Olaf Scholz faz seu juramento sobre a Constituição no parlamento (Bundestag), e assume como o nono chanceler da República Federal da Alemanha .
O novo Chanceler, Olaf Scholz, e seu gabinete “Semáforo” (Vermelho, Amarelo e Verde), assumiu o mandato na quarta-feira (08/12/21) com uma missão impossível nas mãos. Vacinar cerca de 25 milhões de alemães até o Natal e assim, teoricamente, evitar um Lockdown durante as festas de fim de ano. No caminho dessa meta estão, além dos obstáculos de logística, uma crescente desconfiança de quem ainda não está imunizado.
O jornalista, Markus Lanz, foi direto no nervo da questão. “Temos hoje 25% mais doentes do Covid-19 em UTIs, do que no ano passado”, ponderou ele em seu programa de entrevistas na televisão pública, ZDF. Em 01 de dezembro do ano passado, 3919 pessoas estavam internadas em UTIs na Alemanha. Na mesma data deste ano o número era de 4690 internados. Mais importante, 70% desses pacientes de hoje estão completamente vacinados. A mesma proporção do total da população que já se imunizou.
“A única explicação para isso é que este ano demoramos mais para reagir”, sugere Bernd Böttiger, médico internista, diretor da Associacao Alema Interdisciplinar para Medicina Intensiva (Deutsche Interdisziplinäre Vereinigung für Intensiv und Notfall Medizin) e membro da Cruz Vermelha Alemã.
“Experts do mundo inteiro estão esfregando os olhos, não acreditando no que vêem. Simplesmente coisas que antes funcionavam, hoje não funcionam mais”, diz o político Omid Nouripour, do partido Verde (die Grünen).
Viabilidade vacinal
“Não temos mais como quebrar essa quarta onda com a obrigatoriedade da vacina”, acredita Hendrik Streeck, diretor do Instituto de Virologia da Universidade de Bonn. “É bom lembrar que a própria avaliação da eficácia dos imunizantes têm sido permanentemente recalculada pelos órgãos responsáveis, pois mudanças de efeito estão sendo verificadas em curto espaço de tempo”, explica ele.
Sobretudo, o virólogo alemão questiona a viabilidade de uma vacina que precisa ser reforçada a cada seis meses. “Israel já prepara sua quarta dose. É isso que queremos para toda a nossa populacao?”, pergunta Dr.Streeck, hoje um dos especialistas mais respeitados na Alemanha para o coronavírus. “Nao há um único serviço público para o esclarecimento da população sobre a vacina, a única mensagem da política é: vacine-se ou você será punido! No mínimo insensível e contra-producente”, opina.
O virólogo, Prof. Dr. Hendrik Streeck, ao centro, entre os entrevistados da noite do jornalista Markus Lanz (à esquerda).
Otimismo cauteloso
Na última sexta-feira (03/12/21), o fundador e CEO da Biontech, Ugur Sahin (56) admitiu em uma conferência da Reuters, que “a Omicron possivelmente têm condicoes de infectar pessoas vacinadas…em algum momento precisaremos de uma nova vacina contra essa nova variante”. O empresário se mostrou surpreso pela velocidade da mutação ocorrida. “Era esperado que uma variante assim aparecesse, mas eu achava que seria só em meados do próximo ano”, contou Sahin.
Na concorrente AstraZeneca, a perspectiva vai na mesma direção. “A verdade é que a próxima onda ou a próxima pandemia podem ser ainda mais contagiosa, ou com maior taxa de mortalidade, ou as duas coisas juntas”, declarou à BBC Sarah Gilbert, uma das cientistas que desenvolveram a vacina da empresa para a Covid-19. Para a professora da Universidade de Oxford, especializada no desenvolvimento de vacinas virais, as mudanças no genoma da nova variante “indicam que os anticorpos induzidos pela vacina possam ser menos efetivos em prevenir uma infeccao.
Vigilância
Até o momento, análises mais minuciosas indicam que a Omicron, ainda que mais contagiosa, é menos perigosa. “Em um mês todo mundo terá sido infectado pela Omicron. Mas eu continuo otimista porque ainda que o número de infectados dobre a cada dia, o número de pacientes internados nao tem aumentado.”, diz Dr. John Campbell, em seu canal no Youtube. A Inglaterra registra até o momento quase 500 casos confirmados da Omicron, mas nenhuma hospitalização ainda com o novo vírus. “Esse número já é muito maior, pois nenhum sistema de vigilância consegue seguir um vírus com precisao”, avisa o professor.
Nos últimos dois anos, mais de 5,2 milhões de pessoas morreram vítimas do Cov-SARS2, segundo a Organização Mundial da Saúde. Levantamento da Economist indica que na realidade esse número é quatro vezes maior. Além das vidas, o estrago se alastra pela vida social e econômica, com um rastro de inflação, desemprego e miséria.
“Um ato de solidariedade nacional”, definiu Angela Merkel, ainda primeira-ministra, com relação ao novo pacote de medidas para enfrentar a quarta onda da pandemia na Alemanha. “A situação é muito séria”, justificou ela em sua última conferência de imprensa como chefe de estado na quinta-feira (02/12/2021). Não vacinados estão oficialmente em Lockdown. “Pessoas não imunizadas podem encontrar-se no máximo com outra pessoa, vacinada ou nao”, anunciou. Isso vale para qualquer tipo de ocasião em todo o território nacional.
