A nova pesquisa sobre as intenções de voto para o governo do Estado, feita pelo Datafolha para a RBS e divulgada ontem, quinta-feira, é no mínimo intrigante.
Primeiro: mostra um quadro quase inalterado, desde o início da campanha, com a candidata do PP, Ana Amélia Lemos, entre oito e dez pontos, à frente do governador Tarso Genro, candidato à reeleição.
Uma situação cristalizada sobre a qual a campanha eleitoral que está a pleno nas ruas e nos meios de comunicação parece não produzir qualquer efeito.
Nem um fato bombástico, como a revelação de que Ana Amélia acumulou um cargo em comissão no gabinete do marido, o senador biônico Octavio Cardoso, com as funções de diretora da sucursal da RBS em Brasilia e de colunista do jornal Zero Hora, influiu. A candidata manteve os 37% da pesquisa anterior.
Verdade que a RBS fez um jogo de abafa. Não podia ignorar o fato, pela repercussão da denúncia, publicada no Sul21; mas minimizou-o o quanto pode.
De qualquer forma foi um petardo na postura moralista da candidata. Mas, segundo a pesquisa, os eleitores desdenharam…
Ao mesmo tempo, Tarso Genro sem qualquer fato notório que justifique, perdeu mais um ponto (havia perdido três pontos na pesquisa anterior) ficando com 27%..
Como são movimentos mínimos, que podem ser absorvidos dentro da margem de erro, fica a dúvida.
Categoria: Geral
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Disputa entre Ana Amélia e Tarso parece congelada
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Ana Amélia desapega do jornalismo, quer ser julgada como senadora
Jornalista por mais de 40 anos, Ana Amélia Lemos, líder nas pesquisas para o governo do Estado, quer que os eleitores a julguem pelos quatro anos (meio mandato) em que esteve no senado.
Informações colhidas no ClicRBS:
” A candidata do PP ao governo do Estado, Ana Amélia Lemos, explicou sua atuação no gabinete do marido enquanto era diretora da sucursal da RBS em Brasília, mas disse que deve ser avaliada pelo seu mandato como parlamentar.
– Eu tenho que ser julgada pelo meu trabalho como senadora – afirmou a progressista durante a gravação do Cena Eleitoral Especial, nesta quarta-feira.
No Cena Eleitoral Especial, Ana Amélia responde a dúvidas dos leitores. Assista na íntegra:
No vídeo, Ana Amélia respondeu a perguntas de leitores de Zero Hora.
Na entrevista conduzida pela colunista Rosane de Oliveira e pela repórter Juliana Bublitz, a progressista falou sobre o corte de secretarias e cargos em comissão (0:39), explicou o trabalho realizado no gabinete do marido, o senador biônico Octávio Omar Cardoso (5:21), questionou a popularidade de jornalista na disputa de um cargo majoritário (9:10) e comentou sua relação com o deputado Luis Carlos Heinze, denunciado por homofobia e racismo (10:30).
Falou ainda sobre o concurso do Magistério e a contratação de temporários(12:00), o impacto de sua proposta de enxugamento nas nomeações de funcionários públicos (15:03) e o pagamento dos precatórios (16:57). Também detalhou medidas para evitar o desperdício de medicamentos pelo Estado (18:01).
Cena Eleitoral Especial vem entrevistando os quatro candidatos a governador mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto. A ordem das entrevistas foi definida a partir da disponibilidade da agenda dos candidatos.
O ClicRBS produziu também um perfil da candidata:
ANA AMELIA EM CINCO MOMENTOS:
Dama de companhia
Ana Amélia Lemos nasceu em 23 de março de 1945, em Lagoa Vermelha, no norte do Rio Grande do Sul. É a mais velha dos nove filhos do casal João Laureano de Lemos e Cilene Daros de Lemos. Aos nove anos, recebeu o convite para ser dama de companhia e mudou-se para Porto Alegre. Na Capital, morou quatro anos de sua infância e concluiu o Ensino Básico.
