À sombra de uma grande tipuana enraizada no terreno vizinho e cujo tronco inclinado para o sul ganhou uma fenda no muro, o prefeito José Fortunati inaugurou na manhã deste sábado (11/4) a Passagem de Pedestres Lanceiros Negros, uma simpática travessa de 10 metros de largura que liga as pequenas ruas Mata Bacelar/Xavier Ferreira à grande Coronel Bordini.
“Parece uma obra simples, mas vocês não imaginam sua complexidade”, disse o prefeito a mais de uma centena de curiosos e moradores que aplaudiram a referência ao custo do empreendimento – “mais de 500 mil reais em parceria com a Companhia Zaffari, que tem sido perfeita”. A maior rede gaúcha de supermercados tem uma loja com frente para a Bordini e fundos para a Xavier Ferreira.
Fortunati não entrou em detalhes, mas o custo elevado da passagem, com jeito de praça ou pérgula, se deveu à necessidade de proteger com concreto a tubulação subterrânea do famigerado conduto forçado (obra de R$ 59 milhões) que leva as águas das enxurradas, via Bordini e Dr. Timóteo, para o Lago Guaíba. Pouca gente sabe que sob a passagem de pedestres havia ali, outrora, um riacho chamado Tamandaré.
A denominação da passagem, em homenagem aos Lanceiros Negros, é fruto do empenho da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Auxiliadora (AMA) em recuperar a memória da área situada “atrás” da Coronel Bordini.
Segundo o sociólogo João Volino Correa, presidente da AMA, a área onde fica a Passagem Lanceiros fazia parte da periferia da cidade, há cem anos. “A primeira casa da rua Mata Bacelar foi construída em 1916”, diz Correa, lembrando que “a casa ainda está de pé”, à sombra de um gigantesco empreendimento imobiliário do grupo Maiojama que ocupa meio quarteirão entre as ruas 24 de outubro, Mariland e Nova York.
Apesar de servir como morada de classemedianos, o bairro Auxiliadora ainda abriga descendentes de negros e mulatos. Na cerimônia, porém, houve uma maioria absoluta brancos.
Entre o fim de abril e o início de maio, a AMA vai coordenar a pintura de um painel-memorial alusivo aos Lanceiros Negros no muro mais alto da Passagem, perto da rua Mata Bacelar. Nas demais extensões dos muros, serão feitos grafites. Depois, o espaço será ocupados por feiras ecológicas e eventos artísticos.
Categoria: Geral
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Praça homenageia Lanceiros Negros em Porto Alegre
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Reação de empresários esquenta segunda audiência do Pontal
Naira Hofmeister
A segunda audiência pública para apresentar à população de Porto Alegre o projeto do Parque do Pontal – antigo Pontal do Estaleiro, a ser construído no bairro Cristal – foi marcada por ânimos exaltados, discussões e até ameaças.
O grupo favorável ao empreendimento reagiu após amargar uma derrota no primeiro encontro, quando contou com apenas três oradores entre mais de uma dezena de manifestantes que foram à tribuna, embora a plateia do Jockey Club estivesse dividida.
Dessa vez, apesar do número de participantes ser visivelmente menor, houve quase o dobro de inscrições e diversas falas em apoio ao projeto, quase todas provenientes de arquitetos.
Ainda assim, as manifestações contrárias dominaram o encontro: foram 17, contra as 6 favoráveis à construção, que compreende torre comercial de 82 metros, shopping center e uma praça pública.
Apresentação foi cautelosa
Desde os primeiros momentos o esforço de organização dos empreendedores ficou claro. Na apresentação do projeto, por exemplo, a arquiteta Clarice Debiagi reiterou diversas vezes o caráter público da praça: “Não haverá cancela ou portão, o acesso será livre”, repetiu.
Ela também foi cuidadosa ao explicar que, segundo o cálculo utilizado no Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima), o terreno junto à avenida Padre Cacique ficará acima da cota mínima para evitar inundações, o que havia sido questionado na noite anterior.
O engenheiro Mauro Jungblut, coordenador da equipe que realizou o EIA-Rima através da empresa Profill, também se dedicou a esclarecer temas que polemizaram o encontro na véspera, como a viabilidade de erguer um edifício de 22 andares em um solo arenoso.
