Este texto resume diversas conversas com jornalistas da RBS que, por razões óbvias, preferem não ser identificados:
A crise na RBS começou a dar sinais mais evidentes há um mês, com movimentos internos que mostravam aos editores e repórteres que se formava uma tormenta no horizonte.
Decisões que eram vendidas externamente como cases de sucesso, internamente viravam pesadelos empresariais. O melhor exemplo é o da TV Rural. Começou mal, com uma turbulenta negociação com Nizan Guanaes, e acabou ainda pior, sendo vendida a preço de banana para a Friboi do Joesley Batista, hoje mais conhecido como o marido da Ticiana Villas Boas.
A atual leva de demissões, 130 agora, terá uma segunda onda, de mais 120 em novembro. O número mágico de 250 degolas é o patamar estabelecido pelos mestres da tesoura da RBS, que precisam fazer caixa. Quedas de tiragem nos jornais do grupo, incluindo ZH e Diário Gaúcho, recomendam as demissões.
A degola só não chegou a 250, agora, por conta das eleições. Era preciso mão-de-obra agora para enfrentar os desafios de uma campanha pesada. Fechadas as urnas, mais 120 serão sacrificados. Ordens da matemática financeira.
A ordem para economizar centrou fogo no time de executivos, funcionários que, além dos altos salários, acumulavam bônus de rendimento ou gratificações que chegavam a 5 ou 10 salários extras no ano. Como a ideia é fazer caixa, mandaram fogo nos caixa-alta.
A demissão dos dois comandantes de dois jornais importantes, Alexandre Bach (Diário Gaúcho) e Ricardo Stefanelli (Diário Catarinense) confirmam esta orientação.
O corte dos dois cargos maiores da mais importante sucursal da RBS – o diretor corporativo Alexandre Kruel Jobim, filho de Nelson Jobim, e Klécio Santos, editor-chefe da empresa – reforça a informação.
Além da economia com os dois executivos de Brasília, a RBS vai economizar com a remoção de Porto Alegre do diretor de Jornalismo, Marcelo Rech, que ocupou a vaga de Augusto Nunes na direção da redação quando o paulista deixou o jornal.
Rech deve assumir, em Brasilia, a dupla função de Jobim e Klécio.
O Diário Gaúcho, que já trabalhava no osso com apenas 20 jornalistas na redação, agora ficará reduzido a 12.
O nome em ascensão na empresa é o de Fábio Bruggioni, que comanda a louvada e.Bricks, decantada por Duda em sua nota de Pandora como a saída de futuro para a RBS.
Na nova ordem, ganha força a atual diretora de redação, Marta Gleich, que agora paira sobre o Diário Gaúchoe oDiário Catarinense. Os editores de ZH suspeitam que o desenho da degola foi rascunhado por Marta e seu marido, Cézar Freitas, homem forte da RBS TV e que está voltando para a rádio Gaúcha, uma das poucas unidades que dá lucro na organização.
Os cortes só não foram maiores na base, na redação, porque os salários já são muito baixos, por volta de R$ 2 mil em Porto Alegre.
O clima na RBS é de estarrecimento, com a fórmula desastrada para anunciar os cortes. Uma vídeo-conferência e uma nota oficial anunciando na segunda-feira o corte iminente de 130 postos para a quarta-feira. Criou-se um clima de terror durante 48 horas sobre uma comunidade de 6 mil pessoas, desinformadas sobre quem seria ou não demitido.
Na vídeo-conferência, Duda chegou a responder perguntas anônimas. Uma delas indagava porque a comida nos restaurantes da casa era “ruim e fria”, arrancando gargalhadas em meio à tensão.
Num certo momento, traindo a irritação, Duda reclamou dos boatos que infestavam a RBS pela ‘rádio corredor’, que sempre entra no ar em momentos de crise: “Isso não monetiza nada”, reclamou.
No embalo da insensibilidade, Duda misturou o drama das demissões com os mirabolantes projetos do futuro, incluindo as estimativas otimistas sobre os negócios de vinho e cerveja, pouco comuns a empresas de comunicação. “Espero que vocês se tornem sócios da Wine”, conclamou Duda, sem qualquer senso de oportunidade, tentando vender ações da empresa a pessoas atormentadas pela demissão iminente.
