Naira Hofmeister
Os 490m² do terreno onde funcionou a Casas Maria, tradicional sapataria do bairro Bom Fim, abrigam agora uma montanha de caliça. A loja funcionou mais de 35 anos, enquanto o proprietário Bernardo Nhuch ainda estava vivo. No ano passado, com a morte de Nhuch, os filhos decidiram encerrar o negócio e vender o terreno. “Foi uma homenagem ao nosso pai, que tinha um carinho muito especial pela loja”, revela Solon Nhuch, que agora comanda o projeto de arquitetura do empreendimento que será construído no local.
Ao contrário do que poderia se esperar o terreno não vai virar prédio: “Isso foi cogitado pelo novo proprietário, mas não é adequado pois o local não possui nenhum conjunto de estacionamento”, explica Nhuch. A nova construção será um pequeno prédio que abrigará duas lojas. São candidatos um banco, uma confecção de moda jovem e profissionais liberais. “Estamos tendo muita procura”. A previsão é que em cinco meses o empreendimento esteja pronto.
Antigo proprietário morou no terreno
Bernardo Nhuch morou com a família nos fundos da Casas Maria até meados de 1962. Com orgulho, o filho Solon, refere que o terreno tem “a maior frente que existe no Bom Fim”. São 14,5m² por uma extensão que, atualmente, chega a 35m². “Foi muito maior, mas meu pai vendeu uma parte para construírem um prédio na Ramiro Barcelos”, lembra. Sólon passou sua infância brincando no terreno da Protásio Alves. “É difícil precisar datas. Já vou ser avô”, brinca.
Autor: da Redação
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Ícone do Bom Fim é derrubado
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Último lojista resiste no Hortomercado Quintino
Carla Ruas
Para desgosto de vizinhos e clientes, o Hortomercado Quintino, tradicional ponto de compras do bairro Moinhos de Vento, está quase desativado. Com mais de 30 anos de atividade, o local já reuniu 28 pequenas lojas, que formavam um excelente centro gastronômico da cidade.
Mas venceu, em 31 de agosto, o prazo final para o fechamento dos poucos estabelecimentos que ainda restavam no local. O galpão na rua Quintino Bocaiúva foi negociado pelo proprietário. E ainda abriga um último lojista, que resiste às pressões.
É o dono da loja de especiarias Arco Verde, Gilberto Chies, que ainda ocupa um espaço na construção que já está em obras internas de desmanche. Mesmo assim, ele atende clientes, muitas vezes aflitos para saber o destino do seu comércio, que vende desde vinhos até nozes, queijos e temperos.
“Estou aqui por tempo indeterminado”, garante. Ele aguarda a determinação da justiça sobre o preço da indenização que vai receber para sair do seu ponto de venda nos os últimos 28 anos.
Chies: “Passei quase 30 anos fazendo minha clientela”
“Não é justo sair por uma bagatela”, diz ele, referindo-se ao valor pago de indenização às outras 10 lojas que entraram com ações judiciais: cada uma recebeu cerca de R$ 500 mil.
Outra preocupação de Chies é com a mudança dos mais de mil itens que ainda guarda no estoque da loja. “Estou procurando um lugar grande e perto, porque passei quase 30 anos fazendo minha clientela do bairro”.
O comerciante lamenta que os lojistas não foram avisados com grande antecedência de que teriam de abandonar seus pontos. Ele lembra que tudo começou há três anos, quando as lojas que iam sendo desocupadas ficavam vazias, sem receber novos inquilinos.
“Tinha uma placa na frente dizendo que o local ia ser alugado, mas os proprietários estavam fazendo exatamente o contrário”, reclama. Logo, o esvaziamento gradativo começou a incomodar. Quanto menos lojas alugadas, menor a movimentação do espaço.
Para o proprietário da loja Delícias do Mundo, Mauricio Gonçalves, a saída do Hortomercado acabou sendo uma benção. Depois de 30 anos vendendo no local, ele foi um dos últimos a sair em agosto.
“Já eram poucas pessoas freqüentando e as vendas ficaram muito ruins”. Com a indenização recebida, ele montou uma loja na rua Benjamin Constant, nº 761. “Estamos muito bem e os clientes são os mesmos”, garante.
Mas a freqüentadora de anos do local, Maria Helena Preis, diz que o atrativo do Hortomercado era encontrar tudo no mesmo lugar. “Era um espetáculo”, resume. Hoje ela está muito decepcionada com o fechamento dos estabelecimentos. “Cada vez que venho tem menos lojas, é uma pena”.
Fim de uma tradição
A parte interna do galpão está em fase avançada de desmanche.
O Hortomercado abriu as portas em 1975, e tinha como principal atrativo o supermercado de produtos básicos Cobal. O galpão ainda comportava diversas lojas que complementavam as necessidades dos clientes, e por isso passou a ser muito freqüentado.
No início da década de 1990, o supermercado fechou e por cinco anos as pequenas lojas sobreviveram sozinhas. Depois desse período, a rede de supermercados Rissul ocupou o espaço por quatro anos.
Nestes áureos tempos, o hortomercado ganhou status de centro gastronômico e oferecia, além das lojas de frutas e verduras, também restaurante, bar, floricultura, peixaria e queijaria. Com o fechamento do Rissul, as lojas ficaram isoladas novamente.
Para Chies, este fator não é determinante para a sobrevivência dos estabelecimentos. Ele sonha com a continuidade do Hortomercado com características semelhantes ao centro de compras mais tradicional de Porto Alegre.
“Se a Prefeitura comprasse esse galpão, não precisaria investir nas lojas e teria um segundo Mercado Público”, acredita. Assim, o ponto seria incorporado à memória da cidade e não destruído. “Não sabemos nem porque o prédio está sendo vendido”, lamenta.
Assim, o grande terreno na Quintino Bocaiúva, entre Marquês do Pombal e Cristóvão Colombo deve mesmo dar lugar a um novo empreendimento no bairro. -
Condomínio no Morro São Pedro gera polêmica
Carla Ruas
O Conselho do Plano Diretor aprovou em sua reunião semanal, nesta terça-feira 29, a construção de um condomínio na Estrada das Quirinas, no Morro São Pedro. O fato gerou uma discussão forte entre os participantes do encontro.
A votação a favor do Estudo de Viabilidade Urbanística do projeto gerou controvérsia, porque a área é uma das que apresenta o ambiente natural mais conservado na cidade. A questão estava tramitando há quatro meses no principal fórum de discussões sobre o planejamento de Porto Alegre.
Durante este período, o projeto foi avaliado por representantes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM), pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Compach) e por conselheiros das regiões Centro e Restinga/Extremo Sul.
