Patrícia Marini
Quatro gerações da família de Antônio Caringi compareceram ao Sítio do Laçador, inaugurado oficialmente na manhã de sábado, 31 de março, para anunciar o breve relançamento das obras do escultor no mercado de arte. Antônia Caringi, filha dele, entregou a Paixão Cortes, que posou para a moldagem de O Laçador em 1958, um catálogo com as 35 peças que compõem o acervo familiar recebido em herança.
Os seis filhos decidiram resgatar seu espólio e multiplicá-lo. “Estudamos as leis de direito autoral e de incentivos fiscais, recolhemos os moldes em gesso que estavam espalhados por diversos lugares e agora estamos negociando com duas fundições de São Paulo para reproduzir as peças”, conta o neto Amadeo Caringi, que já tem o projeto de um livro sobre o escultor aprovado na Lei Rouanet e agora busca um patrocinador.
Conhecido dos porto-alegrenses por diversos trabalhos na cidade, como a estátua de Bento Gonçalves e o Monumento ao Expedicionário, Caringi também tem monumentos expostos no Rio de Janeiro, onde morou por alguns anos, e noutras cidades, como Laguna, no litoral catarinense, onde se vê sua Anita Garibaldi. São obras que fez após ter vencido concursos públicos para a construção dos monumentos, antes e depois do período de sete anos que passou estudando Belas Artes em Munique, de 1933 a 1940, por estímulo do governo Vargas, no Brasil, e acolhida do governo Hitler, na Alemanha, usufruindo uma bolsa dada ao jovem artista oriundo da elite de Pelotas.
O catálogo, produzido e bancado pela família, exibe peças menores, como um Laçador de 31 cm de altura, uma cabeça de Giuseppe Garibaldi e outros personagens da História, além de nus femininos. Uma das intenções da família, além de colocar as obras à venda, é doar reproduções para museus. “O MARGS só tem uma peça dele, uma Banhista, que não é a linha mais representativa do seu trabalho”, constata o neto Amadeo.
Os Caringi estiveram entre os últimos a chegar ao evento de sábado, quando as autoridades já tinham se retirado e Paixão Cortes estava quase indo embora. Apesar do forte calor e dos quase 80 anos de idade, o músico atendeu gentil e pacientemente a todos que se aproximaram, pousou para fotos e a fila foi avançando lentamente. Paixão Cortes estava na sua sala de visitas, recebendo amigos e fãs desconhecidos com a mesma atenção. Falou em “deixar às novas gerações algo grandioso”. Ele se referia à estátua e às referências da tradição cultural.
Levando a cultura
Para um de seus admiradores, Marcos Alexandre Giorgetta, “a pessoa do Paixão representa nossa cultura mais do que O Laçador”. Ele posou para foto com o ídolo exibindo a imagem da estátua que mandou tatuar no braço há dois anos. “Foi uma felicidade enorme encontrá-lo aqui”. Porto-alegrense, Giorgetta tem orgulho de ser gaúcho. Segurando uma latinha de cerveja, comenta que “o gaúcho leva seu chimarrão e sua cultura aonde vai”. Embora tenha vivido sempre na capital, tem saudades das férias de infância em Quaraí, região da campanha – e dos laçadores.
Giorgetta não só sente sua condição de gaúcho muito bem representada pelo símbolo, como acha que ele denota “o que o povo gaúcho fez e fará pelo Rio Grande”. Estudante de Administração, classifica de “complicado” o momento por que passam fortes marcas empresariais locais, como Varig, Ipiranga e Correio do Povo, pois, na sua opinião, “não é bom privatizar” (na verdade, essas empresas não foram privatizadas, e sim passaram a ser controladas por grupos “não-gaúchos”). O estudante já definiu o mote do trabalho de conclusão de curso: a administração da cultura pelo poder público, “tendo como foco o Paixão Cortes”.
O público do evento não chegou a formar uma multidão. Ao meio-dia, pouca gente para começar o baile a céu aberto programado para a tarde. Com o sol a pino, o casal Clarice e Giovani Dutra rodopiou (foto) no pátio, ao som do grupo Alma Campeira. “Temos que dançar e vestir o que é nosso”, diz ele, pilchado e sorridente. “Nas cavalgadas, já apeio do cavalo dançando, alguém que segure as rédeas pra gente”, completa a esposa.
gostaria de ter obras desse grande escultor brasileiro.