Para culminar, a nota oficial do presidente-executivo do grupo e vídeo-conferencista Eduardo Sirotsky Melzer era assinada informalmente por ‘Duda’, com um sentido íntimo e fofo que não cabe num documento assustador.
O vexame de comunicação da RBS, ao anunciar de forma tão desastrada seus ajustes financeiros e seu drama trabalhista, quebra a imagem nacional do grupo como uma empresa modelar, moderna, pujante, inovadora. Num único dia, a alta direção da RBS escancarou sua fragilidade, sua desorientação estratégica e sua desumana política trabalhista.
As demissões de hoje e de novembro próximo lançam uma sombra sobre o futuro do maior grupo de comunicação do sul do país.
O presidente da RBS, Eduardo Melzer, está certo: mudar não é opcional, é questão de sobrevivência para os grupos empresariais que têm origem nos meios tradicionais de comunicação – rádio, tevê e jornal.
Ante as “transformações radicais” provocadas pela internet, os meios precisam se reinventar, sem dúvida.
As dúvidas começam quando se tenta ver os rumos da mudança, que envolve a maior empresa de comunicação do Sul do país
Em sua carta aos funcionários, Melzer menciona “os ajustes que precisam ser feitos para continuarmos crescendo”. Aí estaria incluida a demissão de 130 funcionários, “principalmente da operação dos jornais”. Se a maioria forem jornalistas, como se diz, sinaliza uma direção.
Melzer diz, com razão, que “os modelos tradicionais estão altamente desafiados”. Não diz, mas se presume: os jornais impressos, mais que tudo.
Por outro lado, há um “mundo novo” conformado pelo “avanço tecnológico e a forma de consumir mídia” que “nunca geraram tantas oportunidades e tanta abertura para a inovação”.
Como o grupo vai enfrentar a crise anunciada dos jornais? A medida concreta é o corte de custos. O jornal Zero Hora passou por uma reforma radical recentemente, mudou até o nome para ZH. Graficamente, ficou mais limpo, mais simétrico, mas com menos espaço para as notícias (a coluna política foi reduzida em quase um terço).
A prometida qualificação do conteúdo não ocorreu, a não ser pontualmente. O grau de independência aos interesses comerciais e políticos também não aumentou.
Embora proclame diariamente nos editoriais sua disposição para a imparcialidade, o noticiário é usualmente engajado.
A reforma da Zero Hora começa agora a ser replicada em outros jornais do grupo “Nesta quarta-feira, 6, Diário Catarinense, A Notícia e Jornal de Santa Catarina entram também nessa nova fase”. O grupo tem dez títulos impressos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O que não é dito: a crise do jornalismo impresso não decorre só da internet. É mais ampla: é também a crise de um modelo de negócio, em que o jornalismo é sustentado pela publicidade. Desfazer-se do papel, não vai alterar o desgaste desse tipo de jornalismo num universo em que a palavra vai ser: credibilidade. E na televisão, onde a RBS é lider inconteste há décadas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina? “Teremos nesse ano as 18 emissoras com equipamentos totalmente renovados e tecnologia de última geração, cobrindo com sinal digital o Rio Grande do Sul e Santa Catarina antes do prazo determinado pelo governo federal”. E no rádio, origem do grupo? “Em rádio, nosso alcance cresceu com o lançamento da Gaúcha Serra, da Gaúcha Santa Maria e da Gaúcha Zona Sul. O rádio também tem feito um excelente trabalho na internet”. Melzer faz profissão de fé “no jornalismo de qualidade, na comunicação e no desejo cada vez maior por conteúdo de entretenimento diferenciado”. A decisão, diz ele, é “investir em atividades e negócios que geram resultados positivos e deixando de fazer o que não agrega para nossa empresa e para o mercado”.
Melzer faz questão de dizer que a RBS “não passa por uma crise financeira”. Os investimentos visam um “redesenho da nossa operação”, buscando “velocidade e despreendimento”, qualidades que nem sempre favorecem o jornalismo de qualidade. Provavelmente favorecem o “conteúdo de entretenimento diferenciado”.
As decisões não são impensadas, obviamente. Há um ano o grupo analisa e propõe caminhos para seus “negócios e atividades”, segundo diz Melzer. “Eu me envolvi pessoalmente nesse processo. A partir do que vimos, fizemos investimentos importantes que ajudam a deixar clara a nossa crença no negócio”.
