As “lavouras” de eucalipto como solução para problemas sociais e ambientais

* Professor Dr. Mauro Schumacher

Sob o ponto de vista econômico, a metade sul do Estado é caracterizada como “primo pobre” ou “ovelha negra” do Rio Grande, se comparada com a metade norte e a região da serra. São grandes extensões de campos sem aproveitamento, abrigando máquinas paradas, enferrujadas pela ação do tempo. Proprietários com até cinco mil hectares enfrentando dificuldades pela falta de alternativas e de recursos. Quais as vantagens em deixar um campo vazio, com absolutamente nada sobre eles? Só para citar dois exemplos, a pecuária está virando um problema para os criadores de gado e a soja perdeu mais de 50% do seu valor de mercado. Quem paga o custo de uma extensão rural para que o produtor fique meramente observando a manutenção de um bioma?

Por outro lado, vemos muitos  hectares com lavouras de arroz e de soja. E por quê, então, não se discute a quantidade de veneno que vai nessas culturas? E os herbicidas que contaminam os mananciais? E os proprietários desinformados que praticam queimadas, torrando tudo que é verde? Contra isso ninguém se manifesta. Entretanto, basta que se fale em plantios de florestas para que ecoem vozes de revolta. E surgem declarações levianas de devastação, deserto verde, alteração na paisagem do pampa, entre outros absurdos. Por que não buscam entender que o reflorestamento é uma resposta às questões sociais e econômicas da Metade Sul como forma de trazer um fio de esperança a essa gente?

O Brasil dispõe da maior área de florestas plantadas de eucalipto do mundo. Entretanto, aqui no estado, a base florestal ainda é modesta: gira em torno de 360 mil hectares e ainda temos – só na Metade Sul – em torno de 15 milhões de hectares disponíveis. Caso três fábricas passem a produzir cerca de 1 milhão de toneladas de celulose por ano no Rio Grande do Sul, teremos demandas por um grande volume de madeira: algo em torno de 300 mil hectares por ano.

Logo, os investimentos em plantios devem elevar a base florestal gaúcha para 1 milhão de hectares. Em contrapartida, uma empresa que precisa plantar 100 mil hectares de “lavoura de eucalipto”, vai ter que preservar quase a metade dessa área, como reserva legal. Também é importante salientar que ninguém pode e nem vai fazer esses plantios em linha reta. Até porque, todo e qualquer projeto envolvendo o meio ambiente passa pelas minuciosas análises da Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental).

O que deve acontecer é uma pulverização em diferentes municípios e, dentro desses municípios, em distintas propriedades, seja através de parcerias, seja através de áreas próprias. Tudo isso em conformidade com as APPs (Áreas de Preservação Permanente), formando-se os chamados corredores ecológicos, entremeando espécies nativas, mata ciliar, banhados e o bioma campo. Este sistema vai quebrar a monotonia dos plantios, desfazendo aquela idéia de monocultura ou de que reflorestamento é “tapar tudo” com eucalipto, pinus ou acácia.

Outra prática que as pessoas precisam entender é a de que ninguém planta uma floresta e só retorna ao local sete ou oito anos depois para cortá-la indiscriminadamente. Antes mesmo do plantio, tem todo um cuidado com o preparo do solo, a adubação, o controle da formiga, o desbaste…. Depois, no momento da colheita, o processo ocorre por faixas, de forma escalonada, intercalada, formando sistemas conhecidos como mosaicos. Engana-se contudo, quem imagina que a colheita encerra o processo. Em hipótese nenhuma deve ser desprezado, removido ou queimado o resíduo da floresta, como cascas, galhos e folhas. Neles estão os nutrientes que vão assegurar a produtividade das futuras rotações, pois transformam-se numa camada orgânica riquíssima e fundamental ao solo.

Agora, uma nova vantagem passa a integrar o inesgotável acervo de avanços da tecnologia florestal. Quando foi estabelecido o protocolo de Kioto, pensou-se em alternativas para a redução de gases, principalmente o CO², um dos maiores responsáveis pelo chamado efeito estufa da atmosfera. E descobriu-se que a biomassa florestal tem a melhor captação e a maior capacidade de retenção de carbono, se comparado, por exemplo, com a agricultura. Isso significa que os ecossistemas florestais se constituem em mais uma solução para tantos problemas ambientais.

