Área nobre: é permitido construir até 44 mil m2 no terreno de 1,6 hectares(Fotos: Tânia Meinerz/JÁ)
Guilherme Kolling
Fracassou a primeira tentativa para vender o estádio do Força e Luz. A única proposta apresentada em leilão no dia 5 de abril não atingiu a cifra exigida, que é de R$ 11 milhões. A sede do clube, de 85 anos, tem 1,6 hectares (16.816 metros quadrados), onde se pode construir até 44 mil metros quadrados.
A Sala Figueira do Hotel Plaza São Rafael ficou lotada de sócios e conselheiros para ver quem arremataria o campo. Depois de iniciar os trabalhos, o leiloeiro Norton Fernandes aguardou uma proposta por alguns minutos, segurando o martelo. Tudo em vão. O silêncio foi total na platéia de cerca de 40 pessoas.
O mestre de cerimônias insistiu, repetindo “11 milhões, 11 milhões, tenho 11 milhões?”. Até que recuou, perguntando se haveria qualquer oferta menor, que seria submetida ao clube. Mais uma vez, não se ouviu um pio na sala. Mas Fernandes ainda viu um lance de R$ 10 milhões, de um empresário de Santa Catarina, que não quis se identificar, e encerrou a sessão, sem bater o martelo.
Agora, o conselho deliberativo e a assembléia geral de sócios do Força e Luz farão reuniões para decidir se fecham o negócio. O presidente, Rubem Franco, diz que a tendência é rejeitar a proposta. Um novo leilão deve ser realizado até o final de maio. Nesse meio tempo, o clube segue com suas atividades.
Enquanto isso, muitas especulações. Norton Fernandes falou de sondagens de grupos de São Paulo, redes de supermercado e incorporadoras, que devem aparecer no próximo evento. Outro leiloeiro, Luís Agostinho Farias, garantiu à direção do Força e Luz que o Carrefour está interessado, e só não veio porque foi avisado muito em cima da hora.
“O Wal-Mart foi contatado e está analisando. O Zaffari também fez sondagens, mas não uma proposta oficial. E as grandes construtoras também se interessaram, mas não chegaram ao valor estipulado”, disse Farias ao JÁ.
Negociações começaram no início da década de 90
Estádio da Timbaúva já foi considerado o melhor gramado da cidade
Nas atas do Força e Luz, é possível ver que a discussão sobre a venda da sede do clube começou na década de 1990. Uma série de mudanças no estatuto foram feitas, para permitir que o conselho deliberativo tivesse poder para definir o negócio. Em princípio, a idéia era troca de imóveis – o estádio por outro local com melhor infra-estrutura.
Em 2 de janeiro de 1991, a necessidade da construção de um pavilhão social foi lembrada. No mesmo encontro, o conselheiro Argil da Silva Barros revelou o interesse manifestado por grupos financeiros na permuta da área do Força e Luz por outra já construída. O então presidente do Conselho Deliberativo, Alfredo Costa Maliar, comunicou a formação de uma comissão para tratar com possíveis interessados, a partir de março de 1991.
Nos anos seguintes, o assunto ficou para segundo plano. Em 1992, a direção decidiu investir em obras como a construção da cancha de bocha. Em 1994, foi constituída uma comissão para dar seguimento às intervenções no clube. A questão da venda do estádio só voltou a baila em 1997. O presidente na época, Antonio Carlos Barcellos Lunes, conta que manteve uma série de reuniões com o presidente da construtora Goldsztein, Sérgio Goldsztein. “A negociação foi até 1999. Já estava tudo certo, o projeto tinha maquete, nome – Condomínio Timbaúva –, seriam três edifícios, dois de frente para a Alcides Cruz e um na rua Dona Eugênia, que seria prolongada até a Silva Só” (hoje ela termina no Força e Luz).
O negócio só não passou por medo de desentendimento entre os associados. Estava previsto que parte do terreno continuaria sendo a sede do clube. Só que o pagamento viria através de apartamentos. “O pessoal ficou com receio de não conseguir alugar, vender, então optou por não fechar negócio”, lembra Lunes. O tema continuou nas conversas dos conselheiros. Mas só em 2005 a venda foi aprovada. Com a divulgação do boato de que o Força e Luz ia mal das pernas, as propostas foram baixas e não agradaram. Por isso, a comissão de venda decidiu fazer um leilão. O primeiro não foi bem sucedido.
