Lula

A pesquisa encomendada ao Ibope pela Confederação Nacional da Indústria não pode ser mais insuspeita.

Ela revela algo que se torna a cada dia mais gritante: a situação do ex-presidente Lula, condenado por corrupção, preso há mais de 80 dias, com todas as acusações contra ele reiterada e amplamente divulgadas.

E, mesmo assim,  liderando todas as pesquisas eleitorais, alcançando agora o dobro do segundo colocado e um percentual maior do que os demais somados!.

Estará o povão sendo enganado por solertes petistas que defendem Lula?. Ou o povo não acredita nas acusações?. Ou acredita, mas acha que tudo isso é uma grande armação e, assim mesmo, prefere Lula?.

Seja o que for, a situação que se criou, e que se agrava, é perigosamente desafiadora para nossa claudicante democracia: em nome de quê vai se tirar do pleito o candidato que a maioria dos eleitores quer, apesar de tudo o que se diz contra ele?

Sejam quais forem as razões para barrar Lula, e elas não faltarão, não há como escapar ao fato de que se vai  amputar a vontade (o direito?) de uma maioria de eleitores, que reiteradamente aponta o ex-presidente como seu candidato.

Qual a consequência disso? A eleição de Bolsonaro, como apontam os cenários sem Lula, pode não ser o mais grave.

Leia mais: http://oglobo.globo.com/opiniao/a-questao-central-da-inelegibilidade-de-lula-22845195#ixzz5KFJ803vw
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A entrega do Pré-Sal

