Categoria: Geral

  • Política: Vice de Lasier Martins é o neto de João Goulart

    Não mereceu atenção o detalhe que pode ter feito a diferença na surpreendente e apertada vitória de Lasier Martins sobre Olívio Dutra: seu suplente é o advogado Christopher Goulart, neto do ex-presidente´João Goulart, deposto pelo golpe de 1964.
    Estreante na política, Lasier candidatou-se pelo PDT em homenagem ao pai, o mecânico de locomotivas  Antônio Pereira Martins, eleitor de Getulio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, os pais do trabalhismo. E levou como vice o neto de Jango.
    Esse detalhe do vínculo com o trabalhismo histórico talvez explique a vitória de Lasier, um politico estreante, aos 72 anos, sobre a grande liderança popular do Rio Grande do Sul que é Olívio Dutra, ex-prefeito, ex-governador, ex-ministro, cujas origens políticas também se encontram nas vertentes do trabalhismo.

  • Segundo turno: hora de lotear o futuro governo

    Uma das consequências deste segundo turno presidencial é que ocorrerá aquilo que todos condenam: o loteamento do governo, em troca de apoio.
    Disso dependerá a vitória ou a derrota.
    Beto Albuquerque, por exemplo, pode apoiar Dilma, ele já fez isso. O PSB já apoiou Dilma.
    Tudo vai depender das condições.
    Em qualquer das hipóteses, teremos mais um “governo de coalisão”, essa estranha situação que obriga a uma Dilma Rousseff  ter um Edson Lobão no Ministério da Energia.
    (Elmar Bones)

  • Justiça Eleitoral substitui mais de 1,8 mil urnas eletrônicas no país

    O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou que, até o início da tarde de hoje (5), 1.869 urnas foram substituídas em todo país, o que corresponde a 0,38% do total. “Em 2010 o índice ficou em 0,72%. Portanto estamos dentro da média das últimas eleições”, disse o presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli. Rio de Janeiro, com 383, São Paulo, com 215, e Rio Grande do Sul, com 184, foram os estados com maior número de urnas substituídas. “De modo geral, nenhuma ocorrência significativa aconteceu. Apenas [situações] corriqueiras”, acrescentou o ministro. Apenas duas seções substituíram as urnas eletrônicas por votação manual, com cédulas de papel: uma no município de Santo Antônio, no Rio Grande do Norte, e outra em Jaguaré, no Espírito Santo.
    O ministro Toffoli minimizou os problemas de demora na votação com o sistema biométrico. Segundo ele, os casos reportados até o momento são “residuais” e comuns. “Isso faz parte de um processo de aprendizagem dos eleitores, mas com certeza até as 17h todos terão votado com tranquilidade. Pode até haver uma formação maior de filas em uma ou outra seção, mas são casos isolados”, ressaltou. Segundo o TSE, até agora não houve problemas na votação em trânsito que está sendo feita em 89 países.
    Em relação aos registros de fotos de eleitores no momento da votação (os chamados selfies), Toffoli disse que o que mais preocupa o TSE “não é a vaidade dos cidadãos”, mas sim a situação em que a pessoa é coagida para votar em algum candidato, usando deste artifício para comprovar o voto, o que muitas vezes pode ocorrer em troca de algum benefício.“Selfie é muito mais a vaidade humana do que qualquer outra coisa. Mas vamos avaliar e ver maneiras de se fazer um melhor controle”, disse ele.
    (Karine Melo e Pedro Peduzzi – Agência Brasil)
     

  • Sartori cresce: pior cenário para Ana Amélia e Tarso Genro

    O salto de cinco pontos na pesquisa do Datafolha, divulgada ontem, faz do candidato Ivo Sartori uma ameaça real à senadora  Ana Amélia Lemos, desde o início tranquila favorita na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul.
    Mais que o crescimento de Sartori, o pesadelo de Ana Amélia é a perda que teve, de três pontos, numa tendência de queda.
    Ele, pela lógica do seu desempenho desde o início, pode crescer três pontos ou mais até a urna. Se ela não estancar a tendência de queda…
    Tarso teve duas semanas de queda, mas recuperou e agora subiu mais um ponto, chegando aos 32%, quatro a mais que a senadora, pela primeira vez. Nem por isso seu sono será tranquilo. Sartori no segundo turno será um osso duríssimo de roer.