O presidente do Conselho do Plano Diretor, Romano Botin, pressionou para que a decisão não fosse mais adiada. “Este processo está sendo discutido desde abril, está na hora de votar”, definiu. O conselheiro Eduíno de Mattos, que representa a ONG Solidariedade, contestou a proposta.
Mas teve que aceitar o pleito. Ele votou contra, porque entende que ainda é necessário discutir o caso, especialmente com a Smam. “É a primeira construção que atinge o Morro do São Pedro. Devemos ter muito cuidado, pois essa permissão abre um precedente para outras edificações no local”, alertou.
Entre as questões levantadas por Eduíno, está o destino do esgoto sanitário gerado pelas futuras residências. “Se não houver cuidado, isso pode ir parar no Arroio Lami, que deságua no meio da reserva ecológica”. Ele também denunciou que algumas unidades do condomínio estão projetadas para a área de preservação do Morro.
Representantes da Prefeitura presentes ao debate defenderam o encaminhamento do processo, argumentando que os técnicos da Smam realizaram uma extensa pesquisa no local. Após diversas manifestações, a favor e contra, o projeto foi aprovado por 16 votos contra 4, e 3 abstenções.
O Morro São Pedro tem cerca mil hectares de florestas e serve de habitat para diversas espécies como pica-pau do campo, perdiz, sabiá, corruíra, gaviões e o bugio-ruivo, ameaçado de extinção. O local está localizado ao lado da Reserva Biológica do Lami.
A área verde divide as águas de duas das maiores microbacias do município: a bacia do Arroio do Salso, que corta o bairro da Restinga e deságua na Ponta Grossa; e a bacia do Arroio Lami, que contribui com suas águas para o sistema de banhados da Reserva Biológica do Lami.
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Criadora da Daspu terá biografia
Em 2005, Gabriela lançou grife de roupas desenhadas por prostitutas | Fotos: Carlos Matsubara/JÁ) Carlos Matsubara, de Brasília, especial para o JÁ
A criadora da marca Daspu, Gabriela Leite, 55 anos, terá sua vida contada em livro. No sábado, 5 de agosto, ela revelou, em entrevista exclusiva ao JÁ, que assinou um contrato na última quinta-feira com a Editora Objetiva para lançar sua biografia em fevereiro de 2007.
A conversa foi no BSB Mix, evento de moda alternativa, em Brasília.
Lá a Daspu realizou um desfile que teve grande sucesso, como vem ocorrendo com a grife de roupas desenhadas por prostitutas da ONG Davida desde que foi lançada por Gabriela em 2005, no Rio de Janeiro. Desta vez, os aplausos vieram da high society, num dos lugares mais chiques e badalados da cidade, o Pontão do Lago Sul.A entrada das prostitutas no mundinho fashion foi uma iniciativa de Gabriela que de tanto ouvir o velho chavão “vestida como uma puta” pensou criar uma linha de vestuário completa. Há desde roupas “de batalha” até as de ativismo (direitos humanos, prevenção a AIDS e DSTs). “Na verdade sempre produzimos moda. Agora estamos nos apropriando de nossas competências também nessa área”, entende Gabriela.
Ela nasceu no bairro Vila Mariana, em São Paulo. Chegou a cursar Sociologia por dois anos na Universidade de São Paulo (USP). “Entrei virgem na USP e saí puta”, lembra, repudiando qualquer outra designação para seu ofício. Odeia ser politicamente correta. “Os hipócritas tentam fazer desses nomes, como ‘garota de programa’. Isso eu não aceito”, critica.
Voltando a USP. Eram os tempos da ditadura e o curso de Sociologia se dividia em duas turmas: os guerrilheiros propriamente ditos e os da contra-cultura. Gabriela se encaixou no segundo. Freqüentava mais os bares do Redondo do que a sala de aula. Assim conheceu “gente da pesada”, como o escritor maldito dos temas malditos, Plínio Marcos e o diretor de teatro Zé Celso Martinez.
“O Redondo era um lugar que todo mundo freqüentava. Só que eu comecei a me cansar dessa coisa de revolução de botequim”, conta. Perto dali também tinha uma boate de prostituição, a La Licorne, muito famosa na época. Muitas vezes as meninas que trabalhavam por ali eram motivos dos papos-cabeça do botequim. “Foi então que pensei pela primeira vez em ir pra prostituição”, lembra.
Gabriela estava cansada de trabalhar durante o dia e estudar a noite. Já tinha pego o gostinho da vida boêmia e descobriu que era isso que queria fazer da vida. “Não agüentava mais bater cartão e eu adorava a noite”.
Boca do Lixo
Com 22 anos e desempregada, parou num botequim para tomar uma cerveja e conheceu um cafetão que lhe apresentou a dona de um apartamento de prostituição na Boca do Lixo paulistana. “As grandes coisas da minha vida sempre acontecem em botequins, sempre. Ou porque eu freqüento demais ou porque eu tenho uma transa com botequim”.
A entrada de Gabriela no ativismo aconteceu graças ao sumiço de duas colegas. Com o tempo suas amizades passaram a ser as amizades da prostituição. “Era uma maravilha, prostitutas, malandros, cafetinas, garçons… Adorava essa minha vida social, ali no meio da minha marginalia”.
Ia tudo muito tranqüilo, até que em 1979 um delegado linha-dura resolveu prender e torturar as prostitutas e travestis da Boca do Lixo. Duas colegas desapareceram, uma delas grávida, foi torturada e morta. “Tudo isso estava acontecendo e a sociedade não sabia de nada. Foi quando voltei a pensar a Sociedade”.
Organizou uma passeata que foi um escândalo e retomou a amizade com os amigos do teatro. Os primeiros a apoiar foram os artistas alternativos. “A Ruth Escobar, que nem era do nosso grupo, era do teatro tradicional e ainda não era política, tinha um teatro na Rua dos Ingleses e ofereceu para a gente fazer uma assembléia”, recorda. A repercussão foi tanta que o delegado foi afastado pelo secretário de Segurança e tudo voltou ao normal.
Foram muitos anos na Boca do Lixo, até que Gabriela resolveu pegar a estrada. Literalmente. De carona em carona, sempre se prostituindo, ela percorreu vários Estados do país. Assim, diz ela, conheceu todos as faces da profissão.
“Me senti a própria Hilda Furação”
Morou um ano em Belo Horizonte e adorou a cidade. Na zona boemia de lá, sentiu-se a própria Hilda Furacão. “Ganhei muito dinheiro em BH”. Mas em 1982, depois de passar um final de semana no Rio de Janeiro, se encantou e ficou de vez. Foi morar na Vila Mimosa e virou Estácio de Sá desde criancinha.
