Autor: da Redação

  • Patrimônio histórico: proprietários vão assumir o restauro da Casa Azul

    O Município de Porto Alegre, o Ministério Público do Rio Grande do Sul e os proprietários da Casa Azul, localizada na rua Riachuelo esquina com Marechal Floriano, chegaram a um acordo sobre a manutenção e restauro do imóvel.

    Desde maio, a circulação de veículos e pedestres está impedida nas imediações devido ao risco de desabamento da fachada.

    Em audiência de conciliação na segunda-feira, 10, na 3ª Vara da Fazenda Pública, os proprietários apresentaram cronograma para o restauro, elaborado a partir de ações e etapas definidas pela Coordenação da Memória da Secretaria Municipal da Cultura (SMC).

    Orçada em R$ 1,3 milhões a obra será realizada com recursos da família, bloqueados pela Justiça. O prazo de execução será de seis meses, a contar da liberação da primeira parcela do recurso pelo Poder Judiciário.

    O andamento será acompanhado pela Coordenação da Memória da Secretaria Municipal da Cultura (SMC). O Poder Judiciário será informado sobre a conclusão de cada etapa, para fins da liberação dos recursos à família proprietária do imóvel.

    O imóvel é inventariado como de interesse histórico-cultural e acumula dívidas de IPTU e taxa de coleta de lixo que somam R$ 275 mil, em cobrança judicial.

    O desbloqueio do trânsito deve ocorrer após a conclusão da primeira etapa da obra, que inclui a retirada de lixo e estabilização da fachada.

    (Com informações da Assessoria de Imprensa)