  • Auxílio-moradia a quem precisa

    A auto-outorga de auxílio-moradia de R$ 4,3 mil mensais aos juízes brasileiros, dádiva do ministro Luiz Fux, do STF, é a gota que faltava para uma revolta popular contra as mordomias do andar de cima.
    Não por acaso as notícias dos jornais sobre o assunto vêm carregadas de sarcasmo destilado pela raiva dos redatores, nenhum dos quais ganha R$ 4,3 mil de salário por mês. Como resistir ao ímpeto de denunciar o desplante de que já recebe proventos de cinco dígitos, mais benefícios como uma côrte de assessores?
    Como os oficiais residentes em vilas militares ou os gerentes do BB na época em que nenhum bancário pensaria em fazer greve por uma diferença de 5% no reajuste salarial, os juízes passam a desfrutar agora de uma ajuda que só se justificaria temporariamente em casos de chegada a uma cidade nova.
    O auxílio-moradia mensal dos juízes – são 14 mil no Brasil – equivale a seis salários mínimos, remuneração que representa o dobro da média salarial dos trabalhadores brasileiros. A verba total chegará a R$ 60 milhões por mês ou R$ 720 milhões por ano.
    Mordomia habitacional
    É justo que uma autoridade ganhe o suficiente para ficar livre de pressões dos ricos e poderosos, mas quem ganha mais de R$ 20 mil mensais (como é o caso dos juízes) num país desigual como o Brasil, devia por a mão na consciência e agradecer por desfrutar de uma posição de relevo na sociedade. Autoregalar-se com uma mordomia habitacional é uma ofensa ao esforço de milhões de pessoas que lutam honestamente para viver com conforto e dignidade.
    Do jeito que as coisas foram colocadas pelo ministro Luiz Fux e depois “isonomizadas” pelos seus pares, qualquer brasileiro está no direito de protestar veementemente contra uma das medidas mais escandalosas da história do Brasil. Medida irrecorrível pois o Judiciário é o único poder que se mete na vida dos outros e cujas decisões não podem ser reformadas. O que nos resta, cidadãos comuns?
    Resta-nos pôr a boca no trombone, como fizeram os manifestantes de junho de 2013. Mas ninguém estranhará se alguém situado na ampla faixa de pobreza chutar o traseiro dos chefes, esvaziar os pneus dos carros dos bacanas, furtar os supermercados ou apedrejar as vidraças dos bancos, símbolos qualificados do abuso de poder dos ricos sobre os pobres.
    A esta altura da desfaçatez das classes superiores, entre as quais se refestelam ministros, procuradores, desembargadores, promotores e juizes, somente a desobediência civil poderá restabelecer a decência, tal como recomendam a ética e o bom senso.
    LEMBRETE
    “O Minha Casa Minha Vida é um programa de governo que tem transformado o sonho da casa própria em realidade para muitas famílias brasileiras. Em geral, o Programa acontece em parceria com estados, municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos. Se você tem renda bruta de até R$ 5.000,00, o Programa oferece algumas facilidades, como, por exemplo, descontos, subsídios e redução do valor de seguros habitacionais”.  (Texto do site da Caixa Econômica Federal sobre o Minha Casa Minha Vida)

  • Eleições: celular é proibido, camiseta e “cola” estão liberados

    Para agilizar a votação, o TRE recomenda que o eleitor faça uma “cola” com a anotação dos candidatos em que pretende votar.
    Também é permitido  votar usando camiseta, bandeira, broches e adesivos do candidato ou partido da sua preferência, mas de forma individual e silenciosa.
    Está proibido usar telefone celular na cabina de votação, assim como deverão ficar retidos na mesa receptora, enquanto o eleitor estiver votando na cabina, máquinas fotográficas, filmadoras, equipamento de radiocomunicação e qualquer outro objeto que possa comprometer o sigilo do voto.
    Não é permitido também fazer boca de urna, a aglomeração de pessoas portando vestuário padronizado e os instrumentos de propaganda de modo que caracterize manifestação coletiva, com ou sem utilização de veículos.
    Todas informações relativas às eleições deste ano estão disponíveis na no endereço eletrônico do TRE-RS – www.tre-rs.jus.br -, no link “Eleições/2014”, ou no site do TSE – www.tse.jus.br -, em “Eleições/Eleições 2014”.