Estatuto prevê destino de troféus e até pavilhão
O estatuto do Força e Luz foi alterado diversas vezes desde que o primeiro texto foi feito, em 15 de abril de 1932. Nos últimos anos, as alterações têm relação com uma possível venda. Em 1997, um artigo estabeleceu que troféus, medalhas, arquivos e até o pavilhão deverão ser recolhidos ao Museu do Estado, após a extinção do clube.
Depois, o conselho deliberativo passou a ter poderes para decidir sobre a venda dos bens imóveis do Força e Luz. Houve mudanças no estatuto em pelo menos seis oportunidades nos últimos 20 anos: 1986, 89 1997, 2001, 2003 e 2005. Outras medidas foram o estabelecimento de um número máximo de sócios (o teto passou a ser 470), e um valor alto para ingressar no clube – a partir de 1997, a jóia passou para R$ 12 mil.
Mas o estatuto ainda mantém um artigo que existe desde 1932 e que segue praticamente igual: o Força e Luz é uma sociedade “sem fins econômicos”, com o objetivo de promover atividades de caráter desportivo, social, cultural entre seus associados e familiares.Estatuto prevê destino de troféus e até pavilhão.
Finanças do clube estão equilibradas
Ao contrário do que a situação deixa a entender, a venda do Força e Luz não se deve a uma crise financeira. Balanços dos últimos anos mostram saldo positivo ou pelo menos zerado, caso de 2005, quando foram gastos e arrecadados cerca de R$ 140 mil. A entidade mantém ainda uma poupança no banco. Por que se desfazer do estádio da Timbaúva? Diretores e conselheiros justificam que apenas 20 ou 30 associados participam da vida do clube. A maioria não usufrui da infra-estrutura, apesar de sustentar a instituição – as mensalidades ainda são a principal fonte de renda.
Direção no que restou do pavilhão de Airton: venda é a única alternativa que resta, acreditam
Muitos sócios já estão em idade avançada, vários morreram nos últimos anos, passando o título para viúvas ou filhos, que não demonstram o mesmo entusiasmo pelo “Forcinha”. Com o desinteresse da nova geração e o esvaziamento de um dos palcos mais importantes da história do futebol gaúcho, decidiu-se pela venda do estádio. A medida foi definida em assembléia realizada em 29 de abril de 2005, com apoio da maioria: 133 integrantes aprovaram a venda de 100% do patrimônio, outros 10 votaram pela venda parcial. “O clube está bem, não deve para ninguém, mas os associados querem vender. O fato é que está todo mundo ficando velho, cansado, alguns nem aparecem mais no clube. Eles também têm direito a usufruir”, conclui o presidente Rubem Franco.
“E se não fizermos isso (vender o estádio), logo alguém toma conta, entram novos sócios e aí eles vão querer vender o Força e Luz e ganhar dinheiro para eles”. A explicação do presidente deixa claro o destino dos recursos: devem ser rateados entre os 384 associados, resultando em pouco mais de R$ 28 mil para cada um. A decisão ainda tem que ser sacramentada em assembléia geral.
Um capítulo da história do futebol gaúcho
Time da década de 1950: Força e Luz foi celeiro de craques e sede de grandes jogos (Reprodução)
O Grêmio Esportivo Força e Luz é um capítulo da história do futebol gaúcho. Teve o melhor estádio da cidade por anos, o que levou jogos importantes para sua sede. É o caso da primeira partida de campeonato brasileiro disputada no Rio Grande do Sul, em 7 de junho de 1936, entre as seleções carioca e gaúcha.
Outra passagem marcante se refere ao hino do Grêmio Futebol Porto-Alegrense. Conta o presidente do Força e Luz, Rubem Franco, que a composição de Lupicínio Rodrigues foi criada num dia em que houve greve dos bondes e o tricolor tinha compromisso no estádio da Timbaúva. Consta que a torcida foi a pé – daí o verso “Até a pé nós iremos”.
O clube também revelou grandes talentos. O ponta-direita Dorval começou no “Forcinha” e foi direto para o Santos Futebol Clube, onde integrou um ataque mágico: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Abigail, integrante da linha média do lendário Rolo Compressor do Internacional também começou no campo da Timbaúva. Sem falar em Aírton Pavilhão, que marcou época no Grêmio.
Apesar dessa biografia, o clube não obteve grandes títulos. Suas maiores glórias foram o tricampeonato de aspirantes em 1935, 36 e 37, e o vice-campeonato da cidade em 1941, 47 e 48. A equipe endurecia em alguns confrontos contra Grêmio e Internacional, mas nunca chegou a ser um time de ponta.
