Categoria: Geral

  • Ary Cezimbra, o guru das abelhas sem ferrão

    GERALDO HASSE

    Às véspera da primavera de 2018, recém-entrado no 82º ano da sua existência, o apicultor Ary Cezimbra fez um balanço do seu estoque e viu que poderia alegrar a vizinhança com uma promoção: mel a R$ 10 o quilo pra abrir espaço no porão de sua casa no bairro São Caetano, em Arroio do Meio, no vale do Taquari, já que logo-logo terá nas mãos uma nova safra.

    Em poucos dias vendeu 400 quilos. Sobrou um pouco mas ele diz que não se preocupa com o possível envelhecimento do estoque pois, “se for colhido com higiene, o mel não tem prazo de validade”.

    Considerado um dos principais precursores da meliponicultura no vale do Taquari, Cezimbra nasceu em 1937 em Ijuí, mas com dez anos de idade mudou-se com a família para Três Passos, no extremo noroeste gaúcho, onde aprendeu a lidar com as abelhas nativas e as imigrantes.

    Sua favorita é a jataí, que produz até dois quilos de mel por ano, volume que não chega nem a 10% da produção de uma colméia de abelhas melíferas trazidas da Europa no século XIX. Ele também abriga em sua casa a jandira, a tubuna, a vorá, a mandaçaia, a marmelada, a mambuca…

    Das 24 espécies nativas identificadas no Rio Grande do Sul, só não gosta da iratim, que invade os ninhos alheios para roubar mel. Se captura um enxame dessa espécie, que produz um mel amargo, não lhe dá chance de se meter na vida das outras abelhas. Procedimento que ele explica assim: “Deus, quando criou o mundo, deu uma missão para cada ser vivo. Foi o que aprendi na floresta. Em cada pau tinha uma família trabalhando. Antes eu destruía os ninhos, mas depois entendi que o principal trabalho das abelhas é garantir a continuidade da floresta”. Foi assim também que aprendeu a ser humilde diante da complexidade da Natureza. Por isso Cezimbra é constantemente citado pelos técnicos da Emater de Arroio do Meio como um dos precursores da meliponicultura no vale do Taquari.

    “Antes aqui ninguém ligava para as abelhas sem ferrão”, diz Cezimbra, cuja experiência estimulou diversas pessoas a criar as nativas, quase invisíveis em seu trabalho de polinização, ao contrário das abelhas melíferas, que têm fama e reconhecimento por produzir mel, própolis e geléia real.

    Como explica Elias de Marco, técnico da Emater em Arroio do Meio, o crescimento das abelhas sem ferrão no vale do Taquari tem a ver com a perda de espaço das abelhas européias diante da urbanização de áreas rurais. Em busca do sossego necessário à produção profissional de mel, apicultores do vale foram parar no Pampa, onde muitos fazendeiros abrem matos e campos nativos à fixação de apiários. Saíram de Estrela e Lajeado, as “capitais” do vale do Taquari, alguns dos maiores apicultores da Metade Sul do Rio Grande. Casos de Pedro Ferronatto em Livramento e de Gerson Fensterseifer em Bagé.

    Bem diferente é a história de Ary Cezimbra, que fez, de certa forma, um percurso inverso, migrando da região missioneira tomada pela sojicultura para Arroio do Meio, uma cidade pequena (20 mil habitantes) onde se destacam agroindústrias, cooperativas e sítios de pequenas dimensões. Após 52 anos em Três Passos, Ary e sua mulher Cecilia mudaram-se para a periferia de Arroio do Meio a fim de ficar perto dos filhos estabelecidos em cidades do vale do Taquari. Apenas Oracil, o filho do meio, mora em Minas Gerais, onde é metalúrgico.

    Pai de sete filhos, Cezimbra ensinou a prole a lidar com todas as abelhas. Segundo ele, até as meninas poderiam tomar conta dos negócios apícolas da família mas, atualmente, quem cuida dp assunto é  José Cezimbra, o mais velho, nascido em 1960. Tempos atrás, José ganhou do pai a máquina de fabricar lâminas de cera que dispensam as abelhas de fazer favos. Ficou, assim, de posse de uma fonte de renda, mas em compensação teve de assumir a administração dos apiários familiares espalhados por alguns municípios onde ocupam terras alheias, sob arrendamento ou permuta amiga.

    O apiário mais distante fica em Três Passos, onde Cezimbra ainda é dono do sítio em que toda a família se criou. Quando Ary chegou em 1947, com dez anos, numa família de 15 irmãos, a floresta ainda dominava a área. Foi ali que ele entrou nos segredos das guardiãs da sustentabilidade da floresta. Conta que, ao se casar, no final dos anos 1950, aproveitou o tronco oco de uma enorme canafístula para fazer a despensa da casa, construída ao lado do que restara da árvore abatida.

    Dez anos depois, quando a família chegou a nove cabeças, Cezimbra tinha na cabeça a lista mensal de mantimentos guardados na canastra-canafístula: começava com uma lata de banho (18 kg) e terminava com um saco de feijão (60 kg). No início era apenas sete hectares de roça, depois duplicada mediante empréstimo de um amigo, mas nunca faltou bóia. Mesmo com dificuldades, a família se manteve unida. As abelhas com e sem ferrão garantiam alguma renda e o entretenimento, coisas que se mantêm até hoje. “As abelhas são minha terapia”, diz Ary, que caminha com alguma dificuldade, usando bengala, para compensar o “atraso” da perna esquerda, danificada por uma motossera que lhe acertou um tendão. A cabeça está boa. Sua fisionomia evoca a figura de Zorba, o grego celebrizado no cinema por Anthony Quinn.

    Em Arroio do Meio, onde mora há 20 anos, Ary cuida de diversos ninhos de meliponídeos em pequenas caixas de madeira. No mato vizinho mantém algumas caixas de abelhas européias. Gosta de ensinar a crianças e adultos os segredos desses insetos. Como o preparo de iscas ou armadilhas – feitas com garrafas plásticas — para capturar enxames. Ele prepara o material e  presenteia a quem se interessa pelo ofício. Sem esconder ou fazer mistério, em tem satisfação em passar dicas, como a de que “não se deve mexer com esses bichinhos na lua nova”. Por que não? Porque sim. São frutos da observação ao longo de décadas.

    Quem andou bebendo nessa fonte foi Aroni Sattler, professor de apicultura da UFRGS, que esteve na casa de Cezimbra. Uma das maiores autoridades brasileiras em Apis mellifera, nascido em Travesseiro, a poucos quilômetros de Arroio do Meio, Sattler foi trocar ideias sobre as melíponas. Recentemente aposentado, o sábio da Agronomia de Porto Alegre compartilha com o caipira de Três Passos a preocupação pela manutenção das florestas e pastagens nativas, ameaçadas por atividades agrícolas, comerciais e industriais.

    O colapso das abelhas melíferas por agrotóxicos e/ou doenças aumentou o interesse pelas abelhinhas indígenas, cujo mel virou iguaria da culinária ou da indústria de cosméticos ou de produtos farmacêuticos. Um quilo de mel de jataí vale cinco vezes mais do que o da abelha melífera profissional.