GERALDO HASSE

O maior ativo da Petrobras está sendo leiloado às pressas
Todo mundo anda se queixando da passividade do povo brasileiro diante do massacre  praticado em favor da implantação do neoliberalismo na economia.
Da Esplanada dos Ministérios em Brasília aos prédios aos gabinetes do Judiciário, aos escritórios empresariais e  às redações dos jornais, prevalecem medidas, mensagens, sentenças e notícias alinhadas com a ideologia neoliberal, que defende os privilégios de quem tem dinheiro e menospreza os pobres, remediados e carentes – a maioria da população.
Salvo o alarido feito nas redes sociais por militantes e simpatizantes das causas da Esquerda, impressiona que ninguém antigoverno e antissistema entre em detalhes para explicar, por exemplo, o que aconteceu com a Petrobras.
Cadê Graça Foster, a única mulher a exercer a presidência da estatal do petróleo? Ela foi colocada no cargo pela presidenta Dilma e saiu em silêncio, sem sequer tornar público um relatório sobre sua gestão.
A própria Dilma, afastada da presidência sob a acusação de dar algumas “pedaladas fiscais” – práticas comuns em outros governos –, tem se limitado a dizer que o impeachment foi um golpe e que não praticou nenhum crime de responsabilidade previsto na Constituição. Basta?
Preso em Curitiba, o ex-presidente Lula alega ter sido condenado sem provas, mas não põe na mesa argumentos capazes de aumentar a convicção popular de que ele está sendo vítima de uma injustiça histórica.
No meio desse quadro de penitência para os petistas e seus aliados, a novidade veio  dias atrás pela boca de José Sergio Gabrielli, que presidiu a Petrobras na época da descoberta do petróleo do Pré-Sal, em 2006 – sempre lembrando aos desavisados que essa mina de energia achada no início do século XXI representa para o Brasil o mesmo que o ouro achado no início século XVIII.
Será que precisamos virar colônia novamente ou temos condições de administrar soberanamente nossos recursos naturais?
Falando pelas redes sociais – pois a imprensa só o menciona como suspeito de favorecer alguma jogada nos seus tempos de executivo da Petrobras –,  Gabrielli denunciou a conspiração em curso para transferir o controle das jazidas de petróleo do Brasil para outros países liderados pelos EUA.
Até aí nada de mais: é sabido que os trustes do petróleo conspiram no Brasil desde os anos 1930 e lutaram arduamente contra a fundação da Petrobras. A favor da entrega das riquezas nacionais, sempre atuam alguns bacanas brasileiros. O problema, agora, é que eles se tornaram mais numerosos do que nunca e estão perigosamente situados em postos do Poder.
Uma das novidades trazidas por Gabrielli é que os EUA não estão jogando sozinhos. A China está na parada após ter se tornado o maior parceiro da Petrobrás, informação que dá uma nova configuração geopolítica ao quadro de disputas sobre as reservas petrolíferas do Brasil e do mundo.
Dessa corrida, segundo o ex-presidente da BR, também não se pode descartar a Rússia, governada por Vladimir Putin, um perito em espionagem e especialista em petróleo.
Nesse quadro global, o Brasil tem poucas chances de escapar do cerco armado pelos EUA com ajuda do Canadá e de países da Europa, mas pode respirar se fizer parcerias com a China e a Rússia. Para isso, porém, não há disposição no atual governo, nitidamente pró-ianque.
Segundo Gabrielli, para assumir o controle sobre as jazidas brasileiras de petróleo, os EUA trabalharam metodicamente para desmantelar o projeto de desenvolvimento liderado pela Petrobras, que vinha operando como uma matriz de encomendas a diversos segmentos da indústria brasileira (de aço, naval, plásticos entre outros).