Pedido ao governador
Aos 12 anos, de volta a Lagoa Vermelha, Ana Amélia escreveu uma carta ao então governador, Leonel Brizola, pedindo uma bolsa de estudos. O pedido foi atentido e, dois meses depois, Ana Amélia passava a frequentar o Ensino Médio no colégio Rainha da Paz, em sua cidade natal.
Carreira no Jornalismo
Também com bolsa de estudo, Ana Amélia formou-se em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS). Foi balconista de loja, funcionária pública, secretária executiva e iniciou a carreira jornalística na Rádio Guaíba, em Porto Alegre. Em 1970, começou a trabalhar como repórter de economia no Jornal do Comércio, onde ficou sete anos.
De mala e cuia para Brasília
Em 1977, ingressou no Grupo RBS. Foi repórter de economia, produtora e apresentadora de TV até 1979, quando transferiu-se para Brasília, exercendo as mesmas atividades. A mudança para a capital federal foi motivada pelo então marido, o procurador de Justiça e líder político Octávio Omar Cardoso, que, na época, assumia o cargo de diretor de Recursos Humanos da Caixa Econômica Federal. Ana Amélia ficou viúva de Cardoso em 2011. Eles não tiveram filhos.
(Nota do Redator: Foi omitido o período do senado biônico e do famoso CC.)
Do jornalismo para a política
Em 2009, filiou-se ao Partido Progressista (PP). No ano seguinte, deixou o jornalismo e lançou sua candidatura ao Senado. Em 3 de outubro de 2010, foi eleita senadora pelo Rio Grande do Sul com 29,54% dos votos válidos. Em 2014, concorre pela primeira vez ao governo do Estado.
Nota do Editor: candidata explícita -
Conflito em São Paulo pode detonar bomba da habitação popular no país
A violência, que tumultuou o centro de São Paulo, ontem, começou com a remoção de 600 sem teto que ocupavam um hotel, abandonado havia dez anos, na Avenida São João.
Os ocupantes estavam lá há seis meses e resistiram à ordem judicial.
Foram quase 12 horas de conflito. Um ônibus foi incendiado, lojas foram saqueadas, 90 pessoas foram presas e a Polícia Militar identificou pelo menos dez integrantes do movimento dos black blocs entre os manifestantes.
Pode ser um fato isolado. Mas se a fagulha da questão habitacional se espalhar pode detonar um barril de pólvora, cuja explosão atingirá todas as grandes cidades, como ocorreu com as manifestações de junho de 2013, que começaram como protesto contra o aumento das tarifas de ônibus.
O problema da habitação popular, como a alta tarifa e o serviço precário do transporte público, é uma doença crônica da vida nacional.
Porto Alegre, por exemplo, tem neste momento 24 ocupações em áreas privadas e duas em áreas públicas em processo de reintegração de posse.
Vivendo precariamente em vilas irregulares, há mais de 200 mil pessoas em Porto Alegre.(E.B.) -
Preço do transporte preocupa mais que água, luz ou telefone
Estopim das manifestações de junho de 2013, a tarifa do transporte coletivo nas grandes cidades continua no centro das preocupações da população, apesar.de ter sumido do noticiário, novamente.
Uma pesquisa divulgada no início de setembro revela que o aumento do ônibus é, para a maioria, mais estressante do que os aumentos de luz, água, telefone.
Eis um resumo da pesquisa (Luisa Zottis/TheCityFixBrasil):
“O aumento na tarifa de ônibus traz mais dor de cabeça ao cidadão brasileiro do que nas contas de luz, água ou telefone. O dado foi revelado em pesquisa inédita da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) apresentada no Seminário Nacional NTU 2014.
A Associação perguntou, e 91 personalidades ligadas ao setor de transportes, entre formadores de opinião, gestores públicos, empresários, jornalistas, especialistas, parlamentares, representantes de conselhos municipais e acadêmicos, responderam: quais as soluções para as demandas sociais sobre o transporte público?