  • Os direitos humanos e o governo Bolsonaro

    Discurso do jornalista Luiz Claudio Cunha na sessão especial do Senado Federal em comemoração aos 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos.
    “Hoje, segunda-feira, 10 de dezembro, celebramos os 70 anos do documento público mais traduzido do mundo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, transcrita em 514 diferentes idiomas do planeta.
    Na quinta-feira, 13 de dezembro, lembraremos os 50 anos do maior golpe contra os direitos humanos no Brasil: a edição do AI-5, o ato institucional mais implacável da ditadura de 21 anos que, a partir do golpe de 1º de abril de 1964, agrediu duramente os direitos humanos e políticos de milhares de brasileiros – perseguidos, presos, interrogados, torturados, mortos, desaparecidos, exilados ou cassados pelo regime dos generais.
    E dentro de três semanas, na primeira terça-feira de 2019, primeiro dia do novo ano, teremos os militares de volta ao poder, 34 anos após a queda da ditadura em 1985.
    Em 1964, os generais tomaram o poder pela força das armas e dos tanques.
    Em 2018, os generais voltam ao poder pela santidade do voto popular.
    Os militares brasileiros retomam o comando do País porque nós, o povo, elegemos o capitão Jair Bolsonaro e, com ele, seus camaradas de tropa. Esse é o paradoxo, essa é a tragédia da democracia brasileira.
    A civilização do processo político é a radicalização do poder civil. A generalização do poder, pela exagerada presença e ingerência dos generais, é a degradação da política.
    Nenhuma grande democracia no mundo dá tantos poderes aos generais.
    Nem os cinco generais-presidentes da ditadura de 1964 deram tanto espaço aos militares como o capitão-presidente da democracia de 2018.
    O primeiro deles, o marechal Castello Branco, tinha só 5 oficiais-generais em seu ministério. O segundo, general Costa e Silva, teve 7 militares no seu gabinete. O terceiro, general Garrastazú Médici, acolheu outros 7 militares. O quarto, general Ernesto Geisel, convocou também 7 militares para sua equipe. O último da ditadura, general João Figueiredo, abrigou 6 militares.
    O novo governo terá 9 militares em postos chaves do ministério: Um general no Gabinete de Segurança Institucional – Augusto Heleno. Um general na Defesa – Fernando Azevedo e Silva. Um general na Secretaria de Governo – Carlos Alberto dos Santos Cruz. Um almirante nas Minas e Energia – Bento Costa Lima. Um general na Comunicação – Floriano Peixoto Vieira Neto. Um general na Secretaria de Assuntos Estratégicos – Maynard Marques de Santa Rosa. Um tenente-coronel na Ciência e Tecnologia – Marcos Pontes. Um capitão na infraestrutura – Tarcísio Gomes de Freitas.  Um capitão na Transparência, Fiscalização e CGU – Wagner Rosário.
    São nove militares, sem contar o capitão presidente e o seu vice, general Hamilton Mourão. A overdose de militarismo revive a Guerra Fria e sua paranoia anticomunista.
    O muro de Berlim caiu no final da década de 1980, mas ele continua de pé no entorno de Bolsonaro, que vê ameaça marxista em tudo.
    O capitão escolheu como chanceler um diplomata do baixo clero do Itamaraty, Ernesto Araújo, que, como ele, idolatra Donald Trump, “o único que pode salvar o Ocidente”. Missão dada ao chanceler por Bolsonaro, segundo ele: “Libertar o Itamaraty do marxismo cultural!”.
    Araújo quer levantar “barricadas contra a China maoísta que dominará o mundo!”. Alguém precisa avisá-lo que a China pode ser qualquer coisa, menos maoísta…
    O chanceler esperto de Bolsonaro diz que os defensores do aborto querem “uma sociedade onde ninguém nasça, nenhum bebê, muito menos o menino Jesus…”
    Araújo diz ter uma missão divina: “Ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista, um sistema anti-humano e anticristão pilotado pelo marxismo cultural. A fé em Cristo significa lutar contra o globalismo… abrir-se para a presença de Deus na política e na história”.
    Traduzindo isso aí, como diz Bolsonaro: o Brasil acima do globalismo, Deus e Trump acima de todos…
    Os direitos humanos — que hoje celebramos aqui — estarão sempre ameaçados quando a estupidez oblitera a inteligência.
    O primeiro nome pensado para a Educação foi o de um respeitado ex-reitor da universidade de Pernambuco. Não emplacou porque Mozart Neves Ramos foi vetado pela bancada evangélica.
    O sonho da bancada era Guilherme Schelb, um procurador abilolado com a discussão sobre gênero em sala de aula. Diz ele: “Crianças de 8, 9 anos, recebem como dever de casa quesitos sobre sexo grupal, como dois homens transam, o que é boquete…”
    Schelb não disse onde viu isso, não provou nada do que disse, mas mereceu uma longa audiência com Bolsonaro, dia 22 de novembro, até ser descartado como ministro.
    Para a Educação, o capitão não chamou um general, mas alguém que os forma. O colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, brasileiro naturalizado há 20 anos, é professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), passagem obrigatória para majores e tenentes-coronéis que ambicionam ser generais, o topo da carreira.
    O homem da Educação de Bolsonaro é, como seu capitão comandante, um nostálgico da ditadura. Vélez escreveu no seu blog: “1964 é uma data para lembrar e comemorar… ela nos livrou do comunismo”.
    Vélez criticou a Comissão Nacional da Verdade, que investigou as violações aos direitos humanos pela ditadura militar e responsabilizou os cinco generais-presidentes pelos 434 casos de mortes e desaparecimentos praticados por 377 agentes públicos do regime militar, sempre louvado por Bolsonaro e seus camaradas.
    Para o novo ministro, a CNV foi  “mais uma encenação para a ‘omissão da verdade’… a iniciativa mais absurda que os petralhas tentaram impor”.  
    Assombrado pelos demônios da Guerra Fria, Vélez diz que “os regulamentos do MEC fizeram os brasileiros reféns de um sistema de ensino afinado com a tentativa de impor à sociedade uma doutrinação de índole cientificista e enquistado na ideologia marxista…” E por aí vai o emérito professor dos futuros generais!
    Não por acaso, os dois ilustres ministros do capitão-presidente atendem a uma sugestão de um bizarro brasileiro enquistado há uma década em Petersburg, uma pequena cidade de 30 mil habitantes no Estado americano da Virgínia. Olavo de Carvalho é um exótico ex-astrólogo que se tornou guru do clã Bolsonaro e da direita radical brasileira.
    Muçulmano e marxista na juventude, Olavo agora se diz filósofo (embora não tenha título universitário) e se converteu depois em cristão fundamentalista e em conservador extremado.
    Na sua alucinada arrogância supostamente intelectual, Olavo tem a audácia de atacar alguns dos gigantes que moldaram o pensamento da humanidade.
    O ex-professor de astrologia e alquimia diz que Isaac Newton disseminou o vírus da burrice na Terra, Galileu Galilei era charlatão, Charles Darwin é o pai do nazismo e Albert Einstein não passa de uma fraude.
    Da cabeça amalucada de Olavo, que faz a cabeça do capitão-presidente, brotaram algumas das frases mais grotescas e cômicas da atualidade. Alguns exemplos: “O general Geisel era comunista”, “cigarro não dá câncer”, “o nazismo e o FMI são de esquerda”, “a Pepsi-Cola usa fetos abortados como adoçante”, “não há provas de que o Sol seja o centro do sistema solar”…
    Uma das brilhantes constatações científicas de Olavo começa por uma pergunta:  “Você entende um cachorro, a cabeça de um gato? Não entende. Mas você tem amor por eles… A mulher, também. Não é para entender, meu filho…”
    Olavo é autor de um best-seller que já vendeu 320 mil exemplares: O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota. Pelo conteúdo impagável de suas ideias delirantes, Olavo certamente não leu seu próprio livro…
    Em 1962, pouco antes do golpe militar, dois autênticos gênios da cultura brasileira, que não devem habitar o universo olavista, conversavam no Bar Veloso, santuário carioca da Bossa Nova em Ipanema. O humorista Millôr Fernandes definiu, aliviado, para seu amigo, o compositor Tom Jobim: “O mundo tem muitos idiotas, Tom, mas felizmente estão todos nas outras mesas…” O admirável mundo novo da Internet, para nosso desconsolo, agora trouxe gente como Olavo de Carvalho para as mesas de todos nós!
    É dele a expressão “alarmismo climático”, que Bolsonaro e outros ilustres seguidores do olavismo sem fronteiras usam para desdenhar do aquecimento global — uma evidência cada vez mais assustadora comprovada pelos cientistas, pelos satélites da NASA e pelo noticiário intenso e crescente de todo dia na TV sobre inundações, secas, destruição de rios e florestas.
    São os efeitos dramáticos da ação desordenada de líderes arrivistas e governantes complacentes que ajudam a agredir o meio ambiente da Terra, o lar de todos nós — até mesmo de Bolsonaro e seus olavistas.
    Um relatório assustador de outubro passado da ONG WWF (World Wildlife Fund) revelou que, de 1970 para cá, a população de mamíferos, pássaros, peixes e répteis diminuiu em 60%.
    Nos últimos 50 anos, desapareceram 20% da vegetação da Amazônia, o maior pulmão do planeta. Se chegar a 25%, a grande floresta entrará num colapso sem volta. O Brasil, maior fronteira de desmatamento do mundo, já perde 1,4 milhão de hectares de vegetação natural por ano — o equivalente a mais da metade do Estado de Alagoas. 
    Inspirado em seu avatar Donald Trump, Bolsonaro ameaça deixar o Acordo de Paris, um tratado arduamente costurado durante meses por quase 200 nações do mundo e selado em 2015.
    Para provar que fala sério, o capitão já desistiu de fazer, no Brasil, a próxima Conferência do Clima, a COP 25, que estava marcada para 2019.  O olavismo predatório devasta as poucas áreas de sensatez e de consciência do país.  
    Anunciado só ontem, domingo (9), sintomaticamente a última escolha ministerial de Bolsonaro, o novo ministro do Meio Ambiente, o advogado Ricardo Salles, fundador do Movimento Endireita Brasil, já bateu continência para o desatino que deve colocar o Brasil na contramão da inteligência: “A discussão sobre aquecimento global é secundária. Essa discussão agora é inócua…”
    O penúltimo ministro anunciado por Bolsonaro foi a pastora evangélica Damares Alves, que vai cuidar dos Direitos Humanos.
    O repórter Bernardo Mello Franco, de O Globo, revelou sua crença maior, confessada no púlpito de uma igreja batista em Belo Horizonte, em maio de 2016, e que contraria frontalmente o princípio constitucional do Estado Laico: “Chegou a nossa hora. É o momento da igreja de Jesus ocupar a nação. É o momento da igreja governar. As instituições piraram. Só uma não pirou: é a igreja de Jesus. Se a gente não ocupar esse espaço, Deus vai cobrar da gente. A escola não é mais lugar seguro para nossos filhos. Todas as instituições estão falidas. O único lugar em que seu filho está protegido, nesta nação, é o templo, é a igreja…”
    Essa é a inacreditável barafunda de pensamentos obtusos, definições esdrúxulas, bobagens explícitas, boçalidade galopante e rombuda ignorância que parece intumescer alguns cérebros ilustres do futuro Governo Bolsonaro.
    São características assustadoras que resumem uma overdose acumulada de militarismo redivivo, uma visão retrógrada da realidade, um claro preconceito intelectual, um medieval fundamentalismo religioso e uma absurda repulsa a marcos civilizatórios consagrados nos países mais avançados e abertos do mundo.
    O Brasil de Bolsonaro — de seus avatares autoritários e astrólogos influentes, de seus diplomatas e professores impregnados da ideologia que fingem combater, de seus fanáticos siderados pela fé e pela salvação divina — ameaça iniciar uma marcha batida pelos coturnos da insensatez,  na contramão do progresso, da inteligência e da história.
    Tenho 67 anos, dois filhos e três netos lindos. Estou angustiado, temeroso pela visão de Brasil e pelo futuro que os aguarda na escola, no convívio da sociedade, na vida.
    É por tudo isso que sou, hoje, um homem apreensivo e cético em relação aos direitos humanos que o país do capitão Jair Bolsonaro nos reserva. 
     