A opção é explícita: “Dobramos as equipes dedicadas ao digital, tanto nas redações quanto no Tecnopuc, e triplicamos os investimentos nesta área. Até o fim do ano, só no Tecnopuc, em Porto Alegre, teremos quase 100 profissionais trabalhando exclusivamente na criação de soluções digitais para nossos produtos, em especial para os jornais”.
A e.Bricks, lançada em São Paulo há três anos, marcou a aposta da RBS no negócio digital: “Lançamos o Early Stage, um fundo para impulsionar ideias em tecnologia – um negócio contemporâneo que atrai empreendedores em busca de parceria para crescer. O fundo deve chegar ao final do ano com 16 empresas no portfólio”.
Através da e.Bricks, opera a Wine, “que já é a maior empresa de vinhos online do mundo, tanto que estamos agora preparando sua entrada no mercado internacional”.
Muitos funcionários da RBS são sócios da Wine, “agora poderão também ser da Have a Nice Beer, o maior clube online de cervejas da América Latina, que está vindo para o Grupo”.
Segundo Melzer, “dois exemplos de inovação e empreendedorismo que marcam a nossa gestão” são: 1) O HypermindR, um centro de pesquisa no Rio de Janeiro, que vai desenvolver softwares para medir hábitos do consumidor. E o segundo diz respeito ao nosso modelo de gestão de pessoas, baseado na meritocracia. As ferramentas que desenvolvemos para dar mais transparência aos planos de carreira tornaram-se benchmark para muitas empresas e agora serão disponibilizadas ao mercado através da Appus, um negócio que nasceu aqui, dentro do RH”.
,Segundo Melzer a situação exige “coragem, energia e desapego para deixar de fazer coisas que não agregam e investir no que pode nos fazer crescer”.
Por Ricardo Kotscho Reproduzido do blog do autor, 11/5/2014; título original “E lá se foi o nosso Myltainho, guerreiro do texto”.
Miúdo e franzino, meu amigo Myltainho era um valente e inconformado guerreiro na luta contra as injustiças sociais, a hipocrisia, as maracutaias, o autoritarismo, a intolerância, a violência, o mau-caratismo, todas estas desgraças das quais ainda não conseguimos nos livrar. Para combater tudo o que achava errado, usava como arma apenas as palavras, dono que era do melhor texto da imprensa brasileira, um incansável artesão forjado nas redações para transformar pedra bruta em finos diamantes.
Repórter, redator, editor, escritor, criador de publicações, Mylton Severiano da Silva se foi na noite de sexta-feira (9/5), aos 73 anos, em Florianópolis. À tarde, tinha ido ao médico, sentindo fortes dores no estômago. Receitaram-lhe um remédio e o mandaram de volta para casa. Pouco tempo depois, morreu de infarto. Acabou sendo vítima de uma das muitas mazelas que não se cansava de denunciar: a negligência e a incúria nos serviços de saúde.
Devo a este brasileiro de fé e compromisso com seu povo meu primeiro emprego na grande imprensa, nos anos 60 do século passado. Se sou jornalista até hoje, ele é o culpado. Myltainho já era uma das estrelas da lendária revista Realidade. Naquela manhã de segunda-feira, como só ele estava na redação, entreguei-lhe o bilhete do meu primo Klaus, recomendando-me para um emprego na melhor publicação brasileira de todos os tempos. Era muita pretensão minha…
Por cima dos óculos de aro fino, olhou-me bem e abriu um sorriso, incrédulo, dizendo mais ou menos assim:.
“Meu filho, você é muito novo, está começando agora. Aqui só tem craque, é a seleção brasileira do jornalismo… Tem que ralar primeiro em jornal, depois você volta…”
Vendo minha cara de decepção, logo encontrou um jeito de ajudar e me encaminhou para o Estadão, ali perto, onde um amigo dele, Aloísio Toledo Cesar, era o chefe da reportagem da manhã. Comecei no mesmo dia, trabalhei mais de dez anos no jornal e estou ralando até hoje, mas a Realidade acabou bem antes que eu pudesse criar coragem de pedir novamente uma vaga naquele time. Em paz
Myltainho era assim: sempre solidário, disposto a ajudar os outros, mesmo que fosse um jovem desconhecido. Mais tarde, nos cruzamos em outras redações da vida, ficamos amigos, cúmplices e confidentes, rimos muito juntos nas vitórias e choramos as derrotas da nossa geração, na gangorra do último meio século. Humilde, sem nunca perder a altivez, só faltava ele pedir desculpas quando mexia num texto, invariavelmente para torná-lo melhor.