As inúmeras soluções apontadas pelo grupo de participantes baseiam-se em três queixas centrais dos brasileiros:
Preço
Qualidade
Transparência
Conheça, a seguir, as soluções propostas por eles:
TARIFA
“Não é por 20 centavos”. A frase marcou a onda de protestos no ano passado, desencadeados pelo aumento de 20 centavos na tarifa dos ônibus em Porto Alegre. Embora os pleitos fossem por direitos sociais como um todo, fato é que o gasto com a passagem é uma grande preocupação que pode ser justificada, na opinião dos respondentes, por dois motivos principais. Um, porque pesa diariamente no bolso do brasileiro, e não por mês, defendem 56,8% dos entrevistados. Em segundo lugar, porque o transporte é o serviço público considerado mais relevante às pessoas (28,4%). Como então, resolver de vez a questão?
Na visão da maioria dos entrevistados (39,6%), a resposta é a tarifa social justa, que não comprometa a renda do trabalhador. Em seguida, 23,1% deles defenderam o subsídio integral da tarifa pelo Governo Federal, precedido pela tarifa social conforme a renda, citada por 18,7% dos respondentes. A tarifa universal, por outro lado, foi defendida pela minoria: 8,8%.
A subvenção dos custos do transporte público também foi defendida pela maioria dos entrevistados: 92,3% deles é a favor da cobrança de estacionamentos públicos e 85% defende a taxação da gasolina; 85,9% defende o pedágio urbano nas áreas centrais; e 51% apoia o aumento do IPTU de imóveis mais caros.
QUALIDADE
A qualidade do serviço do transporte coletivo é crucial para que as pessoas optem pelo ônibus em vez do carro no deslocamento urbano. Segundo os entrevistados da pesquisa da NTU, entre os fatores para um transporte de qualidade estão o cumprimento de horários (78,8%), agilidade no tempo total de viagem, incluindo espera (72,5%); e segurança nos ônibus, pontos e terminais (57,1%). A informação ao usuário também foi citada por boa parte dos respondentes (53,8%), seguida de limpeza e iluminação (50%), entre outros fatores. Investir nas vias dedicadas ao ônibus e sistemas de alta capacidade, como o BRT (Bus Rapid Transit), é uma estratégia que pode levar ao sucesso, apontam. Os fatores para qualidade dos sistemas BRT foram debatidos em painel do Seminário Nacional NTU pelo diretor-presidente da EMBARQ Brasil, Luis Antonio Lindau, e você pode ler aqui.
TRANSPARÊNCIA

Anseios da Sociedade | Fonte: NTU, 2014
O acesso à informação também é uma demanda da sociedade, sobre a qual os respondentes da pesquisa – formadores de opinião e tomadores de decisão – estão atentos. Em se tratando de transparência, eles elencaram o que julgam ser os principais anseios da população:
Em linhas gerais, a pesquisa reforça a visão de que garantir um serviço prioritário nas vias urbanas, com eficiência na operação, transparência de dados e, principalmente, que ouça e atenda às demandas dos seus usuários, faz toda diferença para que o transporte cumpra com seu papel efetivo de não apenas transportar pessoas, mas assegurar o direito de ir e vir e o acesso aos serviços de saúde, educação, lazer e empregos – de forma mais sustentável que o carro. -
Marina Silva, aquela que mudou de lado
Leonardo Boff *
(*Carta Maior)
Já vai acalorada a campanha presidencial com uma disputa aberta entre Dilma Rousseff, atual Presidenta e a pretendente Marina Silva. Trata-se, na verdade, do confronto de dois projetos: a manutenção por parte do PT de um projeto progressista, marcado por fortes políticas públicas que permitiram integrar uma Argentina inteira na sociedade organizada. A prática política, imposta pelas elites, era de os governos fazerem políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. Mas aconteceu uma viragem em nossa história. Alguém do povo chegou ao centro do poder e conferiu outra direção ao Estado. Não se pode negar que o Brasil numa perspectiva geral, especialmente na ótica dos pobres, melhorou muito. Negá-lo é mentir à realidade.