“Quatro, cinco ou seis metros abaixo da superfície temos o maciço granítico, que, por óbvio, é onde irão se assentar as bases do empreendimento pois tem plenas condições de construção”, garantiu.
identidade da bm par é questionada
A primeira manifestação da cidadania foi uma das mais polêmicas. O coordenador do movimento de Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, Cesar Cardia, provocou uma discussão ao perguntar quem eram os proprietários da BM Par, empresa que se apresenta como empreendedora do Parque do Pontal, ao lado da rede francesa de lojas de materiais de construção, Leroy Merlin.
“É estranho que uma empresa com capital suficiente para uma obra deste porte não tenha site ou qualquer outro empreendimento conhecido na cidade”, argumentou.
Como ele se excedeu no tempo determinado de três minutos por orador – o que não foi respeitado por quase nenhum dos manifestantes – uma senhora sentada na plateia pediu que lhe cortassem a palavra, alegando que a pergunta não era pertinente. “E daí? E daí?”, repetia ela, exaltada.
Também da plateia veio a resposta. Um dos diretores da BM Par, Rui Carlos Pizzato pediu a palavra e sentenciou: “É uma empresa genuinamente gaúcha, com dois sócios, que tem por objetivo construir empreendimentos”.
Parte da plateia insistiu para que Pizatto revelasse a identidade dos proprietários da empresa, mas ele tergiversou enquanto outros aliados do projeto discutiam com quem questionava, alertando que no registro na Junta Comercial constam os nomes.
Na audiência pública da noite anterior, quem se apresentou como representante dos empreendedores era Marcos Colvero, diretor de incorporações da Melnick Even.
Discussões elevaram o tom
Desde que Cesar Cardia abriu as manifestações ao microfone até o último inscrito encerrar sua intervenção, quase quatro horas depois, a tensão foi uma constante e mais de uma vez o presidente da mesa, Mauro Gomes de Moura, supervisor de meio ambiente da Smam, precisou intervir.
“Isso não é um debate. Não haverá réplica nem tréplica”, lembrava quando a confusão se instalava.
Entre as manifestações favoráveis ao Pontal o argumento era – seguindo a linha apresentada pelos empreendedores – de que o projeto vai permitir o acesso à orla do Guaíba, hoje inviabilizado naquele local.
“Não entendo porque tanto barulho! Temos 72 quilômetros de orla e esse projeto representa menos de 1% desse total, o impacto será mínimo! Além de tudo, a empresa vai entregar à população 56% da área”, reclamou o arquiteto Roberto, debaixo de vaias que vinham da plateia.
O reforço maior do time favorável veio do ex-secretário municipal Clóvis Magalhães, que trabalhou na gestão de José Fogaça, acompanhando toda a tramitação inicial do projeto. “Naquela época houve muita polêmica e dela incorreram uma série de avanços apresentados agora. Tudo o que o poder público exigiu do empreendedor foi assimilado”, defendeu.
Manifestantes pedem anulação da audiência
Do lado contrário, a justificativa seguiu a mesma linha da noite anterior: além de criticar o modelo proposto – que exige a construção de um espigão para justificar a entrega de uma área verde à população – houve questionamentos sobre a legalidade do leilão do terreno, ocorrido em 2005, e quanto à precisão do EIA-Rima apresentado.
Para esse grupo, a área onde pretendem erguer o Parque do Pontal não poderia ter sido vendida à empresa, uma vez que sua origem é pública. Por outro lado, apontam inconsistências na análise da Profill, como a falta de estudo de construção do dique de proteção contra cheias, previsto na lei que aprovou o projeto na Câmara Municipal.
Com base nesses apontamentos, um grupo pediu a anulação das audiências públicas através de um abaixo assinado que foi incluído no processo da Smam. “Solicitamos encarecidamente que essa secretaria, representante do poder executivo, entenda que não se pode apresentar à população um estudo incompleto e que foge do enquadramento legal”, diz o documento.
A atitude foi provocada pelo militante pela reforma urbana, Júlio Alt, cuja acusação de que a prefeitura teria um “conluio” com os empreendedores tirou o presidnete da mesa de seu prumo. “O senhor sabe que está sendo gravado?”, questionou, sugerindo cuidado com um eventual “processo administrativo”.
A plateia entendeu a fala como uma ameaça, mas ao final da audiência, recomposto depois do inconveniente, ele garantiu aos repórteres: não tem nenhuma intenção de ajuizar qualquer queixa contra o ativista.