Foi tão rica sua trajetória como jornalista, iniciada aos nove anos, no Terra Livre, publicação de Marília, no interior paulista, onde nasceu, com reportagem sobre as condições de trabalho numa fazenda da região, que não cabe contar esta história no espaço de um blog. Estou muito triste para continuar escrevendo sobre uma das figuras mais admiráveis que tive a ventura de conhecer neste ofício de contar histórias dos outros.
Para quem quiser saber mais sobre a vida e a obra de Mylton Severiano da Silva, recomendo a belíssima homenagem prestada a ele no comovente texto de Luana Shabib publicado pelo site da revista Brasileiros, onde também trabalho: http:/www.revistabrasileiros.com.br
O enterro está marcado para as 13 horas deste domingo (11/5) no Cemitério Getshemani, no Morumbi, em São Paulo.
Vai com Deus e descansa em paz, meu velho e bom amigo.
***
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Mazeko concentra a ação do filme nos anos 1950, tendo, como cenários, principalmente: a redação da revista Drum – fundada pelo inglês Jim Bailey, e que foi o primeiro veículo a tratar sobre o estilo de vida dos negros africanos; e o bairro Sophiatown, em Joanesburgo, um reduto cosmopolita, boêmio, violentíssimo, e insubmisso as leis do apartheid impostas a partir de 1948.
Nesses ambientes, reina uma atmosfera de puro jazz, filme noir e aventura, onde tudo aparenta ser um convite a escrever narrativas. É neles que, movidos a muito álcool, circulam Nxumalo (interpretado pelo ator americano Taye Diggs) e sua turma – jornalistas e escritores negros de Joanesburgo, entre os quais Can Themba (1924-1968). Todos brindam ao lema romântico: viver rápido, morrer jovem, ser um belo cadáver”.
Ditado que Nxumalo, não por sua vontade, cumpriu a risca. Natural da província de Natal, África do Sul, Henry Nxumalo viveu pouco, apenas 38 anos, tempo suficiente para se tornar um dos maiores ícones do jornalismo do continente negro e inspiração para qualquer jovem repórter.
Para fazer suas reportagens, Nxumalo colocava, literalmente, as mãos na merda. Empregou-se como camponês para poder investigar o trabalho semiescravo, que incluía castigos físicos, nas plantações. Noutra ocasião, fingindo-se de bêbado, desacatou as autoridades para ser preso e, através de sua experiência, denunciar o tratamento desumano e abjeto das prisões sul-africanas.
Matérias que têm como pano de fundo a luta antiapartheid. É neste contexto que, no filme, aparece o jovem Nelson Mandela (Lindane Nkosi), liderando uma passeata contra a exigência de salvo-condutos para circulação dos negros em certas zonas, e cuja sentença dita pelo policial encarregado de reprimir a manifestação resume o espírito colonial, não há negociação possível: “nós mandamos e vocês nos servem”.
Mazeko livrou-se dos clichês conhecidos do politicamente correto e coloca algumas mazelas existenciais – incluindo sexo inter-racial – pois, além da cor da pele há toda uma complexidade subjetiva gerada pelo colonialismo europeu, onde as vítimas também se deixam manusear por seus carrascos, como salienta o diálogo, no final do filme, entre Nxumalo e o gangster, seu suposto assassino.
Nxumalo, quando foi morto, fazia uma reportagem sobre a prática de abortos clandestinos. No filme, o crime ocorre após a denúncia sobre o que estava por trás da reurbanização bairro de Sophiatown, onde seus antigos moradores – negros, indianos – foram expulsos, suas casas destruídas, para dar lugar a um empreendimento imobiliário destinado à população branca.
Em muitos aspectos, Henry Nxumalo faz lembrar o jornalista gaúcho Tim Lopes, assassinado por narcotraficantes no Rio de Janeiro, em 2002, quando colhia elementos para uma reportagem sobre o comércio de drogas e o crime organizado nas favelas cariocas.