A este projeto progressista se opõe o que a candidata Marina chama de “nova política”. Quando observada de perto, porém, não passa de um projeto conservador e velho que beneficia os já beneficiados e que alinha o país à macroeconomia voraz que faz com que 1% dos americanos possua o equivalente ao que juntos 99% da população ganha. Esse projeto visa a conter o processo progressista, evidentemente, sem anulá-lo, porque haveria, sem dúvidas, uma rebelião popular.
As opções do PSB e de Marina Silva representam um retrocesso do que havíamos ganhado em 12 anos. A centralidade não será o Estado republicano que coloca a “coisa (res) pública” em primeiro plano, o estado dinamizador de mudanças que beneficiam as grandes maiorias a ponto de ter em 12 anos diminuído a desigualdade social em 17%. Agora com Marina, o foco é o Estado menor para conceder maior espaço ao mercado, ao livre fluxo de capitais sem lei, reafirmando as teses neoliberais: o aumento do superávit primário, que se faz com corte dos gastos públicos, com arrocho salarial e desemprego para assim controlar a inflação e finalmente impondo a autonomia do Banco Central. Especialmente este último ponto é grave porque um presidente foi eleito também para gerenciar a economia (que é parte da política e não da estatística) e não entregá-la às pressões dos capitais, dos bancos e dos rentistas. Seria um atentado à soberania monetária do país.
Este projeto velho, foi aplicado no Brasil pelo governo do PSDB, não deu certo, quebrou a economia da União Europeia e lançou o mundo numa crise da qual ninguém sabe como sair. O efeito imediato será, como referimos, o arrocho salarial e o desemprego com o repasse de grandes lucros para os donos do capital financeiro e dos bancos.
Marina quer governar com os melhores da sociedade e dos partidos, por cima das alianças inevitáveis no nosso presidencialismo de coalização. As alianças se farão, provavelmente, com o PSDB e com o PMDB e terá assim que engolir José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor que ela tanto abomina. Sem alianças, Marina corre o risco de não ver passar no parlamento, os projetos que propõe, por falta de base de sustentação.
Quem a escuta e lê seu programa parece que fez um passeio pelo Jardim do Éden: tudo é harmonioso, todos são cooperativos e não há conflitos por choques de interesses. Esquece que vivemos num tipo de sociedade de mercado (e não apenas com mercado) que se caracteriza pela competição feroz e por parca cooperação. Estimo que Marina, religiosa como é, se inspira no sonho do paleo-cristianismo dos Atos dos Apóstolos onde se diz que “a multidão era um só coração e uma só alma; ninguém considerava sua a propriedade que possuía; tudo entre eles era comum”(At 4,32).
Estas opções mostram claramente que ela mudou de lado. Antes quando estava no PT do qual é uma das fundadoras falava-se na opção pelos pobres, por sua libertação e se denunciavam os faraós de hoje. Construía no canteiro dos explorados e injustiçados. Agora ela constrói no canteiro dos seus opressores: os endinheirados, os bancos, o capital financeiro e especulativo. Leva a eles o tijolo, o cimento e a água. Seus assessores na economia são todos neoliberais. Os seringueiros do Acre rechaçaram o fato de Marina colocar entre as elites a figura de Chico Mendes, pois sabem que foram agentes dessas elites que o assassinaram; por isso, protestaram veementemente e reafirmaram a tradição do PT apoiando a candidata Dilma.
Minha suspeita é de que Marina persegue o poder e visa a alcançar a presidência, por um projeto pessoal, custe o que custar. Diz-se por ai, que uma profetiza de sua igreja evangélica, a Assembleia de Deus, profetizou que ela, Marina, seria presidenta. E ela crê cegamente nisso como crê no que, diariamente lê na Bíblia, passagens abertas ao acaso, como se aí se revelasse a vontade de Deus para aquele dia. São as patologias de um tipo de compreensão fundamentalista da Bíblia que substitui a inteligência humana e a busca coletiva dos melhores caminhos para o país.
Sou duro na crítica? Sou. E o sou para alertar os eleitores/as sobre a responsabilidade de eleger uma presidente com tais ideias. Já erramos duas vezes, com Jânio e com Collor. Não nos é mais permitido errar agora em que a humanidade passa por uma grave crise global, social e ambiental e que reverbera em nosso país.