Supermercados e farmácias dispensam tais cuidados, assim como o transporte público. Neles, dependendo da situação regional, será exigido um teste. Em locais com incidência acima de 350 infecções por 100 mil habitantes, vale a regra mais restrita. No máximo duas pessoas podem encontrar-se em locais fechados. Ao ar livre, o limite é de 200 pessoas, mas só vacinados ou curados. Exceção à regra, os jogos de futebol, permitidos para até 15 mil pessoas com o passaporte vacinal em dia.
Vacina obrigatória
Em escolas o controle será redobrado, com máscaras, testes e cuidados como distanciamento e medidas de higiene. “A vacina obrigatória será discutida até o início do ano no parlamento”, informou Dra. Merkel, avisando que uma comissão de experts foi estabelecida para embasar o trabalho dos deputados.
O vice-chanceler e sucessor eleito atribui diretamente aos não vacinados a surpreendente escalada de infecções. “Temos bastante gente vacinada, mas não o suficiente para evitar que a doença se espalhe por todos os lados”, declarou o social-democrata, Olaf Scholz, apelando à população para tomar a vacina de reforço. São 30 milhões de doses a serem aplicadas até o Natal, e assim evitar um já anunciado completo Lockdown. “Sabemos que é uma meta ambiciosa, mas essa campanha precisa ser levada até o fim, pois é a única solução que temos no momento”.
“O momento é agora. Não podemos esperar”, acrescentou o presidente da Conferência dos governadores dos 16 estados da Federação, Hendrik Wüst, somando-se ao coro pela vacinação urgente de toda a população. “Isso salvará vidas”, disse ele, lembrando que desde a segunda guerra mundial o país não enfrentava uma situação assim.
Autoexplicativo
O prefeito de Berlin, Michael Müller, deixou mais ou menos claro que não se trata apenas da população adulta. “É uma minoria da população que não está vacinada. Mas essa minoria é responsável pela maior parte das internações e casos”, declarou ele durante a conferência de imprensa para apresentar as medidas. “Precisamos reagir a isso”, complementou ao justificar a razao para um duro Lockdown apenas para os não vacinados. “É uma questão de solidariedade, isso deveria ser autoexplicativo para uma vida em sociedade”, finalizou o prefeito.
Apesar das justificativas e explicações, todas as autoridades admitiram que não há garantias. Um novo e irrestrito confinamento não está descartado. “Vai depender do engajamento das pessoas em se vacinarem”, sentenciou o ainda não empossado, Scholz.
Questoes abertas
“Eles não garantem que o Lockdown funciona, não garantem que a vacina funciona, tudo depende de nós mesmos no final. Então, por que não deixam pra gente mesmo decidir? Por que querem nos obrigar?”, indaga Lindomar Gomes, proprietário de uma loja de bicicletas no bairro de Kreuzberg em Berlim. Há 18 anos vivendo na capital, o paulista de São Sebastião reclama da falta de transparência e abertura por parte dos responsáveis para esclarecer questões cruciais.
“Dos 30 milhões que faltam vacinar, pelo menos metade são crianças. Sem elas continuaremos sem a imunidade de rebanho, mas e o risco de vacinarmos as crianças com uma vacina experimental?”, raciocina o brasileiro pai de uma menina de 14 anos. A imunização das crianças é talvez o ponto mais polêmico de toda a estratégia oficial.
Obrigação infantil
Dr. Thomas Mertens, presidente da Ständige Impfkommission (Stiko): “Um quadro grave ou fatal para adolescentes saudáveis é uma absoluta raridade”. (Dpa)
Segundo a Stiko (Ständige Impfkommission), responsável pela recomendação e avaliação de vacinas na Alemanha, existem cerca de 200 mil infecções confirmadas para jovens entre 12 e 16 anos desde o início da pandemia. Aproximadamente 2.000 precisaram ser hospitalizados, dos quais 20 em unidades de tratamento intensivo. Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas dois óbitos foram registrados nessa faixa etária, e de crianças com outras enfermidades. “Um quadro grave ou fatal para adolescentes dessa idade é uma absoluta raridade”, atesta o presidente da comissão, Dr. Thomas Mertens.
Ele admite que crianças com co-morbidades devam ser, dependendo do caso, vacinadas. “Mas isso não é nenhuma clara indicação para a vacinação de todas as crianças saudáveis”, reitera o representante da Stiko, lembrando que a relação com inflamações da musculatura cardíaca, como efeito colateral do imunizante da Pfizer/Biontech, ainda não foi conclusivamente investigada. “Além do mais, a vacinação de crianças influenciaria minimamente a situação em UTIs, ou o número de óbitos”, conclui.
Princípio da precaução
Mesmo encenando coesão e segurança, é nítido o desgaste do governo na condução da pandemia. “O que vale a palavra dos nossos políticos hoje?!”, ironiza Sahra Wagenknecht, ao comentar a proposta da obrigatoriedade de vacinação em seu canal do Youtube. No vídeo, a deputada do partido Die Linke mostra as promessas feitas anteriormente por muitos membros do governo, incluindo o Chanceler eleito, de não introduzir a imunização forçada no país.
Sahra Wagenknecht (Die Linke) debatendo na tv pública com o novo ministro da saúde, Karl Lauterbach (SPD). (ARD)
“Há semanas nos contam esse conto de fadas de que só os não vacinados transmitem a doença. Todos os estudos atuais comprovam que a vacina não impede que uma pessoa infecte outra”, aponta Wagenknecht, uma das poucas vozes contrárias às medidas na esquerda alemã. “Nunca atingiremos a imunidade de rebanho com a vacina que temos hoje, só isso já deveria ser suficiente para descartar a possibilidade de adoção de um passaporte vacinal”, defende ela. Para a parlamentar, há muitas dúvidas não respondidas, especialmente sobre todos os efeitos de longo prazo. “Quantas vezes não retiramos medicamentos já aprovados do mercado, por conta dos problemas que se apresentaram após anos de uso? O princípio da precaução deve ser sempre orientar as decisões desses assuntos”, reclama.