  • Câmara muda nome da avenida Castelo Branco

    A Câmara Municipal de Porto Alegre promulgou, nesta quarta-feira (1º/10), a lei complementar 11.688/2014, que muda o nome da atual Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade e da Democracia. O presidente em exercício do Legislativo, vereador Mauro Pinheiro (PT), assinou a lei em uma cerimônia no Salão Nobre Dilamar Machado.
    “Castelo Branco foi um dos grandes traidores da história do Brasil. Era homem de confiança do presidente João Goulart. Coordenava as Forças Armadas. Hoje, nós temos a honra e a felicidade de retirar de Castelo Branco essa homenagem e transferi-la para esse que foi o maior movimento cívico do Rio Grande do Sul”, declarou o vereador Pedro Ruas (PSOL), autor do projeto com a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL).
    “Na Alemanha, não existe rua com o nome de Adolf Hitler. O nosso projeto, ao meu ver, tem dois sentidos: primeiro a questão da justiça de transição, da homenagem ao momento importante que foi a Legalidade e, sobretudo, o fortalecimento dessa luta por verdade e justiça. Essa não é uma luta só pelo passado. É uma luta pelo presente e pelo futuro, pois os crimes de hoje também têm responsabilidade na impunidade de ontem”, disse Fernanda.
    Ao assinar a promulgação da lei, Mauro Pinheiro se disse muito orgulhoso. “Sinto-me honrado em poder homenagear a luta pela democracia. Faz 50 anos da ditadura, e esta é uma homenagem importante. É inadmissível que a entrada de Porto Alegre, que é a capital do Estado do Rio Grande do Sul, tenha o nome do primeiro presidente ditador da história do país. Hoje estamos fazendo justiça ao Trabalhismo, à luta pela democracia e pela Legalidade. Para mim, é um momento histórico. Sinto-me privilegiado em poder assinar essa lei”, afirmou.
    Também estavam presentes: o vereador Marcelo Sgarbossa (PT); o jornalista Lino Brum Filho – representante dos gaúchos mortos na Guerrilha do Araguaia; o procurador-geral do Estado, Carlos Henrique Kaipper; o representante dos anistiados políticos, José Wilson da Silva; o presidente do Sindicato dos Advogados do Rio Grande do Sul, Marcos Flávio de Los Santos; o coordenador do Comitê Carlos de Ré, Raul Ellwanger; ex-presos políticos e representantes da sociedade.
    O projeto
    O projeto de lei dos vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna foi aprovado pela Câmara no dia 27 de agosto por 21 votos a favor e 5 contrários. A promulgação é decorrência da devolução do projeto à Câmara pelo prefeito José Fortunati. Passados 15 dias úteis desde o recebimento do projeto, o prefeito decidiu silenciar sobre a matéria – não vetou nem sancionou a lei.

  • Marina e as circunstâncias

    Eduardo Maretti*
    No início de setembro, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), candidato à reeleição ao mesmo cargo este ano na chapa de Dilma Rousseff, foi perguntado numa coletiva sobre a então ascensão de Marina Silva e se a campanha dele e da presidente iriam atacar a adversária do PSB. A resposta, digna de uma velha raposa da política, foi a seguinte: “Não vejo necessidade (de atacar Marina). Acho que a desconstrução eventual dela pode ser feita por outras pessoas, pelas circunstâncias. Na política é assim. As circunstâncias vão mostrando o que é melhor para o país”.
    Pouco mais de três semanas depois, muitas circunstâncias concorreram para a desconstrução da candidatura de Marina Silva, inclusive, e talvez principalmente, ela própria, com suas idas e vindas, suas contradições, suas alianças obscuras e seus recuos, seu programa de governo que, para justificar mudanças súbitas, ela disse que é um “programa em movimento”. A questão da CPMF é só mais uma das já quase incontáveis “circunstâncias” previstas por Temer.
    Os recuos quanto ao casamento gay, a energia nuclear, o agronegócio, a ingênua tentativa de dizer que votou a favor da CPMF em 1995 (quando votou “não”) e as hesitações, que diante da câmera, num debate, são terríveis a uma candidatura, foram algumas dessas circunstâncias. Até chegar à quase cômica situação desta segunda-feira, quando a campanha da candidata, que desde domingo comemorava o apoio do ator Mark Ruffalo (o Hulk), que gravara até um vídeo por Marina, teve de engolir o próprio ator retirar seu apoio. “Descobri que a candidata à Presidência do Brasil, Marina Silva, talvez seja contra o casamento gay. Isso me colocaria em conflito direto com ela”, escreveu Ruffalo no Tumblr.
    E Aécio Neves pode mesmo virar o jogo pra cima de Marina. Hoje, o assessor de um importante dirigente do PT me disse que pesquisas internas do partido estão mostrando empate técnico entre o tucano e a ambientalista. Essa tendência será confirmada? A conferir. Faltando cinco dias para a eleição, é cada vez mais possível que a ex-favorita doutora em “Nova Política” seja rebaixada ao mesmo terceiro lugar de 2010 justamente por praticar a velhíssima “velha política”, com o perdão do pleonasmo.
    A “velha política” de Marina, além de velha, demonstrou-se amadora, vacilante e falsa. Ela vem despencando vertiginosamente em todas as classes sociais e demais filtros das pesquisas, e em todas as regiões do país.
     