Não devemos desistir do que deu certo e avançou. Mas devemos cobrar que se inaugure um novo ciclo que aprofunde, enriqueça e inove para além do que já foi incorporado pela população. Creio que o projeto do PT com Dilma, não obstante os erros e as decaídas que aconteceram e que podem e devem ser resgatadas, é ainda o mais adequado para o povo brasileiro. Por isso apoio Dilma Rousseff. -
Procuradores querem frear terceirização de contratos de trabalho
Mais um round da briga judicial em torno da terceirização de atividades-meio e atividades-fim no mercado de trabalho: no último dia 10 de setembro, a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) interveio contra a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 324, apresentada em 25 de agosto junto ao Supremo Tribunal Federal pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
Alegando que o preceito constitucional da livre iniciativa empresarial não pode ser tolhido pela Justiça do Trabalho, a ABAG pede a suspensão de quaisquer processos em andamento sobre o tema terceirização de contratos de trabalho. Quer inclusive a suspensão dos efeitos de decisões já proferidas, o que equivale a escancarar a porteira para a passagem das tropas do capitalismo neoliberal.
Representada por Roberto Caldas e mais seis advogados atuantes no Distrito Federal, a associação dos procuradores do Trabalho argumenta que “a medida (da ABAG) preconiza um liberalismo anacrônico e selvagem, escorado numa delirante noção de livre iniciativa sem limites, flagrantemente contrária ao horizonte normativo, ideológico e principio lógico da Carta de 1988, de forte inspiração social e democrática, que preconiza um Estado dotado de necessário papel regulador dos abusos do poder econômico”.
Apelo ao agronegócio
Em sua intervenção, que entrou a tempo de ser analisada pelo ministro Luiz Roberto Barroso, a ANPT argumenta que a ABAG não tem legitimidade para se intrometer no tema da terceirização, objeto de um ousado recurso da Cenibra, que recorreu ao STF para não pagar R$ 2 milhões de multa trabalhista em processo por terceirização de mão-de-obra no leste de Minas/noroeste do Espírito Santo.
Talvez por se sentir acuada na briga, a Cenibra (associação da Vale com capitais japoneses) pediu ajuda da entidade do Agronegócio, que tem um grande peso político e econômico. Em outras palavras, a ABAG late mais alto e seu ‘au-au’ pode ecoar até nos eucaliptais do Sul.
Na prática, o que o empresariado está querendo é podar a Justiça do Trabalho, que cumprem uma missão constitucional no sentido de evitar fraudes no mercado de trabalho. Se o STF der guarida à Cenibra, estará liberando a terceirização, que já ocupa 25% dos trabalhadores do Brasil. O bom senso indica que o pleito da ABAG e da Cenibra não pode passar, mas nessas horas todo mundo pensa no velho ditado: de barriga de mulher, cabeça de juiz e urna eleitoral, pode-se esperar qualquer coisa. -
FEE debate a concentração da riqueza
A Fundação de Economia e Estatística (FEE) realiza na tarde desta terça-feira (16/9/2014) mais uma sessão-debate em sua sede na R. Duque de Caxias, 1691, em Porto Alegre.
O palestrante é Antonio Cattani, professor de Sociologia da UFRGS. Ele vai falar sobre os mecanismos de concentração e manutenção da riqueza (no Brasil, claro). Retoma-se assim um debate que esteve no auge nos anos 1970, quando o ministro da Fazenda, economista Antonio Delfim Netto, dizia que “antes de dividir o bolo, é preciso fazê-lo crescer”.
O último debate da FEE, um mês atrás, teve como palestrante o economista americano Mark Setterfield, que leciona e pesquisa em Nova York. O assunto dele era consumo x desigualdade. Segundo seus estudos, o endividamento das famílias é o motor que faz funcionar a máquina do rentismo dos EUA – e do mundo capitalista, por que não?