A Smam estima que mil pessoas tenham comparecido às audiências públicas. Nos próximos sete dias, a pasta receberá por escrito questionamentos sobre o projeto que serão encaminhados e respondidos obrigatoriamente pelo empreendedor. -
Os ratos no parlamento
Elmar Bones
Um amigo meu dado ao cinismo comentou o episódio dos ratos soltos no plenário do Congresso: “O que me impressionou é que os ratos pareciam em casa”.
Lamentavelmente, a imagem do nosso parlamento é essa: um lugar onde os “ratos” andam à vontade.
Eles não roem só o orçamento e a probidade.
Roem a democracia, que não sobrevive com um parlamento desmoralizado.
Se é verdade o que se diz, que a grande maioria dos congressistas é de gente honesta e bem intencionada, eles precisam reagir. É emergência.
Senão, os ratos vão realmente tomar conta! -
Mídia x Dilma: "Toda unanimidade é burra"
Elmar Bones
Tudo indica que Dilma vai ganhar mais uma batalha na guerra sem quartel que ela enfrenta e que tem as corporações da mídia como tropa de choque.
É uma campanha que segue a regra lacerdista: não pode ser candidata, se for candidata não pode ser eleita, se for eleita não pode governar, se conseguir governar não pode se reeleger, se reeleger…”
É só relembrar.
Quando vazou que Dilma era o nome que Lula tinha na cartola, os cronistas bem informados desdenharam. Ela era uma estranha no ninho, o PT jamais aceitaria.
O noticiário nem abriu espaço para a informação. Era uma especulação sem sentido.
Quando o PT aceitou, era atitude desesperada diante do desgaste do mensalão. A candidata nunca tinha enfrentado uma campanha, seria uma calamidade nos conchavos, nos comícios. Não sabia falar.
Quando foi eleita, era um poste, seria um boneco de ventrilóquo no colo do Lula…
Quando se reelegeu, era uma fraude, não conseguiria administrar o caos que sua incompetência criara…
Enfim… chegamos a abril de 2015 e as capas e os sites dos jornalões e das revistonas que pretendem formar a opinião pública no pais são unânimes: Dilma caminha para o desastre: é impopular, está perdida, tem um mar de lama a seus pés…
Entregou o governo a Michel Temer, está perdendo o apoio do PT.
No próximo domingo o povo vai às ruas pedir sua cabeça…
Parece que a tropa de choque da oposição se distancia da retaguarda, mais realista… e vai amargar mais um duro abalo em sua já combalida credibilidade. A revista Veja, por exemplo, nem O Globo repercute as suas “reportagens”.
“Toda unanimidade é burra”, já dizia o Nelson Rodrigues que era essencialmente um jornalista. -
Críticos foram maioria na primeira audiência do Pontal
Naira Hofmeister
A primeira audiência pública sobre o projeto Parque do Pontal, o repaginado empreendimento previsto para a área do antigo Estaleiro Só que outrora chamou-se Pontal do Estaleiro, teve o microfone dominado por representantes críticos à iniciativa.
Os mais de 12 oradores que foram ao palco do auditório – improvisado em um salão do Jockey Club, localizado em frente à área onde se pretende erguer o projeto – apenas três defenderam o empreendimento: o líder comunitário Michel Santos e os vereadores Airto Ferronato (PSB) e Márcio Bins Ely (PDT), que foi secretário do Planejamento Urbanona gestão de José Fogaça, quando o tema entrou em pauta na cidade.
As demais manifestações foram todas contrárias: não apenas criticando o conceito do projeto, mas questionando a legalidade da iniciativa e defendendo que o uso da área – às margens do Guaíba – seja totalmente público.
A plateia, entretanto, parecia dividida: participantes com camisas bem alinhadas e suéteres nas costas aplaudiram a apresentação dos empreendedores, enquanto os movimentos comunitários, ambientalista e pela reforma urbana vaiaram. Moradores de vilas da região também participaram para reclamar contrapartidas sociais mais relevantes.
O Parque do Pontal prevê a construção de um shopping center, edifício de escritórios com 82 metros de altura e uma praça de 3,6 hectares.
Prefeitura não enviou representantes
A condução da audiência pública foi feita por funcionários da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam), já que o Executivo Municipal não enviou representantes. A ausência do vice-prefeito Sebastião Melo foi sentida entre os participantes.