As primeiras pesquisas a respeito de captação de carbono no Brasil foram feitos na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Trata-se de estudos entre a UFSM e empresas de vários estados brasileiros. Num deles, voltado à indústria do fumo, verificou-se que nas propriedades rurais, uma floresta de eucalipto armazena, até os oito anos de idade, uma média de 80 a 100 toneladas de carbono por hectare. Quando se fala em espécies clonadas, então, esse número é muito maior.

Isso nos leva a crer que, um programa de fomento, envolvendo parcerias, tornaria viável a criação de um projeto de geração de crédito de carbono. Com a alternativa, o produtor rural, ao vender a madeira após a colheita, teria incorporado carbono ao solo através da matéria orgânica produzida pela floresta.

Respeito ao ecossistema significa que podemos plantar eucalipto pela vida inteira sem que jamais tenhamos problemas. Atingimos um elevado grau de maturidade na produção de nossas florestas graças aos incansáveis anos de pesquisa, de tecnologia, de conscientização, de definição de parcerias e de informações coerentes sobre manejo para produtores rurais e todos aqueles que vivem da floresta. Agrega-se a tudo isso a geração de empregos que impulsiona a cadeia do agronegócio florestal no Brasil e no mundo.

* Professor Adjunto de Ecologia e Nutrição Florestal da UFSM

Carta de Barcelona

Neste domingo, dia 20 de novembro, cumpriu-se 30 anos da morte de Franco. Mesmo passadas três décadas do falecimento do ditador, a sociedade espanhola continua dividida quanto ao papel que o franquismo representou para o país. Em Madri e no Vale dos Caídos, onde está o mausoleu que o ditador mandou levantar para guardar seus restos mortais, centenas de falangistas reuniram-se para homenagear a memória de Franco. Enquanto que, na maioria da cidades espanholas, o que se viu foram gestos de desaprovação aos anos de chumbo.

Essa divisão da sociedade espanhola também se nota na política de hoje em dia, entre os simpatizantes do Partido Popular (PP) de centro direita e do Partido Socialista Obrero Español (PSOE) de centro esquerda, agora no governo. Todas as iniciativas políticas dos socialistas são torpedeadas no congresso pelos populares. A última, é a proposta de um novo estatuto para Catalunha. Espanha é um país distribuido em 17 comunidades autônomas que gozam de uma grande autonomia. Têm leis próprias, uma espécie de constituição (estatuto), que regulam suas relações com o estado espanhol e com a União Européia.

O estatuto de Catalunha é de 1978, logo depois da volta da democracia em 1975, quando da morte de Franco. Estava pactado entre os grupos políticos espanhóis que nesta legislatura começariam as reformas dos estatutos. O bascos tentaram o seu, no ano passado, mas foi rejeitado pelo congresso espanhol. Agora os catalães estão tentando pactar com o restante da espanha o seu. A principal briga é semântica. Os catalães dizem que são um país que está dentro da Espanha, portanto são uma nação dentro da nação espanhola e querem colocar isso no seu estatuto. Mas a constituição espanhola diz em seu artigo segundo que Espanha é uma nação indivisível e que, por isso, é a única nação que cabe dentro de Espanha.

Parece pouca coisa, mas não é. Europa é um continente muito sensível aos nacionalismo, como nos recorda o extermínio na Bósnia, na década passada. A crispação é de tal magnitude que chega a provocar risos, pelo menos para alguns. Existe um boicote aos produtos catalães em várias regiões espanholas, sobretudo com o cava (champanha) que é o produto estrela aqui da Catalunha. Com a proximidade das festas de fim de ano, os empresários catalães estão com os pelos em pé com a pouca procura pelo seu cava. Nem para brindar a entrada de um novo ano, castelhanos e catalães conseguem alcançar um acordo.

A única coisa capaz de relaxar um pouco a animosidade entre os dois bandos parece ser o futebol bem jogado. Depois do segundo gol do Ronaldinho, no clássico de sábado, em Madri, onde o Barcelona goleou o Real Madri por três a zero, os sócios do Real Madri aplaudiram, em pé, a sensacional jogada do atleta gaúcho. Feito que só havia ocorrido uma vez antes, quando o mesmíssimo Diego Maradona marcou outro gol de placa para o Barcelona, no estádio Santiago Bernabéu.

Rivadavia Severo*

* Jornalista

Recorde à vista no Turismo

Wilson Müller*

O ingresso de turistas no Brasil vem apresentando números muito positivos. Até setembro, os viajantes deixaram 360 milhões de dólares no país, ou 40,07% a mais em relação ao mesmo mês de 2004, e 5,6% acima de janeiro deste ano, que havia sido o melhor mês da história. Visitar o Brasil parece estar na moda no mundo. Isso, porém, não acontece por acaso. A situação resulta de ativa estratégia turística desenvolvida pelo país no exterior, na qual os Escritórios Brasileiros de Turismo do Brasil (EBT) desempenham papel essencial.