    *Do blog Fatos etc

  • Campanhas: um modelo vai aparecendo, apesar da baixaria

    Luis Nassif
    Na atual campanha presidencial, os candidatos abusam da propaganda negativa. Não chega aos pés da campanha de 2010, na qual o candidato José Serra logrou jogar o nível nas tubulações de esgoto.
    Mesmo assim, a cantilena dos três candidatos é maçante. Aécio Neves repercute as denúncias da revista Veja – que têm desanimado até os demais veículos de imprensa, pela leviandade. Marina Silva pratica a lamúria permanente e Dilma tenta convencer o eleitorado que haverá um segundo governo menos centralizador.
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    Mesmo assim, as circunstâncias da economia e da política acabaram quase que conduzindo a um modelo de gestão que vai acabar se impondo.
    No âmbito dos jornais e das redes sociais, persiste uma radicalização anacrônica entre esquerda e direita.
    Cada proposta é analisada sob esse prisma. As grandes transformações brasileiras foram eminentemente pragmáticas, sem a tentativa de dividir o mundo entre medidas de esquerda ou direita.
    Abaixo da espuma tem a substância, um conjunto de políticas públicas quase inescapáveis, se se quiser de fato aspirar a uma nova etapa do desenvolvimento nacional.
    No plano estratégico, o país terá que definir políticas industriais consistentes, em cima de aspectos competitivos: os mercados que proporcionam ganhos de escala e os setores que podem se beneficiar de políticas de compras públicas. E necessita continuar desenvolvendo todo o macroambiente competitivo.
    No plano microeconômico, os sistemas de inovação, as ferramentas de financiamento, o aprimoramento das compras públicas, enfim, um autêntico receituário desenvolvimentista.
    Mas não poderá adiar mais as reformas microeconômicas, a desburocratizaçao, colocar ordem na parte fiscal e outras medidas destinadas a melhorar o ambiente econômico e que, em geral sao vocalizadas pelos chamados setores neoliberais.
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    Tem que apoiar setores estratégicos, como propõem os desenvolvimentistas, mas corrigindo os exageros  das decisões unilaterais, como defendem os neoliberais.
    A política econômica precisa ser proativa e, ao mesmo tempo, previsível. Trata-se de desafio perfeitamente factível desde que se tenha um plano de vôo.
    Precisa-se de um Estado forte, mas para cumprir o papel de indutor do setor privado. A contrapartida ao Estado forte é a exigência de definição de regras claras na concessão de benefícios, que impeçam as práticas odiosas dos benefícios a empresas ou setores, de acordo com a vontade do governante.
    Há a necessidade de uma política fiscal transparente, mas o ajuste não pode contemplar apenas as despesas correntes, mas encarar definitivamente a questão dos juros.
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    A postura da política monetária não é de ser a favor ou contra o capital, mas de mudar o rumo do dinheiro, da renda fixa e da aplicação preguiçosa em títulos públicos para o financiamento do desenvolvimento e a busca das aplicações de risco.
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    Caso Dilma seja reeleita, terá que aprender que política econômica proativa só se legitima se for absolutamente transparente e discutida com todos os setores sociais e econômicos.
    Terá que trocar a roupa de gerente pela de Estadista. Se conseguirá, é uma incógnita.