Após uma introdução que abordou as regras da audiência, a apresentação dos contornos da nova versão do Pontal ficou a cargo da arquiteta Clarice Debiagi, filha do idealizador do projeto, Jorge Debiagi, que preferiu observar da plateia e não se manifestou publicamente.
As ilustrações levadas ao telão pela arquiteta incluíram um vídeo publicitário – com direito à vistas aérea panorâmica da área verde do futuro Pontal e trilha sonora feliz. Mas os contornos do projeto parecem ter mudado mais uma vez, já que Clarice mostrou imagens de uma única torre ao invés das duas que aparecem no Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
Algumas dessas fotografias foram também ampliadas e fixadas nas paredes do salão sob holofotes, ao lado das mesas onde havia sanduíches, café e suco de laranja para os participantes.

Imagens ampliadas foram fixadas nas paredes próximas ao cofee brake | Naira Hofmeister/JÁ
Responsável pelo EIA-Rima defende projeto
Após a intervenção dos criadores do projeto, o engenheiro civil Mauro Jungblut, que coordenou a equipe de 33 profissionais que elaboraram o Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório (EIA-Rima) – um dos pré-requisitos necessários para a solicitação das licenças para o empreendimento – fez sua apresentação.
Ele elencou os impactos positivos e negativos da construção e apresentou sugestões de medidas mitigadoras. Ao final, exibiu a conclusão da equipe de que o Parque do Pontal “é passível de licenciamento desde que atendidas todas as medidas propostas”.
Não apenas durante o momento em que explicou as etapas e procedimentos do EIA-Rima, mas ao longo de toda a audiência pública – quando, por diversas vezes retornou ao microfone para dar explicações sobre o empreendimento – Jungblut defendeu os benefícios do projeto.
Propagandeou, por exemplo, a ciclovia de 3.570 metros que será feita como contrapartida à construção (não necessariamente no entorno do Pontal, onde há a obrigatoriedade de fazer apenas 400 metros), lembrou que 0,5% do total do investimento deverá ser destinado às Unidades de Conservação do entorno, e sublinhou as mudanças viárias que, acredita, trarão mais fluidez ao trânsito na região.
No próprio EIA-Rima – que seguirá à disposição da população na biblioteca da Smam – a empresa, por diversas vezes defende a implantação do empreendimento sob o argumento de que o terreno não permite acesso público à beira do Guaíba atualmente. “Essa é a grande premissa do Parque do Pontal: retomar a relação entre a cidade e o lago. Dessa forma, o empreendimento se justifica por si só”, aponta o Rima, em sua página 07.
Ativistas pedem interferência da justiça
Já na primeira fala permitida à cidadania na audiência pública, o engenheiro Henrique Witler acusou o EIA-Rima de falho. “Há inúmeras leis que são negligenciadas em sua elaboração”, criticou.
Entre as irregularidades encontradas pelo engenheiro estão o desrespeito à lei federal que determina recuo de 500 metros para construções às margens de cursos d’água (no Parque do Pontal a área construída fica à 60 metros, conforme determinou uma emenda do vereador Airto Ferronato quando da votação do projeto na Câmara); a inexistência do estudo de construção de um dique de proteção contra cheias, também previsto na lei do Pontal através de uma emenda do ex-vereador João Dib; a proibição de parcelamento do solo em terrenos inundáveis, conforme o Código de Meio Ambiente e a impossibilidade de realizar “aterros ou movimentações de terra” na orla, que consta na Lei Orgânica do município.
“Peço que a Defensoria Pública, a Promotoria, os órgãos de Justiça abram um processo criminal contra o secretário que permitiu que esse EIA-Rima fosse apresentado com tantas falhas e à própria Profill que fechou os olhos para estas leis”, atacou.
Já o advogado Caio Lustosa defendeu na tribuna que o processo de privatização da área estava eivado de irregularidades jurídicas, na medida em que o terreno, por ser originalmente público, não poderia ter integrado a massa falida do Estaleiro Só – e portanto, não poderia ter sido vendido à empresa para pagar dívidas trabalhistas, que ainda não foram saldadas. Lustosa também advertiu sobre a preferência do Estado para recomprar a área, o que foi ignorado no processo.
