóvel. O município e MP recorreram, e a decisão foi reformada em segunda instância. No acórdão, a 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça incluiu os proprietários na condenação e determinou que a fachada do bem fosse restaurada.

    Um impasse de mais de 20 anos
    1995: a casa é objeto de estudo pela Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria Municipal da Cultura (EPAHC/SMC), a qual classificou o imóvel como sendo de interesse sócio-cultural.

    1998: o imóvel é inventariado e classificado como de estruturação, conforme Parecer do COMPAHC nº 07/98.

    1999: MP ajuíza a ação civil pública nº001/1.05.0286206-1.

    Abril de 2001: em inspeção realizada pela Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov), foi constatado risco de desabamento e não cumprimento das notificações anteriores por parte dos proprietários (Auto de Infração nº 110419, de comunicação das obras do Laudo de Incêndio, Auto de Infração nº 112204, Laudo Conclusivo de Estabilidade Estrutural, Auto de Infração nº 72228 e Laudo de Sacada, Auto de Infração nº 24171).

    Junho de 2001: realizada vistoria pela Smov, que constatou o não atendimento de notificação.

    Julho de 2001: a edificação sofre um incêndio.

    Agosto de 2001:  solicitado aos proprietários laudo estrutural do prédio, em razão do incêndio. Emitidas novas notificações e autos de infração.

    2010: município contrata empresa e arca com os custos de medidas emergenciais para evitar a queda da parede externa (R$ 13 mil).

    2012: município contrata empresa para executar obras emergenciais na Casa Azul, tendo realizado a estabilização das paredes de alvenaria, em função de um desabamento parcial de lajes. Além disso, foi realizada a remoção total do telhado e estabilização total das paredes, por meio de tirantes tensionados. Por último, foi removida parte da laje do entrepiso, que estava com risco de queda e procedeu-se ao fechamento de vãos existentes no térreo.

    2014: nova vistoria realizada pelo município. Os técnicos apontaram que a estabilização da fachada por meio de tirantes, realizada pelo município em 2012, foi solução emergencial preparatória para restauração ou recuperação estrutural. Entretanto, os proprietários nada fizeram, o que o que causou o agravamento da situação em relação às rachaduras, à deterioração e ao iminente risco de desabamento.

    Março de 2016: decisão de 1º grau determina que seja impedida a circulação de veículos no entorno do prédio, autoriza a demolição do bem e condena o município ao pagamento de R$ 80 mil, a título de reparação por danos morais coletivos.

    Agosto de 2017: 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça reforma sentença e condena proprietários e município ao restauro da fachada.

    Agosto de 2018: município ingressa com ação judicial pedindo a arrecadação do bem.

    (Com informações da Assessoria de Imprensa)