Em entrevista a Folha de S. Paulo, o ex-embaixador americano Thomas Shannon sugeriu ao governo Bolsonaro uma maior aproximação com os Estados Unidos, com abertura do mercado brasileiro aos produtos norteamericanos.
A abertura do mercado brasileiro para os EUA, segundo Shannon pode reduzir as barreiras americanas à entrada de produtos brasileiros, como aço e alumínio, hoje com tarifas restritivas
Shannon foi foi embaixador no Brasil durante quase quatro anos (2010-2013) e ocupava o terceiro mais alto cargo do Departamento de Estado dos EUA até o início deste ano.
A receita dele para estreitar as relações políticas e comerciais entre os dois países passa pelo reconhecimento a patentes, compras de armas, cerco à Venezuela e afastamento da China.
“As áreas que têm potencial de avanço continuam as mesmas. Uma delas é, obviamente o comércio. Brasil e EUA precisam focar em investimento e acesso a mercado. Transferência de tecnologia e proteção de propriedade intelectual também são prioridades. Há espaço para uma cooperação em segurança, envolvendo as Forças Armadas dos dois países. Podemos expandir programas de treinamento, desenvolvimento de tecnologia militar e de armamentos. No campo político, a Venezuela é certamente a questão maior e mais premente, mas é preciso falar sobre a China.”
Com relação à china a pressão é explícita: “Acredito que o presidente eleito e sua equipe entendem que, ainda que seja importante vender commodities para a China, o tipo de relação econômica que o país tem com os EUA oferece muito mais para o futuro do Brasil”. Ele sinalizou que quer o Brasil inundado por produtos ‘made in USA’: “O mercado brasileiro é relativamente fechado”.
Sobre a Venezuela, Shannon deixou claro que a intervenção no país será um tema da visita a Bolsonaro do assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, da ala “dura” do governo Trump.
Ele vem ao Brasil no próximo dia 29 para estabelecer uma pauta comum no tratamento da questão Venezuela: “A conversa entre Bolsonaro e Bolton será importante para isso. Tanto o Brasil como os EUA querem continuar pressionando o governo venezuelano a permitir a entrada de ajuda humanitária”.
Na entrevista, o ex-embaixador sugere sanções brasileiras à Venezuela: “Isso depende da estrutura de sanções do país, não sei até onde o Brasil pode ir nesse sentido. Mas o Brasil tem investimentos significativos na Venezuela e é um grande fornecedor de alimentos, ou seja, tem outras alavancas que pode usar”.
Categoria: Geral
-
Ex-embaixador americano sugere que Bolsonaro se afaste da China
-
Haddad e Boulos lançam frente em defesa dos movimentos sociais
Fernando Haddad, candidato do PT, e Guilherme Boulos, candidato do PSOL, na última eleição presidencial, lançaram ontem em Brasilia “um movimento de resistência a qualquer tentativa de criminalização dos movimentos sociais e de ataques às liberdades democráticas garantidas pela constituição”.
Em ato na Câmara dos Deputados, os dois líderes criticaram os ataques recentes do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e de seus aliados, tentando criminalizar os movimentos sociais e suas mobilizações.
Fernando Haddad, manifestou “solidariedade irrestrita ao direito de organização e de reivindicação de todos os movimentos sociais”, especialmente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), “os mais ameaçados pelas recentes tentativas criminalização”.
“Temos que construir a democracia e criar condições concretas para que as pessoas tenham direito à terra, à casa própria, à escola, à universidade e ao sistema de saúde. Portanto, esses movimentos [sociais] têm o compromisso com o que há de mais sagrado em um ambiente de liberdade, os direitos sociais e civis”, declarou Haddad.
Boulos afirmou que os movimentos sociais “não vão se intimidar com ameaças de criminalização de suas lutas”.
Como exemplo, citou a tentativa de endurecer a lei contra o terrorismo (PLS 272/16), atualmente em tramitação no Senado. Parlamentares de direita, principalmente aliados do próximo presidente, tentam classificar o MST e o MTST como organizações terroristas.