  • Sem Lula e com Bolsonaro afastado campanha recomeça imprevisível

    Na sexta-feira, 31 de agosto, o TSE impugnou a candidatura do ex-presidente Lula com base na Lei da Ficha Limpa, alijando da disputa o mais votado em todas as pesquisas de intenção de votos.
    Na quinta-feira, dia 6 de setembro, véspera do feriadão da Independência, o segundo mais votado nas pesquisas, Jair Bolsonaro, sofre um atentado a faca e é levado ao hospital em estado grave.
    Cada um desses fatos, por si, já seria suficiente para transtornar uma campanha eleitoral. Em sequência, no espaço de uma semana, os dois viraram de pernas para o ar a campanha das eleições 2018, a mais importante desde a redemocratização do país.
    Por tudo isso, nesta segunda feira 10 de setembro, a 26 dias do pleito, a campanha está praticamente  recomeçando.
    De um lado tem o retorno de Bolsonaro, ainda que debilitado e limitado em seus movimentos, com a expectativa de crescimento por conta da comoção que causou o atentado.
    De outro, tem a definição do substituto de Lula. Ao que tudo indica será o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, mas certeza só haverá quando for divulgada a mensagem que Lula vai emitir de sua cela na delegacia da Polícia Federal em Curitiba.
    As pesquisas, esperadas para hoje, talvez joguem alguma luz sobre a eleição, por enquanto, totalmente indefinida. As duas expectativas principais são: quanto vai crescer Bolsonaro, depois do atentado? Quanto Lula conseguirá transferir para seu substituto que entra em campo na reta final da campanha?

  • Sem Lula e sem Bolsonaro eleição volta à estaca zero

    O candidato Jair Bolsonaro, ferido a faca na quinta-feira, e salvo pelos médicos da Santa Casa de Juiz de Fora, foi transferido para o hospital Albert Einstein em São Paulo na manhã de sexta-feira.
    Seu estado é grave mas ele dá sinais de melhora, mandou recados e até levantou o polegar para uma foto, em sinal de positivo.
    Em dez dias ele poderá ter alta, se tudo evoluir bem. Não se sabe, porém, se terá condições para voltar à campanha.
    Segundo os médicos, terá que carregar por dois ou três meses uma bolsa para onde serão drenadas os gases e as fezes, para evitar contaminação no intestino grosso. Quem nessas condições poderá enfrentar o jogo bruto de uma campanha presidencial?
    O filho do candidato, deputado Flávio Bolsonaro fez uma leitura positiva do episódio. Pelo twitter mandou um recado aos eventuais interessados na morte de Bolsonaro: “Vocês acabam de eleger o presidente e vai ser no primeiro turno”.
    Jair Bolsonaro é o líder nas pesquisas de intenção de voto, no cenário sem Lula, o ex-presidente que teve sua candidatura impugnada pelo TSE no dia 31 de agosto.
    Nesta segunda, a campanha estará em suspense, com o mundo político voltado para uma prisão em Curitiba e um hospital em São Paulo.
    De uma cela na Polícia Federal em Curitiba, emanará a decisão de Lula sobre o seu substituto na chapa do PT.
    De São Paulo, do boletim dos médicos do hospital Albert Einstein se saberá se Bolsonaro tem condições de voltar à campanha.
    Há trinta dias das urnas, a eleição quase volta á estaca zero.

  • Polícia quer saber se há um mandante no ataque a Bolsonaro

    Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos, preso no ato, confessou, alegando motivos pessoais. Ouvia Bolsonaro falar e tinha nojo. A polícia, porém, não descartou a possibilidade de haver outras pessoas envolvidas.
    Um suspeito foi preso e liberado e haveria uma terceira pessoa identificada. Até agora, no entanto, o agressor mantém a versão inicial que agiu por conta própria.
    A familia descreveu-o como um “homem evangélico”, uma pessoa tranquila, nas que ultimamente apresentava comportamento estranho. A familia é de Montes Claros, no norte de Minas.
    Aos 10 anos, ficou órfão de mãe e, aos 23 perdeu o pai. Para a familia, desde menino ele é o “Tuca”.  Ele nunca se casou e não tem filhos. Há vários anos, vive afastado da família. Há alguns anos, entrou para a igreja Evangelho Quadrangular, da qual se tornou missionário. A familia teme represálias .
    “O que ele fez foi um ato isolado”, declarou uma sobrinha.”Somos uma família de paz e não aprovamos nenhuma forma de violência contra ninguém, seja uma pessoa importante ou um mendigo”.
    A sobrinha contou que não acompanha nenhum candidato a presidente. “Vou votar nulo”, disse. Diz que há três anos Adelio começou a apresentar comportamento estranho, “falando coisas sem nexo”. “Mas ele nunca foi agressivo”.
    Nas redes sociais, Adelio Bispo mistura publicações com ataques à direita e conspirações contra a maçonaria.
    No entanto, a sobrinha dele disse que Adelio nunca demonstrou ter militância ou engajamento em algum movimento partidário. “A única coisa que ele fala que é contra a corrupção e sempre reclamou da situação do Brasil”.
    Conforme osfamiliares, Adelio deixou a casa dos pais em Montes Claros aos 18 anos e foi trabalhar em Santa Catarina, para sobreviver, “onde encarou de tudo”.
    Lá estudou e chegou a trabalhar como camareiro em um cruzeiro marítimo. “Ele fez cursos e aprendeu a falar inglês e espanhol para trabalhar no navio”, outra sobrinha. Ela conta que há três anos o tio não dava informações para a família sobre o paradeiro dele. “Eu só sabia que ele estava sempre viajando entre Uberlândia, Uberaba e Florianópolis. Pensei que realmente estivesse trabalhando. Nunca imaginava que ele fosse se envolver com uma coisa dessas”.
    Outra sobrinha de Adelio Bispo disse que tomou soube pelo marido, que assistia televisão acompanhou a notícia do atentado contra a vida de Jair Bolsonaro. “A nossa família entrou em pânico. A gente nunca esperava uma coisa dessa”, disse J., que está em tratamento de um câncer no intestino. Com medo de represálias, as duas irmãs não quiseram mostrar os rostos em fotos. Uma delas disse que um primo dela sofreu ameaças nas redes sociais.
    (Com informações do Estado de Minas)

  • Rossetto: “Não vendemos o Banrisul e não atrasamos salários”