Os EBTs, que atuam em parceria com a Federação dos Conventions Visitors Bureau, tem a missão de consolidar o nosso país como destino turístico entre os melhores que existem. O primeiro EBT foi instalado em Lisboa, em janeiro de 2004, e o mais recente surgiu em setembro de 2005, em Madri. Entre  um e outro, o Brasil obteve muita promoção, com a realização de seminários sob o título “Descubra o Brasil”, treinamento para agentes de viagens, apoio para viagens de profissionais de turismo e da imprensa para conhecerem destinos nacionais, bem como estreitamento de relações com o mercado, incluindo operadoras, companhias aéreas e veículos da imprensa.

No tocante à divulgação do Brasil na mídia, o resultado foi excelente. Segundo Eduardo Sanovicz, presidente da Embratur, até setembro de 2005, mais de 100 matérias sobre o Brasil foram publicadas em jornais e revistas de grande circulação, como o Correio da Manhã, de Portugal, Sunday Times, do Reino Unido, Panorama, da Itália, e o New York Times, dos EUA. A divulgação do Brasil na imprensa estrangeira reforçou as ações dos EBTs, e contribuiu para que mais de 60 novas operadoras internacionais passassem a vender nosso país como destino turístico.

Ao mesmo tempo, o Brasil conquistou mais projeção na França, com o evento “Ano do Brasil na França”, marcado pela realização de várias atividades promovidas pelo Ministério do Turismo,  Embratur e estados, destacando-se um concurso cultural sobre o nosso país, do qual participaram estudantes de 143 instituições de ensino francesas, com os vencedores premiados com viagens ao Brasil. Já o navio-veleiro Cisne Branco, da Marinha, durante quatro meses promoveu o Brasil aos visitantes que recebia a bordo em portos de cidades francesas do Mediterrâneo, enquanto nas ruas de Paris franceses e turistas do mundo todo conheciam os principais atrativos do Brasil. É realista, portanto, a previsão da Embratur de que o Brasil deverá registrar o recorde de cinco milhões de turistas em 2005.

* Presidente da Câmara de Turismo do RS

O Sonho de Francimar

Francimar deixou seus pais em uma comunidade distante dois dias de barco da cidade de Manaus, na época, estava com 13 anos, hoje está com 17. Veio à capital em busca de trabalho seguindo o exemplo de uma tia, com a qual divide a moradia. Conseguiu trabalho logo em seguida como auxiliar de serviços gerais em uma produtora de vídeo especializada em acompanhar turistas em passeios por Manaus e arredores. Há três anos ele foi promovido a cameraman, com isso, seu salário melhorou, subiu para R$ 400,00. Como ele mesmo diz: “Garraram confiança em mim e me pagaram um curso de filmagem…”.
O brilho nos olhos e a felicidade com que executa seu trabalho mostram que o jovem realmente gosta do que faz. Francimar é um exemplo de persistência e luta; trabalha durante o dia e estuda à noite. Ano que vem termina o segundo grau. Em 2005 estava praticamente passado em todas as matérias antes mesmo do fim do ano letivo. Ele não tem tempo para lazer, já que nos finais de semana também precisa estudar. Fala que diverte-se na hora de trabalhar na edição das imagens dos vídeos que são encomendados pelos turistas – é muita vídeo-cassetada! O valor do transporte e a distância permitem que ele visite os familiares somente uma vez ao ano – geralmente no Natal.
Navegar pelos Igarapés ouvindo seus relatos é melhor do que estar acompanhado de um guia turístico. Mesmo não gostando de história, geografia e ciências – suas matérias preferidas são matemática, física e química – Francimar demonstra ser um grande conhecedor da fauna e da flora locais. Além disso, discorre com facilidade sobre as ilhas, seus canais e a história da população ribeirinha.
De uma coisa Francimar está certo, pelo menos por enquanto: jamais deixará Manaus. Vontade de conhecer outros lugares também não tem. A idéia de distanciar-se do Rio Negro o assusta. Perder de vista as águas que o levam até seus pais e antepassados está fora de cogitação. Porém, como qualquer jovem, ele tem sonhos. Assim como sua vida, seus sonhos são modestos. Talvez o mais “audacioso” para ele mesmo, seja o de cursar uma faculdade, só não sabe ainda o que vai escolher. Da forma com que batalha, tenho certeza que conquistará seu espaço em uma Universidade Pública; e isso, mais que um sonho, é um direito seu adquirido por lei. Agora, só lhe falta decidir o curso.
Então, Boa Sorte Francimar!
Christian Lavich Goldschmidt
*escritor e ator