  • Empresa que lesou a CEEE está envolvida em fraude na licitação da Trensurb

    O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pediu nesta terça-feira (11) a condenação de 16 empresas e 52 pessoas por formação de cartel em licitações públicas de trens e metrôs.

    Segundo as investigações do órgão de defesa da concorrência, houve fraude em licitações de pelo menos 27 projetos em São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

    No Rio Grande do Sul, o Cade aponta que houve fraude na licitação para compra de trens para o Transurb em 2012, envolvendo a Alstom, multinacional de origem francesa, que atua nas áreas de energia e transportes.

    A Alstom, que no Brasil tem sede em São Paulo, é uma das empresas envolvidas na maior fraude já cometida contra o patrimônio público no Rio Grande do Sul. Foi um caso rumoroso, que hoje está abafado.

    Foi em 1987, quando a Alstom integrou um consórcio que venceu a licitação para a construção de onze substações de energia da CEEE na região metropolitana de Porto Alegre. Um projeto de 150 milhões de dólares.

    Uma investigação posterior apontou manipulação no edital para favorecer os vencedores, superfaturamento e outros vícios que resultaram num prejuízo de R$ 79 milhões em valores da época (atualizados, seriam mais de  R$ 500 milhões).

    Uma CPI na Assembléia do Estado comprovou os ilícitos e uma ação foi ajuizada pelo Ministério Públicos, apontando além da Alstom outras dez empresas que integravam os consórcios vencedores e 23 pessoas físicas.

    Ajuizada em 1996, há 22 anos portanto, essa ação ainda não saiu da primeira instância, não teve qualquer decisão e continua em segredo de justiça.

    O caso atual será analisado pelo tribunal do Cade, responsável pela decisão final.

    As empresas poderão pagar multas de até 20% do valor de seu faturamento bruto, caso sejam condenados. As 52 pessoas acusadas ficam sujeitas a multas de R$ 50 mil a R$ 2 bilhões, segundo informações do Cade.

    De acordo com o parecer da superintendência, empresas e funcionários interferiram no resultado das licitações – dividiram concorrências e combinaram valores das propostas. Ainda segundo as investigações, as fraudes incluíram institutos formalmente legais, como a formação de consórcio e a subcontratação, para dar uma aparência de competição ao cartel.

  • Auditório lotado para a palestra do sociólogo Jessé Souza

    O sociólogo Jessé Souza fala sobre a crise brasileira em Porto Alegre, nesta quarta-feira. Sua palestra “Brasil: Raízes Sócio-históricas e Econômicas, Conjuntura Atual e Perspectivas Futuras”, está marcada para as 18h30, no Auditório da Fetrafi-RS.
    O interesse pelas idéias do sociólogo, que disseca a classe média brasileira, surpreendeu os organizadores. Em menos de 24 horas esgotaram-se os 400 lugares reservados para o público.
    A iniciativa é do SindBancários com apoio da Fetrafi-RS e da Fenae. O Sindicato também irá transmitir a palestra ao vivo. Haverá indicação de link nosite (www.sindbancarios.org.br) e na página no facebook facebook.com/SindBancarios.PoA/
    Será rápida a passegem de Josué Souza por Porto Alegre. No dia seguinte, ele estará em São Paulo  lançando seu novo livro “A Classe Média no Espelho”. Seu livro anterior “A Elite do Atraso: da Escravidão à Lava Jato” é um campeão de vendas.
    Brasil: Raízes Sócio-históricas e Econômicas, Conjuntura Atual e Perspectivas Futuras”
    Quarta-feira | 12 de dezembro | 18h30
    Auditório da Fetrafi-RS – Rua Coronel Fernando Machado, 820 – Centro Histórico de Porto alegre
     