“Lembro que foi morando na Vila Mimosa que conheci a Benedita da Silva, recém-eleita como vereadora. Ela foi um dia na zona nos convidar para um primeiro encontro de mulheres de favela e periferia”, conta. Foi a primeira vez que Gabriela falou em público. Logo ela, que se diz uma “tímida de carteirinha”.
Já em 1997 organizou o I Encontro Nacional das Prostitutas com o apoio financeiro do Instituto de Ensino da Religião (Iser) e de alguns profissionais da mídia carioca. “Fui de zona em zona buscar participação das colegas”, recorda. Disso surgiu a Rede Nacional das Prostitutas, uma articulação de 30 associações de todo o Brasil.
Após o rompimento com o Iser no ano seguinte, fundou a ONG Davida em parceria com o jornalista Flávio Lenz, editor do jornal Beijo da Rua e seu companheiro até hoje. “Agora é fácil falar, mas foi muito complicado, quem nos financiava, não quis mais financiar e o Flávio foi chamado até de cafetão”.
Com pouco dinheiro que tinha resolveu montar um restaurante e um pagode no Estácio para ajudar nas finanças da ONG. Foi o maior sucesso, o nome era Pagode da Vida. “Minha pescadinha da quarta-feira era famosíssima”.
Hoje a Davida trabalha forte na questão da Aids participando dos fóruns estadual do Rio de Janeiro e da articulação nacional. “A gente interfere nas políticas públicas das prostitutas lá do Ministério da Saúde”.
Daspu X Daslu
A grande cartada da ONG ainda estava por vir. Em julho do ano passado, durante uma festa de aniversário da Davida, novamente em um botequim, um dos funcionários teve um insight. “Sílvio sacou que o nome Daslu estava na mídia [na época, a dona Eliane Tranchesi havia sido presa acusada de lavagem de dinheiro] e todo mundo adorou”.
Com quase tudo pronto para lançar a coleção, uma notinha no Elio Gaspari dizendo que as prostitutas da Tiradentes estavam fundando uma grife chamada Daspu alertou a direção da loja paulistana.
Na mesma semana as prostitutas receberam uma notificação extrajudicial dizendo que não podiam usar o nome Daspu, argumentando que estávamos prejudicando a imagem da loja. “Só os nomes dos advogados ocuparam uma página inteira”, recorda, acendendo mais um cigarro, o quarto em pouco mais de meia-hora de conversa.
Passado o susto, resolveram registrar a marca e deu tudo certo. Tão certo quanto sua estréia no Fashion Rio, pelo estande do Sebrae, quando fizeram um desfile mais concorrido que o da Gisele Bündchen. “Já temos outros desfiles agendados, fizemos uma parceria com o Instituto Zuzu Angel para ajudar nessa coisa de estilo”.
De uma coisa a Daspu não abre mão. Quer garantir que suas prostitutas estejam sempre desfilando. “Queremos um novo conceito de mulher”. Uma de suas novas camisas traz a frase: moda é pra mudar.
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Polêmica do eucalipto chega ao teatro
Patrícia Benvenuti
A polêmica envolvendo o plantio de eucaliptos, a instalação de fábricas de celulose no Estado e a destruição do horto florestal e de um laboratório da Aracruz em Barra do Ribeiro pela Via Campesina, em março deste ano, alcançou o teatro.
O assunto virou tema da intervenção de rua “As Lágrimas da Aracruz”, do grupo de teatro Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, que será apresentada no domingo, 30 de julho, às 15h, no estacionamento da Usina do Gasômetro, com entrada franca.
A idéia surgiu durante a oficina de teatro livre do grupo, permanentemente aberta. “Vínhamos pensando no que fazer, e aconteceu esse episódio. Houve uma discussão e decidimos trabalhar o assunto”, conta Carla Moura que, ao lado de Sandro Marques, coordena a intervenção da oficina.
Carla explica que a motivação é “recontar” essa história, bem como mostrar a parcialidade da chamada “grande mídia”. A artista entende que a cobertura dos meios de comunicação foi injusta, mostrando apenas um dos lados e criminalizando as integrantes do movimento. “Não houve espaço para as mulheres se manifestarem. A mídia só privilegiou a Aracruz”, condena.
O episódio, acredita Carla, veio ao encontro de discussões já travadas pelo grupo em seus 28 anos, como a presença de multinacionais em solo brasileiro, concentração de terras, reforma agrária e conflitos envolvendo indígenas.
“Sabemos do problema das multinacionais, que vem sanguessugar nossos recursos. Essas fábricas nem podem mais ficar na Europa por causa dos problemas ambientais, e vêm para cá por causa dos incentivos e da mão-de-obra barata, quase de graça”, dispara.
O que menos preocupa o Oi Nóis Aqui Traveiz é ser tachado de ideológico. Carla revela que o grupo é parceiro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) desde o início, pois partilham pensamentos semelhantes.
Atores ministram oficinas em assentamentos e assentados vêm à Capital participar de projetos do grupo. A intervenção sobre a Aracruz já foi apresentada no assentamento Filhos de Sepé, na localidade de Águas Claras, em Viamão.
“O grupo não tem medo de colocar suas ideologias, sempre foi assim. Temos orgulho de ter o MST como parceiro e de construir muita coisa junto”, garante Carla. Ela conta que a intenção é discutir injustiças sociais, tendo a arte como ferramenta. “A função do teatro é colocar o social de forma poética. Tudo dentro de um mundo de cores, pernas de pau, música, bonecos”.
A intervenção dura cerca de 30 minutos, basicamente em cenas de coro. Participam de 25 a 45 pessoas, que interpretam personagens, monstros e até encenam reverências a um pé de eucalipto.
O manifesto escrito pelas campesinas em março é lido e distribuído ao final da apresentação, o que deixa os trabalhos didáticos e esclarecedores, na opinião de Carla. “Às vezes, percebemos só pelo olhar das pessoas que a intervenção chamou a atenção delas. Depois de assistir, muita gente passa a se dar conta ou descobrir coisas que não sabia”, afirma.
Confira a agenda cultural do fim de semana
Festas
Sheraton Private Party
Gastronomia e música de alta qualidade para finalizar o mês com chave de ouro em uma festa animada e elegante. Assim é a Sheraton Private Party, que agita a noite gaúcha no último sábado de cada mês. A 4ª edição do ano, inicia com jantar à luz de velas no restaurante Clos de Moulin com um cardápio à la carte preparado pelo chef Mauro de Souza. O local oferece, além de charme e visão privilegiada da cidade, a facilidade e segurança de estacionamento dentro do Shopping Moinhos.