A segunda audiência pública sobre o Parque do Pontal ocorre nesta quinta-feira, 9, às 19h, na Igreja Sagrada Família, na Cidade Baixa. -
Jornal O Sul pára de circular: é fácil culpar a internet
Elmar Bones
Mais um jornal impresso tragado pela vaga digital.
Esta é a manchete ao gosto de quem se contenta com conclusões apressadas, desde que convenientes.
Não é bem assim.
O fim da edição impressa do Sul, diário que circulava há 13 anos em Porto Alegre, para ser bem entendido tem que ser colocado no contexto, no caso o mercado jornalístico do Rio Grande do Sul.
Projeto longamente acalentado pelo empresário Otávio Gadret, da Rede Pampa de Comunicação, deveria ser inicialmente um diário popular, voltado para as classe C e D, ascendentes.
Uma pesquisa feita pela Pampa à época indicou uma grande demanda nestes segmentos.
Mas o projeto vazou.
E a RBS, ciosa de seu domínio mercado de comunicação do Rio Grande do Sul, se antecipou e com todo o seu poderio lançou o Diário Gaúcho.
Sem condições de competir, Gadret voltou-se para a segunda opção apontada pela pesquisa: um jornal para a classe média, há uma generosa faixa de leitores que, por diversas razões, não aceita a ZH, o carro chefe impresso da RBS.
Lançou então o Sul, investindo em gráfica própria. Não tenho os números, mas 13 anos do jornal indicam que a barreira dos leitores ele venceu. Nenhum jornal dura esse tempo sem leitores.
O que visivelmente o Sul não conseguiu vencer foi a barreira dos BVs, o duvidoso instrumento que garante o virtual monopólio das grandes verbas publicitárias.
Está certo: um dia tudo vai convergir para a internet e a versão digital de O Sul vai preservar todo o conteúdo do jornal, promete-se.
Mas neste momento, em abril de 2015, o fechamento da edição impressa do Sul significa cerca de 200 empregos em risco e uma fonte a menos no já concentrado mercado da informação no Rio Grande do Sul.
E a culpa não é só da internet, ou da alta do dólar. -
Audiência pública sobre um projeto polêmico
Durou mais de quatro horas a primeira das duas audiências públicas para apresentação do projeto imobiliário Parque do Pontal, na área do antigo Estaleiro Só, num dos pontos mais valorizados da Orla do Guaíba.
A ocupação deste terreno, originalmente uma área pública , é uma das mais polêmicas questões urbanas de Porto Alegre.
A audiência, na sede do Jockey Clube, no bairro onde está localizado o empreendimento começou às 19 horas com a apresentação do Eia-Rima necessário à a licença prévia para a obra.
Clarice Debiaggi, da equipe que elaborou o projeto apresentou o estudo para um público dividido entre os que apoiam a ocupação privada da área e militantes dos movimentos comunitários que questionam a inclusive a transferência do terreno, que pertencia ao governo do Estado, para uma empresa, o extinto Estaleiro Só, que o havia recebido em comodato (não poderia ser negociado).
Uma segunda audiência ocorre nesta terça feira também a partir das 19 horas, na igreja da Cidade Baixa. -
Ritmo desigual na duplicação da BR-116
Com 211 quilômetros no trecho Guaíba-Pelotas, as obras de duplicação da BR-116 exibem ritmo desigual nos nove lotes — cada um variando de 19 a 26 quilômetros — entregues a oito construtoras diferentes.
A única construtora com dois lotes, totalizando 51 quilômetros, é a veterana Constran, envolvida na Operação Lava Jato, que investiga contratos da Petrobras com as maiores empreiteiras nacionais. A Constran foi fundada por Olacyr de Moraes, o Rei da Soja dos anos 1970, mas não pertence mais a ele, que a transferiu para antigos executivos.
Um mapa copiado do site do DNIT mostra longos trechos prontos — sinalizados em vermelho –, só faltando a sinalização sobre o asfalto ou a conclusão de uma ou outra ponte; em compensação, há trechos que não foram sequer desmatados.

Mapa do DNIT mostra trechos concluídos em vermelho / Reprodução JÁ
Quem viaja pela rodovia tem a nítida impressão de que as obras perderam o ritmo inicial e estão sendo afetadas pela falta de recursos decorrente do ajuste fiscal praticado pelo Ministério da Fazenda.