“É verdade que o Bolsonaro foi eleito, mas a democracia não é praticada apenas em um domingo de quatro em quatro anos. A democracia é uma prática cotidiana que pressupõe o respeito às oposições, às minorias, aos movimentos sociais e às liberdades constitucionais, como o direito à livre manifestação e à livre expressão. Não se pode tratar movimento social na pancada, mas sim com políticas públicas”, avisou Boulos.
O representante da direção nacional do MST Alexandre Conceição também criticou a tentativa de criminalização dos movimentos sociais.
Ele garantiu que o movimento em defesa da democracia, e do direito à terra, a teto e pela demarcação das terras indígenas “está apenas começando”.
“Eles dizem que somos terroristas, mas terrorismo é a política econômica que querem implementar, que tira direitos da classe trabalhadora e joga milhões na pobreza. Ocupar terra não é crime, crime é não fazer a reforma agrária e a reforma urbana. Nenhum minuto de silêncio, nenhum passo atrás, faremos a resistência contra a retirada de qualquer direito e a criminalização dos movimentos sociais”, desafiou.
Também discursaram durante o ato público deputados representando o PCdoB, o PSOL, além da líder indígena Sônia Guajajara, candidata a vice-presidente na chapa de Boulos na última eleição. -
Banco Sicredi inova com conselheiro independente na Administração
O banco Sicredi é o primeiro do sistema cooperativo a ter um conselheiro independente no seu Conselho de Administração.
Walter Oti Shinomata, profissional com ampla experiência no mercado financeiro, tendo também atuação no segmento de cooperativismo, foi eleito para o exercício até 2021.
“O Sicredi está dando mais um passo pioneiro em sua história, exemplo que tende a ser seguido pelo cooperativismo. Me sinto honrado e motivado com esse desafio”, garante Shinomata.
Para o presidente da SicrediPar, Manfred Alfonso Dasenbrock, este é um avanço que amplia a pluralidade nas decisões e demonstra o amadurecimento da instituição.
“Nós já somos referência, inclusive internacional, dentro do cooperativismo de crédito e a atuação do Walter vai ao encontro das melhores práticas. Nosso novo modelo de processo decisório vai gerar uma visão ainda mais positiva do mercado sobre as nossas cooperativas”, contextualiza.De acordo com o presidente-executivo do Banco Cooperativo Sicredi, João Tavares, a chegada do novo conselheiro fortalece os principais pilares de governança do Sicredi.“É um acréscimo do ponto de vista do relacionamento com instituições e entidades, além de nos engrandecer com a inclusão de uma visão externa, trazendo uma capacidade maior de autocrítica e reforçando a nossa credibilidade, que é gerada não só pelos nossos números, mas também pela robustez do processo de governança”, resume.Criada em 2008, a Sicredi Participações S.A. (SicrediPar) é a Holding que controla o Banco Cooperativo e coordena as decisões estratégicas do Sistema. A SicrediPar propicia às cooperativas de crédito participarem, de maneira direta e formal, da gestão corporativa, dando maior transparência à estrutura de governança.O Conselho de Administração, que se reúne mensalmente para discutir e deliberar sobre temas estratégicos e sistêmicos, é composto por 12 membros. Desses, cinco são presidentes das Centrais, outros cinco representantes de cooperativas singulares (um por Central), um representante indicado pelo Rabobank, e agora um conselheiro independente. Todos são eleitos em assembleia geral para um mandato de três anos.Sobre o SicrediO Sicredi é uma instituição financeira cooperativa comprometida com o crescimento dos seus associados e com o desenvolvimento das regiões onde atua. O modelo de gestão valoriza a participação dos 3,9 milhões de associados, os quais exercem um papel de dono do negócio. Com presença nacional, o Sicredi está em 22 estados* e no Distrito Federal, com mais de 1.600 agências, e oferece mais de 300 produtos e serviços financeiros.*Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.(Com informações da Assessoria) -
Aumenta estoque de casas e apartamentos devolvidos aos bancos
O drama de quem não consegue mais pagar as prestações da casa própria se acumula na carteira imobiliária dos agentes financeiros.
Os leilões já não são suficientes para desovar o estoque cada vez maior de imóveis retomados pelos bancos, em função da crise econômica e do desemprego.
Só no 1º semestre deste ano, foram colocados à venda 17,5 mil imóveis, número igual ao total colocado à venda em todo o ano de 2016 (17.934).