Quando: Dia 29 de julho, sábado, a partir das 20h30min (com jantar) e 23h (sem jantar)
Onde: Restaurante Clos du Moulin, no Sheraton Porto Alegre Hotel (Rua Olavo Barreto Viana, 18)
Quanto: R$ 68,00 (inclui jantar, serviço e estacionamento) e R$ 25,00 (sem jantar) + 10%
Música
The Ruas
Rock contemporâneo, interpretado por Carol Cortes (vocal e guitarra), Marcia Briones (baixo), Letícia Rigatti (guitarra solo) e Gabriella Machado (bateria). Rock de verdade.
Quando: sexta-feira, 28 de julho, 22h30
Onde: Bar Guanabara. João Pessoa, 1355
Quanto: entrada franca
3/quatro
A música instrumental de Jua Ferreira (bateria), Ita (baixo) e Zé Porzio (piano). No repertório música instrumental brasileira, com Djavam, Hermeto Pascoal, Tom Jobim, Edu Lobo, João Donato entre outros.
Quando: sextas e sábados, às 22h
Onde: Cidade Bossa (Otávio Corrêa, 35)
Quanto: R$ 7,00
Massa Tanibe
Masao Tanibe nasceu em 1974, em Nagoya (Japão), e começou a estudar músicas aos quatro anos de idade. Teve suas primeiras lições de violão no Japão. Estudou na Alemanha, com Roberto Aussel, na Universidade de Música de Colônia. Em 2004, graduou-se nesta universidade com grau máximo e recebeu uma bolsa de estudos para a Rohm Music Foundation.
Quando: sábado, 29 de julho, às 18h30min
Onde: Sala Multiuso do Santander Cultural
Quanto: R$ 10,00
Nicolas Krassik
Violinista de formação erudita voltado para o jazz, Krassik busca constantemente novas sonoridades para compor seu trabalho. Freqüentador de rodas de choro no Rio de Janeiro, faz parcerias em shows e estúdio com Yamandú Costa, Carlos Malta, Beth Carvalho, Marisa Monte, Velha Guarda da Portela, João Bosco, Hamilton de Holanda e Daniela Spielmann.
Quando: domingo, dia 23 de julho, às 17h
Onde: Átrio do Santander Cultural
Quanto: Entrada franca
Concertos CEEE
A Orquestra de Câmara Theatro São Pedro recebe o compositor Gelson Oliveira e a cantora Lucia Helena. Arranjos de Vagner Cunha. Regência de Antônio Carlos Borges Cunha.
Quando: domingo, 30, às 11h
Onde: Theatro São Pedro
Quanto: O ingresso é um quilo de alimento não perecível.
Quinta Quintana na Dança
Concerto de lançamento do Projeto Quinta Quintana na Dança que vem somar-se às comemorações do centenário do escritor Mario Quintana.
Quando: domingo, 30 de julho, às 11h
Onde: Travessa dos Cataventos da Casa de Cultura Mario Quintana
Quanto: Entrada franca
Audiovisual
Mostra Cinema e Futebol
Partindo do lendário jogo com a bola, os filmes abordam, entre outras coisas, temas como o espírito de equipe, a cultura das torcidas, família, religião e diferenças culturais. Crianças de rua em Honduras, garotas turcas em Berlim ou monges tibetanos: todos nos fazem compartilhar do seu entusiasmo e descobrir interesses comuns que desconhecem fronteiras.
Quando: Sexta-feira, sábado e domingo (15:30; 18:30 e 22h)
Onde: Sala P.F. Gastal (Usina do Gasômetro)
Quanto: Entrada franca
Mostra Especial Catherine Deneuve
Preparada especialmente para celebrar o talento da grande atriz francesa, reúne 12 filmes excelentes e carentes de uma revisão, dos anos 60 até a atualidade. Ganhadora de dois Césars mais oito indicações, premiada em Veneza e Berlim, a diva teve o prazer de trabalhar mais de uma vez com notáveis diretores como Manoel de Oliveira (três filmes), François Truffaut (dois), André Téchiné (quatro) e com outros que não estão na Mostra Especial como Raoul Ruiz, Luis Buñuel e Jacques Demy.
Dos filmes que surgiram dessas parcerias, exibiremos Vou para casa e Um filme falado (Oliveira), A sereia do Mississipi e O último metrô (Truffaut) e O local do crime e Minha estação favorita (Téchiné). Este último marca a estréia de Chiara Mastroianni, sua filha com o não menos grande ator italiano.
Quando: até 31 de julho, em sessões às 15h, 17h e 19h
Onde: Cine Santander Cultural
Quanto: R$ 6,00 e meia entrada para estudantes e clientes do banco
A Mochila do Mascate
Do renascimento do teatro no Pós-guerra na Itália ao teatro político dos anos da ditadura no Brasil, Gianni Ratto participou de forma substancial de movimentos que marcaram o curso da história em ambos os países.
A Mochila do Mascate – Gianni Ratto é uma viagem pela vida e obra deste cenógrafo e diretor teatral que radicou-se no Brasil em 1954. Italiano de nascimento e formação, Ratto é hoje também um precioso patrimônio cultural do Brasil. Sem jamais abandonar sua raiz clássica, revolucionou esteticamente a grande cenografia nos teatros lírico e dramático, para depois despir-se dela e ir em busca da essência da linguagem cênica.
É o ancião que carrega em suas palavras a carpintaria do tempo, e o subversivo, que provoca reflexões e rompe com padrões esgotados de pensamento. A Mochila do Mascate- Gianni Ratto conta ainda com depoimentos de Dario Fo, Fernanda Montenegro, Millôr Fernandes e Maria Della Costa, entre outros personagens importantes da história do teatro brasileiro e italiano.
É no entanto a voz de Ratto que costura a trama, revelando suas idéias sobre teatro e vida sob a perspectiva humanista, traço principal de toda a sua obra.
Quando: sexta-feira, sábado e domingo, em quatro sessões diárias: 17:00 e 20:30
Onde: Sala P. F. Gastal (Usina do Gasômetro)
Quanto: R$ 6,00 (meia entrada para estudantes e municipários)
Artes Cênicas
Sobre Anjos e Grilos
E os grilos?/ Não estão ouvindo, lá fora, os grilos?/ Sim, os grilos…/ Os grilos são os poetas mortos. (Mário Quintana). A temporada do espetáculo sobre a obra do poeta gaúcha se estendeu, graças ao sucesso de público e crítica. Deborah Finocchiaro é dirigida por Jessé Oliveira, num cenário com imagens Zorávia Bettiol e trilha sonora de Chico Ferreti.