Setterfield deixou para os estudantes, professores e funcionários da FEE algumas reflexões estimulantes resumidas em frases óbvias como “A dívida das famílias gera a remuneração dos rentistas” e “No frigir dos ovos, o que vai influenciar a economia é a dívida líquida dos trabalhadores”. É tudo tão óbvio que a maioria das pessoas nem pensa nessa lógica do sistema financeiro.
Setterfield concluiu que as famílias trabalhadoras se endividam para consumir, e para tanto se espelham no consumo dos ricos. Nos EUA, nos últimos anos, o endividamento gerou aumento da desigualdade social.
E quanto maior a desigualdade, maior a tendência para a imitação dos ricos pelos pobres. Uma boa conclusão quando se considera que desde 2004, segundo Bruno Paim, economista da FEE, o consumo de massa tem sido decisivo para o crescimento da economia brasileira, que ultimamente perdeu o dinamismo. -
Um califado desafia o ocidente
José Antonio Severo
A degola de mais um ocidental pela faca afiada de Jiad John, como se chama o degolador do Estado Islâmico da Síria e Iraque (ISIS em inglês) é mais um passo de reforço à campanha para atrair tropas terrestres ocidentais para o sub-front da guerra civil árabe no Levante.
Com isto, os combatentes do califado querem fortalecer o fantasma do inimigo externo ainda bem viva, evocando uma unidade milenar para combater os odiados “franjs”, ou os cruzados, que, vindos de toda a Europa cristã, tomaram e ocuparam por mais de 100 anos a atual Palestina no início do milênio passado.
A morte de dois americanos teve força para levantar o clamor da opinião pública nos Estados Unidos, mas não o suficiente para Barak Obama mandar seus Boinas Verdes para lá.
O assassinato ritual e público pela internet de um inglês objetiva mobilizar a David Cameron, o primeiro ministro britânico, que também faz corpo mole enquanto corre para estancar a onda separatista da Escócia.
A verdade é que as opiniões pública norte-americana e britânica (de todo o Ocidente, diga-se) pedem ações contundentes contra os jihadistas, mas também não apoiam o reinício da guerra formal com a participação de soldados em terra.
Aviões e bombinhas, tudo bem. Não mais que isto.
Os líderes anglo-americanos estão em palpos de aranha, pois essa questão do califado é bem mais complexa e nebulosa do que se vê a olho nu.
Assim como foi no caso do Talibã no Afeganistão, armado pelos norte-americanos para combater os soviéticos no âmbito da guerra fria, também o ISIS é um saco de escorpiões, aranhas cobras e todo o tipo de bichos brabos e peçonhentos. É complicado meter a mão dentro dessa cumbuca.
Algumas pistas se podem tirar da própria imprensa da Arábia Saudita, a nação mãe da guerra santa atual, iniciada ainda na Primeira Guerra, insuflado pelo arqueólogo inglês T.E. Lawrence, pelo primeiro rei Faiçal, príncipe de Meca, sacerdote mor do islamismo waabita, descendente direto do Profeta Maomé e guardião dos lugares sagrados, e que deu seu nome ao País, Saud.
Vou transcrever algumas partes de uma matéria do jornalista saudita Rasheed Abu-Alsamh, muito esclarecedora desta confusão, e que deve ser lida cuidadosamente porque naquele país é muito arriscado escrever com todas as letras.
Ele fala do que se diz em Riad (que ele escreve Jiad) sobre o exército do ESIS:
“É a velha esquizofrenia da qual muitos sofrem aqui. De um lado há aqueles que dizem que o Estado Islâmico é uma invenção dos EUA, apontando para o fato de que alguns deles, de fato, tiveram treinamento militar dos americanos e britânicos na Jordânia no ano passado. É claro que esse treinamento foi dado levando-se em consideração serem eles parte da oposição supostamente mais moderada ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad. Infelizmente esses elementos se juntaram ao Estado Islâmico que, com sua matança indiscriminada de minorias religiosas e muçulmanos xiitas e mesmo de sunitas, se mostrou bem extremista”.
Este é um lado da confusão: muitos jihadistas foram criados pela CIA e pelo M5.