Aí estava uma grande chance de independência e soberania, inclusive porque fora decidido que os recursos obtidos com a exploração do Pré-Sal deviam ser obrigatoriamente para fortalecer a educação (75%) e a saúde (25%) da população.
O fato é que a locomotiva Petrobras é alvo de um desmanche considerável. E seu mais precioso ativo – o Pré-Sal – está sendo leiloado. Ficou aparentemente fácil porque os EUA e aliados passaram a contar com os entreguistas acomodados no Palácio do Planalto, no Congresso, nas Bolsas de Valores de SP e NY, e em instituições fundamentais do país – destaque para os meios de comunicação liderados pela TV Globo, jornais O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de Paulo.
Atuando em bloco, a Mídia privilegia a veiculação de mensagens a favor da implantação completa, no Brasil, do regime neoliberal atrelado às potências econômicas globais.
Faz parte dessa campanha a propagação de notícias sobre as gestões petistas na Petrobras, que teria “afundado” por ação de uma “quadrilha” de malfeitores, alguns presos, outros em fase de colaboração com a Operação Lava Jato.
Sobre esse item, José Sérgio Gabrielli esclareceu: “Dos cinco diretores petistas da Petrobras, nenhum foi preso pela Lava Jato”, lembrando que só foram pegos (e confessaram, passando a seguir a delatar empresários e políticos envolvidos em falcatruas) alguns altos funcionários que estavam na empresa desde o século XX – antes, portanto, da chegada do PT ao poder.
É de esperar que, a exemplo do que fizeram recentemente os engenheiros da Petrobras,  os petistas responsáveis apresentem argumentos defendendo-se a si e à empresa) de acusações injustas e mentirosas. Não basta alegar inocência ou colocar-se como vítimas de uma conspiração liderada por figuras do Judiciário.
A esta altura do jogo, o silêncio dos inocentes favorece os inimigos.
 

México: um alerta

O noticiário revela pouco interesse no Brasil pelas eleições que se realizam neste primeiro de julho no México.
No entanto, o que está acontecendo no México é um espelho do Brasil amanhã, se não for estancado o processo de deterioração social e institucional que assola o país.
Na campanha mexicana, desde que foram definidos os candidatos que disputam as eleições gerais, 122 políticos foram assassinados no país, incluindo 18 candidatos na disputa oficial.
Filiados a todos os principais partidos aparecem entre as vítimas, na campanha eleitoral mais sangrenta do país.
Já foram assassinados, além dos 18 candidatos, outros 28 pré-candidatos e 12 prefeitos em exercício. As demais vítimas são dirigentes, ex-deputados e ex-prefeitos e militantes, além de líderes locais.

No Brasil já não estamos muito longe disso. Na região metropolitana do Rio de Janeiro na última eleição municipal foram mortos pelo menos oito candidatos a vereador ou prefeito.
No Rio, todo o político sabe que em certas áreas só entra para fazer campanha com permissão dos chefes do tráficos ou das milícias. O Caso Mariele está aí, pulsante e ainda sem solução.
E o Rio, há muito não é uma exceção no Brasil quando se fala de violência e crime organizado.
O general que comanda a intervenção das Forças Armadas no Rio. disse, numa entrevista que uma das preocupações de seus estrategistas  era impedir a eleição de uma bancada do crime organizado no pleito de outubro.
Quer dizer: O México já é aqui.
 