Na segunda-feira (06/12/2021) Karl Lauterbach (SPD) foi confirmado como novo ministro da saúde. Em sua apresentação oficial na sede do partido em Berlim disse sem nenhuma precaução: “a pandemia vai demorar mais do que muitos pensam”.
A Europa está sendo arrastada pela quarta onda da pandemia para um novo confinamento. Depois de adotar restrições a não vacinados, países como Áustria e Holanda já decretaram lockdown na última semana. Na Alemanha, entra em vigor a versão “light” das medidas para reduzir a circulação de pessoas. Não vacinados estão proibidos de fazer qualquer atividade sócio-cultural e desportiva, e podem receber, no máximo, outras quatro pessoas não vacinadas em seu ambiente privado. Quem for vacinado está liberado, mas deve apresentar um teste válido a cada ocasião.
Com o número de testes positivos batendo recorde há 10 dias, a Alemanha tem 87% da capacidade para tratamento intensivo comprometida. Logo após a Áustria iniciar seu lockdown e anunciar a obrigatoriedade da vacina a partir de fevereiro, Bavária e Saxônia decretaram toque de recolher e cancelaram seus mercados de Natal. A incidência semanal já ultrapassou 300 por 100 mil habitantes em nível nacional e chega a 1.000 em diversas regiões.
Vacinação obrigatória
Markus Söder, governador da Bavária, propõe vacinação obrigatória até fevereiro para evitar quinta onda.
“Verificamos nas últimas semanas uma média de 0,8% de mortos por número de casos. Isso significa que, dos 52 mil infectados oficiais de hoje, mais de 400 irao morrer”, avisou Lothar Wieler, presidente do Robert-Koch-Institut, em apelo à nacao durante uma live promovida pelo governador da Saxônia, Michael Kretschmer (CDU). “Temos três milhões de não vacinados acima de 60 anos. Se só eles contraíssem o vírus, já seria suficiente para ocupar todas as nossas camas de UTIs… Ao todo são 15 milhões de não vacinados, é demais se queremos evitar um desastre no Natal”, alerta Wieler.
No final de semana, o número de infectados na Alemanha chegou a 65 mil/dia, enquanto a Organização Mundial da Saúde previu 450 mil mortos para todo o continente durante o inverno. No enfrentamento dos números fúnebres, o próximo assunto é a recorrente “vacina obrigatória”. “Se queremos evitar a quinta onda, precisamos da obrigatoriedade antes de Fevereiro”, defendeu o governador da Bavária, Markus Söder (CSU).
Rotterdamm foi uma das cidades com protestos violentos durante o fim de semana (https://www.tagesschau.de/ausland/europa/rotterdam-proteste-101.html)
Uma das dimensoes racionais dele, diz respeito ao debate sobre os efeitos colaterais causados pela imunização contra a Covid-19. O noticiário das grandes redes públicas ou privadas praticamente ignora o assunto. Essa cobertura vem sendo feita por profissionais independentes nas redes sociais.
Gosto na boca
Nikk é uma enfermeira em Kent, condado do sudeste da Inglaterra. Em fevereiro ela recebeu a primeira dose da vacina, produzida pela AstraZeneca.
“No momento em que a agulha entrou no meu braço senti instantaneamente um forte gosto químico na boca”, conta ela em entrevista ao podcast do Dr. John Campbell. Sintomas como náusea, tosse e dor de cabeça foram sentidos ainda nos primeiros momentos após a injeção. “Sentia arrepios subindo e descendo por todo o meu corpo, enquanto meu nariz corria, como se eu estivesse gripada”, lembra Nikk.
Incrivelmente desidratada
Mandada para casa, a enfermeira de 50 anos recebeu do médico que a vacinou uma receita de paracetamol. “A maior preocupação deles parecia ser o meu sistema respiratório, que dava sinais de bloqueio. Eu me senti horrível todo o resto do dia”, relata. A noite também foi difícil, com arrepios e calafrios até a manhã do dia seguinte. “Parecia um ataque de convulsão em alguns momentos. Nunca tinha sentido isso”, diz.
No dia seguinte seus rins estavam doendo, enquanto ela tomava litros e litros de água. “Me sentia incrivelmente desidratada, mesmo sem ter suado”, conta, reiterando o ineditismo da experiência. Quando tentava levantar-se tinha a sensação de que o mundo desabava sobre ela. “Parecia bêbada, caindo e levantando. Tentando me agarrar às coisas, que também caíam. Como em um navio enfrentando uma tempestade em alto mar”. Nikk acrescenta que em termos de percepção, todas as coisas pareciam confusas. “Por semanas não tive coragem de dirigir meu carro”, exemplifica.
Casos documentados
Até hoje ela tem dificuldades para se locomover por conta das dores nos rins e no peito, além de outros sintomas adversos sentidos após a vacina, como tinnitus. E mais importante, nenhum médico sabe dizer ao certo a causa, ou o remédio para os problemas que ela enfrenta. Ela conta que ainda não foi examinada por nenhum cardiologista e nenhum neurologista. O sistema de saúde do seu país parece prejudicar esse tipo de investigação sobre efeitos colaterais da aplicação de medicamentos e vacinas.