Fundada em 8 de setembro de 1921, a agremiação era mantida pela companhia de Força e Luz, sob o comando da empresa Light, dos Estados Unidos. Foi extinta ao ser estatizada por Leonel Brizola mas o nome do clube ficou o mesmo. Funcionários da Companhia Carris Porto-alegrense e Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), criadas a partir da Força e Luz, continuaram sendo os sócios do clube.
Hoje quase todos associados são eletricitários. Isso porque a CEEE descontava o valor da mensalidade no contracheque e a Carris não. Mas quem comprou o campo na rua Alcides Cruz, 125, hoje bairro Santa Cecília, foi a empresa de transportes, em 1934. A inauguração, em 14 de abril, contou com a presença do bispo e do então governador do Rio Grande do Sul, General José Antônio Flores da Cunha.
O Força e Luz teve futebol profissional até a década de 70. Depois, ainda manteve categorias inferiores – o juvenil encerrou suas atividades em 2002. Restou apenas o time veterano, que se apresenta todos os domingos, às 10h.
Aírton: “O pessoal não tem memória”
Aírton com a camisa do “Forcinha”(Reprodução acervo Força e Luz)
Quem não está nada satisfeito com a venda do Força e Luz é seu atleta mais famoso, Aírton Ferreira da Silva, o “Pavilhão”. Aos 71 anos, funcionário público aposentado, ele lamenta que “o pessoal aqui do Sul não tenha memória”, o que seria mais uma vez comprovado com a demolição do estádio.
“Quando vem gente do centro do país para cá fazer documentários, filmagens, sempre falam da história do pavilhão, lembram minha trajetória. Seria bom que tombassem, mas acho difícil isso acontecer. É uma pena”, comenta o emblema vivo do “Forcinha”.
O pavilhão branco com distintivo em vermelho – cores oficiais do clube – é mencionado até no estatuto do Força e Luz. Ainda está lá, em frente ao campo. “É como se estivesse morrendo um pedacinho da gente”, diz Aírton, ao comentar a venda. Aos 13 anos ele já era atleta do clube. Aos 15 virou titular do time principal, igualando feito de ninguém menos que Pelé, que subiu para os profissionais com a mesma idade.
Além de seu futebol, o que o tornou famoso foi a inusitada negociação que resultou em sua venda para o Grêmio, em 1955: aos 20 anos, Aírton Ferreira da Silva seguiu para o clube da Azenha em troca de 50 cruzeiros (Cr$ 50) mais o pavilhão do estádio da Baixada, sede do Grêmio até 1954, que depois foi transformada no Parque Moinhos de Vento.
Aírton marcou época no tricolor gaúcho. Jogou lá até 1967, quando passou a defender o Cruzeiro, de Porto Alegre. Encerrou a carreira no ano seguinte, aos 34 anos. Marcou seu último gol no antigo estádio do Cruzeiro, que depois virou cemitério. “Pelo menos o Cruzeiro fez outro estádio”, compara.
Ligado ao futebol até hoje, Aírton mora em frente ao Olímpico, na avenida José de Alencar. “Estava pensando outro dia: vão vender o campo e o Força e Luz vai acabar”, prevê. O pavilhão ao menos, poderia ser mantido. O Grêmio chegou a manifestar interesse na década de 90, mas o intento não vingou. O que resta é uma pequena arquibancada que ficará no campo da Timabaúva até que o destino do clube seja definido.
Presidente: “Eu amo esse clube!”
O presidente Rubem Franco afirma que o clube terá um novo local de encontro
“Confesso que me deu uma vontade danada de chorar na hora do leilão”. A declaração do presidente do Força e Luz, Rubem Borba Franco, 65 anos, não deve ser mal interpretada. Ele não estava lamentando o insucesso do evento, mas expressando seu sentimento com o fim da instituição. “O coração velho aqui sofreu muito vendo aquela cena. Eu amo esse clube!”, declara.
Ex-atleta, ele jogou de goleiro nos juvenis. Não chegou a ser profissional, mas continuou em contato porque, como eletrotécnico, se tornou sócio aos 22 anos. Antes dos 30, em 1969, ele fundou os veteranos, categoria que segue até hoje. Também foi o único time que conseguiu bater a dupla GreNal, no campeonato de 1975, promovido pela Associação dos Veteranos do Rio Grande do Sul. “Fui o artilheiro naquela temporada”, comemora o atacante, que até hoje bate uma bolinha.
O presidente foi um dos que votou a favor da venda do Força e Luz. Mas promete agitar caso o negócio não se concretize. “Já estamos em contato com o ex-jogador Mauro Galvão, que mostrou interesse em alugar o campo durante a semana para sua escolinha de futebol”. Também promete realizar eventos com instituições beneficentes para excepcionais, idosos, e com fundações como a Thiago Gonzaga. Outra idéia é fazer um torneio início à moda antiga, reunindo os principais times da Capital. “Dá para repetir esse tipo de evento, todo mundo gosta. Vamos conversar com a Secretaria Municipal de Esportes”, planeja.