Por outro lado, dizia outro jornalista árabe saudita, o colunista político Saad al-Dosari, do jornal Arab News: “A coisa preocupante é que nós, sauditas não parecemos estar longe de tudo isto”, e acentua que as células dos terroristas do califado recrutam no país jovens para formar nas milícias, muitos com apenas 15 anos, e levam para o Iraque para se incorporarem às tropas. Ele destaca, também com cuidado, pois está mexendo em casa de marimbondo, que o monarca saudita é ambíguo: “O rei saudita Abdullah durante uma cerimônia em que novos embaixadores no reino lhe apresentavam credenciais, disse a eles, num discurso, que a ameaça do Estado Islâmico tinha de ser levada a sério. Caso contrário eles iriam chegar às portas da Europa em um mês e às portas dos Estados Unidos dentro de dois meses. Mas não ouvimos quaisquer planos dos sauditas de usarem seus caças F 16 para bombardear as posições dos terroristas do Estado Islâmico no Iraque, como alguns comentaristas norte-americanos têm pedido”.
O jornalista Abou-Alsamh lembra que os estados do golfo têm interferido nos conflitos regionais, lembrando dos ataques dos aviões dos Emirados contra Trípoli, na Líbia (ele não fala do apoio do Qatar aos Hamas, na guerra contra Israel, há semanas) e vêm conversando com o Irã, que é o arqui-inimigo dos sauditas na geopolítica regional. Inclusive viu-se uma cena impensável até então, que foi a visita do chanceler iraniano a Riad para conferenciar com o ministro do Exterior saudita, príncipe Saud al-Faiçal, a fim de articular ações conjuntas relativas ao Estado Islâmico.
Vejam como é essa briga de foice no escuro: sauditas e iranianos são inimigos na crise síria, porque o Irã apoia Bashar e os sauditas financiam e armam os rebeldes; Já os dois países teocráticos se aliam para combater o califado, pois o ESIS pretende, reabilitando o califado de Bagdá, derrubar a todos os demais regimes (que eles chamam de fronteiras artificiais). Então, eles podem atuar em todos os países da região e do mundo.
Isto não é tudo, como diz o jornalista Abou-Alsamh: “Mas todos estão bem cientes da duplicidade do regime sírio em suas relações com o Estado Islâmico, que combate, mas, ao mesmo tempo, compra seu petróleo e lhe vende armas”. Isto mesmo: a Síria financia o ESIS comprando o petróleo iraquiano que caiu em poder do califado na região de Mossul. Com este dinheiro os jihadistas compram armamentos, de quem? Do governo sírio de Bashar al-Assad, que sabe que tais armas serão usadas contra ele, mas também contra as demais oposições que lhe fazem guerra.
É por isto que Obama hesita e que Cameron não quer mandar seus “Tommies” mais uma vez para os desertos do Levante. Então os jihadistas chamam Jiad John para degolar mais um para fazer a opinião pública empurrar seus líderes para o front. Claro, com as grandes potências em campo a guerra ganha novas proporções e vai correr mais dinheiro. No outro lado do Mar Negro, quietinho, Vladimir Putin espera com as barbas de molho espera o momento em que será também arrastado para o mesmo lado os demais ocidentais, quando seus muçulmanos chechenos se apresentem para entrar em campo. Só depois disso muita gente vai entender que não se pode analisar o oriente médio pelo modelo da antiga e extinta guerra fria. Será interessante ver os russos se alinhando com os europeus para conter os muçulmanos dentro de suas próprias fronteiras, como prevê o rei Abdullah, insuflando a guerra no Iraque para que os fanáticos deixem os subúrbios de suas capitais para irem se martirizar nas areias do deserto no Levante.
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Imprensa e jornalismo, cada vez mais distantes
Uma imprensa sem jornalismo
Por: Luciano Martins Costa
( Do Observatório da Imprensa)
Já se disse neste Observatório que não existe mais uma relação orgânica entre imprensa e jornalismo no Brasil.