O caso de Nikk é só mais um, entre muitos documentados pela iniciativa C19 Vax Reactions . Segundo a própria descrição do site, um grupo de pessoas afetadas pelas vacinas contra a Covid-19 hoje no mercado (Pfizer, Moderna, J&J e AstraZeneca). “Os médicos têm dito a nós que se isso estivesse ocorrendo, eles seriam informados dessas reacoes adversas pelos órgaos reguladores e pelas empresas farmacêuticas”, diz um trecho da carta aberta.
Formado inicialmente por profissionais da saúde que se apresentaram como voluntários para testar as vacinas nos primeiros meses do ano, o grupo representado no site reclama da resposta dada até agora pelas fabricantes e autoridades. “Eles negam que isso esteja realmente acontecendo”, traz outro trecho da carta.
Falsas informacoes
A versão é corroborada na quase totalidade dos depoimentos colhidos pela mídia oficial. Dr. Erik Sander, chefe do Laboratório de doenças Infecto-respiratórias da Charité-Berlim, defende a vacinação de crianças a partir dos 5 anos, apesar de admitir não haver estudos sobre os efeitos da vacina nas pessoas dessa faixa etária. “Temos um problema de informações falsas circulando. Nós não temos nenhuma evidência de efeitos colaterais de longo prazo relacionados à vacina”, declarou ele, defendendo a imunização obrigatória, logo no começo da crise.
Na Alemanha há um protocolo vacinal autorizado pelo governo para imunizar crianças a partir de 12 anos contra o vírus Corona. No momento a Stiko (Ständige Impfkomission), comissão responsável pela regulamentação de vacinas, analisa o pedido para iniciar a vacinação de crianças a partir de 5 anos.
Em Viena, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas protestar contra as últimas medidas do governo austríaco, incluindo o Lockdown e a vacina obrigatória. “Tirem as mãos das nossas criancas”, diz o cartaz no protesto do partido de extrema-direita, FPÖ (Vadim Ghirda / DPA)
Risco desconhecido
“Eu não vacino crianças contra a Covid-19”, afirma Dra. Ilona Ziethen-Borkhoni, pediatra que há 30 anos atende crianças de todas as idades no bairro de Wilmersdorf, da capital Berlim. “Elas (as crianças) não precisam de imunização para uma doença que, na imensa maioria dos casos, não é perigosa para elas”, justifica a médica.
Vacinada duplamente com o imunizante da Pfizer, Dra. Ziethen-Borkhoni explica que se existe um risco, ele é desconhecido. “Tudo isso é muito novo ainda, muito incerto. Não vale a pena arriscar com a saúde das criancas”, acredita, ponderando que respeita a posição divergente de outros colegas.
Transparência ajuda
A posição da pediatra é na prática o contrário do que pregam as autoridades alemãs. A principal ação do governo é ainda a terceira dose para todas as pessoas acima dos 18 anos. “Mais de sete bilhões de doses já foram aplicadas no mundo, muitas delas em ambientes muito controlados, por um período de mais de um ano. Isso demonstra sua seguranca”, argumenta a viróloga Ulrike Protzer, diretora do Instituto de Virologia da Universidade Técnica de Munique.
Na análise metódica do Dr. John Campbell, questões importantes continuam sem resposta, atrapalhando a conquista da confiança do público que resiste à vacina. “Empresas que estão ganhando muito dinheiro controlam todo o processo”, cita, ao lembrar que os estudos oficiais de avaliação das vacinas para a Covid-19 são feitos pelas próprias fabricantes, e elas não disponibilizam abertamente seus dados. “Mais transparência só ajudaria”, diz ele.
Muito raro
Ao entrevistar outras pessoas afetadas, profissionais e pesquisadores, Dr.Campbell aponta também denúncias de problemas na consistência dos dados usados para aprovar as vacinas nos EUA e Europa. “São perguntas em aberto. Os documentos oficiais não especificam um percentual de efeitos adversos, por exemplo. Falam apenas que eles “são muito raros”. Mas quanto é “muito raro?”, indaga o professor aposentado de Enfermagem.
Na opinião dele, o mais sensato agora seria trabalhar para esclarecer todas as dúvidas da população. “Só assim para cada um calcular o seu risco, seja com a vacina, ou sem ela”, ensina.
Na Alemanha, a discussão sobre o passaporte da vacina do Corona é antiga. Em junho passado, início da temporada de verão, o governo lançou o atestado digital de vacinação, batizado “CovPass-app”. “Com ele será mais fácil viajar, pelo menos dentro da Europa”, disse na época o ministro da Saúde, Jens Spahn, ao promover o aplicativo.
De lá pra cá, pouca coisa mudou e o aplicativo da vacina tornou-se apenas mais um entre muitos dispositivos criados para controlar o estado sanitário da população. Na prática, testes continuam obrigatórios tanto para viagens de avião, quanto para ir ao cinema. Com ou sem certificado de vacinação. Diferente se alguém for pegar um ônibus ou trem lotado para ir para o trabalho.
Para andar no transporte coletivo da capital, Berlim, basta uma máscara. De qualquer tipo. Ninguém pergunta ou controla, e não raro mesmo pessoas com sintomas de gripe utilizam os veículos lotados diariamente.
Falsas promessas e discrepâncias como essas se acumularam desde o início da pandemia e hoje formam o ambiente no início da quarta onda do corona na Europa.