Guardião do estádio torce contra a venda
Seu Múcio: “o guardião do campo”
Não é só Aírton Pavilhão que está sofrendo com a venda do estádio. Mais do que os peladeiros de plantão e freqüentadores tradicionais, quem vai sentir falta do Força e Luz é o vice-presidente de patrimônio do clube, Múcio Torres, 71. Membro da diretoria há 12 anos, esse eletricitário aposentado é dos poucos que torce para que o leilão não se consume.
A explicação: Seu Múcio é o guardião do campo da Timbaúva. Ele chega lá todo dia de manhã cedo e só sai a noitinha. “Até os lagartos daqui me conhecem”, brinca. Responsável pelo estádio, também faz compras para o clube, resolve problemas, cuida da infra-estrutura, dá bronca nos colegas exigindo mais cuidados com o local. O homem não pára, está sempre preocupado com algum detalhe.
“Ainda não sei o que eu vou fazer se venderem”, lamenta. De fato, sua rotina será totalmente alterada. Ele não é de jogar bola, mas cuida do gramado como se fosse sua horta. “O estádio é uma das amantes dele”, comenta um conselheiro, em tom jocoso. Também é Seu Múcio quem abre o portão e recebe quem chega na sede do clube. Ele ainda comanda os quatro funcionários – uma secretária, dois empregados em serviços gerais e o zelador. Quem está a favor do negócio é a família desse eletricitário aposentado. A esposa e o filho reclamam que ele passa mais tempo no estádio do que em casa.
Lustosa em campanha para salvar o estádio
Ambientalista Caio Lustosa sugere que Prefeitura adquira o campo do Força e Luz
O ambientalista Caio Lustosa, 72, mora há 50 anos numa casa na rua Alcides Cruz, bem em frente ao estádio do Força e Luz, um dos mais tradicionais clubes esportivos de Porto Alegre que está cerrando as portas. Advogado, ex-vereador e ex-secretário do Meio Ambiente, ele está iniciando aquela que pode ser sua última luta na causa ecológica. “Achei que já tivesse concluído minha participação como ativista. Mas não teria como me omitir com isso acontecendo aqui na minha porta”, diz ele.
Lustosa iniciou um movimento contra a venda da área do Força e Luz para um empreendimento imobiliário ou comercial. Colocou o caso na internet, passou mensagens para vizinhos, movimentos de bairro, autoridades e meios de comunicação. Conseguiu levar o tema para a crônica esportiva.
Às vésperas do leilão em que a área seria vendida, Lustosa publicou um artigo sobre o tema no Jornal do Comércio e no site do Jornal JÁ. Agora, com o auxílio de arquitetos, ele busca amparo no Plano Diretor e leis que regulam o solo urbano. Já tem uma sugestão: “Segundo o Estatuto das Cidades, o Município tem preferência na aquisição. Por que não exercê-la, ressarcindo o clube com índices construtivos ou outros mecanismos?”, questiona.
Em sua argumentação, Lustosa diz que o local não pode ser tratado como um mero bem imóvel, por ter indiscutível interesse público, sendo importante para a qualidade de vida dos moradores da região e do público que o utiliza. Ele observa: “Com seus 1,6 hectares, é a maior área verde do bairro Santa Cecília” – formado pelo quadrilátero Ramiro Barcelos-Ipiranga-Vicente da Fontoura-Protásio Alves.
“O estádio existe desde a década de 1930 e tem imenso valor histórico, paisagístico e ambiental para as comunidades circundantes (Rio Branco, Bom Fim, Petrópolis, Santana)”. Até hoje acolhe o futebol amador e é local de lazer. Foi sede do Bambas da Orgia por anos. A concretizar-se a transação, Lustosa prevê um impacto grande na vizinhança – envolvendo aspectos como insolação, aeração, fluxo de veículos, volume da população.
“Nem entro na questão dos bandos de quero-quero que ficam no campo e entorno porque vão dizer que é bobagem, frescura. Fico no tema da verticalização dessa área, cada vez mais densificada. Os bairros estão sofrendo inúmeras agressões, para não dizer crimes, contra sua malha urbana nos últimos anos. A mais recente foi um empreendimento implantado nessa mesma região, na antiga Instituição Chaves Barcelos, à rua Dona Leonor”.