    FRANCISCO RIBEIRO
    Metalúrgico, sindicalista, sociólogo, vice-governador de Olívio Dutra e ministro nos governos Lula e Dilma. Miguel Rossetto foi tudo isso e agora, aos 58 anos, quer eleger-se governador do Rio Grande do Sul pelo Partido dos Trabalhadores.
    No PT desde a sua fundação, Rossetto  compartilhou de forma engajada a transformação de sua agremiação no maior partido de massas do Brasil. Viveu a  glória do PT e o seu alijamento do poder através do impeachment da presidente Dilma.
    Único postulante ao Piratini a vincular claramente sua candidatura a do ex-presidente Lula, Rossetto tem a incumbência  de levar pela terceira vez levar o PT a governar o estado. Não lhe faltam ideias arrojadas nas áreas de Educação, Saúde, Segurança, propostas que resolveu compartilhar com os leitores nesta entrevista exclusiva ao JÁ.
    JÁ: Desde que começaram os debates, o sr. foi o único candidato a vincular sua candidatura à candidatura de Lula, quase cem por cento fora do páreo. Qual é o seu posicionamento?
    MR: Nós continuamos defendendo o direito do presidente Lula a concorrer. Continuamos defendendo que o povo brasileiro tenha a opção de escolher o Lula como presidente. Vamos recorrer junto ao STF e junto a todos os organismos internacionais para defender o direito democrático ao presidente Lula. O presidente Lula representa a mudança que o Brasil precisa, que o Rio Grande precisa. Lula, Fernando Hadad, Manoela D’Ávila, representam a esperança do povo brasileiro. O Brasil precisa voltar a crescer, a investir. Com o Lula nós construímos universidades estaduais no Rio Grande do Sul, quase 200 mil casas no Programa Minha Casa, minha vida, otimizamos o apoio agricultura familiar, a Br 101 foi duplicada, iniciamos a duplicação da BR 116, o pólo naval de Rio Grande. Enfim, Lula e Dilma ajudaram muito o Rio Grande do Sul.
    JÁ: É muito importante o debate sobre um projeto nacional na medida em que a economia gaúcha faz parte da federação.
    MR: Sim. Por isso é preciso uma união de todos pela  revogação da emenda constitucional número 95 aprovada pelo Temer, e  com o apoio do Sartori, MDB, PSDB, PP, que congela por 20 anos os gastos do governo federal em relação a Saúde, Educação, a infraestrutura nos estados e nos municípios. Esta emenda destrói a nação e a federação. É preciso revogá-la. Brasília tem que assumir as suas responsabilidades.com o Rio Grande do Sul e nossos municípios no financiamento da saúde publica e da escola pública.
     JÁ: Há 20 anos o sr, foi vice-governador. Depois foi ministro nos governos Lula e Dilma. No que estas experiências contribuirão caso o sr. seja eleito?
     MR: É esta experiência que me estimula e anima a governar o estado do Rio Grande do Sul. Estou preparado. A minha experiência em iniciar um governo num estado com uma grande crise será parecida com aquela que Olívio e eu enfrentamos. Lá também diziam que se nós não vendêssemos o Banrisul não pagaríamos os salários dos servidores em 1999. Nós não vendemos o Banrisul e não atrasamos salários. Criamos a UERGS. Enfim, tenho a experiência de governar um estado grande e complexo como o nosso. Um estado onde o povo quer viver bem e com justiça, voltar a ter esperança.
    JÁ: E isso passa, segundo a pauta de todos os candidatos, pelo ajuste das contas. Como sr pretende fazer isso?
    MR: É preciso retomar  crescimento econômico no Rio Grande do Sul. Faz três anos que temos queda da atividade econômica, quase oito por cento. Isto arrebenta a receita  de um Estado. Também é preciso combater a sonegação, melhorar o perfil de gastos, buscar os recursos que são do Rio Grande do Sul. Nós temos uma decisão judicial favorável em relação à Lei Kandir. O governo federal é devedor do Rio Grande do Sul e nós vamos buscar estes recursos. Infelizmente o Sartori fez uma opção pela omissão. Por conta da adesão ao Plano de Recuperação Fiscal ele é omisso ou submisso. Nós vamos, de maneira altiva e dedicada, liderar uma retomada da economia gaúcha. Precisamos voltar a ter empregos, equilibrar as finanças, melhorar o serviço  público, e buscar em Brasília aquilo que é de interesse do Rio Grande do Sul para que ele possa se desenvolver.
    : Há muita polêmica em torno Lei Kandir.
    MR: Nossa política é clara em relação a redução da receita do ICM que ela produziu no que tange aos estados exportadores, e isto não diz respeito só ao Rio Grande do Sul. O fato é que o Supremo Tribunal Federal julgou este tema, e pela primeira vez nosso estado é credor da União. Brasília deve ao Rio Grande e nós vamos buscar estes recursos. Eles são importantes, e os dados que a Secretaria da Fazenda nos informa indica que somos credores em cerca de R$ 4 bilhões por ano.
    JÁ: Na  sua agenda de recuperação econômica constam muitos investimentos na área de tecnologia.
    MR: Serão investimentos importantes nesta área. Mas, primeiro temos que recuperar este desastre estratégico que o Sartori fez ao acabar com as nossas instituições de pesquisa, com as nossas fundações. Nada justifica, por exemplo, o fim da Fundação de Economia e Estatística (FEE). O Rio Grande do Sul, hoje, não tem informações sobre o seu PIB de 2017. Isto é um escândalo. Para remediar contrata uma entidade privada que não tem condições de realizar esta tarefa. Precisamos de uma entidade de pesquisa agro-pecuária que esteja voltada ao desenvolvimento sustentável, a ecologia. Há uma enorme demanda nesta área. Enfim, nenhuma nação ou estado encontrou lugar no futuro sem investir na educação, na cultura, na ciência, na tecnologia e na inovação. Assim, vamos recuperar nossas instituições de pesquisa. Para tanto o governo deve participar ativamente com diversas entidades, universidades, no fomento a pesquisa vinculada ao desenvolvimento do estado.
    JÁ: A extinção das fundações, como a TVE ou FEE, veio no bojo desta febre de privatizações, na diminuição do tamanho do estado. No RS, entre os demais candidatos, não faltam planos para vender estatais como a CEE, CRM, Sulgás, Banrisul. O que o sr. pensa disso?
     MR: Isto é uma bobagem, um retorno aos séculos XVIII e XIX. O Rio Grande do Sul é vítima desta experiência da privatização. É sempre bom lembrar a venda, no governo de Antonio Britto, da CRT,  de dois terços da CEE, o fim da Caixa Econômica Estadual. A Yeda Crusius vendeu metade do Banrisul. Nós ficamos com menos patrimônio, mais pobres e mais endividados. Nós precisamos de empresas estatais bem governadas, que funcionem. Eu quero uma CEEE funcionando cada vez melhor, produzindo energia e atendendo a nossa comunidade. Eu quero uma CORSAN, a grande empresa estadual garantidora de água e saneamento, com preços adequados. Essas empresas têm um papel importante pro nosso desenvolvimento. Eu não quero vender o Banrisul. Ele é um instrumento de desenvolvimento para o estado, presente nos municípios e regiões, investindo na agricultura, na indústria e no comércio para gerar trabalho e renda. Nós temos, hoje, 510 mil, gaúchas e gaúchos desempregados. Isto é inaceitável. Vamos recuperar o estado sem precisar vendê-lo.
    JÁ: Vital pra a recuperação, segundo o seu programa, está a criação de um Fundo para a educação
    MR: Nós temos uma política de recuperar a escola pública para a nossa população. O estado é responsável pelo ensino médio da nossa juventude, e compartilhamos o ensino fundamental com os municípios. O Sartori abandonou a escola pública. Todos os indicadores do Indeb mostram a crise da educação. São índices muito preocupantes, pois revelam o baixíssimo desempenho da nossa escola. Isto se deve ao desrespeito aos profissionais, aos professores, ao atraso dos salários, a falta de manutenção das escolas. Nós, através dês Fundo para Educação, vamos recuperar a escola pública como sendo um espaço de educação, de paz, de aprendizado, uma escola viva e com energia, um centro para a nossa juventude na orientação para o mundo do trabalho e da cidadania. Para isso tem que pagar o salário em dia. Não há uma educação de qualidade sem a valorização dos educadores. Também é necessária uma manutenção para que as escolas possam funcionar. Temos escolas sem energia elétrica, sem telhado, sem banheiro. E por último, dar segurança para as escolas.
    : Este Fundo, a médio prazo, visa tranformar as escolas gaúchas em centros de excelência?
    MR: Sim. Ensino integral, valorização dos professores, infraestrutura adequada e com um bom processo educativo e pedagógico. Este Fundo especial terá recursos extraordinários, nacionais e internacionais. Isto para que – num prazo de até anos – tenhamos recursos  para qualificar a escola publica do Rio Grande do Sul. Isto terá meu empenho direto como governador. O maior indicador de uma sociedade que constrói o seu futuro é a educação. Terei uma dedicação especial, direta com a equipe da área da educação para a recuperação do ensino no Rio Grande do Sul. É um direito da nossa juventude, do nosso povo. Nós vamos assegurá-lo.
    JÁ: O sr. falou em pagar os salários em dia. Este é um dos principais pontos de ataque contra o governo Sartori. O sr, não atrasará?
     MR: É o compromisso primeiro do meu governo. E a partir daí reorganizar as escolas, a saúde e a segurança públicas. É inaceitável a continuidade – 33 meses atrasando salários – deste desrespeito e desvalorização do serviço público e do povo gaúcho. O direito ao salário, e em dia, é um direito sagrado de quem trabalha, seja no setor público ou privado.
    JÁ: Outra área muito sucateada é a da Saúde.
    MR:  A primeira coisa será chamar prefeitas e prefeitos, profissionais do SUS e demais credenciados da rede hospitalar, gente  dos conselhos municipais e regionais de saúde para reorganizar um planejamento de investimentos. Vamos regularizar os repasses para os municípios e para o SUS, algo que o Sartori, sistematicamente, atrasa, algo em torno de R$480 milhões. Isto tem desorganizado o sistema, ampliado a crise nos hospitais. Nos três anos e meio do governo Sartor, 1490 leitos saíram do SUS. Isto é inaceitável, gera filas enormes e dificuldades de atendimento. É preciso reorganizar o sistema, o governo deve voltar a ter um papel de coordenação. Isso foi abandonado..
    JÁ: Dentro desta reorganização está a interiorização das especializações?
    MR: Sim. Vamos trabalhar com as prefeituras no SUS em duas diretrizes. A primeira delas é a criação de centros, policlínicas regionais, para exames e processos especializados. Isso acabará com as filas para fazer certos exames – cardiologia, ginecologia, ou cirurgia –, e procedimentos como Raio- X, tomografia. Resolve-se isso qualificando esses centros regionais, evitando, assim, que a população precise viajar em busca de atendimentos especializados, em busca de um hospital ou de um exame .A segunda diretriz será avançar na qualidade do atendimento primário, da Unidade Básica de Saúde(UBS), do posto de saúde, do primeiro contato da população com o sistema. Além dos médicos, temos fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas. Eles qualificam a rede do atendimento primário de saúde, onde 80 por cento das necessidades a população são atendidas. Também vamos avançar em centros especializados para os idosos. A população gaúcha é cada vez mais idosa e é muito importante que o sistema acolha com carinho os nossos velhinhos.
    JÁ: O quesito mais debatido é o da Segurança. O sr. propõe a realização de um Pacto. Como será?
    MR: A segurança é um tema vital para a população gaúcha que hoje vive com medo frente ao total descontrole do aumento da criminalidade e da violência. E isto tem um responsável, o governo Sartori, que desorganizou o sistema de segurança pública no Rio Grande do Sul. Hoje são quase cinco mil policiais a menos, nos bairros e nas ruas de nossas cidades. Porto Alegre tem hoje um número maior de assassinatos, proporcionalmente ao tamanho de sua população, maior do que o Rio de Janeiro. Assaltos e roubos aumentaram quase cem por cento. Nas escolas e nas universidades temos casos de alunos que deixam de estudar porque têm medo de ficar numa parada de ônibus. Por isso, vou criar um batalhão especial para proteger os alunos e as escolas através do remanejamento de efetivos.  Serão profissionais capacitados e especializados para este fim. Eles  garantirão entradas e saídas da comunidade estudantil  através de corredores de proteção.
    JÁ: O maior problema é a reposição do efetivo policial. Como o sr. pretende fazer isso?
    MR: Não se faz segurança com menos policiais. Vamos recompor gradativamente os efetivos da Brigada e da Polícia Civil, do Instituto Geral de Perícia(IGP),  da Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE)., Corpo de Bombeiros. Também vamos incorporar o que temos de melhor em termos de tecnologia de segurança para ampliar a proteção a nossa população. Fazer uma integração dos serviços de inteligência da Brigada Militar e da Polícia Civil.
    Eu quero uma Brigada Militar fazendo o policiamento preventivo, comunitário, nos bairros e nas vilas, dialogando e apoiando a população. Assim como eu quero uma Polícia Civil investigando cada vez mais o crime organizado e o tráfico de drogas, desmanche de carros e roubo e celulares. No meu governo as facções criminosas não vão controlar os presídios e transforma-los em escolas do crime. Temos que rediscutir, pensar num outro sistema prisional, que por um lado contenha os criminosos, e do outro ressocialize os apenados. É esta a estratégia do plano de segurança pública que estamos trabalhando. A uma série de propostas sendo analisadas. Temos profissionais muito competentes nas nossas polícias analisando isso.
     