A estimativa é que supere com folga o ano passado, quando a oferta foi de 28.291 imóveis.
A Caixa, maior agente financiador do país, vendeu no ano passado, 10,5 mil imóveis retomados. Só no primeiro trimestre deste ano, foram 5 mil imóveis.
Para reduzir os estoque, os bancos recorrem a novos novos canais de venda.
A própria Caixa, já no ano passado, firmou convênio com o COFECI (Conselho Federal dos Corretores de Imóveis) para que os corretores pudessem atuar no atendimento a clientes para esse tipo de compra.
Além desse canal offline, os bancos tem investido em formas de venda online.
Segundo levantamento realizado pela Resale, empresa que fornece tecnologia para o setor, somente a Caixa tem 87% dos seus imóveis à venda ainda ocupados pelos antigos mutuários, sendo 66% casas e 26% apartamentos.
A média de desconto na venda dos imóveis é de 20%, sendo 19% para imóveis desocupados e 20% para os ocupados.
(Com informações da Assessoria de Imprensa) -
Novo presidente defende privatizar "Petrobras e outras estatais"
O economista Roberto Castello Branco, futuro presidente da Petrobras nomeado por Bolsonaro, já defendeu por diversas vezes a privatização “urgente” da estatal.
Ex-diretor da Vale e do Banco Central, atualmente, Castello Branco dirige o Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A nota que anuncia Castello Branco como novo presidente da Petrobras também destaca a sua passagem acadêmica pela Universidade de Chicago, onde realizou pós-doutorado.
É a mesma instituição em que Paulo Guedes, o superministro, responsavel por sua nomeação, se formou mestre e doutor em economia, conhecida pela formação ultraliberal ,que tem no norte-americano Milton Friedman seu principal expoente.
A última vez que Castello Branco defendeu “a urgente necessidade de privatizar não só a Petrobras, mas outras estatais” foi em julho passado, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, no rescaldo da greve dos caminhoneiros.
Sua manifestação se deu após a gestão Pedro Parente na Petrobras decidir atrelar o valor cobrado na bomba às flutuações do mercado internacional de petróleo.
” Precisamos de várias empresas privadas competindo nos mercados de combustíveis”, defendeu o economista.
Ele criticou a saída encontrada pelo governo Temer de congelar temporariamente o preço do diesel e propor o tabelamento dos fretes, justificando a necessidade de “privatização urgente” da Petrobras.
“É inaceitável manter centenas de bilhões de dólares alocados a empresas estatais em atividades que podem ser desempenhadas pela iniciativa privada, enquanto o Estado não tem dinheiro para cumprir obrigações básicas, como saúde, educação e segurança pública, que até mesmo tiveram recursos cortados para financiar o subsídio ao diesel.”
Em 2016, após ter saído do Conselho de Administração da estatal, Castello Branco também defendeu a privatização como solução para suposta intromissão do governo na gestão da Petrobras.
Ele criticou a política de preços dos combustíveis que havia sido colocada em prática durante o governo Dilma e saudou Parente, então recém-nomeado como presidente.
À época, ele também defendeu que a Petrobras acelerasse seu plano de “desinvestimento”, com a venda de ativos que vão desde campos de petróleo em terra e em costa à saída de parcerias com outras empresas, caso da petroquímica Braskem.
(Com informações da RBA) -
Faltam dois nomes para completar equipe ultraliberal que vai comandar economia
A equipe que vai comandar a economia no governo de Jair Bolsonaro está praticamente fechada.
Faltam os nomes para a Caixa Federal e o Banco do Brasil, para completar o time escolhido pelo o super Ministério da Economia Paulo Guedes(que vai unir Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior).
A expectativa de uma politica ultraliberal na condução econômica se configura a cada nome anunciado.
Além do próprio Guedes, integram a equipe econômica os economistas Roberto Campos Neto, que irá para o Banco Central, Roberto Castello Branco, que assumirá a Petrobras, e Joaquim Levy, que vai presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Atual diretor financeiro do Banco Mundial, Levy já trabalhou na gestão do governador Sergio Cabral, no Rio de Janeiro, e foi ministro da Fazenda no segundo mandato de Dilma Rousseff.