  • Inteligência artificial desperta esperanças e temores

    Faz tempo que a inteligência artificial (IA) deixou os centros acadêmicos de pesquisa e ganhou o mundo. Se já estamos prontos para conviver com robôs, muito em breve não acharemos estranho, ou assustador, a presença de carros autônomos sem motoristas.
    Já existem máquinas capazes de fazer cálculos ou estabelecer diagnósticos melhores do que qualquer pessoa. A inteligência artificial começa, agora, de forma acelerada, a ocupar cada vez mais postos de trabalho antes destinados aos humanos.
    E não é só isso. A garrafa do gênio foi aberta e não têm como colocá-lo de volta. Próteses cada vez mais perfeitas poderão substituir membros e órgãos, melhorando em muito o desempenho.
    Chips implantados no cérebro podem duplicar, para dizer, o mínimo, o quociente de inteligência. Ao misturar inteligência artificial com inteligência biológica continuaríamos humanos?
    Há muito mais perguntas. Seria possível a construção de uma consciência artificial?
    A IA vai ultrapassar a inteligência dos humanos?
    Recusar a IA ou controlá-la em escala mundial, como o caso das armas atômicas?
    Qual a ética, limite, filosofia em relação a IA?
    São algumas das questões, entre outros temas, que Bruno Castro da Silva, professor adjunto do Instituto de Informática da UFRGS, com pós-doutorado em IA no  Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o melhor centro de estudos de computação no mundo,  esclarece  nesta entrevista exclusiva ao JÁ.
    0 que é inteligência artificial?
    -A definição é um dos grandes problemas. Primeiro, porque já é difícil definir o que é inteligência. Para alguns é a capacidade de planejar coisas, estabelecer uma seqüência de ações para atingir um objetivo. Para outros também passa pela capacidade de comunicação. Enfim, coisas muito subjetivas para mensurar de uma forma objetiva. No que tange a IA, a melhor definição pode ser a de qualquer comportamento que um computador exiba que fosse considerado inteligente se fosse efetuado por uma pessoa.
    É possível datar o início dos trabalhos no campo da IA?
    -A parte mais importante – aquela que não é relacionada com literatura, ficção – no campo da pesquisa e estudo começou com Alain Turing na década de 1950. Turing ficou famoso por ter (junto com seus colegas) decifrado durante a 2ª Guerra Mundial a máquina de códigos alemã Enigma, utilizado nos U-boats (submarinos) para bombardear os navios dos aliados. Turing também inventou a computação como a gente entende hoje, e escreveu o primeiro artigo (revista inglesa Mind, 1948) científico sobre IA. Uma das coisas que ele propôs foi o teste de Turing. Nele, verifica-se de forma pragmática se o aparelho é inteligente (ou não) quando não dá para distinguir se é uma máquina ou uma pessoa que está interagindo.
    Seis décadas depois de Turing, ele morreu em 1954, como estão às pesquisas no campo da IA?
    -No início as expectativas quanto ao desenvolvimento da IA eram muito altas, mas os avanços não correspondiam. Também, entre os anos 1950 até o começo do século XXI, as pesquisas, grosso modo, ficaram muito restritas a área acadêmica, dentro das universidades, com pouquíssimas aplicações fora deste âmbito. As coisas só começaram a mudar de verdade a partir de 2006, com o avanço de uma técnica chamada redes neurais. A partir daí o emprego da IA ganhou de forma significativa e rentável o mundo empresarial.
    Mais especificamente, em que tipo de aplicação?
    -Principalmente na detecção de fraudes, técnica muito utilizada já há algum tempo pelos bancos. Também, ainda em relação aos bancos, análise da utilização de cartões visando a estabelecer um padrão, repertório, preferências, hábitos, do cliente. Ou seja, sempre que se utiliza o cartão se está interagindo com uma IA. Depois tem aquilo que se denomina como sistema de recomendação, algo que também é muito rentável, e que é muito utilizado por livrarias.
    Como assim?
    -Trata-se de algo muito simples, baseado nos livros que alguém encomendou ou procurou num site. A partir desta escolha ou pesquisa feita pelo cliente, recomenda-se outros títulos que tenham afinidade. Na Amazon, uma grande parte da arrecadação vem deste aplicativo de recomendação. O Netflix faz a mesma coisa, estabelecendo através das solicitações de filmes de determinada pessoa o seu padrão de preferências. Mesmo procedimento em relação à música. Funciona. Por último, e o mais rentável, é aquilo que chamam de marketing digital, através do qual o Google ganha muito dinheiro. Ele tem acesso a tudo e sabe de onde as pessoas estão acessando, podendo estabelecer perfis econômicos e interesses dos usuários e colocar anúncios publicitários direcionados, específicos para aquele tipo de consumidor. Enfim, nada é de graça.
    E no Brasil, como está o desenvolvimento da IA?
    -Dentro da academia ela sempre foi forte. O Brasil, embora tenha poucos recursos para ensino superior, sempre teve grupos importantes de IA, destacando-se o da UFRGS, onde o Instituto de Informática foi fundado há 29 anos. Fora a UFRGS, também são importantes os trabalhos em IA efetuados pela UFMG, a USP, e a UFRJ.
    Atualmente, no  mundo, e não só em nível acadêmico, há muita discussão em torno de aplicações de  IA?
    -Pra se ter uma idéia, há cerca de dez encontros anuais no mundo. Em média, para cada um deles são enviados cerca de cinco mil trabalhos em diversas áreas da IA: robótica, medicina, comunicação, etc. Deste total, dez por cento dos trabalhos enviados – gente da Google, da Microsoft, por exemplo – são selecionados pra serem apresentados. E nós, aqui da UFRGS, geralmente, sempre conseguimos publicar artigos nestas conferências. E olha que eles são muito rigorosos, nem poderia ser diferente, dada a quantidade, mas com critérios justos de escolha, baseado apenas nos conteúdos.
    O sr  já teve artigos aceitos?
    -Sim. No último encontro que participei, na Suécia, tive dois artigos aceitos: um tratava sobre segurança na IA. E o outro sobre o emprego da IA para melhorar o trânsito urbano através da implantação de sinaleiras inteligentes.
    No mundo, quem está na frente no campo da pesquisa em IA?
    Estados Unidos, China, Reino Unido.
    -Como foi a sua formação?
    -Entrei no Instituto de Informática da UFRGS em 1999. Graduei-me em 2003 e em 2007 apresentei minha dissertação de mestrado, também aqui na UFRGS, sobre IA. Então, enviei meu currículo para fazer o doutorado a diversas universidades fora do Brasil. Fui aceito em várias delas e acabei escolhendo a Universidade de  Massachussets. Depois fiz pós-doutorado no prestigioso Massachussets Institute of Technology (MIT). Trabalhei com o professor Andrew Barto, o maior especialista dentro do campo da ciência da computação numa área chamada, em inglês, Reinforcement Learning ( aprendizagem por reforço). Minha tese foi nesta área.
    Esta área compreende exatamente o quê?
    -Aprendizado por reforço é uma técnica muito utilizada no adestramento de animais. Ela funciona a base de recompensa.  Peguemos o exemplo dos cães. Se o cachorro pegar o jornal ganha um biscoito, etc. Meu trabalho consistiu em ajudar a melhorar as técnicas de adaptação deste processo de aprendizagem para as máquinas. É algo que vem avançando muito. Em 1997, um supercomputador da IBM, o Deep Blue, venceu  Garry Kasparov, o campeão mundial de xadrez. Mais, no jogo GO (um jogo chinês, envolvendo peças brancas e pretas num tabuleiro), considerado o mais difícil do mundo, e que seria impossível desenvolver uma inteligência artificial capaz de enfrentar um jogador hábil, também foi vencido por um computador, sendo empregada à técnica de aprendizagem por reforço.
    Mas onde é que entra esta técnica de aprendizagem por reforço na IA?
    -O agente, a IA, observa o que está acontecendo num ambiente naquele momento. Através do exame de uma situação o agente escolhe uma determinada ação com base na referência a conquistar. Enfim, a IA estabelece um padrão de quais recompensas são oferecidas a cada momento. Isso é muito aplicado em robôs, por exemplo.
    Muitas máquinas já têm um desempenho melhor em certas tarefas do que um ser humano. Como preparar a sociedade para a IA?
    -É um problema delicado e remete aos primórdios da Revolução Industrial quando, na Inglaterra, membros do movimento ludista quebravam as máquinas que substituíam o trabalho humano. Verificou-se com o passar do tempo que era uma bobagem, pois novas profissões foram criadas. Por isso há um certo otimismo em relação a IA. Muitas pessoas acreditam que ocorrerá um processo semelhante ao da Revolução Industrial e os trabalhadores migrarão para outras áreas de atividades, serviços, etc. Não sou tão otimista.
    Por quê?
    -O problema é que as coisas não se passarão da mesma maneira devido a velocidade das mudanças. Vai atingir as pessoas mais pobres, a parcela mais vulnerável da população. Não dá para transformar um pedreiro em um engenheiro, assim, rapidamente. Num cenário mais próximo, dá para dizer que muita gente perderá o emprego, e, dada a velocidade, talvez não tenham tempo de migrar para novas profissões. Daí esta ideia que cada vez ganha mais corpo que é a da renda mínima universal, um rendimento para que as pessoas, literalmente, não morram de fome, e que tenham uma vida minimamente decente. Isso é algo plausível.
    Em termos de trabalho e empregos, que setor será o mais afetado, pelo menos num primeiro momento, pela IA?