Tambor(es) da aldeia

Vilson Antonio Romero
As últimas décadas consolidaram as idéias tofflianas (de Alvin Toffler, o pensador) da Terceira Onda, da otimização da tecnologia e da informática. Nestes tempos vertiginosos em que instantaneamente se comunicam o Brasil e o Sri Lanka, o Japão ou qualquer outro recanto, longe ou perto, mais nos aproximamos do cipoal da interdependência eletrônica vislumbrada pelo canadense Marshall McLuhan.
O oráculo da comunicação planetária, criador da metáfora “aldeia global”, ao falecer em 1980, em Toronto, não chegou a ver a expansão fabulosa da televisão, como instrumento de entretenimento e informação. Já vemos este veículo agora com transmissão digital em grande parte dos países, integrado com o computador e com o telefone móvel.
Nos próximos dez anos, cada vez mais farão parte do vocabulário cotidiano termos como tecnologia de plasma e cristal líquido – para aparelhos de TV e monitores de computador; multimídia e redes sem fio – wireless, iPods, bem como câmeras fotográficas digitais com sistemas integrados de transmissão de imagens.Sem falarmos na melhoria das redes telefônicas, por satélite, que permitirão qualidade de som na ligação entre Brasília e Johanesburgo, por exemplo.
McLuhan, o autor de “A Galáxia de Gutenberg”, “O Meio é a mensagem” e “Os meios de comunicação como extensões do homem”, entre outras obras, ressaltava que a nova interdependência eletrônica recria o mundo à imagem de uma aldeia global que representa a transformação do mundo linear, da Era de Gutenberg, da civilização da imprensa e da palavra escrita, num mundo holístico e intersistêmico, propiciado pela mídia eletrônica, novo tambor da “global village”.
Cada vez mais se intensifica o uso da World Wide Web, a popularizada rede mundial de computadores, com transmissão de mensagens, imagens, sons, inclusive contatos telefônicos através da tecnologia VoIP atravessando e entrelaçando a “aldeia global”. Na Internet, os sítios de busca continuarão se aperfeiçoando, permitindo que, em segundos, tenhamos na tela todas as citações e registros na rede mundial, em todos os idiomas, sobre qualquer verbete, personagem ou evento.
Do comunicado do tambor tribal, no início dos tempos, aos tempos contemporâneos, mesmo assim, prevalece a mídia. E, dentre todos os meios disponíveis – tambores nem tão novos: jornal, revista, rádio, televisão e a Internet, ainda um se sobressai.
Em qualquer rincão recôndito do Planeta, em qualquer canto, nas mais diversas formas – portátil ou integrado ao celular – na casa, no carro, no campo, no sol ou na chuva, o som do rádio é ouvido, em amplitude ou freqüência modulada (AM ou FM), levando diversão, música e notícia. Ainda dentro da abordagem de tambor tribal que Marshall McLuhan lhe atribuía no início da década de 60.
É flagrante que a aldeia está cada vez menor e mais próxima, mais estreitos os laços da comunicação social. Quiçá estes tambores, tradicionais ou modernos, contribuam para tornar a aldeia mais solidária e menos devastadora de seu habitat e destruidora de seus habitantes, minimizando as imagens, o som e as palavras de horror, guerras, desastres e preocupação que ainda invadem nosso cotidiano.
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(*) jornalista, servidor público, diretor da Associação Riograndense de Imprensa, delegado sindical do Sindifisp/RS, conselheiro da Agafisp e consultor da Fundação Anfip. E-mail: Vilson.romero@terra.com.br.