Rumo ao Norte, na contramão do interesse público

GERALDO HASSE
A dita greve dos “caminhoneiros” foi pedagógica ao mostrar o intenso arrocho de preços exercido pela Petrobras sobre o transporte rodoviário, onerando toda a população, só para favorecer seus acionistas privados, que pensam exclusivamente em obter os dividendos do crescimento empresarial e desdenham da responsabilidade sobre o desenvolvimento do país.
O governo cedeu às exigências dos grevistas, mas não alterou a política de preços da estatal situada estrategicamente na maior encruzilhada da economia – a encruza energética. É exatamente aí que mora o grande perigo.
A demissão de Pedro Parente, o bode expiatório da crise, não é solução. Ele deixou em seu lugar o diretor financeiro Ivan Monteiro, que o ajudava a preparar o terreno para a entrega da Petrobras aos tubarões internacionais.
Esses graúdos, capitaneados pelos americanos, não se conformam em ver as jazidas brasileiras de petróleo nas mãos de um estado nacional que não faz parte do clube dos gigantes da economia mundial. Querem a restauração do Brasil colonial e contam com a ajuda de muitos brasileiros ilustres.
Contra esse vergonhoso movimento entreguista da Petrobras, levantaram-se os engenheiros reunidos na AEPET e os trabalhadores organizados na Federação Única dos Petroleiros. Estes, ameaçados de multa milionária pelo Tribunal Superior do Trabalho, desistiram de uma greve de protesto de 72 horas, mas permanecem mobilizados na defesa da empresa. O que vem por aí não se sabe.
Já os engenheiros, que desde os anos 1950 se destacam pela defesa do interesse nacional, garantem que a Petrobras tem condições de obter lucros de 50% sobre o custo de produção mesmo se vender o óleo diesel a R$ 1,50 por litro, bem mais barato do que os preços praticados atualmente.
Trata-se de uma informação que tem a dimensão de uma denúncia, acrescida de uma acusação grave: segundo a AEPET, a diretoria da Petrobras está lesando o país ao exportar petróleo cru e importar derivados, como fazem os países subdesenvolvidos.
Em consequência dessa política exótica, as refinarias nacionais estão operando bem abaixo de sua capacidade, perdendo receitas e valor de mercado, o que configura uma prática destinada a favorecer a privatização desses ativos “descartáveis”.
Com esse comportamento antinacional, a Petrobras permanece como alvo dos nacionalistas e alimenta a insatisfação de todos os consumidores de derivados de petróleo.
Pelo sim, pelo não, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) decidiu entrar lateralmente na história, abrindo uma consulta pública para obter indicações sobre a formulação de uma política de preços dos combustíveis.
Pode ser uma medida demagógica ou protelatória, mas o presidente Ivan Monteiro disse que vai esperar os resultados da consulta para, então, tomar as providências cabíveis, se forem do agrado da diretoria, do conselho, dos acionistas privados e do acionista maior, por ora representado por um governo cujo norte é agradar ao Norte.
Lembrete de ocasião
Eu disse em 2009, quando recebi o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia, que uma potência é muito mais perigosa quando está em decadência do que quando conquista o seu império, e os EUA são uma potência em decadência. São muito mais perigosos do que antes”.
Luiz Alberto Moniz Bandeira, historiador brasileiro, em entrevista à Sputnik Brasil em 2016, quando afirmou que “o objetivo das ações externas contra o Brasil é quebrar a economia e comprar as empresas estatais a preço de banana”.