Tim, ganhador de um prêmio Esso – e que chegou a internar-se numa clínica de dependentes químicos para fazer uma matéria sobre o assunto – conhecia a arte da reportagem e também seus riscos. Como Nxumalo, pagou com a sua vida por aquilo que julgou, enquanto jornalista, ser a sua missão: narrar a vida, contar a verdade.
Programação: Mostra de Cinema Africano. Sessões gratuitas. Cine Bancários (Rua General Câmara, 424).
28 de novembro:
15h – Tabataba;
17h – Heremakono – à espera da felicidade;
19h – Minha voz
20h30min: debate com Mahomed Bamba, autor do livro “Filmes da África e da diáspora: objetos de discursos”, de 2012.
29 de novembro:
15h – Drum;
17h – Djeli;
19h – Tabataba
30 de novembro:
15h – Jom ou a história de um povo;
17h – O vento;
19h – Minha Voz
Primeiro de dezembro:
15h – Identidade;
17h – Buud Yam;
19h – Sessão Baobá de cinema: “Raça, Um filme sobre a igualdade”, de
Joel Zito Araújo e Mecan Mylan, 2012.
“Os jornalistas brasileiros são uma categoria profissional predominante feminina, jovem e branca”. Assim começa o livro Perfil do Jornalista Brasileiro (155 pag., Insular, Florianópolis, 2013), que se baseia numa pesquisa nacional feita no segundo semestre de 2012 junto a 2 731 profissionais da comunicação social.
Embora a pesquisa seja um trabalho acadêmico realizado por estudantes e professores da Universidade Federal de Santa Catarina., o resultado final é uma obra engajada na análise das profundas mudanças provocadas no mundo do trabalho pela globalização da economia sob os mantras do neoliberalismo. Nunca antes neste país foi feita uma pesquisa tão densa e abrangente sobre a categoria dos comunicadores.
Já na introdução os autores Jacques Mick, jornalista-doutor em sociologia política, e Samuel Pantoja Lima, jornalista e doutor em engenharia de produção, pegam pesado ao lembrar que nos últimos 20 anos “a profissão de jornalista sofreu profundas metamorfoses determinadas por transformações estruturais do capitalismo que reconfiguraram as possibilidades de atuação dos trabalhadores da área de comunicação social”.
Para fundamentar seu trabalho de investigação sociológica, Mick e Lima referem-se a três estudos anteriores sobre os jornalistas:
1 – Em 1993, no livro O Mundo dos Jornalistas (Summus, São Paulo), Isabel Siqueira Travancas mostrou que os jornalistas se identificavam tanto com seu ofício em jornais e emissoras de rádio e TV que aceitariam sacrificar outras relações sociais, inclusive a vida familiar, em favor do jornalismo.
2 – Em 2002, Alzira Alves Abreu (A Modernização da Imprensa: 1970-2000, Zahar, Rio) caracterizou a velha guarda jornalística, situada em postos estratégicos da imprensa, como dotada de envolvimento político e ideológico, estando sempre predisposta a agir em função de valores e utopias. Com as mudanças ocorridas a partir dos anos 1970, os jornalistas teriam abandonado o romantismo e a ideologia, passando a reconhecer-se mais como técnicos nas diversas especialidades existentes na profissão.
3 – Em 2008, Virginia Pradelina da Silveira Fonseca, em Indústria de Notícias – Capitalismo e Novas Tecnologias no Jornalismo Contemporâneo (Editora da UFRGS, Porto Alegre), concluiu estar em curso “uma mudança de perfil, de valores, de identidade e de representação do jornalismo e do jornalista na sociedade”. As mudanças seriam decorrentes de movimentos de reestruturação social condicionados pelo desenvolvimento das tecnologias e pela expansão do capital. Multimídias
Uma das evidências dessa metamorfose seria a cristalização de novos conceitos e denominações como:
“jornalista multimídia”, apto a exercer várias funções full time em mais de um veículo de comunicação;
“produtor de conteúdo” (em veículos impressos ou digitais)
“assessor de imprensa/gestor de imagem”
“assessor de relações públicas/gestor de crise”
“professores de jornalismo”, cujo número passou de 1500 (em 1990) para 6000 (em 2010).