Vacinados e infectados
Entre as falsas promessas, está a garantia de que pessoas vacinadas evitam um quadro grave do Covid-19. Atualmente, segundo a estatística oficial, 25% dos mais de 2.000 pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo do país são de pessoas que receberam as duas doses recomendadas da vacina. Se contar os que receberam só uma dose, o número chega a quase 50% das pessoas internadas.
No total, cerca de 70% dos alemães de todas as idades já estão vacinados. Não há nenhuma estatística oficial para o número de pessoas curadas, que normalmente seriam consideradas imunizadas. Estima-se que esse total chegue a 85% da população. O que explicaria então agora o número de infectados (30 mil no dia 03/11/2021) em todo o país?
Enquanto autarquias, como o Robert Koch Institut (RKI), continuam atribuindo uma imunização acima de 90% às vacinas distribuídas no país, pesquisas e cientistas de outros países apontam uma queda vertiginosa nessa prometida proteção.
Dr. John Campbell é um dos que tem ajudado a separar o joio do trigo, através daquilo que ele mesmo chama de “pretty good science”. Professor aposentado de enfermagem na Grã-Bretanha, e com doutorado em tratamento imunológico contra o câncer, ele apresenta em seu canal do Youtube análises didáticas e transparentes sobre o combate da pandemia.
Dr. John Campbell tem ajudado a tornar compreensível os dados e estatísticas científicas da pandemia. (twitter)
“É muito difícil encontrar estudos revisados sobre esse tema”, explica Campbell no início do podcast que fez sobre o declínio na eficiência das vacinas. O estudo escolhido no caso, ainda não revisado, apresentava o escopo dos dados e as credenciais dos autores atestando a credibilidade das informações. Feito pelo Instituto de Saúde Pública de Oakland, na Califórnia, Universidade da Califórnia, Escola de Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde em Houston, no Texas e o Centro de Medicina Para Veteranos em São Francisco, a pesquisa examinou a ocorrência da doença em 620 mil veteranos do exército norte-americano.
Os resultados são assustadores, especialmente considerando o período em que foi realizada a investigação: fevereiro a agosto de 2021. Na média, independente de qual a vacina, a eficiência da imunização caiu de 91% em março para 53% em agosto. Em análise específica, a vacina Janssen, da Johnson & Johnson, foi a campeã de perda. Caiu de 92% para apenas 3% de proteção contra a infecção. A vacina da Moderna passou de 91% para 64%, e a da Pfizer, antes campeã dos imunizantes, passou de 95% para 50%. E isso num período de apenas seis meses.
A pesquisa também conclui que os dados oficiais elaborados pelo governo Biden são “inadequados” para se entender a queda de eficiência da vacina contra a covid-19. “A variante Delta é determinante para explicar tamanha queda de eficiência”, revela Dr. Campbell. Mesmo não sendo referente a hospitalizações e/ou mortes, os resultados indicam uma tendência clara, confirmada pela chegada da quarta onda na Europa.
Diagnóstico europeu
O continente com a maioria da população já duplamente vacinada, vê agora o número de infectados explodir. No Reino Unido, com mais de 50 milhões de vacinados, o número de testes positivos está como no ponto mais alto da pandemia, em janeiro deste ano. “Já o número de hospitalizados e mortos aparece relativamente estável, o que indica a eficácia relativa da vacina”, explica o Dr. Campbell em outro vídeo, acrescentando a necessidade de questionamento dos números oficiais.
Dentro da maior economia da União Europeia o diagnóstico é semelhante, com nuances de pânico exacerbados pelo discurso na mídia oficial. “A situação é crítica, havendo áreas onde o número de UTIs fica menor a cada dia, incluindo casos em que os pacientes precisam ser transferidos para outras regiões com mais leitos disponíveis”, declara Erik Sander, médico pneumologista e chefe do laboratório de doenças infecto-respiratórias na Charité de Berlim.
Entre os efeitos colaterais, que contribuem para o quadro atual na Alemanha, está a redução do número de enfermeiros. Estima-se que mais de 4.000 profissionais de saúde pediram demissão desde o ano passado. “É uma profissão bastante desgastante, e que ficou ainda mais estressante com o combate ao covid-19”, explica o Dr. Sander.
Em outras palavras, o ministro da Saúde, Jens Spahn, lembrou de comprar testes, máscaras e vacinas, mas esqueceu de aprimorar sua política laboral para o setor. Isso sem falar na pressão pela vacinação que os profissionais vêm sofrendo. “Queriam me obrigar, mas eu respondi que só tomaria se eles assinassem um termo de responsabilidade caso eu sofresse algum efeito colateral. Aí me deixaram em paz e não falaram mais no assunto”, lembra Doris Sorgenfrei, enfermeira de um hospital psiquiátrico no estado de Schleswig Hoslstein.
O dr. Erik Sander nega o argumento dos efeitos colaterais graves da vacina. “Não temos nenhum indicativo relacionado a isso, mesmo após bilhões de pessoas vacinadas no mundo”, afirma. Como pesquisador de ponta na maior instituição médica da Alemanha, Sander defende a vacinação de crianças a partir dos cinco anos, mesmo admitindo que não existam ainda estudos sobre o comportamento da imunidade de pessoas nessa faixa etária.
Mais do que as inconsistências dos números oficiais, são as diferenças das medidas em relação às estatísticas que intrigam o público agora. Um ano atrás, o índice do número de infectados por 100 mil habitantes era de 115 na Alemanha, que na época, entrava no seu segundo e mais longo lockdown. Hoje, esse número já ultrapassou a marca dos 150, mas apesar da insuficiente vacinação, o governo Merkel anuncia o fim das restrições para as próximas semanas. Incompreensível.