     

  • Ferimento de Bolsonaro é profundo e sangra muito

    Considerado inicialmente “superficial”, o ferimento sofrido por Jair Bolsonaro na verdade foi profundo e provocou intenso sangramento, atingindo o fígado*.
    Uma cirurgia de emergência foi feita para estancar o sangramento. Ele foi atendido pelo dr. Cicero de Lima Rena**, um dos mais renomados  cirurgiões de Juiz de Fora.
    Por volta 18h,  ele ainda estava sendo operado,  com a condição hemodinâmica e a pressão instáveis.
    A policia militar divulgou uma foto da faca usada pelo agressor, com uma lâmina de quase 30 centímetros.
    O filho do candidato, Flávio Bolsonaro, postou às 18h04 uma mensagem no twitter: “Infelizmente foi mais grave que esperávamos. A perfuração atingiu parte do fígado, do pulmão e da alça do intestino. Perdeu muito sangue, chegou no hospital com pressão de 10/3, quase morto… Seu estado agora parece estabilizado. Orem, por favor!”
    **Informação inicial, não confirmada. Foram três perfurações no intestino delgado, um corte no intestino grosso e a secção de uma artéria, que provocou forte hemorragia.
    **Cinco cirurgiões e dois anestesistas assistiram Bolsonaro, entre eles o dr. Rena. Quem dirigiu a cirurgia foi o dr. Luz Henrique Borsato.
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  • Facada em Bolsonaro pode radicalizar a eleição