Roberto Campos Neto, executivo do Banco Santander, substituirá Ilan Goldfajn. Campos Neto terá a missão de levar adiante o projeto de independência do Banco Central com mandato fixo de presidente não coincidente com o do presidente da República. A medida é defendida por Paulo Guedes e já há projeto em tramitação no Congresso Nacional.
Para assumir o cargo de presidente do BC, Campos Neto precisa ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e ter seu nome aprovado tanto pelo colegiado quanto pelo plenário da Casa.
No comando da Secretaria do Tesouro Nacional desde abril deste ano, Mansueto Almeida também foi confirmado para a equipe econômica do próximo governo e deve permanecer no cargo. O economista é técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na área econômica, o último nome anunciado foi o de Castello Branco para a Petrobras. Hoje (19) a equipe de transição confirmou que o economista aceitou o convite.Críticas
A extinção dos ministérios do Planejamento, Indústria e Comércio e sua fusão com a pasta da Economia gerou críticas de empresários. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestou-se contra a medida.
O presidente da CNI, Robson Andrade, disse que uma indústria forte é o caminho para levar o Brasil para a rota do desenvolvimento econômico e social e, para isso, é preciso um ministério específico, que não seja atrelado à Fazenda, mais preocupada em arrecadar impostos e administrar as contas públicas.(Com informações da Agência Brasil). -
Rafael Guimaraens na linha do bonde
GERALDO HASSE
Operando na fronteira entre o jornalismo e a literatura, Rafael Guimaraens descolou no passado de Porto Alegre mais um crime que lhe permitiu sobrevoar a linha (in)divisória entre a realidade e a ficção. Desde A Enchente de 1941, a recuperação histórica tem sido uma alternativa à falta de espaço para o jornalismo na imprensa.
Com exceção de um ou outro trecho, o ex-repórter do Coojornal (editora alternativa que sobreviveu em Porto Alegre de 1974 a 1982) recupera com habilidade o caso do assassinato de uma mulher por seu próprio marido enciumado, crime praticado no fim da linha de um bonde na capital gaúcha.
O crime foi notícia de jornal em 1926. Bem explorado, não renderia mais do que um conto, hoje em dia. Esticado, daria uma novela. Nas mãos do Guimaraens filho de escritor e neto de poeta, virou um romance com potencial para se tornar roteiro de cinema ou TV.
Por conta de uma pesquisa que nenhum jornalista teria tempo de fazer nas atuais condições do exercício da segunda profissão mais antiga do mundo, o autor carrega a história de Eduardo-Dallila-Carlos para fora de Porto Alegre em busca das origens da vítima do homicídio.
Trata-se de um estudante de direito em São Paulo que participa da campanha civilista de Rui Barbosa em 1909 e se torna assessor do senador Pinheiro Machado (morto por uma facada em 1915 no Rio), após o que, já entrado na vida madura, é nomeado promotor de justiça em Passo Fundo, casa-se em Carazinho e acaba em Porto Alegre onde se dá o gosto de assediar mulheres casadas.
Verdade ou invencionice de escritor? Em nenhum lugar do livro está escrito que se trata de romance, dentro do qual há espaço para licenças eróticas como numa sequência das páginas 128/129, mas a trama faz lembrar narradores célebres como Truman Capote, o repórter norte-americano que gostava de contar histórias como o consagrador A Sangue Frio.
Para chegar ao “FIM DA LINHA – O Crime do Bonde”, o leitor precisa percorrer 266 páginas até o desfecho sangrento anunciado na capa, obra da designer Clô Barcellos, que impõe ao livro uma extraordinária qualidade gráfica. Companheira de Rafael e sócia-fundadora da Libretos, a missioneira usa a segunda orelha do livro (R$ 32 na Feira do Livro) para um libelo contra a opressão machista.
Curto e grosso, é um baita puxão de orelha, indício talvez de que a Libretos, ou Clô, ou ambas, podem estar engatilhando alguma coisa no âmbito da militância feminista.
-
Livro conta como Roberto Marinho construiu um império traindo seu pai
Passou despercebido, na isolada barraca dos Escritores Independentes da 64.a Feira do Livro de Porto Alegre, o volume de 680 páginas do pesquisador Marco Aurélio Barroso.