    -O de transportes. Muitas empresas, como a Tesla, Google, Uber, já estão desenvolvendo carros autônomos. A tecnologia já existe e o comportamento destes carros autônomos em testes na circulação – percorrendo longas distâncias sem se envolver em acidente –  é melhor do que os veículos dirigidos por seres humanos. É só uma questão de tempo, dez anos, aproximadamente, para que os motoristas sejam substituídos. De resto, nos aviões quase todas as atividades já são feitas por computadores, o piloto só está envolvido no pouso e na decolagem. E trens também não precisam de condutores.
    Além dos transportes, que outras áreas serão afetadas pela IA?
    -A probabilidade nos próximos anos é que desapareçam empregos nas áreas de telemarketing, contabilidade. Breve não existirão mais  vendedores de lojas, escritores técnicos (redatores que compilam artigos da Web). O Google, por exemplo – através do news.google.com – já tem um serviço de notícias elaborado por IA. Também desaparecerão empregos como maquinistas, pilotos na área comercial.  Na área de saúde, hoje, computadores são capazes de realizar, em muitos casos, exames e diagnósticos com interpretações muito mais precisas do que os profissionais do ramo.  O mesmo vale para dentistas, treinadores, terapeutas recreacionais, pessoas que trabalham com limpeza. A lista não para de crescer.
    Um mundo de adaptados versus outro de assistidos, livres para consumir a sua telerrealidade. Corremos o risco de criar um apartheid?
    -Principalmente se as pessoas começarem a estender a IA aos seus corpos, melhorando-os. Se isso ocorrer formará uma casta diferente de pessoas. Elas conseguirão pensar mais rápido, ter mais força, enxergar melhor, bem diferente de outras menos capacitadas. Isso criaria um estigma.
    O sr falou em modificar os seres humanos, esta é uma outra possibilidade da IA?
    -As experiências começaram numa área chamada de neuroprotética. Um exemplo são os braços robóticos, que diferentemente da prótese tradicional, não são membros puramente acoplados, pois lêem os sinais do cérebro da pessoa para fazer o movimento desejado como mexer a mão, pegar alguma coisa. Ou seja, literalmente lê a mente. Isso já existe. Depois começou a se fazer pesquisa com olhos artificiais. Funciona, mas ainda não está disponível no mercado. O problema está entre aqueles que já nasceram cegos, pois, neste caso, existem conexões no cérebro que não foram desenvolvidas.  Mas para aqueles onde a prótese é possível se pode, dominada a tecnologia,  fazer a seguinte questão: o que me impediria de colocar uma prótese de aparelho ocular muito superior – fazer 20 x de zoom, infravermelho – ao natural humano? Enfim, Será possível dotar alguém com uma visão muito superior a de uma pessoa normal.
    Bem-vindo ao mundo dos ciborgs, dos robocops …
    -É isso aí. Próteses com ótimos desempenhos para mãos, pernas, coluna, olhos, etc.
    Biotecnologia, nanotecnologia, neurotecnologia. Há alguma possibilidade de eliminar a morte?
    -Têm duas visões sobre isso. Numa delas, a indagação: por que a gente morre? Ou, por que teríamos de morrer? Cada vez vivemos mais. Mas, há uma hora em que o coração, que é uma bomba, para de funcionar. Com o avanço da tecnologia, o coração, pulmão, assim como os demais órgãos, poderiam ser trocados por outros artificiais. Então, o que impediria uma pessoa de viver para sempre?
    Está provado que a escola pode fornecer conhecimentos, mas não pode aumentar o quociente de inteligência de uma pessoa  O maior QI já verificado é o de um matemático australiano, de origem chinesa, com cerca de 230 pontos. A tecnologia está acenando com a possibilidade de se introduzir microchips no cérebro, multiplicando a capacidade intelectual. Como o sr. vê isso?
    -É a interface cérebro-computador, ou mente-máquina. É só uma questão de tempo. Em 2005 teve um estudo feito pela IBM que consistia em simular no computador o funcionamento dos neurônios individuais do cérebro de um rato. Simular no nível químico: dopamina, neurônio, transmissão de sinal elétrico. Depois de 50 dias eles conseguiram simular no computador o que aconteceria em um segundo no cérebro deste rato. Foi lento, mas, constatou-se que é possível fazer a simulação de um cérebro. No que isto implica? Será que este cérebro simulado seria tão consciente quanto o nosso?
    Caberia, talvez, uma outra pergunta de conteúdo filosófico, religioso. O que é que nos permite ser inteligentes? É só a maneira como nosso cérebro é organizado ou tem alguma coisa a mais?
    -Pode não ser só o cérebro. Seria a alma? É difícil discutir a parte religiosa, ela não é científica.  Nesta área se parte do pressuposto que não há nada sobrenatural, que o cérebro é um conjunto de coisas químicas e elétricas que estão acontecendo ali. O conhecimento disso, de que é um processo químico e físico, é que possibilita, por exemplo, a fabricação de remédios antidepressivos, ou de estimulantes para quem tem déficit de atenção. Uma das possibilidades que se discute seriamente é que uma vez assumido que o cérebro é só um sistema que obedece às leis da química e da física, certamente conseguiremos reproduzir todo o seu funcionamento no computador. O que me faz  falar e sentir, agora, por exemplo, é o que o meu cérebro está processando. Ou seja, a priori, poderia, neste computador aqui do lado, ter um cérebro artificial, uma cópia da minha consciência, funcionando da mesma maneira que a minha. O que abre uma questão muito mais complicada. É ético fazer isso? Creio que há um limite.
    Uma vez feita às modificações no corpo, no cérebro, ainda estaríamos diante de um ser humano ou seria outra coisa?
    -Um meio termo. Substituir os órgãos é algo plausível. Também, diferentemente, a partir  células-tronco fertilizadas in vitro, é possível criar um rim. Isso já não é artificial, não se trata de uma prótese robótica, mas algo produzido através de elementos do meu próprio organismo. A outra coisa é fazer o upload do meu cérebro e transferi-lo para o computador, fazendo-o passar a agir exatamente igual a mim, pensar as mesmas coisas. Seria eu ou simplesmente uma simulação perfeita? Trata-se de uma das perguntas centrais da filosofia da IA. A possibilidade de criar aquilo que se denomina de zumbi filosófico, um ser idêntico ao humano.
    Isto remete a um tema polêmico. Existe a possibilidade da criação de uma consciência artificial?
    -Cada vez mais as máquinas adquirem a capacidade de estabelecer reconhecimentos de padrões, fazer os cruzamentos de dados que os seres humanos conseguem efetuar.
    Cenário um pouco apocalíptico. AS as máquinas terminarão por controlar tudo?
    -Na computação existe algo chamado  lei de Moore. Ela diz que a capacidade dos computadores dobra a cada ano e meio. Como as coisas estão cada vez mais rápidas, vai chegar uma hora em que uma IA será equivalente a um ser humano. Depois haverá outra que será um pouquinho melhor e daí segue num processo sem fim, e em tempos cada vez menores. Imagine isso num espaço de 100 anos. A verdade é que não tem como impedir, parar o progresso científico. Não tem como controlar todo mundo. Teria que matar todos que têm este conhecimento. Enfim, os avanços em termos de tecnologia são exponenciais, cada vez mais rápidos.
    O conhecimento de como controlar a tecnologia tem que estar paralelo ao desenvolvimento da mesma?
    -Exato. E isso é parte do trabalho da pesquisa que estou fazendo agora. Chama-se controle e segurança sobre IA. Algo ainda bem preliminar, mas, só para dar um exemplo: já se sabe que existe IA que consegue discriminar, analisar currículos, ver se tu és um bom natch (um ser compatível com o tipo de cultura que existe na empresa). Google e Microsoft fazem isso, treinam IA que verifica perfis de pessoas que profissionalmente seriam mais promissoras.
    São infalíveis?
    -Não. Cometem erros como, por exemplo, o de prever, em alguns casos, que o rendimento das mulheres seria inferior ao dos homens. Isso, olhando os dados e as estatísticas das empresas, não tem nenhum fundamento ou diferenças significativas. A IA sempre estabelece padrões, uma média. Um dos problemas relativos a IA em áreas médicas é naquilo que ela pode explorar por conta própria. Assim, se a IA é capaz  de fazer um diagnóstico correto, muito superior a um ser humano, pode errar na dosagem de remédios, matar sem querer, algo que um médico não faria. Ele sabe que se triplicar a dosagem de um determinado remédio o paciente vai passar mal, pode morrer. Este tipo de compreensão, de nuance, ainda é difícil para uma IA. É preciso desenvolver um método que indique as dosagens, que a probabilidade de dar um problema seja menor do que 0,01 por cento. Ou seja, incluir restrições no processo de decisões da IA para que ela não faça coisas que sejam perigosas.
    Com pós-doutorado no MIT e, inclusive, sendo ex-professor desta prestigiosa instituição, o sr deve receber muitos convites para trabalhar no exterior. O que o faz permanecer na UFRGS?
    -Recebi muitos e-mails do Google, da Microsoft e da IBM querendo me contratar. Os salários que oferecem são ótimos, não tem comparação com o que ganho aqui. Mas, o que me levou a querer voltar e permanecer no Brasil, em Porto Alegre, foi, em primeiro lugar, a minha família. Por outro lado, até o mestrado, fiz toda a minha formação aqui, na UFRGS. Esta universidade me proporcionou tudo no passado e, nos últimos anos, sempre viajo a convite para realizar palestras e cursos no exterior, Europa e Estados Unidos, sobre IA. Enfim, também é uma questão gratidão e poder devolver tudo que aprendi a esta querida instituição.