    Num ato de campanha, quando era carregado por correligionários na rua em Juiz de Fora (MG) o candidato Jair Bolsonaro foi ferido no abdomen com uma faca, na tarde desta quinta-feira.  Inicialmente considerado “superficial” por um de seus filhos, o ferimento exigiu que o candidato passasse por uma cirurgia de emergência, pois teria atingido o fígado.
    O homem que esfaqueou o candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), na tarde desta quinta-feira, durante evento em Juiz de Fora, na Zona da Mata, foi identificado, capturado e agredido por militantes. Pouco depois, ele foi preso pela Polícia Militar. Veja o vídeo abaixo.

    A Polícia Militar confirmou que o candidato foi ferido mas não soube informar a gravidade dos ferimentos. Bolsonaro foi atacado enquanto era carregado por apoiadores durante caminhada na Região Central de Juiz de Fora, entre as Ruas Halfeld e Batista de Oliveira.
    O deputado mineiro Léo Portela (PR) acompanhou Bolsonaro até o hospital. Segundo ele, o candidato foi atendido e recebeu pontos. “Ele passa bem”, afirmou o parlamentar. Horas antes do ataque, Bolsonaro havia feito um post sobre a violência em seu Twitter. “Impunidade, desarmamento, indicações políticas e corrupção geraram e continuam alimentando os maiores problemas do Brasil: violência, ineficiência do Estado e desemprego.
    Pelo Twitter, o filho do candidato, deputado Flávio Bolsonaro (PSL) pediu orações. “Foi apenas superficial e ele passa bem. Peço que intensifiquem as orações por nós”, escreveu. O outro filho dele, Eduardo Bolsonaro, que é deputado federal, também pediu orações.

    O autor da agressão foi identificado: Adelio Bispo de Oliveira foi ‘capturado’ e golpeado por apoiadores de Bolsonaro. Em seguida, foi apreendido pela Polícia Militar. O caso será conduzido pela Polícia Federal.
    Quem é Adelio?
    Adelio Bispo de Oliveira é morador de Montes Claros. Nas redes sociais, ele já publicou fotos em atos políticos contrários ao presidente Michel Temer (PMDB).
    A foto de Adelio foi divulgada pela própria Polícia Militar de Minas Gerais.

    (Com informações do Estado de Minas)

  • Manifestantes promovem "Lulaço" no shopping Praia de Belas

    Com a presença do trompetista Fabiano Leitão, um grupo de partidários do ex-presidente Lula promoveram um “Lulaço” no shopping Praia de Belas, ao meio dia desta quinta-feira.
    Articulando-se pelas redes sociais, os lulistas foram chegando em pequenos  e se concentraram na frente das lojas Riachuelo, cujo proprietário, o empresário Flávio Rocha, é um anti-petista ferrenho.

    Com o trompete, que ficou famoso por aparecer nas externas dos repórteres da Globo, Fabiano puxou o gingle das campanhas petistas: “Ole, ole, olá, Lula, Lula”, cantado por todos.
    Depois, reunindo umas 100 pessoas, o grupo caminho até o TRF4, o tribunal que condenou o ex-presidente no caso do triplex do Guarujá, onde foi repetido o protesto.

  • Ciro ganha mais votos que Haddad na primeira pesquisa sem Lula

    O candidato do PDT, Ciro Gomes, cresceu 3 pontos alcançando 12% das intenções de voto. Fernando Haddad, que substitui Lula na chapa do PT, ganho 2 pontos, chegando a 6%. O cenário eleitoral, no entanto, é de pouca clareza.
    Há um mês da eleição mais importante desde a redemocratização, os eleitores que vão votar nulo ou branco e os que ainda não sabem em quem votar foram quase um terço do eleitorado.
    Este não é o único fator que mostra o grau de indefinição, quando restam apenas 30 dias de campanha. Para começar, esta foi a primeira pesquisa sem um cenário com o ex-presidente Lula como candidato. Lula apareceu na liderança em todas as pesquisas em que incluíram seu nome entre os candidatos.
    Sem Lula, Jair Bolsonaro, o segundo colocado, lidera, ganhando mais 2% em relação à última pesquisa, em 20 de agosto. Líder disparado nas intenções para o primeiro turno, Bolsonaro, no entanto, parece não ter chance no segundo turno. No confronto direto, ele perde para Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alkmin e só empata com Fernando Haddad, que entrou na campanha agora, com a exclusão de Lula.
    A pesquisa, que esteve embargada e deu margem a muitas especulações e questionamentos, mostra uma distribuição pequena dos votos de Lula por quase todos os candidatos, revelando que a transferência dos mais de 30% de votos que ele obteve em todas as pesquisas ainda não é perceptível.
    Mesmo somando os pontos ganhos por todos os candidatos que subiram, esse total é pouco mais de 10%,  indicando espólio eleitoral do ex-presidente ainda está quase intocado.
    Ciro Gomes foi o mais favorecido: ganhou três pontos passando de 9 para 12%, igualando Marina Silva, que fez os mesmos 12% da pesquisa de agosto. Até Geraldo Alkmin que parecia empacado ganhou 2 pontos e chegou a 9%  das  intenções de voto
    O vice de Lula, Fernando Haddad, agora na cabeça da chapa ganhou apenas 2 pontos, chegando a 6%.
    Alvaro Dias, do Podemos, ficou no mesmo lugar, com 3%, João Amoedo do Novo, saiu do 1% para 3%, Meirelles, do MDB, foi de 1 para 2%. Guilherme Boulos (PSOL), Vera Lúcia (PSTU) e João Goulart Filho (PPL) não pontuaram.
     
    O Ibope ouviu 2.002 eleitores em 142 municípios entre 1º e 3 de setembro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O registro na Justiça Eleitoral foi feito sob o protocolo BR-05003/2018. A pesquisa Ibope foi contratada pelo jornal O Estado de S.Paulo e pela TV Globo.