Ele levou 16 anos para comprovar uma tese que lhe nasceu de um recorte de jornal: quando assumiu o jornal O Globo, semente da Rede Globo, depois da morte de seu pai, o construtor desse império de comunicações, Roberto Marinho obteve isso ao custo de trair os principios fundamentais do jornalista Irineu Marinnho, seu pai.
Para dar cabo da tarefa, custeada pelo próprio bolso, Barroso chegou a mudar-se para perto da Biblioteca Nacional, onde passou seus dias anos a fio.
Produziu cerca de três mil páginas e o volume que está circulando é o primeiro de uma série, três ou quatro, ele ainda não definiu.
Para provar que Irineu Marinho era um jornalista nacionalista, independente, crítico ao capitalismo, Barroso remontou ao início de sua carreira num meio jornalístico formado por grandes nomes. Em toda sua trajetória pelos grandes jornais da época (época riquíssima do jornalismo) e principalmente em A Noite, que dirigiu até 1925, deixou o jornal para fundar O Globo.
Ele morreu dez dias depois…Enfim, pode-se questionar algumas conclusões do pesquisador, mas o livro é leitura obrigatória para jornalistas. -
Feira do LIvro: a intolerância também vai à praça
Ano passado todos os eventos que abordavam feminismo tiveram manifestações hostis de militantes do MBL.
Num dos incidentes num sarau patrocinado pela Petrobras, um deles gritou: “A Petrobras sabe que estão desviando o dinheiro dela para uma coisa dessas. Mamando nas tetas… “. Tiveram que chamar a segurança para retirá-lo.
Este ano já em dois momentos, um homem que não foi identificado interferiu agressivamente. Ele estava com uma criança.
Num slam, espécie de trova entre poetas, que reunia estudantes de escolas da periferia, ele gritou, enquanto saía com a criança pela mão: “Isso vai acabar, essa negrada! O Bolsonaro vai acaber com tudo isso”.
Segundo a coordenadora do programa, Sonia Zanchetta, foi a segunda manifestação dele, no mesmo tom.
Algumas pessoas o advertiram de que racismo é crime, o homem saiu esbravejando. “Isso tudo é sinal do que vem por aí”, diz a coordenadora.
-
Maria Carpi, a patrona da Feira do Livro, lança "Uma casa no pampa"
Ana Carolina Pinheiro
“Eu não quero foto com livro na mão. Por que todo mundo acha que escritor
tem que tirar foto com livro na mão?”.
Foi assim que Maria Carpi, patrona da 64ª Feira do livro de Porto Alegre, nos recebeu na casa em que mora no bairro Petrópolis, zona norte da Capital.
Apaixonada por plantas, a autora faz questão de fazer fotos em seu recanto
cercado de verde.
Aos 79 anos, Maria Carpi relembra a infância em Guaporé, e conta que vem de menina o gosto pela natureza.
“Eu tive o privilégio de viver no interior. Nasci e vivi no interior. Meu pai veio adulto da Itália. Ele e a minha mãe, Elisa, tinham um hotel em Guaporé que estava inserido em um pomar. Eu tive uma infância ensolarada”.
Sobre o gosto pelos livros, a escritora destaca que foi apenas aos 15 anos,
quando deixou Guaporé e veio para a Capital estudar no Bom Conselho, que o
hábito da leitura de desenvolveu.
“Na escola de Guaporé, eu ficava inquieta na biblioteca porque eu queria brincar na natureza. Para mim, a natureza veio antes dos livros. Por isso insisto que criança deve brincar. Primeiro vem o brincar, depois os livros”.
Apesar de seu pai ter um grande amor pelos livros, foi o Colégio Bom Conselho
o grande responsável por desenvolver seu gosto pela leitura. “Foi o Bom
Conselho que me deu, principalmente a minha professora Carmen Santos, que
foi excelente comigo”.
Com orgulho, a autora conta que já foi eleita patrona da
Feira do Livro do Colégio que considera tão importante na sua formação.
“Já fui patrona da Feira do Livro do Bom Conselho. Saí aluna e voltei escritora,
patrona”.
Bacharel em Direito pela UFRGS, Carpi conta que fez do livro uma escolha:
“Eu escolhi o livro. Quando alguma coisa me bate eu vou a procura. Não leio
por erudição. Eu leio por fome”.