O ambientalista cita ainda Bela Vista, Higienópolis, Petrópolis e o morro do IPA, como locais que estão em rápida transformação. “Estão virando paliteiros. O mercado fala mais alto, a coisa está livre, essa zona toda está entregue!”, denuncia. Lustosa pretende acompanhar o caso de perto para evitar que o projeto só seja descoberto quando o fato estiver consumado. “As diversas secretarias que têm relação com o caso nada disseram até agora. Espera-se que, diante de tanta omissão, o Ministério Público venha em socorro da cidadania. Que, aliás, deve deixar o conformismo e se mobilizar”, propõe Lustosa.
A campanha do ecologista assemelha-se à do jornalista Alberto André, há 35 anos, contra a venda do antigo estádio do Grêmio para a construção de espigões. A campanha de André, que era também vereador, resultou no atual Parque Moinhos de Vento.
Comunidade prejudicada
Comunidade que usa o clube vai ser prejudicada com transformação da sede em empreendimento comercial
Se os associados não terão suas atividades prejudicadas com o fim do estádio – poderão continuar com os tradicionais almoços da terça e da quarta-feira, e até com o futebol de veteranos aos domingos, em campos alugados -, a comunidade será prejudicada.
Quem mais vai sentir a transformação da sede do Força e Luz em um conjunto de espigões ou num supermercado é a vizinhança que aluga o local, ou mesmo gente que vem de longe para jogar bola no tapete, que já foi considerado o melhor da cidade.
Durante a semana, o campo era utilizado por escolinhas – o ex-jogador de Grêmio e Internacional, Mauro Galvão, estava negociando com o clube para iniciar aulas no local. O movimento forte acontece nos finais de semana. No sábado, o campo é ocupado do início da manhã até de noite. O aluguel custa R$ 350 por partida.
No domingo pela manhã, a área é dos veterandos do Força e Luz – são poucos ex-jogadores, hoje o grupo mescla com uma gurizada, que paga mensalidade para participar do time. Na parte da tarde, o gramado volta a ser alugado. O clube também é bastante utilizado para churrasquinhos, festas de aniversário e rodas de pagode, já que dispõe de quiosque e salão de festas.
Chance de sobrevida
A diretoria do clube continua com a disposição de vender o estádio, para distribuir parte do dinheiro aos sócios e outra parte investir na aquisição de uma nova sede – menor, apenas para manter as atividades sociais, como almoços e encontros em datas festivas.
A proposta tem apoio de quase todos os diretores. Resta saber se será aprovada pela assembléia geral, já que a aquisição de um imóvel reduziria o valor obtido por cada sócio no rateio do dinheiro obtido no leilão.
Para o ex-presidente Antonio Carlos Barcellos Lunes, a solução é simples. Comprar a nova sede e depois fazer a divisão entre os associados. “Será uma área pequena, com churrasqueira, quadra de bocha. Vamos gastar no máximo R$ 1 milhão, R$ 1,5 milhão. Com isso teremos um local de encontro”.
O futebol de veteranos – única categoria ativa do departamento – pode seguir com atividades, alugando campos de terceiros, para as partidas. Ao sócio Ladislau Honório Santos agrada a idéia de um outro espaço. “Pode ser uma coisa pequena, só para reunir o pessoal”, concorda o conselheiro Iesmar Faria, mais de 30 anos de clube.
Mas o presidente Rubem Franco alerta: “A assembléia é quem decide o que vai ser feito com dinheiro. Tudo depende da vontade dos sócios. Mas acredito que o clube não vai terminar, teremos um novo ponto de encontro”, prevê.
Inter pretende negociar estádio dos Eucaliptos
Cruzeiro, Nacional, Força e Luz… O Spor Club Internacional deve ser o próximo da lista a negociar seu campo de futebol. Trata-se do histórico estádio dos Eucaliptos, desativado há décadas. Depois de obter a regularização de toda área do Complexo Beira-Rio, em 2004, a direção do clube está negociando com a Prefeitura a permuta do local, que foi sede da Copa de 1950, por um terreno anexo, na avenida Padre Cacique.
Área no Menino Deus seria permutada com a Prefeitura (Arquivo JÁ Editores)
“Já iniciamos as conversas com o Município”, revela Pedro Affatato, vice-presidente de Patrimônio do Inter. Ele explica que, apesar de ocupar uma área nobre no bairro Menino Deus, o Eucaliptos, com seus 2,3 hectares, não está sendo utilizado. “É um patrimônio histórico, mas não temos o que fazer com aquela área. A Prefeitura poderá dar um destino melhor”, acredita. Hoje, parte do local está ocupado por quadras de grama sintética, alugadas ao público.