Segundo o DNIT, porém, até agora não houve nenhuma mudança no cronograma das obras seja pelo ajuste fiscal, seja por qualquer outro problema. As diferenças entre os trechos seriam reflexo da maior ou menor iniciativa das empreiteiras. Segundo o DNIT, as desapropriações de áreas estão em bom ritmo – das 900 previstas, 400 já foram concluídas.
A perda de ritmo nas obras de infraestrutura acaba de ser denunciada pela Confederação Nacional dos Transportes. Segundo o boletim de abril da CNT, em 2014, dos R$ 18,7 bilhões autorizados para aplicação em todos os modais de transporte, apenas R$ 5,8 bilhões foram efetivamente pagos. Os R$ 12,9 bilhões não usados ficaram como “restos a pagar”, atravancando o andamento do Orçamento da União.
Segundo o Plano CNT de Transporte e Logística 2014, para solucionar os gargalos logísticos que tiram a competitividade do país, é necessário um aporte de R$ 987,18 bilhões, que abrange diversos tipos de intervenções em 2.045 projetos nos segmentos rodoviário, ferroviário, navegação interior, aeroportos, portos e terminais. -
Pedal das Águas reunirá uma centena de ciclistas no domingo
Mais de 100 ciclistas são esperados na terceira edição do Pedal das Águas, evento que acontece no domingo (12) e cujo propósito é pedalar 110 quilômetros entre a Zona Norte de Porto Alegre e o município de Gravataí – ida e volta incluídos.
Entre os 55 quilômetros do trajeto, 3 quilômetros são de chão batido, que desembocam no ponto de chegada: a Cascatinha do Mato Fino, em Gravataí, onde após a longa jornada, os participantes poderão tomar banho de cachoeira (o ingresso custa R$ 15).
A saída está marcada para as 7h30, na esquina das avenidas Farrapos e Cairu.
Para participar da atividade, é necessário confirmar presença no evento criado no Facebook, solicitar as pulseirinhas aos organizadores e pagar a taxa de ingresso.
O Projeto Rio Limpo, da Associação de Preservação da Natureza – Vale do Gravataí (APN-VG), acompanhará o trajeto e distribuirá camisetas aos participantes patrocinadas pelo Programa Socioambiental da Petrobras. O 3º Pedal das Águas conta ainda com o apoio da Casa das Pantalhas, IAGENTE, FLB Consultas Cadastrais e Artesanato do Futuro. -
Vem Pra Rua impõe teste à democracia
Geraldo Hasse
Nesta quarta-feira (8), apareceu nas caixas de correio de casas e prédios residenciais, nos escritórios e nas ruas de Porto Alegre um panfleto em preto & branco com o título ELA TAMBÉM MENTIU PRA VOCÊ – seguido de várias frases afirmando que Dilma e o PT fizeram uma série de coisas negativas para os interesses dos trabalhadores.
Sem assinatura, o panfleto exibe uma foto da presidente aparentemente amuada e convoca para a manifestação do dia 12/4 às 15 horas no Parcão de Porto Alegre, palco de outro protesto oposicionista há três semanas.
A fonte aparente do panfleto em papel couché é o movimento Vem Pra Rua, um dos promotores da manifestação de 15 de junho na Avenida Paulista em São Paulo e em outras cidades.
O Vem Pra Rua nasceu na internet e a partir dela se organiza, mas sua inspiração de fundo vem da classe média e de grupos políticos, empresariais e sindicais inconformados com a vitória eleitoral de Dilma em outubro de 2014. Tanto que suas palavras de ordem (“Fora Dilma!” e “Impeachment Já!”) ecoam declarações de políticos como Aécio Neves, o tucano mais contrariado com o resultado das eleições de 2014.
Segundo o panfleto, Dilma mentiu na campanha e, após a vitória, despejou sobre o povo e os trabalhadores um saco de maldades: aumentos de gasolina, luz, impostos e juros, cortes em vagas e bolsas estudantis e até no Minha Casa Minha Vida.
“O PT e seus aliados saquearam a Petrobras, quebraram o Brasil e mandaram a conta para o povo pagar”, diz uma das frases-síntese, numa perfeita combinação de demagogia e marquetagem – evidência de que o movimento Vem Pra Rua, seus inspiradores e seguidores estão operando em circuito fechado, sem ver, ler ou ouvir o que rola no Brasil e no mundo.
Justamente por seu tom de “não quero nem saber”, é um movimento disposto a testar a maturidade da democracia brasileira.