  • Mateus Bandeira: "A mudança não virá dos partidos tradicionais"

    Mateus Affonso Bandeira, pelotense, de 49 anos, é formado em Informática pela Católica de Pelotas, com estudos complementares, entre outros, na Harvard Business School.
    Fez carreira no serviço público, como  Auditor fiscal e chegou a diretor do Tesouro, mas desligou-se para se dedicar à consultoria de empresas.
    Foi secretário do Planejamento no governo Yeda Crusius, e presidente do Banrisul. Agora, pouco antes de virar a curva do meio século de vida, estreia na política, como candidato ao governo do Estado pelo Partido Novo.
    Estimular o empreendedorismo, vender todas as estatais, reforçar parcerias do estado com a iniciativa privada, são propostas que apresenta aos eleitores. São tópicos que desenvolve nesta entrevista exclusiva ao JÁ.
    JÁ: O sr. defende um estado mínimo, quer dizer, um estado para quem precisa?
    MB: Exatamente o contrário. A gente prega o cidadão máximo. Tirar o estado de onde
    ele atua, sem atender o cidadão que precisa dele. O estado atua hoje em
    segmentos que não tem nada a ver com as necessidades básicas do cidadão. Mineração de carvão, distribuição de gás e energia elétrica (a CEEE gera a cada ano um prejuízo de meio bilhão de reais), correios, perfuração de poços de petróleo. Com isso deixa de cumprir a sua função mais essencial. Iss é o estado mínimo, o estado que não garante o básico.
    JÁ. Como tem que ser o estado?
    MB: Um estado que não se meta na vida das pessoas e não atue em áreas onde o setor privado é mais eficiente.  Estado eficiente é o que prega o Partido Novo, focado em segurança e acesso a saúde para quem não pode pagar. Queremos encerrar o ciclo da velha política, dos políticos profissionais que governaram para si e distribuíram privilégios para poucos.
    JÁ: O sr tem muitas propostas semelhantes às de Sartori. Qual a sua diferença em relação a ele?
    MB: Somos quilometricamente distantes do que propõe Sartori, embora haja algumas
    convergências. O Sartori começou seu governo em 2015 concedendo aumento de salário para quem ganha mais. Quando eu estive no governo, a frente do Tesouro Estadual e do Planejamento, entre 2007 e 2009, foram as únicas vezes em que as contas chegaram no azul. Sabe por quê? Nós enfrentamos as corporações, seguramos as despesas públicas. Não permitimos a concessão de reajustes. Essa é a diferença que eu tive no quesito de organizar as contas públicas. Sartori, com atraso, também percebeu que a despesa não poderia ser maior do que a receita. Há outras diferenças. Sartori propõe o Regime de Recuperação Fiscal, mas se recusa a privatizar o Banrisul. Nós não. Ele defende a manutenção do controle estatal do Banrisul, mas vende ações do banco abaixo do valor patrimonial.
    JÁ: O sr. reconhece alguma coisa boa no governo dele?
    MB: É preciso reconhecer que Sartori, em algumas coisas, agiu corretamente, coisas,
    por exemplo, que lá no governo Yeda nós não tivemos capacidade política para fazer,
    como, por exemplo, a aprovação do regime de previdência complementar, um projeto
    elaborado por nós, apresentado por mim, e que eu liderei, inclusive, mas não tivemos
    maioria na Assembléia. Outro exemplo é a Lei de Responsabilidade Fiscal, que escrevi enquanto diretor do Tesouro, também rejeitado na Assembleia, mas que o governo Sartori resolveu aprovar. Enfim, este Regime de Recuperação Fiscal está na direção correta, mas em marcha lenta. E não conseguiu fazer um plebiscito sobre as estatais. Faltou determinação, arrojo, ousadia, vontade política em chamar a sociedade para participar do debate. Essas companhias são geralmente capturadas pelos partidos políticos que se apropriam delas. Sartori não entende isso, não tem este convencimento. Ele quer privatizar a CRM porque é uma empresa que vende um único produto para um único cliente. Nós queremos privatizar todas as companhias porque não é papel do estado cuidar de empresas. Outra diferença em relação a Sartori, é que nós não fazemos coligação em troca de tempo em TV e rádio, pouco importando o tempo que teremos, mínimo, seis segundos. A vantagem de não ter tempo de TV e rádio é que gravamos toda a nossa participação em 30 minutos.
    JÁ: Embora no governo da Yeda, o sr. nunca chegou a flertar com o PSDB?
    MB: Nunca fui do PSDB. O governo da Yeda também era formado por pessoas de
    outros partidos e por técnicos, entre os quais me incluo, que compunham o governo.
    Aliás, eu estava no governo federal, do Lula, quando ela me convidou. Eu fui um
    servidor público de carreira da Fazenda. Comecei em 1993 e passei por vários governos: Collares, Brito. No governo Olívio Dutra, do PT, eu me afastei, fui cedido para a CEEE. Depois me licenciei, fui estudar no exterior. Mas nunca fui do PSDB. Fui do Tesouro, e lá os tucanos diziam que eu era petista e os petistas diziam que eu era tucano.
    JÁ: Neste estado cidadão que o sr. prega, o que deveria ser
    tratado como política de estado?
    MB: Há vários temas que perpassam os governos. São questões de princípio e que
    devem estar presentes em qualquer governo. Por exemplo, o princípio da responsabilidade fiscal, do dinheiro público, das prioridades. No governo, quem gasta
    mais do que arrecada deveria ser preso. É por isso que também não dá pra culpar só o Sartori, pois as despesas foram infladas por medidas tomadas no governo anterior.
    JÁ: O sr. poderia especificar mais o seu projeto para a educação.
    MB: Podemos começar pelo diagnóstico: a educação pública estatal é um desastre no
    Brasil inteiro. E os dados do Ministério da Educação, via Indeb, confirmam isto. Temos
    uma política de educação fracassada. Basta olhar para os números e constatar que nós estamos formando analfabetos funcionais. Então, temos um problema sério, pois a educação é o principal desafio de longo prazo do país. Dito isso, educação é tão importante que não pode ficar na mão do estado. Esta é a nossa crença.
    JÁ: Por que não pode ficar na mão do estado?
    MB: Por que ela acaba sendo capturada pelos políticos e pelos sindicatos, que não estão preocupados com a questão da aprendizagem, mas com seus interesses. Outra distorção na educação decorre do nosso sistema de previdência: a aposentadoria precoce dos professores. A maioria é mulher e se aposenta com dez anos menos, 25 anos. Elas se aposentam com 50 e vivem até os 80. É por isso que em 2017, dos 8,5 bilhões gastos pelo estado na rubrica educação no RS, cerca de cinco bilhões eram destinados às aposentadorias e pensões. Ou seja, consomem-se recursos dos impostos para pagar aposentadoria, e não educação.
    JÁ: Como o sr. pretende resolver todos estes problemas?
    MB: Nós propomos quatro pontos principais no nosso plano de educação: 1) introduzir o vaucher (vale) escola, algo bem sucedido em alguns países, e que aqui foi