Jornalismo passivo

Chamo de jornalismo passivo esse que se pratica nas nossas grandes redações, sujeito a uma pauta que vem de fora para dentro.
São os atos oficiais, as leis, os decretos, os lançamentos, são os aumentos, os indicadores, as inaugurações, os eventos, as promoções, os projetos, as entrevistas coletivas.
É inevitável, intrínseco ao jornalismo de massa difundido pelos grandes canais de comunicação. E, sem dúvida,  essas fontes trazem uma informação relevante, que merece a atenção que recebe.
O problema é que esses fatos programados acabam ocupando 90% ou mais da
cobertura.
Uma vez fiz um levantamento na Gazeta Mercantil, que era um jornal criterioso e tinha
uma reportagem bastante ativa. Nenhum press release era publicado sem que se falasse com o emissor, para checar todas as informações e esclarecer alguns pontos, o que muitas vezes rendia belas matérias.
Mas mesmo na velha GZM era um desafio chegar a 30% de pautas que não viessem de agentes externos, atos oficias ou gente interessada em divulgar a sua informação, vender o seu peixe.
É legítima essa pressão, e a imprensa existe também para isso, mas ela deveria ser equilibrada internamente, com as pautas de quem não tem assessoria, não organiza eventos, nem assina decretos, mas é o verdadeiro sentido do jornalismo: a cidadania.
O jornalismo passivo é cômodo e vantajoso. O espaço na mídia concentrada é disputado, é só selecionar as informações relevantes, a margem de erro é quase zero, não gera atrito com ninguém e, importante nesses tempos de crise, economiza mão de obra.
Mas tem um efeito colateral daninho: torna-se um jornalismo oficioso, acomodado, que se vale do bom trânsito com a autoridade.
Aí acontece uma “greve de caminhoneiros”.
Há um mês ela foi anunciada ao governo. Como o governo não divulgou os ofícios que recebeu das associações dos caminhoneiros, a manchete não foi notícia.
O vídeo que mostra como uma greve de caminhões pode paralisar o país em cinco dias, só foi divulgado nesta sábado, sexto dia da greve. A federação que o produziu diz que ele é do ano passado.
No sexto dia da greve, com o país mergulhado na crise, pouco se sabe das reais motivações e dos agentes desse movimento.
O jornalismo passivo deveria pedir desculpas ao país pelos prejuízos da desinformação.
 