Quando: Sexta, sábado e domingo (28, 29, 30), às 19h
Onde: Teatro Bruno Kiefer, na CCMQ (Andradas, 736)
Quanto: R$ 15,00 (domingo haverá sessão gratuita e as senhas devem ser retiradas no sábado, entre 12h e 18h30, na CCMQ).
Blitz
O grupo Depósito de Teatro apresenta a história que conta o drama de uma mulher que deseja separar-se do marido, policial militar acusado de matar um garoto de doze anos durante uma blitz realizada em um colégio.
Quando: Sexta-feira, 28, às 21h
Onde: Sala 309 da Usina do Gasômetro
Quanto: Entrada franca
Friziléia
A comédia, estrelada por Elizabeth Savala, faz um bem-humorado retrato da dona-de-casa moderna. Escrito por Camilo Áttila, o monólogo fala de uma mulher comum, que casou por pressão da sociedade e virou mais uma “operária do lar”, uma mulher comum, dessas que a gente vê por aí com balde e pano-de-chão nas mãos.
Com direção de Luiz Arthur Nunes, a atriz Elizabeth Savalla ganha o público já nos dez primeiros minutos de peça ao ouvi-la reclamar da vida de mãe e esposa e da fase calorenta de pré-menopausa. Friziléia pode ser vista como uma nova versão da “Amélia”, do cancioneiro popular, uma mulher que abriu mão de sonhos, sufocou vocações, reprimiu desejos para suprir as necessidades de sua prole, seu companheiro e sua família.
Quando: Sexta e sábado, (28 e 29), às 21h e domingo (30), às 18h
Onde: Theatro São Pedro
Infantil
Pé de Pilão
Teatro de fantoches do livro Pé de Pilão, de Mario Quintana. Escrito todo em versos, na montagem as rimas ganham vida na voz da avó Alice, narradora da peça, que não poupa fantasia para transmitir nas entrelinhas a mágica desta história. Realização do Grupo Quintoches. Direção de Elena Quintana.
Quando: até 25 de julho, às 16h
Onde: Sala Lili Inventa o Mundo – 5° andar da CCMQ
Quanto: R$ 10,00
Artes Plásticas
Por um fio
A exposição de bonecos de Elton Manganelli, aberta no último dia 29mostra sete casais de bonecos suspensos criados a partir de diversos materiais. Para estruturar as peças, o artista modela mãos e pés em epóxi. O rosto é preenchido com massa plástica / automotiva, em fôrma feita com molde em argila.
O corpo é esculpido com espuma plástica para dar leveza. As roupas são feitas com tecidos que vão do rústico ao sofisticado. Detalhes e arremates levam fios, botões, pedras e cristais, tudo o que é necessário para o acabamento de cada boneco
Quando: até 29 de julho
Onde: Café Atelier do Páteo (Dinarte Ribeiro, 17)
Quanto: Entrada franca
Mostra de Arte Tronco e Senzala
Promovida pela Fundação Moab Caldas de Umbanda e Africanismo, apresenta trabalhos de Artes Plásticas, Literatura, Música, Escultura, Teatro, Fotografia e Dança, relacionados ao tema Liberdade. O evento tem o apoio das secretarias municipais da Cultura e da Indústria e Comércio.
Quando: até 31 de julho
Onde: Quadrante 4 do Mercado Público Central
Quanto: Entrada franca
Mostra Fotográfica
Fotografias de Wilson Maccagnan. Membro da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, Maccagnan é um especialista em fotografar pessoas. O artista inova colocando elementos das artes plásticas junto às fotografias.
Quando: até 31 de julho
Onde: No Quinta Avenida Center (Av. 24 de outubro, 111)
Quanto: Entrada gratuita
O Mundo Maravilhoso de Adão Iturrusgarai
Tiras e histórias em quadrinhos antigas, tiras mais novas, e desenhos feitos na infância, em papel oficio, coloridos a lápis.
Tudo isso estará na mostra retrospectiva da carreira do artista, que traz ainda o processo desde o rabisco até a colorização no computador pro público entender como funciona o trabalho do artista.
Adão promete revirar o baú de originais antigos, do tempo em que ainda se fazia desenhos no papel.
Quando: até 13 de agosto de 2006 (terça a sábado, das 13h30 às 18h30min e domingo das 14h às 18h30)
Onde: Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230)
Quanto: Entrada Franca
Paisagem Submersa
Na instalação que compõe sua individual, Maia Mena Barreto recria um universo de formas e cores que remetem às imagens submarinas. Por meio de esculturas em terracota ou em técnica mista (resina de poliéster e chapa de acrílico), e de uma iluminação específica para o espaço, Maia pretende criar um cenário onírico.
Quando: até 6 de agosto
Onde: Salas Negras do MARGS
Quanto: Entrada franca
101 Desenhos – Cadernos de anotações
Conhecido por sua cerâmica e pelo intenso colorido, esta é a primeira vez que Rodrigo Núñez mostra desenhos em pequenos formatos, realizados em cadernos de anotações à caneta e lápis. Para ele o desenho é sempre o ponto de partida para qualquer trabalho, no entanto não devem ser vistos como esboços, pois é como se estes estivessem intrinsecamente inseridos.
Quando: Até dia 30 de julho
Onde: Microgaleria Arte Acessível do StudioClio (José do Patrocínio, 698)
Quanto: Entrada franca
Cortizza
O artista Felipe Yung fez seu nome nas ruas, onde é mais conhecido como “Flip”. Mestre dos sprays e canetões, ele bombardeou São Paulo por anos, aperfeiçoando sua caligrafia nos muros da cidade, como reza a tradição do graffiti.
Mas Flip também foi um dos pioneiros no Brasil a quebrar essa tradição e pintar personagens soltos pela metrópole, seres gigantescos ou pequenos e numerosos, geralmente com cores chamativas e muita tinta escorrida, antes ainda desta estética virar moda. Para CORTIZZA na Galeria Adesivo, sua primeira exposição em Porto Alegre, Flip vai experimentar um material incomum: a cortiça.
Essa casca de árvore, assim como seus derivados, por suas propriedades, é aplicada desde em coletes salva-vida e quadro de recados, até em rolhas de vinho. A idéia veio de um antigo caderno de desenhos, com capa de cortiça, e pelo material ser um meio-termo entre a madeira e o papel (dois suportes que ele costuma utilizar), Flip vai explorar a cortiça como suporte e textura para suas pinturas, aproveitar suas propriedades para produzir art toys e até desenhar com rolhas queimadas.