Ajuda a entender tantas mudanças um fenômeno extraordinário: o número de cursos de comunicação subiu de 18 até 1970 para 317 até 2010, inundando o mercado com uma massa de profissionais que, além de não encontrar colocação e/ou ter de sujeitar a subempregos ou/e múltiplos contratos, escapam à capacidade de observação dos sindicatos e do ministério do Trabalho. Tanto que não se sabe quantos são os jornalistas brasileiros. Pode-se chutar de 100 mil a 500 mil (veja o lembrete no final).
Segundo a pesquisa, a maioria dos jornalistas brasileiros tem até 30 anos. Apenas 0,4% têm mais de 64 anos. A profissão foi juvenilizada, palavra que poderia ser substituída por expressões referentes à falta de preparo e experiência.
As mulheres são 63,7% do total; 75% são filiados a sindicatos; 60% são solteiros/as; 51% têm religião; 71% são favoráveis à criação de um órgão superior, tipo ordem ou conselho profissional; 49% declaram-se de esquerda; 61% recebem até 5 salários míninos; 60% dos que trabalham na mídia têm carteira assinada; 27% são free lancers ou têm contratos sem carteira profissional; 22,8% trabalham em casa.
Atuam fora da mídia, usando o conhecimento jornalístico, 40,3% dos profissionais do ramo.
Apenas 9% trabalham na chamada mídia pública.
Um em cada cinco profissionais da mídia recebe algum tipo de participação nos resultados do trabalho.
Três quartos dos jornalistas têm seu trabalho veiculado total ou parcialmente na Internet.
Por fim, a maioria dos jornalistas pesquisados está satisfeita com o trabalho que faz, mas nem tanto com a remuneração. Os mais insatisfeitos com o salário são as mulheres, que ganham em média menos do que os homens para exercer funções iguais. O descontentamento é maior entre os profissionais com menos de 30 anos.
LEMBRETE DE OCASIÃO
Formam-se por ano no Brasil 12 mil jornalistas, mas apenas uma parte desse contingente encontra lugar no mercado de trabalho remunerado. Não se sabe ao certo quantos profissionais exercem o ofício. Entre 1980 e 2010, segundo estimativa dos autores da pesquisa acima, foram registrados 145 mil jornalistas no Ministério do Trabalho
O seminário Crise da Representação e Renovação da Democracia, realizado em Porto Alegre em 5 e 6 de setembro, reuniu cidadãos brasileiros de várias tribos profissionais com jornalistas, estudantes e estudiosos de comunicação, ciências políticas e articuladores dos novos movimentos mundiais, como Bernardo Gutierrez, do 15 M da Espanha, e Eirikur Bergmann, professor da Escola de Ciências Sociais da Bifröst University, na Islândia e diretor do Centro de Estudos Europeus.
Uma fauna humana interessantíssima. Sentiu-se fora da era digital a pessoa que sentou calmamente, desligou o celular para não interferir, não dispersar o pensamento, pegou o silencioso bloquinho de notas e a caneta deslizante.
Pelo menos 90% dos presentes fizeram exatamente o contrário, sentaram-se com a aparelhagem disponível. Não há mais mesas entre palestrantes e plateia, entre eles há laptops, celulares e androids. Enquanto um palestrante fala, sua imagem, seus textos, as entrevistas que ele deu, saltam na tela das centenas de pessoas, que também aproveitam para enviar aos seus contatos de rede social pequenas frases e imagens ao vivo.
Entre os palestrantes não é diferente, ficam à vontade no palco para manusear seus aparelhos durante a palestra dos colegas. Os antigos rumores e cochichos das velhas reuniões foram trocados por bips e um som de fundo, um zuuuuu não ionizante absolutamente incorporado. Mas a proposta não era mesmo discutir sobre o nível de radiação não-ionizante do local, que deve ter sido altíssimo.
Muitas questões e um debate quente sobre reforma política e das comunicações, mídias digitais como instrumento de participação política, conceitos e práticas de democracia, não poderiam ter sido melhor representadas por uma exposição do artista plástico Ubiratã Braga no mesmo sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana. Céus de Chumbo sobre
Horizontes de Ferro, o nome-tema da exposição, por coincidência ou não, definiu o panorama político e midiático do momento. Ao final das palestras sobraram questões sobre os céus de chumbo que herdamos e os horizontes de ferro previstos e já vistos por aí.