“A ciência é um dos quatro cantos da enganação, juntamente com a mídia, a política e a religião”, Noam Chomsky.
No aniversário de um ano do primeiro Lockdown na Alemanha, sexta-feira, dia 12 de março, o presidente do Robert-Koch Institut (RKI – www.rki.de), Lothar Wieler, responsável pela aferição do número de infectados, anunciou que o país está entrando na terceira onda da Covid. “Vivemos um momento muito delicado”, alertou Wieler. O principal motivo, segundo ele, é a variante britânica do vírus. “Observamos um aumento exponencial das infecções de pessoas mais jovens. Não apenas abaixo de 65 anos, mas também de 15 a 6 anos”, declarou.
A informação confirma, sobretudo, o fiasco anunciado da política de Angela Merkel, e promete apresentar agora uma conta bem amarga para a mulher que está há 16 anos no poder da principal nacao da Europa. Dois dias após o anúncio do início da terceira onda da gripe do Corona, o partido dela (CDU – www.cdu.de) sofreu uma derrota histórica nas eleições regionais. No pleito, ocorrido nos estados de Baden-Wurttenberg e Rheinland-Pfalz, os Cristaos Democratas foram os que mais cederam eleitores aos outros partidos.
Além da exaustão por quatro meses de confinamento, a derrota é apontada como um efeito dos escândalos envolvendo deputados da coalizão no Bundestag. Dois deles, Nikolas Löbel (CDU) e Georg Nüßlein (CSU), perderam os mandatos e foram expulsos dos partidos na semana passada, por receberem comissão (200 mil e 600 mil Euros) pela compra de máscaras do governo. “A corrupção é um veneno para a democracia”, disse o presidente alemão, Frank Walter Steinmeier (SPD), lembrando que o controle da atividade lobista é fundamental. Como resposta, o governo parece que finalmente vai encaminhar a criação de um registro de lobistas, mas sem criar a obrigatoriedade da declaração de renda para todos os políticos.
A retrospectiva do primeiro ano da pandemia corrobora com a tese do fiasco político da estratégia do governo em Berlim. Além do pedido de perdão antecipado do ministro da Saúde, Jens Spahn (CDU), as idas e vindas com o uso e os tipos adequados de máscaras, o anúncio das vacinas que nao existem, a ociosidade dos centros de vacinacao construídos às pressas, a rápida e generosa ajuda às grandes empresas que agora iniciam o enxugamento de pessoal, e o excesso de cuidado para o acesso dos pequenos aos recursos. Sem explicações convincentes para esses e outros erros no combate da pandemia, o governo de Angela Merkel parece ter recebido só a primeira parte dessa conta. O resto será cobrado em Setembro, na eleição que definirá quem ocupará o seu lugar.
“O corona mata quase exclusivamente pessoas acima dos 80 anos, que é a idade em que elas normalmente morrem aqui… dizendo de forma brutal, é como se estivéssemos salvando quem, em meio ano, estará morto de uma forma, ou de outra”, respondeu o matemático Boris Palmer, prefeito de Tübingen, pequeno e próspero município do estado de Baden-Württemberg no sudoeste da Alemanha. O político do partido verde (Bündnis’90/die Grünen) foi um dos entrevistados do jornalista Markus Lanz em seu programa na rede pública ZDF na noite de quarta-feira (11/11).
Suas declarações, recebidas com indignação pelo establishment político-midiático presente e ausente no programa, são combustível para um debate que o país não consegue encaminhar. “Inaceitável. Todo ser humano, independente da idade tem direito à vida”, lacrou o quase octogenário ex-vice chanceler, Franz Müntefering, também entrevistado na noite.
Da esquerda para a direita: o jornalista Markuz Lanz, o ex-vice chanceler, Franz Müntefering, o político Boris Palmer, a jornalista Anja Maier e o astrofísico Heino Falcke, no programa do dia 11 de novembro na rede ZDF.
Idéia fixa
Palmer explicou que não repetiria a frase, pois a comoção que ela provocou ao final inviabilizou qualquer debate. “Mas existe um dilema relacionado com a estratégia global de combate da pandemia. Um receio bastante concreto, de que ela acabe causando mais perdas em vidas, do que as vidas que conseguimos salvar, seguindo as medidas que temos hoje em vigor”, insistiu.
A idéia fixa, de que não há nenhuma outra alternativa, é o que indigna muita gente na Alemanha no momento. “Criamos um serviço de táxi subsidiado pela prefeitura, para que pessoas do grupo de risco não precisem usar o transporte público”, exemplificou o prefeito da cidade de 90 mil habitantes. Boris Palmer reclama que já tentou replicar soluções assim em nível federal, sem sucesso.
Razão do medo
“Nada me deixa mais doente que a solidão”, reclama o professor e músico brasileiro de 35 anos, João de Alencar Rego. Em tratamento de um câncer desde 2019, João está fazendo agora a última parte da quimioterapia. Duas vezes por semana precisa ir ao hospital onde foi operado. Para isso, usa o transporte público da capital Berlim, onde mora desde 2012, mesmo sendo parte do grupo de alto risco.
“Conseguir que o seguro de saúde (Krankenkasse) pague o táxi é uma burocracia gigantesca, e com sorte eles pagam metade”, conta ele. Para o músico, neste confinamento, a razão está do lado do medo. “Sempre uso máscara, lavo as mãos etc, me cuido, mas é difícil ver que os amigos passam aqui pra deixar as compras e só acenam de longe com máscara e vão embora… A gente fica mais doente alimentando esse pânico toda hora”.