Compromisso ético

No dia 11 de outubro, a Fundação Gaia promoveu em Porto Alegre um encontro entre jornalistas, representantes de ONGs ambientalistas e sociedade civil. No evento, que teve a participação do Jornal JÁ, Correio do Povo, Jornal do Comércio e Ecoagência Solidária de Notícias, os jornalistas tiveram a oportunidade de discutir com o público a responsabilidade da mídia na formação de uma consciência ambiental e sua efetiva colaboração na difusão de questões sócio-ambientais. A presença de profissionais de jornalismo abriu um espaço de reflexão sobre o que efetivamente está sendo informado para a sociedade e o caminho que se está construindo na perspectiva do meio ambiente.
A humanidade chegou a um ponto decisivo, onde todos necessitamos fazer uma conversão de valores, realizando uma mudança substancial em nosso modo de vida. Se  continuarmos a ignorar despreocupadamente as tragédias que vêm acontecendo, toda a raça humana poderá ser aniquilada. Por isso, o papel fundamental da imprensa deve ser o de orientar as pessoas a abandonarem ideologias que criam confrontos e divisões entre os povos. “O Papel da Imprensa para as Questões Ambientais”, tema do encontro, vai muito além de dar atenção às tragédias somente quando as mesmas ocorrem. Urge alertar as pessoas para o fato de que ingressamos num período de transição, onde, ou abraçamos o conceito de uma Humanidade unificada, ou continuamos cada vez mais antagonistas, um em relação ao outro, engajando-nos em conflitos mútuos.
Atualmente enfrentamos uma grande crise devido à decadência moral do ser humano, à qual efetivamente levou ao aumento das anomalias climáticas e dos cataclismos, provocados pela destruição do meio ambiente. Durante várias gerações, os seres humanos têm buscado dinheiro e posses materiais passando por cima de tudo e de todos despreocupadamente – na maioria das vezes, justamente por perseguirem-nos dessa forma, é que lhes escapam. Devemos inspirar as pessoas a viver de acordo com os princípios ecológicos, pois essa é a única forma de encontrarem a verdadeira felicidade.
Conduzido pela escritora Lilian Dreyer, o evento oportunizou aos jornalistas presentes discorrerem sobre o que a imprensa gaúcha vêm fazendo para informar, conscientizar e sensibilizar a população sobre a importância da preservação ambiental. Segundo Jurema Josefa, do Correio do Povo, o Jornalismo Ambiental, deve ser pautado no compromisso ético de disponibilizar informação verídica. Para isso, a imprensa deve fortalecer as ações das ONGs e se valer da credibilidade das mesmas. O resultado é uma troca de conhecimento da qual o maior beneficiado é o leitor. Nesse sentido, Lorena Paim, do Jornal do Comércio, lembrou que o papel fundamental da imprensa é o de informar priorizando também os assuntos ecológicos. Isso se faz não só registrando as catástrofes ambientais, mas sim divulgando as ações desenvolvidas para evitá-las. O “ecojornalismo”, segundo ela, se faz dando vóz e direito à todos os que lutam pela causa ambiental.
Guilherme Kolling relatou a experiência diferenciada do Jornal JÁ, do qual é redator-chefe. Segundo ele, o jornal tem por tradição o foco nas questões que envolvem o meio ambiente. Esse trabalho é visto tanto na edição mensal, distribuída aos assinantes e vendida em bancas, quanto nas duas edições quinzenais, disponíveis gratuitamente em pontos estratégicos de Porto Alegre. Promover debates e fóruns também faz parte do trabalho do JÁ, como aconteceu em março deste ano, onde empresários e políticos puderam discutir com a população acerca do “Reflorestamento e Desenvolvimento Sustentável”, que tratou das perspectivas dos negócios com madeira no Sul do Brasil.
Estamos construindo uma civilização baseada no individualismo, e o resultado disso são as últimas catástrofes naturais, através das quais estamos experimentando severos desafios. Porém, com esses fenômenos temos também a oportunidade, com reflexão e diálogo, de demonstrarmos de que serve a sabedoria humana – ou será que vamos esperar que nossos caminhos fiquem repletos de desatres e sofrimento?
Numa época em que nos defrontamos com o esfacelamento da sociedade, com a deterioração do meio ambiente, e com outros problemas prementes; os representantes das ONGs lembraram que essas entidades foram criadas e existem não com o objetivo de travar o progresso e o avanço da humanidade, mas sim para permitir que todos os seres vivos existam e avancem no caminho da prosperidade.
Christian Lavich Goldschmidt
Escritor e ator