Sergio Amadeu, sociólogo, professor da UFAB e pesquisador em software livre, avisa que a internet livre está sob ataque: “Arrisco dizer que o capital econômico de telecomunicações em breve abocanhará até a Rede Globo e o ministro Paulo Bernardo integra esse coletivo de ataque contra a liberdade digital. Estado e corporações
Numa palestra bastante didática, Amadeu trouxe vários temas, como a crise da intervenção, que envolve a indústria da música e a propriedade dos bens imateriais, a imprensa, a educação e os partidos políticos, destacando que o Estado é muito permeável às grandes corporações.
“As grandes corporações desvirtuam a democracia, andam em corredores e alteram o resultado do jogo.”
Natalia Viana, jornalista da Pública.org, destacou que no Brasil existem investigações e denúncias contra os partidos, mas não há jornais que investiguem as empresas. Para Joaquim Ernesto Palhares, da Carta Maior, é na questão de apoio econômico que a mídia tradicional se sustenta:
“Somos muito frágeis diante do poder que essa gente tem”.
Na seqüência, completou que essa mesma mídia vive seu momento político de maior fragilidade, chegando ao ponto de se desculpar pelo apoio à ditadura:
“Se desculpar não basta, essa empresa deve ir à Comissão da Verdade para se explicar, nós temos mortos, desaparecidos e não é se desculpando que vão resolver essa situação, essa gente tem que explicar o que é o tal do apoio, essa gente ganha bilhões e não dá nenhuma contrapartida”.
Antônio Castro, do Sul 21, analisou a passeata do dia 20 de junho em Porto Alegre.
“As pessoas estavam caminhando e de repente ficaram indecisas se optavam ir em direção ao Palácio Piratini, o poder do Estado, ou se caminhavam até o prédio da Zero Hora, que representa a manipulação do poder”.
Para ele é fundamental regulamentar o negócio da comunicação e isso não deve ser confundido com controle sobre a notícia. Antônio E. Castro e Lino Bocchini | Democracia em Rede
Lino Bocchini, da Carta Capital, falou da importância das rádios comunitárias e ainda do jornalismo impresso, exemplificando com o Jornalismo B, que aposta nas pessoas que ainda não acessam internet, embora os acessos no Brasil tenham números significativos, como o da foto do médico cubano sendo vaiado por médicas brasileiras. A foto, segundo ele, teve um milhão e setecentos mil acessos e isso é muito mais do que a audiência de qualquer telejornal.
A internet aparece como fonte de propagação importante da notícia, mas para Bocchini a figura do bom jornalista, do bom editor continua sendo importante. “O jornalismo de qualidade precisa de dinheiro, nem sempre uma notícia importante dá
audiência, precisa de bons profissionais, precisa ser mantido.
” Ele comparou a dificuldade das questões de audiência exemplificando com o Big Brother em alta no momento em que o Egito estava nas ruas e a Carta Capital estava cobrindo, com baixa audiência, um fato tão relevante na política mundial.
Antônio Martins, criador do Le Monde Diplomatique Brasil e do site Outras Palavras, foi fundo na crítica de mídia sem excluir as alternativas que começam a reemergir depois de anos de cansaço pelo domínio econômico. “
Precisamos ser capazes de colocar na agenda a Reforma Tributária, precisamos mostrar para a população como é injusto o sistema tributário, fazer com que as pessoas entendam a possibilidade de uma distribuição melhor de renda, o jornalismo deveria ser capaz de explicar a gasolina que é subsidiada para agradar a classe média.”
Para Martins essa época de declínio do jornalismo tradicional é ideal para resgatar o bom jornalismo. Difícil é ter uma agenda comum – o que é costumeiro entre gente que pensa, estuda e reflete. Nas questões estritamente jornalísticas, todos concordam que os investimentos econômicos, principalmente os que partem do governo, não estão bem distribuídos. Candidaturas livres
O governo segue o mercado, acaba sendo um grande investidor da Rede Globo em primeiro lugar e das outras grandes corporações privadas de comunicação, destinando migalhas aos veículos que representam os cidadãos, suas comunidades, seus direitos. Todos querem a regulamentação da mídia e uma distribuição mais defensável, mais igualitária, ainda que os horizontes pareçam de ferro.
Nas questões políticas o bicho pega. Há os que defendem que a Reforma Política deve vir antes da Regulamentação da Mídia, há os que não veem possibilidade de uma Reforma Política sem que antes a mídia seja regulamentada.