Alguns comentaristas que se manifestam sobre os temas propostos pelo observador neste espaço, entre eles acadêmicos portadores de currículos respeitáveis, consideram exagerada, ou no mínimo controversa essa afirmação.
Mas a ruptura entre a mídia tradicional, como instituição, e o jornalismo, como atividade socialmente relevante no equilíbrio entre as forças que atuam no espaço público, fica mais evidente conforme se intensifica a disputa eleitoral.
É neste período que os principais protagonistas da instituição conhecida como imprensa extrapolam de suas funções mais nobres para atuar como agentes de propaganda a serviço de determinada pauta política.
Como na frase de um antigo assessor do ex-presidente americano Bill Clinton, trata-se, como sempre, da economia: por trás de toda controvérsia abrigada pelos jornais, pode-se notar a linha d’água da questão crucial que ainda divide o mundo das ideias, grosseiramente, entre esquerda e direita.
Trata-se de um embate mais próximo do pensamento religioso do que da racionalidade.
Acontece que essa matriz dicotômica não dá conta de iluminar as questões da complexa realidade contemporânea.
Assim como as planilhas de uma pesquisa de opinião, por mais extensas e detalhadas que sejam, não conseguem abarcar as sutilezas que demarcam as variáveis individuais, a informação mediada passa longe de retratar a diversidade de interpretações possíveis para cada evento.
A origem dessa complexidade é facilmente identificável: quanto maior o protagonismo dos indivíduos, estimulado pela cultura de massas e facilitado pelas tecnologias de informação e comunicação, maior o peso das individualidades sobre o coletivo.
Tomemos, por exemplo, o caso da Petrobras, que frequenta o noticiário a bordo de uma sucessão de notícias sobre desvios de recursos, fraudes e supostos erros de gestão.
Não há como escapar ao fato de que toda a celeuma em torno da estatal brasileira de petróleo tem como núcleo a divergência central grosseiramente delimitada entre direita e esquerda. Isolada a questão da corrupção, fenômeno histórico, o que alimenta o debate é a divergência ideológica.
A RUPTURA
Desde os comentários em programas noticiosos do rádio e da televisão até os artigos de economistas e jornalistas especializados, passando pelos editoriais que procuram conduzir a opinião do leitor para determinado viés, todas as manifestações credenciadas pela imprensa brasileira sobre a Petrobras carregam uma alta dose de aversão ao controle da estatal pelo… Estado.
Paralelamente ao noticiário – necessário e coerente com o papel da imprensa – sobre erros, fraudes, crimes e outros desvios na gestão da empresa, o que se critica, realmente, é a estratégia de gestão.
Dizem comentaristas da mídia tradicional que o governo atual prejudica a Petrobras ao definir uma estratégia que a coloca como um dos instrumentos da política econômica.
Ora, se a aliança política que governa o país foi eleita há doze anos para conduzir um projeto de governo que se propõe a reduzir as diferenças de renda, ainda que eventualmente contrariando a doutrina do livre mercado, e o eleitorado tem renovado seus mandatos, não há como questionar a legitimidade de suas ações quando elas são coerentes com o compromisso anunciado.
A Petrobras, assim como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e todos os ativos do Estado são instrumentalizados para a realização desse propósito.
Essa escolha permitiu, há cinco anos, que o governo utilizasse os bancos oficiais para manter a oferta de crédito, quando a crise surgida no sistema financeiro dos Estados Unidos quebrou a capacidade dos bancos privados de financiar atividades econômicas essenciais.
Sob essa estratégia, a Petrobras não apenas reduz a dependência nacional de insumos fundamentais para o dia a dia do país – também atua como fator de moderação de preços.
Submetida aos caprichos do mercado, ela serviria apenas aos investidores da bolsa de ações e títulos – que, aliás, durante os anos anteriores se valeram de muita manipulação para fazer lucros da noite para o dia.
Essa é apenas uma das muitas complexidades que a mídia tradicional não penetra, nas intervenções diárias que protagoniza no debate eleitoral.
Por quê? Porque não existe mais a relação orgânica entre imprensa e jornalismo no Brasil.