Tarefa mamute
O gargalo da pandemia é o sistema de saúde. Na potência germânica da segunda onda não existem enfermeiros suficientes para atender todos os 30 mil leitos de tratamento intensivo disponíveis. Estimativas do próprio governo apontam um déficit de seis mil profissionais só para UTIs em todo país. “Pacientes do corona ficam mais tempo internados e requerem mais atenção. Isso afeta a demanda por mão de obra”, justifica o ministro da saúde, Jens Spahn (CDU).
O ministro da saúde da Alemanha, Jens Spahn.
O governo havia anunciado um plano para empregar 13 mil novos enfermeiros durante a primeira onda. Menos de três mil foram efetivados até o momento. O ministro Spahn propõe, caso necessário, fazer os enfermeiros continuarem trabalhando, mesmo quando infectados. Em sessão do parlamento (Bundestag) dia 06 de Novembro, ele já havia avisado: “A pandemia é uma tarefa realmente gigantesca – e essa tarefa ainda não atingiu seu clímax”.
Últimas notícias
O fim de semana, como de costume, foi de apreensão. As imagens de UTIs lotadas em Nápoles, na vizinha Itália, onde o número de mortos ultrapassou a marca dos 500 por dia, aumentam o medo. Mesmo com o achatamento da curva e uma leve redução do total de óbitos, na Alemanha para os próximos dias é esperado o endurecimento das restrições.
O barômetro político, enquete encomendada pela rede pública de comunicação ZDF, indica aceitação das medidas do governo por 58% da população. Segundo a pesquisa, 26% acham elas insuficientes e aprovariam restrições ainda mais severas. Acima de tudo, o otimismo de 85% dos alemães que, de acordo com o levantamento, acreditam que o país vai superar bem a crise.
“As medidas são adequadas e necessárias, e se aguentarmos de forma consequente esse mês, pode ser que consigamos romper essa segunda onda da gripe”, declarou Angela Merkel no dia em que começou o lockdown-light na Alemanha. “O sucesso dessa estratégia depende não só das regras em si, mas especialmente do cuidado da população em segui-las”, acrescentou a mulher que está há 15 anos à frente do poder na principal economia da Europa.
Merkel vem tendo dificuldades em se explicar. Primeiro, por que as medidas tomadas desde o fim do primeiro confinamento não funcionaram para evitar o segundo? Ou esclarecimento convincente sobre a diferença entre um cinema e uma igreja. Por que um não pode funcionar e o outro sim? No país inteiro, missas e cultos continuam permitidos, seguindo as medidas de higiene e distanciamento. Já exibições de cinema não, estão terminantemente proibidas.
Movimento dos esquisitos
Como resultado, protestos têm aumentado em número, frequência e intensidade. O último, no início de novembro em Leipzig, quando dezenas de milhares de pessoas desafiaram a ordem da polícia para dispersar e marcharam pelo centro da cidade. O movimento, batizado pela grande imprensa de “Queerdenker Bewegung” (Movimento dos Pensadores Esquisitos), reúne na verdade pessoas de praticamente todos os espectros do pensamento político.
“Pensadores Esquisitos” (Queerdenker) na Augustplatz em Leipzig dia 07 de novembro. (dpa)
“Em virtude da situação, optamos por recuar para evitar o conflito”, justificou o Comandante da Polícia Militar de Leipzig, Torsten Schultze. A polícia, no fim, foi a responsabilizada pelo fracasso em fazer valer a lei do distanciamento. No parlamento, políticos da coalisão cobraram melhor preparação para essas situações e fizeram ameaças veladas de endurecimento das medidas de controle.
Erik Flügge é um cientista político baseado em Stuttgart. Ele tem longa experiência no acompanhamento de casos polêmicos envolvendo decisões do governo. A mais significativa delas é o movimento contra a ampliação do sistema de transporte rodo-ferroviário da capital do estado de Baden-Wurttenberg, conhecido como Stuttgart 21. Projeto de 6,3 bilhões de Euros, que há 10 anos vem sendo impedido por diversas iniciativas populares no sul da Alemanha. “Não foram poucas as vezes em que o governo apresentou cálculos e dados errados para justificar suas posições. Ao longo do tempo as pessoas aprenderam que isso ocorre sistematicamente e construíram um consenso sobre as decisões governamentais”, explica o cientista.
Velha desconfiança
É inevitável a sensação de dejavú. Durante a primeira onda da pandemia, diversas questões foram simplesmente canceladas pela pecha conspiracionista. Mas a falta de respostas convincentes para simples fatos reacendem a desconfiança das pessoas. A mais polêmica no momento é a acusação de inconfiabilidade dos testes PCR (Polymerase-Chain-Reaction), aquele do cotonete.
Não são raros os casos de pessoas doentes apresentarem resultado negativo. O mesmo para pessoas positivas assintomáticas. A melhor explicação para tais discrepâncias é relacionada com a realização do teste. Ou o cotonete acertou no canto errado da garganta, ou a quantidade de vírus ali ainda não era suficiente para ser detectada.
Apesar da incerteza, o PCR é o principal teste para o covid-19 na Alemanha. Por semana, mais de um milhão e meio são realizados. Fica estranho descobrir que o principal assessor do governo para a crise, o virólogo Christian Drosten, é também o detentor da patente do PCR test.