As obras estarão integradas a um grande mural pintado diretamente nas paredes da galeria.
Quando: até 2 de setembro, de segunda a sábado, das 13h às 18h
Onde: Galeria Adesivo (Rua Lopo Gonçalves, 382)
Quanto: entrada franca
Outros
5º PASSEIO NOTURNO NRF 2006
Quem quiser fazer um programa saudável na madrugada do último sábado do mês, é só se juntar a nós. O pessoal da Bike e do Skate também estão convidados. E com mais de 100 pessoas patinando neste sábado, com certeza seremos maioria na hora de divulgar a patinação gaúcha e projetá-la pro resto do país. E não esqueça: traga 1kg de alimento não perecível para doarmos à entidade carente de Viamão/RS (Lar de Idosos Santa Clara)
Quando: sábado, 29, às 22h30
Onde: Estacionamento do ECOPOSTO (Av. IPIRANGA), esquina com a Érico Verissimo
Quanto: 1kg de alimento
A cozinha do samurai
Clio à mesa apresenta A cozinha do samurai, banquete cultural sobre a culinária e cultura japonesas, com o conferencista Paulo Gick e cardápio concebido pela chef de cuisine Ana Paula Pesavento.
Quando: sábado, 29, às 19h30
Onde: Studio Clio (José do Patrocínio, 698)
Quanto: R$ 60,00
Festa Colonial de Canela
As principais atrações serão as cucas com frutas tradicionais da região, pães de aipim, ilhame, batata doce, para não falar no tradicional pão de milho e sovado. No setor de cozinhas a comida estilo campeiro deverá ser uma das inovações.
A Festa Colonial 2006 contará com cinco tendas de lanches, três restaurantes, um espaço para o típico café da colônia além de três casas temáticas coordenadas por alunos da rede municipal de ensino, artesãos e os próprios colonos.
Quando: De 21 de julho a 06 de agosto
Onde: Na Praça João Corrêa e em algumas localidades do interior, como São João, Canastra, São Paulo, Morro Calçado, Saiqui, Banhado Grande e Tubiana.
Tablado Andaluz
O Tablado Andaluz oferece programação especial no final de semana. Sexta-feira e sábado, entre 20h e 24h, acontece a Peña Flamenca, com apresentação de dança flamenca às 22h. A especialidade da noite é o Buffet de Paella (R$ 20,00) e Tapas à la carte. O couvert artístico sai R$ 10,00, mas para quem aprecia o buffet, o valor é R$ 5,00. No domingo, entre 11h e 15h30, almoço típico, sem cobrança de couvert.
Quando: sexta-feira, sábado e domingo
Onde: Tablado Andaluz (Av Osvaldo Aranha, 476)
Reservas e informações: 3311.0336 e 3024.5229 -
Saem de cena as últimas empreiteiras da usina eólica
Subestação elétrica-central de controle do Parque Eólico de Osório (Foto Geraldo Hasse/JÁ)
Geraldo Hasse, exclusivo para o JÁ
Com a iminente conclusão do Parque Eólico de Osório, a antepenúltima prestadora de serviços a deixar o canteiro de obras é a J. C. Construções Elétricas Ltda, uma das poucas firmas de Osório a participar da implantação da usina que marca o início da revolução eólica em andamento no Rio Grande do Sul.
Fundada há 20 anos pelo engenheiro eletricista José Carlos Araújo, ex-funcionário da CEEE e um dos pioneiros na busca por energias alternativas no Rio Grande do Sul, a J. C. sai de cena satisfeita: “Valeu pelo desafio, pela experiência e pela abertura para participar de novos empreendimentos na produção de energia eólica”, diz o técnico eletricista e administrador Elsom Witt Venturini, um dos sócios-diretores da empresa.
Vencedora de uma licitação que atraiu outras seis empresas de fora, a J. C. foi contratada para implantar toda a rede elétrica subterrânea que liga os cata-ventos à subestação-central de controle – um trabalho complexo que exigiu dedicação exclusiva de um grupo de 16 funcionários liderados pelo engenheiro Ronaldo Machado Horn. Para cumprir seu contrato, a J.C. dependeu basicamente de três fornecedores que, além de material, lhe ofereceram treinamento: Phelps Dodge Brasil (cabos), Erico do Brasil (soldas isotérmicas) e Ormazabal (quadros de comando).
A missão começou pelo aterramento das bases das torres. Para isso a J. C. teve de acompanhar passo a passo o trabalho dos operários da Archel Engenharia, responsável pela armação de ferro e a concretagem das bases. À medida que se realizava a armação, os técnicos da J. C. instalavam os cabos de cobre indispensáveis para isolar as bases do perigo de descargas elétricas naturais (raios). A proteção dos aerogeradores contra os raios ficou por conta da Wobben Windpower, dona da tecnologia de geração eólica, que não libera para ninguém as chaves das portas das torres.
A parte mais pesada da tarefa da J. C. era fazer a ligação elétrica entre os transformadores – situados na base das torres – e a central de controle. São três cabos elétricos enterrados a um metro de profundidade. Um pouco acima, no mesmo valo, foi estendido o cabo de fibra óptica que serve para a transmissão de dados.
Apenas num trecho do Parque Eólico foi construída uma rede aérea – no Parque dos Índios, onde estão os cata-ventos mais distantes da central de controle. Mais barata do que a subterrânea, a rede aérea foi a solução encontrada pela Ventos do Sul para transpor o duto da Petrobras que transporta petróleo de Tramandaí para a Refinaria Alberto Pasqualini em Canoas. Implantado na década de 1960, o oleoduto está sendo reformado para atender à ampliação da capacidade da refinaria.
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A desigualdade como motor da violência
Carolina Freitas, especial para o JÁ
O economista e pesquisador da Universidade de Campinas, Ricardo Amorim, mapeou o Brasil no Atlas da Exclusão Social. O estudo mostra a desigualdade das grandes – e mais ricas – cidades brasileiras. Os indicadores utilizados para a medição do índice de exclusão são pobreza, violência, escolaridade, alfabetização, desigualdade social, emprego formal e concentração de jovens. São Paulo é um dos locais que apresenta o maior abismo social entre ricos e pobres. “Nas periferias das grandes cidades, a violência é proporcional à pobreza”, observa Amorim.
O processo de desigualdade social como motor da violência se repete no Rio de Janeiro, confirma a antropóloga Alba Zaluar, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e uma das mais experientes estudiosas da violência urbana no país. Ela entende que a concentração populacional e a falta de infra-estrutura urbana são fatores que aumentam a tensão na Região Sudeste.