O referendo e a cassação de Zé Dirceu

Esta semana (24 a 28/10)  ficará na História do Brasil como um marco da inabilidade do time de lideranças que comanda o processo político no Congresso Nacional. Dois erros vão marcar estes dias: o primeiro está por vir, a cassação iminente do deputado José Dirceu (PT-SP) na quarta-feira; o outro se deu no domingo, com o resultado do plebiscito das armas. Ambos demonstram como o parlamento brasileiro perde o contato com a realidade, daí resultando todo seu processo de desgaste que levará à extinção do modelo político-eleitoral vigente no País.
A questão do desarmamento foi derrotada nas urnas porque o Congresso ingenuamente deixou-se levar pelos eslogans do “politicamente correto”, alardeados pelas minorias globalizadas. A proposta sucumbiu, não obstante o horror que a violência provoca em todas as camadas da população, porque a percepção da sociedade insurgiu-se contra a patrolagem desses grupos barulhentos.
O eleitor politizado percebeu o referendo como uma manobra diversionista para abafar a crise e se insurgiu votando contra o Congresso; nos meios populares a proposta sucumbiu porque as gentes das periferias sentiram-se prejudicadas. Neste caso, sabe todo o jornalista que teve experiência de reportagem geral e que botou o pé nos barros de vielas das favelas, que ali o cidadão depende unicamente de si mesmo para sua defesa pessoal.
O caso da inevitabilidade da cassação do deputado José Dirceu é diferente, mas pega o Legislativo na outra perna. A tese é que o sistema, no regime democrático, não se pode usar instrumentos de exceção para fins que não sejam irrefutavelmente legítimos. Neste caso, embora os deputados estejam pressionados pela opinião pública insuflada pela mídia, há um nítido sinal do uso abusivo do poder de suprimir direitos.
A imunidade parlamentar é um direito do eleitor. Ela só pode ser rompida se o representante exorbitar. Os cassados nas últimas legislaturas foram depois processados criminalmente ou ficou provado que agiram para enxovalhar o decoro naquele mandato, como no caso dos anões do Orçamento. Tudo em cima de provas provadas, para não deixar dúvidas dos motivos que levaram ao rompimento da imunidade. Assim mesmo, se o acusado renuncia, extingue-se o processo, pois a contravenção política limita-se ao periodo do mandato. Esta é a questão formal, regimental.
O mecansmo para retirar do cenário mandatários politicos sem legitimidade, seja qual for a razão, é a urna. Ali devem cair os incompetentes de qualquer natureza. Fora isto, é a exceção. Não se pode comparar a degola do ex-ministro com os processos contra demais petistas indiciados, mesmo daqueles que limpidamente se envolveram em irregulariades na operação do sistema eleitoral vigente, até então aceitas pelos usos e costumes.
Sabe-se que dinheiros foram aqueles. Muitos nomes que apareceram nas listas de Marcos Valério estavam repassando recursos que o PT e outros partidos aliados deviam para fornecedores. Julgavam estar num espaço de uma lei para “inglês ver”, pagando atrasados de honorários a seu pessoal de televisão contratado para as campanhas nos municípios em que seus candidatos perderam as eleições em 2004. Enredaram-se na credulidade de que costumes universalmente aceitos não podem ser punidos pela lei descartada pelo desuso. Na letra da Lei, pode-se dizer que receber dinheiro de caixa dois não seria conduta decorosa.
O processo contra Dirceu é diferente, pois, claramente, desenvolve-se sob pressão de seus desafetos de todas as áreas, dispostos a ajustar contas antigas e recentes. Dirceu , desde que pisou na primeira vez uma bancada parlamentar, ainda na Assembléia Legislativa de São Paulo, tem sido um algoz implacável de seus adversários. Entretanto, o exemplo histórico de um parlamentar com esse perfil, o deputado carioca Carlos Lacerda, nunca teve seu mandato ameaçado pelos adversários do binômio PSD/PTB, embora tivese levado tiros e sofrido a censura radiofônica da Lei Rolha. Só perdeu seus direitos políticos numa penada do executivo durante o regime militar.
Aqui está o problema básico: o funcionamento pleno da democracia não admite que se tire de cena sem motivos cabais um político com um perfil tão alto. Se for esmagado, Dirceu encontrará novos espaços para se manter ativo na vida cívica. O expurgo efetivo de tal figura somente seria viável se pudessem prendê-lo, exilá-lo ou bani-lo. Uma simples cassação politica, sem que isto prossiga num processo criminal ou civel, que respaldasse a supressão da imunidade ( e do mandato), abala fortemente as garantias do eleitor e o próprio sistema democrático.
Isto é o que se entende estar ocorrendo, reforçando-se a cada declaração dos parlamentares da Comissão de Ética, que dizem ser um processo que dispensa as provas provadas para sua condenação. Dirceu coloca-se como vítima de uma perseguição política, como mais uma condenação de sua história pessoal. E o Congresso abre um precedente perigoso, que, é provável, seja revertido na Justiça. Mais pacifica seria sua renúncia, submetendo-se depois às urnas, como o fizeram outros cassáveis. Ao persistir, Dirceu inova, prometendo usar toda sua força por fora do sistema. Será mais um desafio para o timoneiro do PT.
José Antonio Severo, especial para o JÁ

Carta de Barcelona

Tivemos uma semana cheia na arena política, tanto na Europa, com o desenrolar das eleições na Alemanha e Polônia e pelo início do processo de adesão de Turquia à União Européia, como na Espanha, com a aprovação do novo Estatuto da Catalunha pela câmara catalã e pela invasão de subsaharianos ao território espanhol nas cidades autônomas de Ceuta e Melina.