Cargas muito pesadas

Mesmo sob intensa manipulação por jornais, revistas, veículos de rádio-TV e da mídia digital, a maioria dos brasileiros sabe: o transporte rodoviário de cargas é feito não apenas por caminhoneiros autônomos, mas por milhares de motoristas que são empregados (ou prestadores de serviços sem vínculo formal) de grandes empresas proprietárias de frotas de caminhões.
Os brasileiros também sabem, porque isso faz parte do seu cotidiano, que os motoristas viajam quase sempre sozinhos, e apenas na entrada das cidades fazem embarcar os “chapas”, que atuam como guias e auxiliam na entrega das cargas (os chapas estão sendo dispensados pelo uso do GPS nos caminhões).
Apenas nos caminhões de entregas urbanas os motoristas têm companheiros de jornada.
Essa heterogeneidade do pessoal envolvido no transporte de cargas potencializou as demandas previamente anunciadas e surpreendentemente desdenhadas pelo governo federal, que não deu a devida atenção aos avisos, pedidos e advertências das entidades de representação dos “caminhoneiros” descontentes com os preços do óleo diesel.
Será que o governo apostava numa greve de curta duração, após o que as autoridades federais apareceriam como magnânimas salvadoras da pátria?
Impossível compreender qual o cálculo feito ou qual a estratégia prevista, tanto que a maioria dos analistas concluiu que foi uma mistura de incompetência com negligência.
Falhou o governo ao não dar escuta nem abrir um diálogo com os “caminhoneiros”. Ou, seja, foi o próprio governo quem deu combustível para os grevistas, que se revelaram extremamente organizados, obedecendo a comandos múltiplos não identificados pelas autoridades.
Uma das questões que ficaram da greve é saber quais as fontes de informação dos “caminhoneiros”?
Em outras palavras, quem os manteve a par das “negociações” com os representantes do governo? Os clientes? Os colegas de profissão? As emissoras de rádio-TV? As redes sociais mantidas por meio de PCs, note books e tabletes com sua multiplicidade de recursos de comunicação on line?
Também se pode supor que “caminhoneiros” de longo curso dispõem de instrumentos sofisticados para se comunicar on line com suas matrizes e sucursais – e até para sintonizar freqüências de rádio operadas pelas forças de vigilância das estradas e de segurança do patrimônio das pessoas.
Não há dúvida de que a greve dos caminhoneiros foi manipulada de cima para baixo, de fora para dentro, dos lados para o centro, do centro para fora, mas cabe ao governo federal a maior parte da responsabilidade — inclusive por não revelar quem são os “infiltrados” que coagiram “caminhoneiros” a retardar o fim da greve.
Mas não foi por acaso ou descuido que o presidente-tampão botou na direção da Petrobras um economista sintonizado com a onda neoliberal que varre o mundo.
Há cada vez mais pessoas convencidas de que a colocação do ‘global’ Pedro Parente na BR faz parte de um plano de alienação do patrimônio nacional.
Se Parente pode ser apontado tranquilamente como o verdadeiro pivô da greve dos transportes rodoviários, a responsabilidade por esse movimento sem precedentes na história recente cabe a seu chefe.
Se este não é Michel Temer, deve ser alguém situado numa mesa grande fora do Brasil. Alguém interessado na instauração do caos neste país rico em recursos invejáveis.
Se não fosse pelo interesse da desorganização da economia brasileira, bastaria portanto a Petrobras maneirar na política de preços para fazer arrefecer a greve.
Mas não se ouve um pio sobre isso, de parte do governo, o que sinaliza uma rebordosa em tempos vindouros.
Se a petroleira nacional se mantiver atrelada às cotações internacionais e às variações do dólar, a rosca vai se apertar novamente sobre os segmentos mais diretamente dependentes dos combustíveis fósseis, cujos reflexos pesam sobre toda a população.
Vale a pena a Petrobras trabalhar para remunerar regiamente acionistas particulares e fundos de pensão situados mundo afora, enquanto 200 milhões de brasileiros pagam o pato? Não foi para isso que a estatal foi criada.
A BR conseguiu colocar o Brasil num patamar da independência energética. Não é hora de entregar os pontos conquistados. O nome dessa capitulação é entreguismo, substantivo que define a disposição mental para a alienação da soberania, a subserviência aos colonizadores. Uma vergonha, enfim. Um mau exemplo para os jovens que acreditam na própria capacidade.
O empresariado e a mídia estão irmanados numa campanha pela privatização da estatal do petróleo e de hidrelétricas.
Segundo essa campanha, os ativos estratégicos do Brasil deverão ir para mãos de capitalistas dos EUA, da China e de outros países mais adiantados e aptos a administrar as riquezas alheias.
Quem poderia conter essa onda privatista? O Congresso, se não for venal. O Ministério Público, se for menos elitista. A mídia, se olhar o interesse público. No fim das contas, a resistência final cabe ao povo por meio de manifestações políticas, inclusive nas eleições de outubro.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Era meia-noite e meia quando Getúlio enfim deu ordem para que todos fossem chamados. Enquanto esperava a chegada dos colegas, Tancredo Neves se aproximou de Getúlio, que estava fumando o tradicional charuto.
‘Presidente, como vamos conduzir a reunião ministerial? Qual deve ser a nossa posição?’
‘Iremos ouvir os ministros militares e tomaremos uma decisão’, respondeu o presidente, que apanhou a caneta-tinteiro sobre a mesa e a entregou a Tancredo.
‘Guarde isso, como lembrança desses dias…’
O ministro o olhou com ar de surpresa.
‘Não se preocupe, tudo vai acabar bem’, comentou Getúlio.”
(Lira Neto, na página 334 do terceiro e último volume da biografia de Getúlio Vargas (Cia das Letras, 2014), em que narra um episódio da madrugada de 24 de agosto de 1954 no Palácio do Catete, oito horas antes do suicídio do gaúcho de São Borja.)

Refém do Mercado

O País está preso ao neoliberalismo do tucano Pedro Parente, presidente da BR

Em apenas três dias, a greve dos caminhoneiros escancarou a falácia da gestão neoliberal da Petrobras.

Com sua política de “preços internacionais”, atrelados às cotações do dólar e do petróleo, a empresa estatal colocou a população brasileira à mercê uma estratégia de busca desenfreada do lucros.

O governo de Michel Temer está com a faca no pescoço, obrigado a optar entre o Mercado e a Nação.