    experimentado no ensino superior, o Pró-uni. Vamos fazer isso no ensino básico. Trata-se de comprar vaga em escola privada de boa qualidade para as demandas. É a melhor forma que existe, rapidamente, de diminuir a distância que existe entre a qualidade do ensino público e do ensino privado;  2) outro modelo é charter school. Neste o estado entrega o orçamento e a gestão para uma entidade filantrópica ou privada, mas cobra desempenho e transparência;  3) municipalização das escolas estaduais. Temos um pouco mais de 900 mil alunos inscritos na rede estadual de ensino. Destes, 510 mil são de ensino fundamental que deveriam estar nas mãos do municípios que, estando mais próximos da comunidade, têm mais facilidades de implantar medidas que melhorem a gestão das escolas; 4) colocar mecanismos básicos de gestão na rede estadual de ensino médio. Introduzir plano de metas e desenvolver ações específicas. Também montar sistemas de incentivos. Em suma, fazer gestão como se faz nas empresas e na rede privada de ensino. Sem direção, sem meta, não se sabe se houve ou não melhorias.
    JÁ: A saúde também está bastante sucateada…
    MB: O orçamento para a Saúde no Rio Grande do Sul é de aproximadamente R$ 4 bilhões. Não é pouca coisa. Mas, mais uma vez, falta gestão e falta inteligência na
    alocação dos recursos. Basicamente o que o estado faz é regulação e contratualização com entidades filantrópicas, com hospitais beneficentes ou privados para atender as demandas regionalmente. Não existe nenhum trabalho de mapeamento da demanda com a oferta de serviços. Boa parte destes serviços contratualizados foi feita no passado por indicação política. Saúde no século XXI, como fazem nos países desenvolvidos, é tecnologia, boa gestão e prevenção. O que falta é inteligência.
    JÁ: No que tange as especializações, há muita carência de recursos e equipamentos para o atendimento no interior do estado.
    MB: Claro. É por isso que existe fila de espera enorme para procedimentos de alta e
    média complexidade. Tenho acompanhado bastante isto como membro consultor do
    Hospital Moinhos de Vento. Existe uma carência de profissionais especializados para
    atender no SUS. Estes profissionais não vão para o interior e isso gera uma fila
    gigantesca pra este tipo de consulta. Estudos mostram que 60 por cento daquilo que é encaminhado para a fila de espera pode ser resolvido na atenção primária. Como é que o Reino Unido resolveu isso? Introduzindo mais telemedicina para que os profissionais mais especializados, aqueles que atendem somente nos grandes centros, possam, junto com o profissional da saúde local,orientar na resolução do problema, só recomendando o encaminhamento para consultas especializadas quando for absolutamente necessário. Outra medida seria dotar as Unidades Básicas de Tratamento (UBS) com equipamentos para resolver coisas mais simples – exame de sangue, eletrocardiograma, raio x, evitando que o paciente necessite ir para outro local e aguardar numa fila de espera. Depois, existe o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional (PROADI-SUS), do Ministério da Saúde, que permite através isenção de impostos que hospitais de alto padrão (Albert Einstein ou Sírio-Libanês, por exemplo) façam filantropia e atendam a população mais carente, permitindo a realização de exames que através de SUS levaria meses ou anos para serem realizados. Isso pode ser feito aqui. Buscar, no âmbito do PROADI, parceria com estes grandes hospitais privados e assim poder utilizar equipamentos de ponta, que são caríssimos, destas instituições. A ideia é fazer mais com os mesmos recursos. Inteligência e gestão O atual governo não avalia o que é prestado ao cidadão.
    JÁ: O tema da segurança tem dominado todos os debates.
    MB: Segurança é a maior preocupação dos gaúchos, dos brasileiros. Pela primeira vez
    nós temos Porto Alegre incluída na lista das 50 cidades mais violentas do mundo, é a
    trigésima nona. Proporcionalmente – média de 40 homicídios por grupo de 100 mil habitantes –se mata mais aqui do que no Rio de Janeiro que vive uma falência geral e sob intervenção. Andar em Porto Alegre dá medo. Houve casos em que as quadrilhas levaram bloqueador de celular para a cidade em que agiam, ninguém conseguiu chamar a polícia. Pra nós a segurança é tão prioritária quanto botar as contas em ordem. Não dá para esperar. Não vamos deixar a população morrer. São várias as razões da escalada do crime. O estado enfraqueceu e perdeu a capacidade
    para investir nas polícias e no sistema prisional. As leis contra o crime são muito
    brandas. Do outro lado houve o fortalecimento das facções criminosas. Elas ampliaram seus negócios e ganharam receitas adicionais como o contrabando de cigarros do Paraguai, onde a tributação é 17 por cento, contra 70 por cento da nossa. Hoje, quase 50 por cento do mercado de cigarros é contrabando. Tornou-se a principal fonte de financiamento do crime organizado no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. As facções se empoderaram, disputam territórios, são extremamente violentas. Este contrabando também acabou com 30 mil empregos formais na indústria do tabaco. Isto significa menos 550 milhões de impostos no Rio Grande do Sul. Prejuízo para 75 mil famílias gaúchas que plantam fumo.
    JÁ. Como o sr. pretende enfrentar a criminalidade?
    MB: O combate ao crime comum se faz com policial na rua. Já a luta contra o crime
    organizado – drogas, contrabando, assalto a bancos – se faz com inteligência,
    monitoramento. É fundamental investir nas polícias judiciária e científica, melhorar o
    grau de elucidação dos crimes que hoje é de cinco por cento: o sujeito tem que cometer 20 crimes para ser pego uma vez. Ou 20 criminosos cometem crimes e a gente só pega um deles. Tem que colocar tecnologia, gestão, melhorar os processos e montar uma força tarefa permanente que reúna e integre dados de todas as forças policiais. Para tanto é preciso recompor os efetivos, mas com treinamento adequado, da polícia civil e da Brigada Militar. Isto, em parte, é feito através de incentivos que freiem as aposentadorias precoces ou reconduza ao trabalho aqueles que querem voltar. Atualmente, para cada 100 reais que se gasta com policiais na rua, gasta-se 200 com policiais aposentados. Para se ter uma ideia, hoje, a folha da Brigada Militar é de R$129 milhões mensais para os ativos, e de R$ 280 milhões para os inativos.
    Também não adianta prender num dia e o juiz soltar no outro porque as prisões estão
    lotadas. Para acabar com esta desculpa vamos construir seis penitenciárias, uma delas com regime disciplinar diferenciado para isolar comandantes de facções.Também queremos retomar o projeto de uma Parceria Público Privada (PPP) prisional. Conheci este sistema no Reino Unido e nos Estados Unidos. Fiz um projeto quando era secretário do planejamento para desativar o Central, mas o governo seguinte não deu continuidade. Este modelo tradicional de prisão está falido. É preciso organizar um local onde o preso seja obrigado a trabalhar e garantir o seu sustento. Também é preciso elevar o custo para quem comete crime. As penas estão muito brandas. Nos Estados Unidos, em alguns estados, aplicava-se a lei Three Strike out. Ou seja, prisão perpétua para o indivíduo que comete o mesmo crime três vezes. Não há ressocialização para este nível de reincidente. O que existe no Brasil é impunidade em massa , e não encarceramento. Devemos acabar com o abrandamento de penas, como o indulto (para nós um insulto) de Natal, pois soltam os bandidos no final do ano. Terminar com a saídas temporárias, coisas esquizofrênicas, como o caso da Suzane von Richtofen, que matou os pais e saiu no dia das mães. Essa é a nossa lei penal. Tem que mudar isso. Prender mais, a gente prende muito pouco.
