Geraldo Hasse
Vivendo uma fase de otimismo, a direção da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (FARGS) confirma ter interesse na reativação dos equipamentos existentes no parque apícola de Taquari.
O parque foi fechado por medida de economia há cinco anos, quando ninguém imaginava que o governo do Estado extinguiria várias fundações estaduais, entre elas a Fepagro, que possui 18 centros de pesquisas no interior, um deles no interior de Taquari.
Segundo Rogério Dalló, secretário executivo da FARGS, o interesse pelo parque apícola de Taquari foi explicitado há dois anos, quando um grupo de apicultores manifestou a disposição de usar as instalações do parque em parceria com a prefeitura local e a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi).
Os equipamentos mais antigos são de 1940, quando a chamada estação experimental de Taquari mantinha uma ativa parceria com o apicultor Emilio Schenk, criador de um tipo de colmeia bastante difundido e autor do livro ‘O Apicultor Brasileiro’, cuja primeira edição saiu em 1923. Após incorporar (em 1994) o parque apícola criado pelo pioneiro, a estação experimental passou a chamar-se centro de pesquisas Emilio Schenk.
Entretanto, a suposta parceria (público-privada) não avança porque o Estado está sem recursos para bancar qualquer iniciativa que implique na criação de novas despesas. Pelo contrário, a orientação é no sentido de cortar despesas. Ainda assim, Dalló acredita na possibilidade de fechar um acordo – “no papel, até o final do ano”; na sequência, é impossível saber o que pode acontecer, pois o processo de extinção das fundações virou um imbróglio judicial. A última novidade é uma liminar do STF que autoriza o Governo a retomar o processo de demissões dos servidores.
“Até agora ninguém veio conversar conosco sobre a reativação do parque apícola de Taquari”, disse ao JÁ o agrônomo Adoralvo Schio, diretor do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa da Seapi, órgão criado no início do ano para assumir as tarefas da Fepagro.
Último presidente da Fepagro, Schio está empenhado em definir os centros de pesquisas que permanecerão em atividade daqui por diante e em desativar definitivamente as unidades que vinham operando com problemas ou já estavam paradas por falta de recursos ou de pessoal.
No momento, é quase impossível fazer um balanço da situação em cada uma das unidades da ex-Fepagro porque a maioria das decisões depende da permanência ou não dos funcionários. O site da Fepagro, por exemplo, continua no ar, podendo dar a impressão de que nada mudou. Na realidade, porém, há mudanças formais e informais em andamento.
Na lista de quase 200 funcionários (todos estáveis) da Fepagro, alguns têm tempo suficiente de serviço para se aposentar, mas continuam “segurando a bandeira da pesquisa agropecuária”. Os que permanecem na ativa podem ser remanejados de um centro para outro, o que nem sempre é fácil, pois implica em mudanças de domicílio.
Dos 19 centros listados no site da Fepagro, os mais importantes são os de Eldorado do Sul (22 pesquisadores na área de saúde animal), Porto Alegre (10 pesquisadores ocupados em laboratórios e institutos), Santa Maria (6 pesquisadores concentrados em silvicultura), São Gabriel (4 pesquisadores de forrageiras) e Taquari (5 pesquisadores em citricultura, mandioca e sorgo) – os dados de pessoal foram atualizados pela última vez em 2014.
Em alguns casos, a fusão de centros de pesquisas parece fácil, teoricamente: os de Terra de Areia (aquicultura e pesca) e Maquiné (banana, palmito, consórcios agroflorestais), por exemplo, são tão próximos que têm um único diretor. Na metade norte, são relativamente redundantes os centros de Santa Rosa, Julio de Castilhos, Vacaria e Veranópolis, todos lidando principalmente com sementes de grãos. Na fronteira sudoeste, um único diretor controla três centros situados em Hulha Negra, Livramento e Dom Pedrito, todos voltados para a conservação do bioma pampa. Os centros de São Borja (arroz, trigo e soja) e Uruguaiana (arroz) são próximos e convergentes, mas qual deles será desativado?
Em alguns casos, pode pesar mais a vontade de um político do que a opção racional dos técnicos. Além disso, não se pode descartar o peso histórico de antigas estações experimentais como a de Veranópolis (a primeira da Serra, criada em 1919) e a de Encruzilhada do Sul (criada em 1942 para mexer com trigo – hoje mais voltada para ovinos e madeira).
Nesse contexto propício a contemporizações e/ou a degolas, a falta de recursos é tal que, no momento, segundo Adoralvo Schio, nem adiantaria conversar sobre a reativação do parque apícola de Taquari, cujo centro de pesquisas, fundado em 1929, continua operando, concentrado em cítricos, além de mandioca e sorgo.
Um dos mais antigos do país, hoje com 460 hectares, o centro de pesquisas de Taquari abriga um dos três únicos bancos brasileiros de germoplasma de cítricos – os outros dois ficam em Cruz das Almas (BA) e Limeira (SP) – e só isso basta para que não seja desativado, pois se trata de um ativo biológico reconhecido pela Organização das Nações Unidas, como lembra o pesquisador Raul Fernando Becker, que trabalha ali há 43 anos.
No caso da apicultura, informa Schio, a única pesquisadora lotada em Taquari, a bióloga Sidia Witter, foi autorizada a transferir seus projetos – sobre as famosas abelhas nativas, que não têm ferrão – para o centro de pesquisa (da ex-Fepagro) em Viamão, que se dedica à fruticultura, piscicultura, ovinocultura, culturas protegidas e agroenergia.
Destino dos 18 centros de pesquisa agrícola da Fepagro continua indefinido
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