O Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) lança nesta quinta-feira (22) a edição 2018 do Guia dos Bancos Responsáveis (GBR).
O estudo, que já foi feito em outros oito países e chega a sua 7ª edição no Brasil, avalia as políticas e práticas dos bancos em 18 temas de interesse da sociedade, relacionados aos consumidores, meio ambiente e economia.
Atualmente, mais de 140 milhões de brasileiros utilizam o banco para receber salário, movimentar dinheiro, fazer investimentos ou empréstimos.
Os bancos, por sua vez, são remunerados de várias formas: principalmente pelas tarifas, juros e serviços.
O dinheiro que fica “guardado” no banco é repassado por meio de empréstimos para terceiros. Mas quem são esses terceiros?
E se, indiretamente, esse dinheiro estiver financiando guerras ou o desmatamento das florestas?
Para dar este tipo de informação ao consumidor, o Idec analisou as políticas de nove bancos: Banco do Brasil, Bradesco, BNDES, BTG Pactual, Caixa Econômica Federal, Itaú, Safra, Santander e Votorantim.
Cada um deles foi avaliado, com notas de 0 a 10, em 18 itens divididos em três grupos:
Temas transversais, no qual entram mudanças climáticas, corrupção, igualdade de gênero, direitos humanos, direitos trabalhistas, meio ambiente e impostos.
Temas setoriais, como armas, alimentos, florestas, setor imobiliário e habitação, mineração, óleo e gás e geração de energia;
Temas operacionais, que são direitos do consumidor, transparência e prestação de contas, inclusão financeira e remuneração.
“O GBR é um instrumento importante para o consumidor saber, por exemplo, se o banco com o qual trabalha é transparente, respeita os consumidores e promove ideias que estejam de acordo com ele. Queremos dar para cada pessoa o poder da informação, e assim, aumentar a sua capacidade de fazer escolhas”, afirma a economista do Idec, Ione Amorim, responsável pelo estudo.
O resultados do estudo mostra os bancos com um desempenho fraco.
Em três temas (direitos trabalhistas, meio ambiente e inclusão financeira), as notas são satisfatórias, mas isso se deve principalmente à legislação brasileira, que nesses assuntos força que as instituições adotem políticas mais rígidas.
Contudo, os resultados ruins nos outros 15 temas, principalmente “Armas”, “Mudanças Climáticas” e “Setor Imobiliário”, derrubaram a nota final, que ficou entre 2 e 4,3.
Os piores resultados foram no tema ”Armas”. O item avalia o financiamento ou investimento em empresas envolvidas na produção, manutenção e distribuição de minas terrestres, munições de fragmentação e armas biológicas, químicas ou nucleares.
Com exceção do Santander e do Safra, todos os bancos avaliados ficaram com nota 0, por não apresentarem nenhuma política sobre o tema. Veja no site.
Pela primeira vez, o guia incluiu o tema “Igualdade de Gênero”, que leva em consideração as políticas para igualdade salarial, assédio e representatividade das mulheres em altos cargos administrativos, dentre outros.
A maior nota foi 2,4, o que mostra que as políticas dessas instituições estão ainda muito aquém do esperado.
As notas em todos items, assim como as avaliações de cada banco, estão disponíveis no site www.gbr.org.br .
As nove instituições financeiras avaliadas tiraram nota abaixo de 5 na maioria dos temas; no ranking geral de nove países, Brasil está na sétima colocação
“A mulher vive muitos preconceitos em vários espaços, na vida profissional, na vida social. Mas no meio político a gente sofre muito. É um espaço onde os homens acham que a gente não tem capacidade de administrar uma cidade.”
O desabafo é da educadora Tânia Portugal, prefeita de São Sebastião do Passé (BA) entre 2005 e 2012.
Segundo a ex-prefeita, filiada ao PCdoB, na falta do que falar sobre competência técnica e profissional, as pessoas começam a desqualificar na parte pessoal. “Você é chamada de descarada, é chamada de sapatona. Se a mulher é muito aberta, comunicativa é descarada. Se é mais retraída é sapatona. É um negócio louco, que homem nenhum vive.”