Conflitos de interesse
O historiador suíço Daniele Ganser, conhecido por colecionar dados e fatos que contradizem versões oficiais em situações de crise, lembra que esse tipo de “business” não é nada novo. Em maio de 2009, a Organização Mundial da Saúde mudou o conceito de pandemia. Até então, ele dependia basicamente de um representativo número de mortos e doentes em nível global.
A partir desta data, bastava uma infecção se espalhar rapidamente pelo mundo para que o alerta da OMS fosse dado. “Um mês depois de mudar o conceito, a chefe da OMS na época, Margaret Chan, declarou a gripe do virus H1N1 como uma pandemia, o que possibilitou a venda de milhões de doses da vacina Tamiflu (Roche) para governos de todo o mundo”, conta Ganser.
O historiador Daniele Ganser é especializado em documentar mentiras e manipulacoes do aparato político-estatal. (F.Bachman)
“A OMS não é uma organização tão independente assim. Só a fundação Bill & Melinda Gates doam 700 milhões de dólares a cada ano para ela”, afirma o pesquisador, citando um levantamento da universidade John Hopkins nos Estados Unidos. Uma outra pesquisa, publicada no mês de Setembro pelo Instituto de Estudos Políticos em Washington, aponta durante a pandemia, para um acréscimo de 17 bilhões de dólares no patrimônio privado do homem que sonha vacinar 7 bilhões de pessoas contra a gripe do corona.
Nefasta estatística
A chanceler alemã dá de ombros para os conflitos de interesses, repetindo a mesma tática e argumentos da primeira onda. Apelos reiterados para que as pessoas mantenham distância e usem máscaras, num chamado irresistível à mútua solidariedade. No primeiro confinamento nenhuma das medidas funcionou. Mesmo com o lockdown radical o número de infectados continuou alto, empurrando a medida por três meses, sem que houvesse um número significativo de vítimas no final.
Especialistas de várias áreas colecionam argumentos contra a estratégia do governo federal em Berlim. “Ao triplicar o número de testes, o que observamos foi o número de pessoas positivas também triplicar. O noticiário na televisão faz parecer que houve um aumento de três vezes no número de doentes nos hospitais, mas a maioria das pessoas testadas positivo não está doente”, declara Dr. Gerd Bosbach, matemático e um dos autores do livro “Mentiras com números” (Lügen mit Zahlen, Heyne/2012).
Ainda que o número de mortos esteja em franca escalada, ultrapassando a marca de 200 por dia nessa segunda quinzena de novembro, uma outra lacuna continua aberta com relação a essa nefasta estatística. “Quando uma pessoa é um óbito do corona? Se ao saber do meu teste positivo, eu me assusto e caio do balcão do meu apartamento, eu sou um morto do corona. O mesmo vale para quem morre de derrame, ataque cardíaco, câncer etc”, escreve o médico epidemiologista Sucharit Bhakdi, em seu bestseller “Corona Fehlalarm?”(Alarme Falso).
Epidemiologista Sucharit Bhakdi virou autor bestseller com seu questionamento sobre a política da pandemia na Alemanha.
O fenômeno remete a um experimento feito pelo médico legista Klaus Püschel, diretor do Instituto de Medicina Legal de Hamburgo. Durante duas semanas em abril, ele exumou os corpos das pessoas que haviam morrido por coronavírus com sua equipe. “Todos os cadáveres que examinamos tinham câncer, doenças pulmonares crônicas, diabetes, problemas do coração ou pressão. Nenhum sem longo prontuário médico”, declarou ele à imprensa na época. Só então os canais oficiais explicitaram que o número apresentado referia-se a pessoas mortas “com” corona.
Debate democrático
Na arena política há um outro ponto importante no argumento da oposição, em relação a esse novo lockdown. “Frau Merkel, a senhora fala em debate democrático, mas ele deve ser democrático antes da decisão ser tomada e não depois”, criticou Christian Lindner, presidente do Partido Liberal (FDP), na sessão do parlamento na sexta-feira, 30 de outubro.
Além de discordâncias quanto às medidas em si, a oposição acusa a forma como o governo vem conduzindo a crise, com a formação de um “gabinete de guerra”, e colocando cada vez mais militares no combate da infecção. Só em outubro e novembro, 2.600 soldados foram deslocados para ajudar no acompanhamento das ocorrências. No total, 15 mil militares já trabalham no combate da pandemia e o contingente vai aumentar nos próximos meses.
A gerente de projetos, Katharina Richter, recebeu semana passada a visita dos “soldados de saúde” em sua casa. Ela e o marido tinham sido testados positivo para covid-19 e estavam em quarentena. Os agentes foram à casa deles para testar as duas filhas do casal e inspecionar o cumprimento da determinação. “Foi tudo muito rápido e profissional”, conta ela.
Enquanto isso, nas ruas a situação é de desconforto. Não apenas pelo uso obrigatório da máscara, mas especialmente pelo controle policial ostensivo nesses primeiros dias de confinamento-light. “Palhaçada, isso é falta do que fazer. Por que a polícia não vai lá no ponto de tráfico que todo mundo sabe onde é, e acaba com aquilo? Ficar controlando velho que não usa máscara na rua é vergonhoso”, critica o empresário brasileiro, Lindomar Gomes.
Radicado em Berlim há 17 anos, Lindomar não nega a existência do vírus e a necessidade de ter cuidado, mas acha absurda a condução da crise pelo governo. “Se você anda de metrô ou ônibus, é impossível haver distanciamento, e a máscara só protege se for apropriada e usada de maneira adequada. Como a maioria faz, parece mais um teatro para bobos”, acredita ele.