Mas foi ele, Temer, quem nomeou o tucano Pedro Parente para a presidência da companhia criada em 1953 para ser o esteio da política nacional de combustíveis fósseis (petróleo e gás natural).

No final do século XX, a Petrobras assumiu uma posição importante na produção e distribuição de etanol e biocombustíveis.

Em 2006, a BR achou uma enorme jazida de petróleo na camada pré-sal da plataforma continental, tornando-se uma potência energética mundial.

Superados com a ajuda do Judiciário os problemas de gestão dos últimos anos, eis a Petrobras numa encruzilhada.

Está claro que uma empresa estratégica como a Petrobras não pode operar pensando exclusivamente em remunerar seus acionistas privados, majoritariamente situados nos Estados Unidos.

Ela tem responsabilidade histórica com o maior acionista – o povo brasileiro.

Mesmo depois de obter duas vitórias importantes em dois anos de governo – a queda da inflação para níveis civilizados (abaixo de 3% ao ano) e a redução da taxa básica de juros pela metade (de 13% para 6,5%) –, o vice-presidente em exercício do cargo maior do país não tem coragem de demitir Parente e recolocar a Petrobras no centro do campo econômico.

LEMBRETE DE OCASIÃO

“Como toda a história o mostra, quem lidera e detém poder corre muitos riscos: riscos da vaidade, da arrogância, do autoritarismo e da capitulação para a ideologia do luxo, o que leva à corrupção”.

Aldo Fornazieri, em artigo no site GGN

Bodas reais

Cláudia Rodrigues
Pedro Bandeira em “O fantástico Mistério de Feiurinha” conseguiu fazer uma crítica tenaz ao status quo dos contos de fada em um livro infanto-juvenil escrito em 1986.
Apesar de ter sido escrito por um homem, é uma leitura feminista em que todas as princesas reveem seus papéis.
Branca de Neve aparece como a escrava dos anões que trabalha sem ganhar um vintém, Chapeuzinho Vermelho, a única que não é princesa porque não casou, é a pessoa mais livre de toda a história e não deixa de reclamar do caçador.
O livro, escrito em plena Era lady Di, quando a princesa estampava a capa das revistas do mundo inteiro como a primeira princesa plebeia, ainda que Ana Bolena já tivesse estreado o mesmo papel em 1533; deveria ser leitura obrigatória para todas as mulheres adultas que ainda se encantam com casamentos reais e fantasiam suas filhas como princesas.
Mais do que isso, ao sintonizarem a TV logo ao amanhecer de um dia de bodas reais, essas jovens mães que se dizem feministas, não sabem, mas investem pesado na fantasia de suas rebentas que nascem e crescem achando que podem tirar a sorte grande tornando-se princesas.  Buenas, a chance de uma cidadã inglesa virar princesa é menor do que a de qualquer uma de nós acertar sozinha na loteria. O sucesso da realeza bebe o poderoso elixir de vida eterna made in aplausos de uma plebe mundial.
Entra século, sai século, a monarquia se mantém de maneira cada vez mais confortável, afinal hoje não existem guerreiros para tomar palácios à base de força, armadura e cavalos. A concentração de terras diminuiu, as colônias se libertaram ficando na miséria, mas a concentração de renda e o sistema financeiro multiplicador do capitalismo dão garantia ad eternum aos monarcas.
É bem verdade que a corte cresceu, hoje além dos artistas escolhidos pela corte, entraram as celebridades e claro, os banqueiros, as famílias da alta burguesia, mas desde sempre os grandes proprietários de terra tiveram acesso aos bailes na côrte, como ocorreu com Ana Bolena já em 1533.
Cena midiática semelhante a de lady Di, aconteceu com Kate Midleton, a mídia falou de títulos e não títulos, parentescos antigos com a monarquia, que Diana teria e Midleton não. Essa sim finalmente seria uma princesa realmente plebeia. E finalmente chegamos a uma princesa americana, negra e feminista; Meg, a nova Anastácia, a mais plebeia das princesas entra pela porta da frente dos palácios ingleses e renova as esperanças dos vassalos.
Infelizmente foi assim que parte importante da população mundial, incluindo mulheres feministas e de esquerda, o que é espantoso, está vendo a cena atual e bradando mil vivas à monarquia. Essa atual monarquia inglesa estaria se abrindo para o futuro, fazendo inclusão e reparem, o vestido, de alta costura, teve como adjetivo mais comentado pela mídia, a simplicidade. Foi exatamente assim com o vestido de Midleton e também de lady Di. Como a onda na década de 1980 era pompa e fru frus e não minimalismo, como agora, o termo utilizado para as vestes de Diana foi romântico, ela optara por um modelo que remetia às antigas damas românticas, praticamente um vestido de camponesa!
Da mesma forma a mídia se referiu à escolha do anel de noivado de Diana, que teria sido por uma joia simples de joalheria comum e não uma encomenda ao ourives exclusivo do palácio. Um mimo de 18 kilates, uma safira oriental rodeada por 14 diamantes.
Tudo, incluindo a opção de cada donzela por essa ou aquela coroa usada no casamento é simples, sempre foi simples, porque para manter a plebe com bandeirinhas em punho sonhando com o dia em que terá uma ou outra filha introduzida na côrte real é preciso fazer crer que a simplicidade real está ao alcance de todas.
Para que guerra de classes se todas as mulheres do mundo podem sonhar com o dia em que virarão princesas, não é mesmo? Todas as inglesas ainda vá lá, todas as moças das eternas colônias inglesas, ainda vá lá, afinal ainda há de chegar o dia em que um desses filhos da nobreza vai casar com uma indiana e as manchetes falarão sobre a primeira indiana a entrar para a realeza inglesa. Agora, o que é difícil mesmo de entender é como a realeza de um país europeu pode atingir tão fartamente a plebe brasileira, mas tive a sorte de descobrir como: na padaria ontem quando uma senhora estava comentando sobre a saudade da princesa brasileira. Qual, senhora? Aquela nossa princesa gaúcha, da serra. Eu, de olhos arregalados, a Bündchen? A Xuxa?
Não, a do acidente, mãe do menino que está casando, a Djiana, que morreu de acidente, que deus a tenha, era tão caridosa a nossa princesa!
É verdade, em tempos globalizados, aquela princesa que morreu com o namorado egípcio em um carro alemão, dirigido por um motorista britânico em um túnel na França, bem poderia ser brasileira porque era simples, romântica e fazia caridades.