  • Ministro do Meio Ambiente confirma as piores expectativas do ambientalismo

    O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) divulgou no domingo pelas redes sociais, como sempre, a escolha de Ricardo Salles para o Ministério do Meio Ambiente (MMA).
    Ex-diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e militante de extrema direita, Salles é apontado como responsável pelo desmonte do setor no estado de São Paulo, onde foi secretário do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

    O novo ministro é acusado de “trabalhar contra os institutos de pesquisa e tentar ganhar vantagens com a negociação de imóveis estaduais e de alterar de maneira ilegal o plano de manejo de uma área de proteção ambiental Várzea do Tietê para beneficiar empresários ligados à Fiesp”.

    Em maio de 2017, o Ministério Público Estadual ajuizou uma ação civil pública ambiental e de improbidade contra Salles.

    “É o homem certo no lugar certo. O presidente eleito, afinal, já deixou claro que enxerga a agenda ambiental como entrave e que pretende desmontar o Sistema Nacional de Meio Ambiente para, nas palavras dele, ‘tirar o Estado do cangote de quem produz’. Nada mais adequado do que confiar a tarefa a alguém que pensa e age da mesma forma”, lamentou em nota a coordenação do Observatório do Clima, uma rede brasileira de ONGs e movimentos sociais sobre mudanças climáticas.