Pedagoga com mestrado em Educação, Tânia é a personificação do que foi apurado pelo Instituto Alziras na pesquisa Perfil das Prefeitas no Brasil.
Segundo o levantamento, 71% têm ensino superior, enquanto entre os prefeitos esse índice é de 50%; 42% delas têm ainda pós-graduação e experiência.
Mesmo assim, as mulheres, que são 51% da população, governam apenas 11% das 5.570 cidades brasileiras, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Estão à frente de cidades pequenas e com Produto Interno Bruto (PIB) baixo.
No poder, os principais desafios apontados pelas prefeitas são assédio ou violência política, indicados por 53% das pesquisadas.
“Ninguém chama um homem, como chamaram a presidenta Dilma, de vaca. Sempre tentam desqualificar a mulher. Isso a gente sofre. Não sofri agressão física, mas essa violência sutil a gente sofre bastante. E de tabela a família sofre conosco”, relata a ex-prefeita de 53 anos, nascida em São Sebastião do Passé.
O estudo, lançado na terça-feira (13), no Rio de Janeiro, ouviu 45% das 649 prefeitas do Brasil, entre maio e julho deste ano e contou com apoio da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Associação Brasileira de Municípios (ABM) e financiamento do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e MRS Logística.
“Compreender as experiências das mulheres na política municipal é extremamente importante porque a prefeitura é porta de entrada e base da construção de parte significativa das carreiras políticas”, diz Michelle Ferreti, uma das fundadoras do Instituto Alziras, organização que tem o objetivo de desenvolver ferramentas para contribuir para o aumento da participação das mulheres na política.
- Daniela, prefeita de Monteiro Lobato (SP): ‘A mulher, fora do ambiente doméstico, sempre foi vista como intrusa’
“Você vai sofrendo os preconceitos, mas ao mesmo tempo vai se firmando e se afirmando nesse espaço. Ouvi piadinhas, desqualificação. Mas o se firmar e se afirmar constantemente a gente vai mostrando o trabalho, ações que a gente desenvolve”, diz Tânia Portugal. Foi assim que ela garantiu sua reeleição em 2008. “Já tem dois mandatos que saí. Ando nas ruas e a população diz ‘eu era feliz e não sabia’.”
A ex-prefeita foi responsável, por exemplo, por levar a São Sebastião a Farmácia Popular, programa do governo federal que garantia aos cidadãos medicamentos de uso contínuo até 90% mais baratos.
desafios
O levantamento do Instituto Alziras revela que 70% das prefeitas em exercício no país haviam ocupado cargos públicos anteriormente, quase um terço havia sido vereadora. E essa atuação abre espaço para a entrada de outras mulheres na política: 55% das entrevistadas possuem um secretariado composto por pelo menos 40% de mulheres.
“Quando uma mulher ocupa um cargo político, ela cria condições subjetivas e também objetivas para que outras também possam ocupar esse espaço”, diz Michelle Ferreti.
Governar uma cidade com até 50 mil habitantes é uma realidade para 91% das prefeitas eleitas em 2016 que, somadas, governam apenas 7% da população do país. Enquanto a média de PIB per capita dos municípios governados por prefeitas é de R$ 17,8 mil, aqueles que governados por homens têm média de R$ 19,7 mil.
Daniela de Cássia Santos Brito (PSB) é outra mandatária cuja trajetória e realidade confirmam os dados da pesquisa.
Desde 2012 à frente da administração de Monteiro Lobato, cidade de pouco mais de 4 mil habitantes na região de Campos do Jordão (SP), ingressou na Prefeitura Municipal no ano 2002. Antes, foi secretária de gabinete e responsável pela Secretaria de Cultura e Turismo do município.
Formada em Pedagogia e pós-graduada em Gestão de Políticas Sociais pela FMU, atuou por três anos, entre 2008 e 2011, como técnica regional do Fundo Social de Solidariedade do Governo do Estado de São Paulo, no gerenciamento de regiões do Vale do Paraíba e Campinas.