Os candidatos falam, o eleitor não escuta 

Fora Temer, que após dois anos na chefia do governo não conseguiu juntar cacife para concorrer, os candidatos preliminares à presidência começam a esquentar os motores para a reta final a ser percorrida somente depois da Copa do Mundo, que começa dentro de dias, em junho.
Na mais estranha pré-campanha eleitoral dos últimos tempos no Brasil, as apostas seguem concentradas em Lula, que detém mais de 30% das intenções de voto, mesmo estando no início do cumprimento de uma pena de 12 anos de prisão por – controvérsias à parte – corrupção.
Do alto desses tantos milhões de votos, o líder do PT mantém suas pretensões de chegar novamente ao Planalto, embora saiba que seu nome não deverá ser registrado pela Justiça Eleitoral.
Diante da sinuca petista, cresce — surpreendentemente colocado em segundo lugar (18% das intenções de voto) — o nome do deputado Jair Bolsonaro, o ex-militar que cristalizou um discurso agressivo a favor da violência, do apoio à tortura de adversários políticos e “morte aos bandidos”.
Afinal de contas, qual o fundamento eleitoral desse desmiolado e, mais importante, qual seu futuro na campanha em curso?
Parece bastante claro que o apoio popular a Bolsonaro representa uma espécie de desabafo da população inconformada com os políticos e os governantes em geral.
Pesa a favor desse candidato a brabeza (não confundir com bravura), com a qual ele disfarça sua estreiteza mental.
Fantoche a palrar bravatas diante dos microfones do parlamento e da mídia, seu futuro depende do grau de ignorância política do eleitorado, que pode despejar nele, em forma de votos de protesto ou desprezo – como ao Cacareco de anos atrás –, a frustração com os ocupantes do poder.
Ao lado do representante da extrema direita, alinham-se outros candidatos conservadores que até agora não reuniram fôlego para deslanchar.
Os mais notórios são o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), a ex-ministra Marina Silva (Solidariedade), o ex-governador paranaense Alvaro Dias (Podemos) e o presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia (DEM).
Sem contar o vexame do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que se inscreveu no PSB e fugiu da raia antes de entrar em campanha, é indispensável avaliar a situação do ex-ministro Henrique Meirelles, o candidato do MDB, o partido que tomou o governo das mãos do PT.
Após dois anos na Fazenda, Meirelles não amealhou nem 1% das intenções de voto. É um candidato sem ressonância popular. Fez a lição de casa desejada pelos mercados, mas deixou a economia estagnada, com alto desemprego e baixa capacidade de poupança e, portanto, de investimento no potencial de crescimento.
Sua maior conquista é a queda da taxa de inflação a menos de 3% ao ano. Com a redução da taxa básica de juros pela metade (de 13% para 6,5%), caiu a rentabilidade dos papéis da dívida pública, dando alento às atuais especulações com o dólar.
Prato cheio para o economista Ciro Gomes, o candidato presidencial (PDT) que mais vantagem tem tirado da situação de incerteza econômica. Equilibrando-se no centro do espectro político, o filho de Sobral aproximou-se do índice de 10% das intenções de votos graças a um discurso  inspirado na teoria do desenvolvimento de Celso Furtado, o pai da Sudene.
Articulado e bem falante, Ciro aponta solução para quase todos os problemas brasileiros. De todos os candidatos, é o que possui maior experiência político-administrativa.
Mantendo-se sobre o fio da navalha, Ciro aspira a herdar parte do acervo eleitoral de Lula, de quem foi ministro e do qual se diz amigo há 30 anos, embora tenha mantido distância do ex-presidente durante o processo judicial por este sofrido no âmbito da Operação Lava Jato.
Por alguma razão, porém, o pernambucano Lula não confia no cearense Gomes. Tanto que, às vésperas de ir para a prisão, Lula saudou como herdeiros os jovens Manuela d’Avila e Guilherme Boulos, candidatos à presidência por dois partidos de esquerda – PCdoB e PSOL. Até agora nenhum deles passou de 1% das intenções de voto.
Sinal de que os eleitores petistas ainda esperam nova mensagem do fundador e líder do PT.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”
Ditado popular nordestino
 

Os burros ativos

Alguns anos atrás, convivi com uma pessoa que, por sua rara sensibilidade, era considerada louca. Após trabalhar por três décadas no Banco do Brasil, se aposentou aos 55 anos e foi cuidar do próprio lazer — esportes, leituras e viagens.
Não tinha paciência com os chatos que, a seu ver, eram a maioria no mundo.
Não sei onde encontrou forças para aguentar chefes e subordinados numa instituição bancária estatal minada pela bajulação e o carreirismo, mas o fato é que ele soube se divertir enquanto teve saúde para pilotar seus brinquedos — barco, moto, teclado e teco-teco.
Pois bem, sua lição inesquecível: ele criticava os “burros ativos”, expressão que inventou para definir o comportamento dos ignorantes colocados em situação de mando e dos medíocres que por medo, inveja, raiva ou ignorância puxam as coisas para baixo, contribuindo para a estagnação e o retrocesso.
Lembro-me dele agora, toda vez que vejo o vice-presidente em exercício fazendo malabarismos com as mãos e com as palavras no esforço tatibitati de explicar alguma coisa referente a suas atividades de governo.
Ele, seus ministros e altos funcionários da administração vêm se esmerando no esforço para convencer os brasileiros de que a economia saiu da estagnação em que andou mergulhada desde 2015.
A mídia tradicional, na ilusão de contribuir para a ordem e o progresso (lema do governante-tampão), se esforça para convencer os leitores de que agora a coisa vai. Não vai.
Esquecem todos eles — os burros ativos — que o país jamais sairá da paradeira socioeconômica enquanto o governo trabalhar para tirar direitos dos trabalhadores, reduzir salários e proteger prioritariamente os agentes do mercado, os rentistas, os banqueiros, os empresários.
Isso tudo que o subgoverno Temer vem fazendo, além de antidemocrático, é burrice.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Jerivá torto não dá ripa”
Ditado popular recolhido por João Simões Lopes Neto (1865-1916)