    Segundo a nota, a indicação de um réu por improbidade administrativa para o primeiro escalão do governo é outra contradição que deixa o futuro ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro, em saia justa.

    O Observatório do Clima diz que ao nomeá-lo Bolsonaro faz exatamente o que prometeu na campanha e o que planejou desde o início: subordinar o Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura.

    “Se por um lado contorna o desgaste que poderia ter com a extinção formal da pasta, por outro garante que o Meio Ambiente deixará de ser, pela primeira vez desde sua criação, em 1992, uma estrutura independente na Esplanada. Seu ministro será um ajudante de ordens da ministra da Agricultura”.

    A pasta da Agricultura será comandada pela deputada estadual Tereza Cristina (DEM-MS). A parlamentar ganhou da oposição o apelido de “musa do veneno”, após conseguir aprovar em comissão especial um substitutivo para projetos de lei que praticamente revogam a atual Lei dos Agrotóxicos.

    “O ruralismo ideológico, assim, compromete o agronegócio moderno – que vai pagar o preço quando mercados se fecharem para nossas commodities”, adverte a carta do Observatório.
    A organização ambientalista Greenpeace também se manifestou por nota. Nela, o coordenador de Políticas Públicas Marcio Astrini afirma que a escolha é coerente com a lógica de Jair Bolsonaro, que já havia deixado claro que deseja reduzir a pasta do Meio Ambiente a uma espécie de subsede do Ministério da Agricultura.
    A nomeação de Salles ocorre no momento em que a área ambiental recebe más notícias: o desmatamento da Amazônia registrou o maior índice dos últimos dez anos, e o país acaba de retirar sua candidatura para sediar a COP-25.
    Além disso, o futuro Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu declarações em que nega a existência das mudanças climáticas, prometendo colocar o país na contramão dos esforços realizados por mais de 190 países. Com a decisão de não sediar mais a COP em 2019, Bolsonaro começa a cumprir sua lista de ameaças ao meio ambiente”, continua a nota.
    Ainda conforme a organização, as promessas do presidente eleito eram de que “a principal função do novo ministro será a promoção de uma verdadeira agenda antiambiental, colocando em prática medidas que resultarão na explosão do desmatamento na Amazônia e na diminuição do combate ao crime ambiental. O que já está ruim, pode piorar”, conclui Astrini.
    (Com informações da RBA)

  • Enterros de reféns mortos no Ceará tem lamentos e indignação

    Ana Karoline de Souza Barros, 14, e Cíntia Maria Lima da Silva, 15, caminham juntas pela rua 15, a principal via do centro do município de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco. Passa das 11 horas do sábado.
    Todo o comércio está fechado em homenagem às cinco vítimas da mesma família mortas durante tentativa de assalto a duas agências bancárias na cidade de Milagres, no Ceará, que resultou em 14 assassinatos (oito criminosos e seis reféns).
    Uma delas é Vinícius Magalhães, 14, colega de sala das duas adolescentes. Elas vestem a farda do Colégio de Aplicação. Nas costas da camisa, escreveram mensagens de despedida para o amigo, com corações e flores.
    “É uma forma de a gente nunca esquecer do Vinícius”, explica Cíntia, uma das centenas de pessoas que acompanhavam o velório dos inocentes da tragédia de sexta-feira, 7.
    Além dele, morreram o pai, o empresário João Magalhães, e outras três pessoas da família, que vinham de São Paulo para passar o Natal: Claudineide Campos de Souza, 42; o marido Cícero Tenório dos Santos, 60; e o filho do casal, Gustavo Tenório dos Santos, 13.
    Todos foram sepultados ontem – Vinícius e João em Serra Talhada e os demais em São José do Belmonte, já na divisa com o Ceará.
    “O sonho do Vinícius era ser engenheiro civil”, lembra Ana Karoline, com quem ele tinha mais afinidade. Filha de uma professora da rede municipal que dava aula de reforço para o amigo havia cinco anos, eles se viam todos os dias.
    “De manhã, na escola, e de tarde, na minha casa. Éramos assim próximos desde criança”.
    Cíntia relata que ele gostava mesmo era de futebol e videogame. Nos últimos dias, só falava da chegada de Gustavo. “Já havia preparado tudo em casa pra receber o primo pra jogar”, narra Simone Maria de Barros Souza, 37, a professora com quem Vinícius esteve uma última vez um dia antes da morte.
    “Ele se despediu de mim assim: ‘Tia, eu não venho mais’. Até brinquei com ele, pedi pra não dizer isso”, recorda. “Ele repetiu: ‘Tia, eu não venho mais’.
    Depois me abraçou, disse que me amava e saiu. Me deu quatro beijos e dois abraços”. Eram fim de tarde da quinta-feira, 6.
    No sábado, enquanto o cortejo seguia até o cemitério de Alto de Bom Jesus, o clima era de comoção e revolta. Entre choro e lamentos, amigos e familiares criticavam a operação policial conduzida por agentes de segurança do Ceará. “A nossa sensação é de revolta”, sintetiza Tadeu Gama, 46, representante comercial e cunhado de João.
    “É óbvio que nada vai trazer nossos entes de volta, mas o sentimento é de que houve um pouco de despreparo da Polícia do Ceará”.
    De acordo com ele, o que resta à família é esperar por uma apuração rigorosa dos acontecimentos. “Fizemos que tudo que podíamos. Consolamos os parentes. Choramos. E agora temos de seguir”, responde Gama, a quem coube comunicar à filha de Claudineide que a mãe e o irmão haviam sido mortos no Ceará.
    “Foi duro. Ela achava que a mãe já estava aqui e estava dormindo, porque não atendia o telefone”. Era já manhã de sexta-feira, e Serra Talhada começava a receber as primeiras informações sobre a tragédia de Milagres, a pouco mais de 150 km dali. “Esperamos que isso seja melhor apurado, de onde partiu esse erro. Porque a nossa perda foi grande”. (Henrique Araújo)
    INOCENTES
    Os reféns mortos na tragédia foram alvo de emboscada de quadrilha que tentou assaltar as agências de Bradesco e Banco do Brasil de Milagres. Voltavam do aeroporto de Juazeiro do Norte quando os veículos foram interceptados na BR-116 e eles foram levados como escudo humano.
    Edneide foi morta pouco tempo depois no centro de Milagres, em troca de tiros entre policiais e criminosos, conforme a SSPDS.
     