Chama a atenção que os assuntos europeus mereceram escassa importância pela imprensa espanhola, enquanto que o Estatuto catalão e a “invasão” de africanos ganharam as manchetes de jornais e os mais cobiçados horários televisivos.

A principal preocupação do governo foi a de acalmar o eleitorado, rebaixando as pretensões de maior autonomia dos catalães, tarefa levada a cabo pelo mesmíssimo presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, enquanto que o caso da imigração ilegal, ficou a cargo da vice-presidenta, Maria Tereza de la Vega.

Não é por acaso que o governo socialista de Zapatero deu maior importância a suas diferenças nacionais internas, deixando o problema da imigração em segundo plano. Ele sabe que o caso dos africanos não vai render muitos votos. Pelo menos por enquanto.

No primeiro dia da crise, quando cerca de 300 africanos saltaram as cercas que separam a cidade de Melina de Marrocos, o governo anunciou que o exército estaria no dia seguinte na fronteira para coibir a imigração. No segundo dia mais 300 africanos saltaram a cerca e o governo anunciou que aumentaria a cerca  para 12 metros de altura os atuais seis da cerca dupla. No terceiro dia, mais 200 saltaram a cerca e o governo anunciou que colocaria uma terceira barreira, com sensores eletrônicos e todo tipo de parafernália para bloquear a entrada dos africanos.

Estranhamente a oposição conservadora não atacou o governo. Talvez tenha sido a primeira medida do governo que praticamente não sofreu nenhuma contestação da bancada oposicionista. Os especialistas no tema, tão pouco alçaram suas vozes em defesa dos direitos humanos, salvo algumas honradas exceções. Uma espécie de cegueira nacional parece que se abateu sobre os espanhóis que lhes impede de ver a situação com os olhos do outro.

Os africanos do centro e do sul da África que saltam as barreiras são os negros que fogem da fome e da miséria. Caminham um ou dois anos, atravessando o deserto do Sahara, até chegar ao Marrocos para daí passarem à Espanha, via Melina. Melina é uma cidade espanhola encravada em território africano, o que explica o pouco caso que as autoridades marroquinas fazem para deter estes africanos do sul que passam por seu território.

A solução para o problema, dizem os espanhóis, seria a colaboração do governo de Rabat. A soberania compartida de Ceuta e Melina poderia ajudar a resolver a situação, respondem os marroquinos, já que a cidade está na África.
A conta que pouca gente fez ante as câmaras de televisão e nos artigos da imprensa é que enquanto África tem uma população de cerca de 700 milhões de pessoas, 11% da população mundial, com uma alta taxa de natalidade, o seu Produto Interno Bruto (PIB) corresponde apenas a 1% do mundial. O PIB africano é parecido ao da Bélgica, cerca de 250 bilhões de dólares (isso excluindo a parte mais pobre da África que é justamente a subsahariana). Em 1970 a África respondia por 3,5% do comércio mundial, hoje somente por 1,4%. A União Européia é a maior potência comercial do mundo, com um PIB que supera os US$ 10 trilhões, divididos entre uma população de 500 milhões de pessoas e uma taxa de natalidade estancada.

Ou seja, o “problema” da imigração para os europeus recém está começando. Se não mudarem as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), que beneficiam os interesses da Europa e Estados Unidos, não vai ter barreiras, por mais altas ou tecnológicas que sejam que detenham a fome e a miséria que a Europa ajuda a criar com as suas políticas comerciais.