“As duas maiores metrópoles brasileiras partilharam, nas últimas décadas, os efeitos acumulados de uma urbanização desordenada, fruto de ondas desenvolvimentistas intermitentes, aliadas a uma política urbana inexistente ou insuficiente”, observa Alba, em seu artigo ‘Violência: pobreza ou fraqueza institucional?’.
O economista Ricardo Amorim acrescenta que o choque entre as classes sociais gera indignação, cobiça e, em última instância, a violência, traduzida em roubos, assaltos, homicídios e no crime organizado. “A sociedade nasce de direitos econômicos, então, quem tem dinheiro, tem cidadania”, explica.
O estudante universitário Robson Melo, 23, morador da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, sente na pele essa lógica. “Sinto-me excluído diariamente. Mesmo fazendo uma faculdade e circulando em outras camadas sociais, sei que só circulo”, desabafa Robson. “Não consigo comprar os livros pedidos pelos professores, não tive a educação dos meus colegas, não sei outro idioma além do meu fraco português. Tudo faz parte de um mesmo jogo. Para que possa existir o rico, tem que existir o pobre. Sem um deles, não é mais possível tal distinção”, conclui.
Robson participa do conselho gestor da Associação Cultura, Arte e Comunicação Comunitária. A instituição oferece cursos ligados à mídia e cultura e abriga um cyber café. A equipe acredita na auto-gestão e na auto-sustentação como formas de promover o desenvolvimento local na maior favela da América Latina.
Ouvir a voz da comunidade é um bom começo para começar a diminuir a exclusão social. Mas, com o abismo social e cultural, não é tão simples reverter o quadro. O pesquisador Ricardo Amorim participou de projetos comunitários da prefeitura de São Paulo em locais violentos, como o Jardim Ângela, na Zona Sul da cidade. O programa esbarrou na desconfiança dos moradores. “Precisamos terminar com essa falsa integração social, impondo às comunidades a nossa visão de como os problemas devem ser enfrentados. Eles têm outros valores, que precisamos respeitar”, adverte Amorim. -
Menores buscam sustento nas ruas
Carla Ruas
Crianças, jovens e adultos pedem dinheiro, roupas e comida nas calçadas do Bom Fim todos os dias. Entre os freqüentadores da rua, alguns são sem-teto, outros vêm de regiões distantes para passar o dia. Todos dependem da caridade alheia.
O bairro, cada vez mais uma extensão do Centro, é um local visado em função do constante movimento de pedestres e carros. Ponto emblemático é o trecho da rua Fernandes Vieira, entre Hernique Dias e Vasco da Gama.
Por ali, dezenas de pessoas se acomodam na tarde-noite, buscando a sobrevivência. Abordam donos de automóveis estacionados ou retidos no semáforo e transeuntes, especialmente os que vão fazer compras no supermercado Zaffari.
A maioria é menor de idade. Caso dos garotos E. e L., que moram na Vila Pedreira, no Morro Santana. Ambos com 15 anos tentam a vida como guardadores de carros. “Fico cuidando e ganho 1 real ou 50 centavos de cada motorista”, diz E. O amigo L., sempre sorrindo, apesar de não ter os dentes na frente, conta que está na 5ª série, mas que não sabe ler. Está desiludido com a escola.
A jovem G., de 16 anos, vem diariamente de ônibus da Vila Laranjeira, no Morro Santana. Ela mora com a mãe, está matriculada na 5a série do Ensino Fundamental, mas troca a sala de aula pela rua Fernandes Vieira. “Não gosto muito do colégio”, explica. Na calçada, ganha um pouco de dinheiro e mercadorias que leva para casa, e convive com jovens que passam pela mesma realidade.
Entre os adultos conhecidos na área, está Dona Maria, 32 anos. “É aqui que tiro o dinheiro para comer e alimentar minha família”, diz ela, que se desloca do Morro Santa Tereza, muitas vezes com as crianças a tiracolo. “São quatro filhos e não tenho com quem deixar a de dois e a de sete anos”. A mais nova fica brincando dentro de uma caixa de papelão.
Maria explica que ganha mais alimento do que dinheiro no local, como arroz, feijão e leite. “Se eu não vier para cá não tenho como sobreviver”. Ela recebe o benefício do bolsa-família, mas usa o dinheiro (R$100) numa casa que está comprando em uma área invadida. “Quero garantir a minha casinha, depois paro de pedir e procuro um emprego”, sonha.
Resistência de vizinhos e comerciantes
O núcleo de menores e adultos que buscam doações na Fernandes Vieira, no Bom Fim, incomoda comerciantes e vizinhos. O proprietário da fruteira Mãe Preta, Ademir José Siqueira, diz que a situação é constrangedora para quem é abordado. “As pessoas saem das lojas com sacolas e eles vêm para cima”.
A gerente da Padaria Pão Nosso, na Vasco da Gama, acredita que já perdeu clientes que não gostam desta aproximação. Ela reclama de um jovem que fica em frente ao estabelecimento, pedindo dinheiro aos motoristas que estacionam em frente ao seu negócio. O proprietário da Sabra Delicatessen, Marcos Brobacz, reclama da sujeira que fica na calçada. “De manhã sempre tenho que varrer os restos de comida”, diz ele, atribuindo o lixo aos pedintes que consomem alimentos no local.
Paulo Alves, zelador de um prédio da Fernandes Vieira, alega que o grupo senta em frente ao portão, atrapalhando a entrada dos moradores. “O pessoal reclama”, diz. O taxista Udolfo Coste, supervisor do ponto localizado na esquina da Fernandes Vieira com a Henrique Dias ensina que a solução é não fazer doações. “Eles vem para cá porque os moradores sempre dão mercadorias do súper”. A moradora Evanice Pauletti sugere uma mobilização e conscientização de comerciantes e moradores, apostando num mutirão de doações a ser entregue nas vilas de onde vêm os pedintes.
O órgão da Prefeitura responsável por menores nas ruas de Porto Alegre é o Serviço de Educação Social de Rua (Sesrua), ligado à Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Equipes realizam abordagens em locais pré-definidos e nos solicitados por telefone. Na abordagem, o jovem de até 14 anos é aconselhado a ir para o Lar Dom Bosco, que tem oficinas, jogos e educadores.
De 15 a 18 anos, a opção é a Escola de Porto Alegre, que oferece atividades com professores. O órgão mantém fichas com nome, idade, local de moradia e escolaridade dos menores. O banco de dados confirma que boa parte dos menores e adultos que buscam a sobrevivência na rua moram em locais afastados, como Lomba do Pinheiro, Agronomia, e até de Viamão.