  • Encapuzados matam dois militantes em ocupação do MST na Paraíba

    Dois homens foram mortos em uma fazenda ocupada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra na Paraíba (MST-PB) na noite de sábado, 8.
    Os dois militantes foram assassinados por homens encapuzados que invadiram o acampamento Dom José Maria Pires, localizado no município de Alhandra.
    Conforme nota divulgada pelo MST-PB, os homens, identificados como Rodrigo Celestino e José Bernardo da Silva, o “Orlando”, estavam jantando quando foram surpreendidos pelos criminosos.
    Testemunhas relataram que os homens estavam com camisas amarradas na cabeça e portando armas de pelo menos dois calibres diferentes.
    “As armas usadas não eram automáticas ou semiautomáticas. Provavelmente, de acordo com as cápsulas encontradas no local, usaram uma espingarda, calibres 12 ou 26, e um revólver calibre 38. Foram vários disparos”, explicou o major M. Lima, comandante da 1ª Companhia Independente de Polícia Militar que atua no local.
    O caso teria acontecido por volta das 19h30min de ontem. O acampamento fica na Fazenda Garapu, em Alhandra, e foi ocupado em julho do ano passado.
    Em nota, o MST-PB lamenta a morte dos companheiros e denuncia “repressão e assassinatos em decorrência de conflitos no campo”.
    Trecho da nota do MST-PB:
    “Isso demonstra a atual repressão contra os movimentos populares e suas lideranças. Exigimos justiça com a punição dos culpados e acreditamos que lutar não é crime. Nestes tempos de angústia e de dúvidas sobre o futuro do Brasil, não podemos deixar os que detém o poder político e econômico traçar o nosso destino. Portanto, continuamos reafirmando a luta em defesa da terra como central para garantir dignidade aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade.
    Justamente dois dia antes das comemorações do Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, são assassinados de forma brutal dois trabalhadores Sem Terra. Neste sentido, convocamos a militância, amigos e amigas, aos que defendem os trabalhadores e trabalhadores, denunciar a atual repressão e os assassinatos em decorrências de conflitos no campo. Solidariedade à família de Orlando e Rodrigo”
    (Com informações de O Povo e G1)

  • Evento cultural do IAJ celebra os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

    “Direitos Humanos para quem?” é o tema do evento que celebra os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nesse domingo, dia 9, às 16 horas, no Espaço 373, na Rua Comendador Coruja. Na comemoração haverá sessão de cinema, roda de conversa e intervenção poética. A realização é do Instituto de Acesso à Justiça (IAJ)
    O IAJ é uma entidade privada e sem fins lucrativos que atualmente se dedica a um projeto de inclusão racial. Seleciona homens e mulheres negros e negras, índios e índias, para frequentarem cursos preparatórios à carreiras jurídicas.
    Os cursos são oferecidos de modo gratuito no todo ou em parte aos candidatos selecionados.  Isso porque, a partir de dados do próprio Conselho Nacional de Justiça, constatou-se que o número de negros e índios nas carreiras jurídicas (Juiz, Procurador do Estado, Promotor de Justiça e Defensor Público) é extremamente reduzido frente à população brasileira.
    Sendo assim, mostrou-se necessária uma iniciativa de fomento à inclusão, ação essa que é capitaneada por integrantes das carreiras jurídicas públicas, por advogados , professores e outros profissionais.
    Além disso, o IAJ promove atividades culturais, como esta que ocorrerá no dia 09/12, para discutir a temática da inclusão.  Nesse contexto, se insere a nossa atividade nesse sábado. O IAJ depende, exclusivamente, da contribuição dos associados e do engajamentos dos cursos preparatórios às carreiras jurídicas. O evento é aberto ao público, gratuitamente.

  • Música de Câmara da Ospa destaca repertório de Villa- Lobos e Radamés Gnattali, no Margs

    Quartetos de cordas escritos por Radamés Gnattali e Heitor Villa-Lobos compõem o programa do próximo recital da Série Música de Câmara. Parceria da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) com o Museu de Arte do RS Ado Malagoli (MARGS), a iniciativa promove seu último evento do ano no próximo sábado, dia 8, às 17h. O grupo Quarteto Garibaldi é formado por Geovane Marquetti (violino), Robert Cruz (violino), Gabriel Polycarpo (viola) e Murilo Alves (violoncelo), músicos atuantes junto à Ospa, apresenta-se em meio à mostra “Obra Desintegrada” ̶ exposição coletiva, com curadoria de Mélodi Ferrari, em cartaz na Pinacoteca do museu. A entrada é franca.
    A série “Música de Câmara” foi criada em 2016 para institucionalizar a presença da música de câmara na programação da Ospa. Ela leva ao público repertórios para formações menos numerosas em relação à sinfônica e adaptações, além da produção de compositores que escrevem especificamente para essas formações.
    O Museu de Arte do RS Ado Malagoli é parceiro da orquestra na realização da iniciativa.
    O programa
    O recital começa com “Valsa”, de Radamés Gnattali, compositor e pianista porto alegrense. Gnatalli transitou com desenvoltura entre diferentes estilos musicais, deu tratamento sinfônico aos arranjos populares e incluiu em sua obra elementos do samba e do jazz. Na sequência, o “Quarteto nº 1”, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) ganha destaque na exibição. Composta e estreada em 1915, a peça revela a preocupação do compositor em relação ao uso dos instrumentos na apresentação da temática nacional. Por fim, mais uma obra de Gnattali é executada: “Quarteto Popular”, de 1940.
    Sobre a Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre
     A Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Fospa) é um complexo musical-educativo que, desde 1950, realiza um trabalho de difusão da música orquestral e formação de plateias no RS. Vinculada à Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, mantém a orquestra, um coro sinfônico e uma escola de música – o Conservatório Pablo Komlós. Nas suas mais recentes temporadas, a agenda da Ospa tem contemplado em torno de 80 apresentações anuais, atingindo um público aproximado de 60 mil gaúchos a cada ano.
    Foto: Marília Lima/ Divulgação
    Recital da Ospa | Série Música de Câmara
    Quando: 8 de dezembro, sábado, 17h
    Onde: Museu de Arte do RS Ado Malagoli – MARGS (Praça da Alfândega, s/n – Centro Histórico)
    ENTRADA FRANCA
    PROGRAMA
    Radamés Gnattali: ValsaHeitor Villa-Lobos: Quarteto nº 1
    Radamés Gnattali: Quarteto Popular
    Apresentação: Quarteto Garibaldi