Rivadavia Severo, Jornalista

Afirmação da cultura gaúcha

Margarete Moraes – Ex-secretária municipal da Cultura e Vereadora PT
A luta farroupilha é um marco de afirmação da identidade do povo gaúcho. Nestes tempos em que a globalização massifica as culturas, reduzindo tudo a cópias do modelo capitalista, que incentiva modismos consumistas, as comemorações da Revolução Farroupilha estão na contra-mão desta prática, lembrando exemplarmente nossa história de lutas e dignidade. A tradição, neste caso, não é sinônimo de conservadorismo saudosista, mas de orgulho de práticas culturais singulares, ligadas à lida do campo, à produção da terra.
Para o historiador Francisco Riopardense de Macedo, a revolução Farroupilha deixou lições, como: a altivez de comportamento diante de calúnias; liberdade como maior patrimônio a ser defendido; Estado livre e independente; dedicação e sacrifício; confiança na causa; interesse pelo ensino e pela educação; libertação dos escravos; federação para assegurar a autogestão regional, conciliação. Inspirados nos ideais iluministas, que influenciaram os movimentos de Independência dos Estados Unidos, em 1776, e a Revolução Francesa, de 1789, que preconizavam os valores humanistas de Liberdade e Igualdade , os Farroupilhas buscaram ampliar este ideal adotando o lema “Liberdade – Igualdade – Humanidade”. Ao contrário das lutas de libertação, que pretendiam a independência e o separatismo, a luta do Rio Grande se fez contra o autoritarismo do poder central e pela autonomia da província, através do direito de eleger o presidente local e legislar sobre os impostos pagos pela região.
O acampamento Farroupilha, no mês de setembro, em Porto Alegre, celebra a diversidade e a fraternidade. As várias formas de construção, de vestimenta, de preparo de alimentos se encontram e confraternizam. Não como um uma exposição extemporânea, mas como prática de vida. Por alguns dias o campo está na cidade. Mais que uma vitrine, é um modo de vida, é a celebração de uma história que se encontra e se reafirma.

Conselho de Cliente: É bom ouvir!

É bastante provável que você já se tenha perguntado um dia sobre de que
forma seu cliente o encara. Será que seu atendimento é tão eficaz quanto
parece? Sua empresa supre todas as necessidades dos clientes? Estas e outras questões rondam a imaginação de qualquer empresário, vez por outra. Istoquando não permeiam seus sonhos e até seus pesadelos.
Como não existe bola de cristal no mundo dos negócios, o jeito é criar
soluções práticas para este desafio. Naturalmente, a preocupação constante em melhorar o atendimento, em busca da sempre desejada “satisfação do cliente”, requer ações criativas.
Trabalhar como um parceiro dos clientes passou a fazer parte da cultura de várias empresas. Mas o que poderia ser este “algo mais”? A VC — Votorantim Cimentos tem procurado alternativas, passou a observar o mercado do ponto de vista do cliente. Literalmente passou para o outro lado do balcão. Fez mais do que isso. Convidou revendedores para se colocarem na cadeira do diretor-presidente.
Assim, de uma idéia aparentemente simples, nasceu o Conselho de Clientes, um conceito que transformou o relacionamento entre o líder do setor cimenteiro e o dono da loja de materiais de construção do seu bairro, do nosso bairro.
A imagem daquela megacorporação, intocável, não era real. Isso foi comentado por um lojista, numa de nossas reuniões! Naquele momento, a Votorantim revelou-se a parceira de todas as horas, aqui, no chão da loja, no balcão do comprador.
O Conselho de Clientes foi criado em 2003 e vem sendo implementado passo a passo, em cada uma das regiões de atuação da nossa empresa. Devido ao seu sucesso, o conselho conquistou um papel estratégico dentro da VC.
Seu funcionamento é simples: fazemos reuniões com vinte clientes convidados de cada região. Podem ser grandes e pequenos lojistas. Todos têm o mesmo espaço democrático, a mesma importância. Por que? Porque é a sua experiência diária, são seus problemas cotidianos e suas sugestões que nos fazem criar soluções para os problemas de todos os nossos clientes. Esta é a real dimensão do conselho.
Um exemplo prático: criamos uma alternativa de crédito a pequenos lojistas, que se encontra em fase de piloto, a partir de sugestões tiradas do conselho. Foi uma reivindicação das revendas de menor porte, que assim ganham maior competitividade no mercado e podem atender melhor o cliente final.
Temos exemplos iguais a este nas mais diversas áreas: logística,
atendimento, marketing. A implantação de janelas de carregamento nas
unidades reduz o tempo de espera e garante pontualidade e estoque. O sistema informatizado oferece rapidez e clareza na troca de informações com clientes, que remotamente acompanham seus pedidos, programam carregamentos, verificam extratos, créditos e cobranças. O programa de fidelidade “Diga Sim à VC”, premia os pontos de vendas com melhores resultados. Tudo isso surgiu porque o nosso cliente tem total liberdade para expor suas críticas, sugestões e elogios aos produtos, serviços e profissionais da VC.
Maurício Luchetti*
* Diretor Executivo da Votorantim Cimentos