  • Coalisão legitima ataques ao califado

    José Antônio Severo
    A coalizão de países da região do Golfo Pérsico que estão se alinhando ao governo do Iraque para atracar as fortificações e comboios do chamado Estado Islâmico (EI) está dando a conformação da aliança política das monarquias arábicas que se compõem com Estados Unidos, França e Austrália para fustigar os extremistas que estão infernizando a vida das populações civis no Levante.
    A coalizão é integrada, além dos ocidentais, por aviadores da Arábia Saudita, Jordânia, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Qatar. Esses governos, chefiados por monarcas sunitas, dão legitimidade religiosa à essa aliança.
    As potências ocidentais estão pisando em ovos, procurando evitar que a emenda saia pior que o soneto: uma ação desastrada, como é comum ocorrer quando se metem naquela região, pode, em vez de aglutinar uma aliança, produzir uma onda de apoio aos jihadistas se for constatado que eles estariam sob pressão de exércitos de apóstatas, como dos xiitas de Bagdá, dos alauítas de Damasco e dos sufistas de Ancara. Sem falar dos “cruzados”, como apresentam os ocidentais. É significativo que os mais demonizados sejam os descendentes dos antigos francos que lideraram as Cruzadas e o Reino de Jerusalém, no Século XI, hoje chamados de “nojentos franceses”.
    Para dar uma demonstração inequívoca de que os descendentes do profeta Maomé que ocupam os tronos das monarquias do Oriente Médio estão efetivamente  combatendo os fanáticos e consideram o EI uma heresia, a esquadrilha dos reis do golfo que voa ao lado dos F-22 norte-americanos e dos Rafale franceses, tinha entre os pilotos duas figuras emblemáticas: na esquadrilha da Arábia Saudita voava o príncipe Khaled bi Salmann, filho do príncipe Salman bin Abdulaziz, herdeiro do trono de Riad; no comando da esquadrilha dos Emirados estava nada menos que uma mulher, a major Marian Al Massour. Mandar uma mulher dar umas bordoadas num jihadista é a maior humilhação a que se lhes pode submeter. (Também aí uma dúvida: Marian, que vem de maria, não é nome muçulmano tradicional). Portanto, uma novidade e que vai pegar bem junto às feministas do ocidente.
    Para as operações terrestres, por enquanto, as potências ocidentais (EUA, França e Alemanha) estão armando os curdos, que também são sunitas. Ou seja: sunitas combaterem sunitas é aceitável. O que não se pode ainda é mandar para o front as tropas xiitas do Exército de Bagdá. O governo central do Iraque tem de esperar observado de longe enquanto seus vizinhos sunitas soltam seus aviões sobre o EI. As bombas sunitas são aceitáveis; as xiitas são apóstatas. O novo governo iraquiano está procurando uma composição com as tribos sunitas para só depois recrutar sunitas para seu exército. Até lá, as tropas que protegem Bagdá, compostas por xiitas, apenas observam os acontecimentos esperando novas ordens do seu governo.
    É por isto que Barak Obama diz que a guerra será longa. A única forma de resolver de forma satisfatória é deixar que a crise seja debelada pelos próprios sunitas. Qualquer interferência será desastrosa e servirá apenas para acelerar o recrutamento de jihadistas. O que pode ser feito no Exterior é evitar, sempre que possível, que nos fanáticos se desloquem para engrossar os contingentes do EI. Segundo informações, há 30 mil homens em armas, 15 mil estrangeiros, o que não significa que todos esses estejam indo do Ocidente. A maior parte é árabe de lá mesmo, naturais dos reinos da coalizão. De fora são jovens recrutados em madraças na Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá, Rússia (em ex-repúblicas transcaucasianas da antiga União Soviética), Balcãs e Austrália. Também há gatos pingados de toda a parte onde haja muçulmanos sunitas, porém são lutadores individuais que chegam ali por conta própria. Os demais são sírios e iraquianos desertores dos exércitos nacionais dos dois países ou simplesmente rebeldes políticos.
    Essa posição moderada de Obama, sugerindo que a guerra civil se limite aos crentes sunitas, também limita o território da luta, embora não se possa descartar que outros extremistas provoquem atentados e confusão fora da região do conflito. Neste caso, a Rússia corre maior perigo que a Europa Ocidental, pois os fanáticos muçulmanos dalí são mais perigosos e numerosos do que os emigrantes árabes no Ocidente. Para o presidente Vladimir Putin, também é melhor que os jihadistas estejam combatendo Bashar Assad.
    Nos próximos dias essa questão terá contornos mais definidos. Por enquanto há apoio, aceitação ou simples expectativa dos demais países da ONU.