    JÁ: Como fica a questão do funcionalismo público?
    MB: O principal problema é o regime de aposentadoria em relação ao setor privado. Porque esta discrepância entre os que se aposentam pelo INSS, aos 65 anos, com salários menores, e um juiz com R$ 40 mil? Por que este instrumento de desigualdade? Um por cento entre os mais ricos no Brasil é formado majoritariamente por servidores públicos. Se não mudar esta regra de aposentadoria o estado, em breve, não vai ter mais capacidade de financiar despesa pública. De nada adiantará aumentar a carga tributária, pois chegará a curva de Laffer, onde quanto mais se cobra, menos se arrecada.Vamos chegar a Revolução de Atlas (referência ao livro A revolta de Atlas de Ayn Rand). O Rio Grande do Sul vai virar uma Grécia sem a União Européia para ajudar. No serviço público só devem ficar aqueles das áreas onde não dá para delegar: educação, saúde, segurança. A reposição de servidores deve ser só nestas áreas.
    JÁ: No atual governo o salário dos servidores é parcelado. Como será no
    seu?
    MB: Se o Sartori pudesse, ele pagava em dia, não iria enfrentar este desgaste numa
    eleição. Durante algum tempo os salários dos servidores continuarão a atrasando. Só um ignorante, que não entende nada de finanças, ou um demagogo, pode dizer que irá acertar isso logo.
    JÁ: E o que o sr. tem a dizer sobre o Regime de Recuperação Fiscal proposto por
    Sartori?
    MB: É o único caminho que a gente tem a curto prazo para colocar as finanças em
    ordem. É o alívio no serviço da dívida, três bilhões por ano, e isso pode permitir que as
    mudanças, que as reformas sejam feitas num ambiente de normalidade. Sem isso não
    dá. E é bom porque exige que o estado corra atrás das privatizações. Caso contrário o
    estado se torna ingovernável. Pretendo manter a alíquota de ICMS, mas enviarei uma
    proposta a Assembléia para que seja estabelecida uma redução gradual, 25 por cento,
    ano a ano, até voltar ao patamar original, para ter competitividade.
    JÁ: O Novo é tido como um partido de empresários. Isto é bom para atrair
    investimento?
    MB: Não, ele é composto por elementos de todos os segmentos sociais. Montamos um partido porque a mudança só pode vir através de um partido. Ela não virá dos tradicionais, todos eles envolvidos com corrupção. Tem algumas diferenças. O Novo não usa dinheiro público, do fundo partidário, eleitoral. Entende que os partidos são
    organizações privadas, assim como os clubes de futebol, as igrejas. Não tem o menor
    sentido tirar dinheiro da população para financiar partido político. Este dinheiro, cerca
    R$1,8 bilhão, poderia ter ido para a Educação, para a Saúde, para a Segurança. O Novo se financia só com doações voluntárias. Somos pessoas que querem resgatar o país de volta destes que nos roubaram. O novo é a única alternativa de renovação, pois é composto por pessoas que nunca se candidataram a nada. Quanto a outra questão, o que atrai investimento, empreendedor, é baixa carga tributária, baixa complexidade da legislação, e um ambiente de negócios que facilite a vida. Temos uma legislação ambiental estúpida, que trata todo mundo que quer produzir como um inimigo do meio ambiente, um aparato fiscal que trata de maneira hostil quem produz, quem trabalha. E trata todos aqueles que produzem riqueza como inimigos da sociedade. O Novo quer reverter isso. Garantir um ambiente mais simples, mais justo, com facilidades para quem quer empreender, com menos burocracia, menos alvará, etc.
    JÁ: Também há muita polêmica em relação a lei Kandir.
    MB: Há muita falácia em torno da Lei Kandir, que a União nos deve. A lei desonerou
    produtos semielaborados.e que são importantes na pauta de importações do Rio Grande do Sul.. Ao desonerá-los tornou-os mais competitivos e se exporta mais. Nos primeiros anos – década de 90 do século passado – houve perdas e a União ressarciu uma parte. Depois, como se exportou mais, este dinheiro retornou para a nossa economia, pois cresceu o consumo. Aí o governo federal diminuiu as compensações. Há um projeto de lei de ressarcimento e o RS receberia R$ 9 bilhões, R$ 900 milhões ano – contra os R$200 milhões que recebe atualmente – o que já está de bom tamanho. A gente perdeu muito mais com a redução das transferências do Fundo de Participação dos Estados por conta das desonerações do que com a Lei Kandir. E ninguém fala disso, ficam naquele lero-lero, porque não conhecem finanças. O problema é o tamanho da despesa pública. Porque a receita que vier da União virá de nós. Todos falam de dinheiro como se ele saísse do nada, desse em árvores. Quando as pessoas pedem o impossível, só os mais mentirosos se elegem, frase de Tomas Sowell, um economista americano. (na verdade é “só os mentirosos podem satisfazê-las”).
    JÁ: O sr ficou 24 horas no ar, na live, conversando com internautas. Como foi a
    experiência?
    MB: 24 horas no ar, mas 36 acordado. Tive o acompanhamento de 400 mil pessoas.
    Gravamos aqui em casa. Tive a ideia quando estava separando uns dvds para os meu
    filhos e vi a capa do House of Cards e pensei, vou fazer isso agora, já que não tenho
    tempo no rádio e na TV. Trata-se de um episódio da quinta temporada, 53, onde o
    governador de Nova Iorque concorre contra o Francis Underwood (personagem fictício
    e protagonista da série), e fica 24 horas no ar. O Beto Sousa topou e montou todo o
    aparato para gravar. E dê-lhe cafezinho, redbull e chimarrão. Foi difícil. Mas valeu.
    JÁ: O sr. faria alguma coligação no segundo turno, ou apoiaria algum partido que
    tivesse mais afinidade com as suas convicções liberais?
    MB: O eleitorado que disputamos é aquele do eleitor que está cansado da política e dos políticos tradicionais, mas quer votar. Também corremos o risco que esta descrença vire voto branco,nulo, ou, simplesmente, o eleitor se ausente. Disputamos o eleitorado que não quer votar mais no PT, no PMDB ou no PSDB. Todos estes partidos se tornaram uma mesma geleia. Todos eles têm o seu corrupto de estimação. Há um eleitorado que quer votar em gente ética, que está fora deste jogo político. Ou seja, as pessoas cansaram dos partidos tradicionais. Eu não sou um político profissional e não quero fazer da política um meio de vida. Vou me candidatar uma única vez. Se eu ganhar, vou governar e será o maior desafio da minha vida. Se eu não ganhar, estou fora, e na próxima eleição ajudo outro. Não conversei com nenhum dirigente de partido. Nossa aliança é com a sociedade. Não queremos fazer coligações espúrias. Agora, depois de ganhar as eleições nós vamos chamar os deputados que tiverem alinhamento com o que precisa ser feito. Uma coisa tenho certeza: vou para o segundo turno.