Defensora Pública aposentada, a autora conta que durante muito tempo mal tinha tempo para escrever. Mãe de quatro filhos e avó de seis netos, trabalhava no juizado da infância e ainda dava aulas de Linguagem Jurídica na PUCRS.
“O meu filho Fabrício sempre dizia: eu nem sei quando a mãe escreve”.
Foi aos 50 anos, inspirada por amigos, que Maria Carpi lançou seu
primeiro livro de poemas, “Nos gerais da dor”.
Havia outros 15 manuscritos na gaveta. “Escolhi um dos que já tinha. Todos os meus amigos se reuniram para ajudar, principalmente o professor Luiz Antonio de Assis Brasil, que insistiu para que eu publicasse”.
O reconhecimento veio logo. “Nos gerais da dor” venceu o Prêmio da
Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) na categoria Revelação em
Poesia em 1990 e o Prêmio Erico Verissimo da Câmara Municipal de Porto
Alegre em 1991.
De lá para cá já são 14 livros publicados, com um inédito chegando para a
Feira do Livro. “Uma casa no pampa” será lançado dia 15 de novembro, às
18h30min, na praça central de autógrafos, pela editora Ardotempo.
Para a autora, o lançamento foi um milagre: “quando fui indicada para ser patrona,
fiquei triste por não ter um livro novo. Mas o editor, o meu amigo Alfredo Aquino
quis lançar para a Feira. Assim aconteceu. Milagres ainda acontecem”.
“Uma casa no pampa”, para Maria Carpi, é um livro que trata sobre a
cordialidade pampeana.
“Eu sou sulina, muito latino-americana. Eu amo desde
o Martín Fierro, Atahualpa Yupanqui, todos poetas latino-americanos. Tenho
empatia muito grande por eles. Dentro do Brasil, me sinto muito gaúcha. Nesse
livro novo procuro refletir o que é a imensidão do pampa que cabe no
coração”.
Sobre a experiência do patronato, Maria Carpi conta que a notícia a deixou
muito feliz: “Foi uma alegria, me agrada muito. Veio na hora certa, como marco
de uma caminhada bem-sucedida”.
Para aguentar os 18 dias de extensa programação, a patrona contará com
ajuda dos outros escritores que disputaram com ela o patronato – Caio Riter,
Celso Gutfreind, Claudia Tajes e Leticia Wierzchowski.
“Convidei os quatro escritores jovens que me acompanharam no patronato para que eles me ajudem a caminhar. Já tenho 79 anos, vou providenciar uma cadeira amarela
para me sentar. E onde eu não puder chegar, os livros vão. Os livros vão
caminhar muito”.
Para os que estão começando a carreira das letras, Carpi lembra que a poesia
está em todos os lugares, no gesto e na cordialidade – é só saber ver. “E como
faz para a gente aprender a ler poesia? Primeiro, se desenvolve a
sensibilidade; depois, pega o livro”, brinca.
No entanto, lembra que o fazer poético requer trabalho: “Escrever poesia é
uma vocação, é uma aceitação que requer disciplina, tenacidade e paciência.
Eu só fui me disciplinar como escritora já mais madura, com 37 anos. Depois
me preparei para lançar livro com 50, 51 anos. Eu não tenho pressa. Não sou
parâmetro para ninguém. Cada um tem que encontrar seu próprio ritmo”.
O processo de produção de Maria Carpi é meticuloso. Por não ter pressa para
publicar, a autora se debruça muitas vezes em seus versos, até ter a sensação
de que ele já se tornou independente: “Eu prefiro esperar, revisar, revisar,
revisar. Sou assim. Quando releio um livro para publicar, eu percebo que ele
não é mais meu. Esse é o sinal de valor – quando o livro escapa da gente”.
A obra de Maria Carpi há muito já escapou de sua autora. Seus dois livros de
prosa poética, “Abraão e a encarnação do verbo” e “O senhor das
matemáticas”, já ganharam traduções para outros idiomas. Com orgulho, Carpi
destaca que vem servindo como instrumento de pesquisa para sua neta
Mariana, que cursa Letras na UFRGS. “A minha neta Mariana está traduzindo‘O senhor das matemáticas’ para o espanhol junto com a professora dela.
Estão traduzindo dentro da teoria da enunciação”.