“Não podemos tirá-los da rua à força”, diz a gerente do serviço, Isabel Simões da Silva. Ela observa que o trecho do Bom Fim é apenas um espelho do que acontece no resto da cidade. O telefone para solicitação de abordagens do Sesrua é 3221.2024, de segunda a sexta, das 7h às 24h, e sábados, domingos e feriados, das 7h às 19h.
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Jovens querem universidade popular
Carla Ruas
Centenas de jovens da periferia de Porto Alegre e do interior do Estado realizaram manifestações pela democratização da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nesta quinta-feira, 8 de junho.
A principal bandeira do grupo é a ampliação das vagas da UFRGS e a reserva de quotas para indígenas, quilombolas, negros e pobres.
O ato foi organizado pelo grupo Levante Popular da Juventude, formado no final do ano passado por estudantes de escolas públicas e cursinhos populares, além de integrantes da periferia e de movimentos sociais.
Uma das líderes, Cláudia Comatti afirma que a organização nasceu para defender os direitos dos jovens, como o acesso à educação superior, “que é muito restrito no país”.
A maioria dos integrantes da manifestação veio de ônibus de São Leopoldo, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Caxias do Sul, Três Passos e Santo Ângelo. Também participaram jovens dos bairros Restinga, Lomba do Pinheiro e Morro da Cruz.
Pela manhã, o grupo denominado mobilizou cerca de 300 pessoas em uma passeata no Campus do Vale da UFRGS. Os integrantes carregavam faixas e gritavam palavras de ordem como “Universidade! / Pública e Popular!”.
Lá, eles participaram de oficinas de agroecologia, saúde, resistência popular e ações afirmativas, promovidas por estudantes da UFRGS e entidades. Os manifestantes ainda assistiram a uma aula aberta sobre a história da universidade brasileira.
À tarde, os manifestantes se deslocaram de ônibus até o Campus Central da Universidade para entregar uma carta de reivindicações à reitoria. O vice-reitor, Pedro Cezar Dutra Fonseca, recebeu o documento no lugar de José Carlos Hennemann, que está em Brasília. Mas a Reitoria não quis se pronunciar sobre a manifestação.
O documento defende melhorias na educação básica e políticas de acesso e permanência na Universidade. Além disso, pede a valorização da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e o passe livre para estudantes e trabalhadores desempregados.
“Também queremos quotas para os excluídos e uma ampliação das vagas da UFRGS, com unidades no interior do Estado”, afirma a organizadora, Cláudia Comatti. Ela lembra que apenas 9% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos estão na universidade.
Este é o motivo pelo qual Rafael dos Santos, 17 anos, se deslocou do município de Pontão (RS) para participar do dia de manifestações. Ele terminou o ensino médio no ano passado e não conseguiu ingressar na universidade.
Sonha cursar Agronomia.Erida Figueira, 16, diz que gostaria de freqüentar a universidade, mas que não tem como pagar uma particular. Neste ano, teve que interromper o colégio no 3° ano do ensino médio porque não tinha como pagar o material escolar. “Estou trabalhando e depois volto com dinheiro para os livros”.
Segundo o Censo da Educação Superior, realizado pelo Ministério da Educação em 2003, 71,8% das vagas que são oferecidas no ensino superior vêm de instituições privadas. Erida, que estudava na Escola Estadual Paulo Freire, em Caxias do Sul, acredita que deveria existir universidade pública para todos.
“É um direito nosso”, diz. Ela já fez cursos profissionalizantes como de mecânica, computação e de moda, mas só ficará satisfeita quando for uma universitária.
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Pesquisa comprova que RS é rota do tráfico de mulheres
Helen Lopes
Mesmo com indicadores sociais acima da média nacional, o Rio Grande do Sul está na mira do tráfico internacional de seres humanos. Na maioria mulheres adultas e adolescentes entre 12 e 16 anos, elas são aliciadas em pelo menos oito cidades do Estado – Uruguaiana, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Santa Maria, Rio Grande, Itaqui, Erechim e Porto Alegre.
As informações foram divulgadas nesta terça-feira (6/6) e compõem a pesquisa “O Tráfico de Seres Humanos Para Fins de Exploração Sexual no Rio Grande do Sul”, que faz parte do projeto “Medidas contra o Tráfico de Seres Humanos no Brasil”, do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), com apoio do Ministério da Justiça e da Secretaria da Justiça e da Segurança do Rio Grande do Sul.
Em Uruguaiana e Caxias do Sul, entre 1996 e 2004, foram registrados sete inquéritos policiais. Somente em um houve condenação. Nas outras cidades citadas, as ocorrências foram informadas por Organizações Não Governamentais. Na maioria dos casos, as mulheres estão em estado de vulnerabilidade social – baixa escolaridade, estão desempregadas e têm filhos. Elas são enganadas, na maioria das vezes, com propostas de emprego ou por “namorados”, que na verdade são agenciadores. Existem também dificuldade na identificação dos casos, pois quando são descobertos antes do embarque, são registrados como estelionato.
Por fazer fronteira com outros países, o Rio Grande do Sul é alvo dos grupos criminosos. “A existência da trama de operacionalização do crime organizado nas fronteiras potencializa a ocorrência desses delitos”, sustenta a coordenadora da pesquisa, Jacqueline Oliveira Silva, professora de Ciências Sociais da Unisinos. A pesquisa aponta que o tráfico de pessoas pode estar relacionado com o tráfico de drogas, armas e mercadorias. Mas a pesquisadora não confirma: “As rotas coincidem, sobrepondo os mapas fica claro, porém, é preciso mais estudos neste ponto”.
De acordo com o levantamento, existem duas rotas de destino: uma para Ásia (em locais como Hong Kong) e outra para países da Península Ibérica (Portugal e Espanha). Há também países do Mercosul, que se apresentam tanto como lugares de passagem quanto de destino, como a Argentina.
Outra questão levantada pela pesquisa é a relação entre as estatísticas de pessoas desaparecidas e o tráfico seres humanos. Em todos os municípios onde há tráfico, o número de desaparecidos é grande e são na maioria mulheres adolescentes. Um exemplo apontado é em Caxias do Sul, onde se observou queda no número de desaparecidos depois da descoberta da Conexão Hong Kong (esquema de tráfico de adolescentes desvendado em 1997).
O estudo foi feito a partir da analise dos inquéritos policiais existentes no Estado sobre o tema, de questionários aplicados em membros de ONGs, e órgãos governamentais, matérias de dois jornais diários de grande circulação (Zero Hora e Diário Gaúcho) e de outras pesquisas nacionais. Os dados foram coletados entre outubro de 2004 e maio de 2005.