Em 138 anos desde a emancipação política de Monteiro Lobato, é a primeira mulher a liderar o governo lobatense.
Apesar de todo o preparo e do reconhecimento popular que a premiou com a reeleição em 2016, Daniela também enxerga várias barreiras para a atuação da mulher na vida pública.
“Uma delas é o conservadorismo dos partidos políticos. A figura feminina ainda não está completamente inserida nos processos democráticos”, avalia, dando como exemplo a diferença de investimentos nas campanhas de candidatos homens e candidatas mulheres. “Isso revela um cenário que impossibilita a concorrência de ‘igual para igual’ na ocupação dos cargos de prefeitas, vereadoras, deputadas, governadoras e até mesmo a presidência.”
O preconceito de gênero, para Daniela, é uma forma de violência. “A mulher fora do ambiente doméstico sempre foi vista como intrusa. Ultrapassar esses preconceitos e marcar territórios é vencer um dia de cada vez e ser a inspiração para outras mulheres que passam ou já passaram por situações constrangedoras na vida política.”
Apesar de tudo, 55% das pesquisadas pelo Instituto Alziras dizem ter interesse em prosseguir na carreira política. “Precisamos mapear as dificuldades enfrentadas pelas prefeitas para podermos traçar estratégias e criar ferramentas que contribuam para o aumento da participação feminina na política brasileira”, afirma Michelle.
prefeitas negras sofrem mais
As mulheres negras representam 27% da população, mas governam apenas 3% das cidades brasileiras. Entre as 298 prefeitas ouvidas pela pesquisa, 36% se declararam pretas ou pardas. A maioria delas está à frente de cidades do Nordeste.
Participam há menos tempo do cenário político: 74% está em seu primeiro mandato, enquanto entre as brancas essa porcentagem é de 56% .
Por outro lado, pretas e pardas têm mais experiência na gestão pública: 75% já ocuparam cargos não eletivos ou de confiança no governo. Entre as brancas, o índice é de 68%.
As negras também herdam menos capital político da família: 44% das prefeitas pretas ou pardas não possuem qualquer familiar eleito. Mas essa é uma realidade para 33% das brancas.
- Principais conclusões da pesquisa
Elas são preparadas para o cargo:
• 70% já ocuparam cargos públicos não eletivos ou de confiança, principalmente em áreas como assistência social (27%), educação (20%) e saúde (20%).
• 66% das prefeitas ocuparam cargos de confiança no poder executivo, sendo que 23% delas comandaram Secretarias de Governo.
• um terço das prefeitas já foi eleita para outros cargos: 29% das prefeitas já foram vereadoras e 14 % foram vice-prefeitas.
• 71% das prefeitas têm ensino superior (enquanto apenas 50% dos prefeitos tem ensino superior).
• 42% das prefeitas têm pós graduação.
São batalhadoras:
• as prefeitas estão nos municípios menores e mais pobres. Receita tributária per capita média dos municípios governados por mulheres: R$ 199,04. Por prefeitos: R$ 245,08.
• as prefeitas precisam de mais recursos para se eleger: de R$ 7,10, ante R$ 6,15 para os prefeitos.
Dificuldades:
• 53% – reconhecem que já sofreram assédio ou violência política
• 48% – falta de recursos para a campanha
• 22% – falta de apoio do partido ou base aliada
• 24% – falta de espaço na mídia
Pretas e pardas (conforme denominação do IBGE):
• 45% são pretas e pardas, a maioria no Nordeste
• 74% está em seu primeiro mandato. Entre as brancas, a porcentagem é de 56%
• 75% de mulheres pretas e pardas já haviam ocupado cargos de confiança. Entre as brancas, o índice é de 68%.
• 44% não possuem qualquer familiar eleito. Entre as brancas, a porcentagem é 33%
Não são fantoche de marido:
• apenas 36% das prefeitas possuem marido que já foi eleito para algum cargo na política. Em 21% dos casos, ele foi prefeito (o que, não pode ser considerado demérito, já que ter familiares na política é comum para mulheres e homens eleitos na política brasileira)