Discordam com veemência sobre a eficácia dos movimentos apartidários, mas concordam que candidaturas livres, sem representação coletiva, sem causas específicas, viraria facilmente massa de manobra do capital privado.
O jornalista Venício Lima e Celi Pinto, cientista política, não acreditam em apartidarismo, defendem que o modo convencional de fazer política via partidos é o que funciona. Celi acredita que fazer política por meio de manifestações virtuais não resolve, nunca resolveu, há uma tendência à dispersão.
“O que resolve é a aproximação real, a discussão, o debate de ideias junto aos representantes”.
Lima defende a ideia de que o jornalismo sempre foi partidário e a expansão do jornalismo, o caráter empresarial do jornalismo é que acabou fazendo com que se fingisse uma neutralidade, que de neutra não tem nada.
“Pode ser que eu esteja muito velho, mas não acredito em política sem partido”.
Com Venício Lima e Celi Pinto se alinha também, com algumas diferenças pontuais, Wilson Gomes, da UFBA.
“Não acredito em crise da democracia, a democracia é isso mesmo, se ela está em crise sempre esteve.”
Para Wilson, democracia é processo, direito de manifestação de todos e o foco seria encontrar um ponto comum junto aos representantes.
Ele ressaltou problemas de clientelismo, colonialismo, mas como coisas a serem tratadas pelo estado democrático.
“É preciso fiscalização sempre, e diante do controle aparecem os problemas, é o paradoxo da democracia. Se você melhora a transparência e aparecem os problemas, todo mundo se sente pior.”
É o caso das denúncias no Brasil:
“De fato as pessoas se sentiram mal, como se as coisas de maneira geral tivessem piorado, mas elas apenas emergiram porque na história a roda não anda para trás. A invisibilidade protege o mais forte, a visibilidade protege os mais fracos.”
Bernardo Gutiérrez literalmente pulou da cadeira para defender os movimentos apartidários explicando o que ocorreu na Espanha com o 15M, espécie de guarda-chuva de várias manifestações populares. Ele explicou que a água estava para ser privatizada na Espanha, a população se uniu, discordou, o governo não concordou e ainda assim não teve legitimidade, a população venceu, a água é livre. Movimentos populares livres
O coletivo 15M abarca hoje muitos movimentos sociais que não se veem representados por partidos políticos convencionais e unem-se em representações populares diversas, como a Maré Verde, da educação, a Maré Branca, da água, e outros.
“Na Espanha hoje o que temos são movimentos populares livres que defendem os imigrantes no meio da rua.”
Falando um português fluente, ele, que viveu no Brasil, defende as ocupações das Câmaras nas capitais.
“Não tem nada mais subversivo do que alterar o código, vamos limpar isso aí e depois vamos ver o que fazer”.
Para Bernardo essa movimentação é horizontal, plural e profundamente política, são convergências de coletivos, de lideranças rotativas e sem personalismos.
“Nós vamos em um ponto comum para ver a pauta e depois a gente dispersa”.
Na Espanha foi criado um novo termo, a extituição, que se opõe ao modelo institucional comum e pouco operativo em relação às demandas reais e urgentes da população.
Renato Rovai, da revista Fórum, questiona o sistema democrático e lança no ar uma pergunta: não seria o caso de uma plurocracia? André Rubião, do Centro de Estudos Sociais da America Latina/UFMG, pinçou vários exemplos de democracia com participação popular direta, quando segmentos da população bem distribuídos são escolhidos por sorteio para estudar um tema e decidir sobre ele.
Em alguns casos, dentro do sistema democrático, quando há a necessidade de serem referendados pela representação política, acabam não dando certo.
Eirirkur Bergmann falou da Islândia, país com 300 mil habitantes que conseguiu por meio de uma reforma política popular derrotar a democracia aristocrática. Ponderando, ressaltou que na Europa crescem os movimentos de partidos populistas conservadores e ultraconservadores, são as chamadas ondas democráticas. “Vemos isso ocorrendo na Hungria e até em países escandinavos, como a Finlândia e a Suécia”.
As respostas para essas questões são corpos participativos, como o que ocorreu na Austrália em relação à monarquia. Na Islândia há corpos participativos via cidadãos de várias idades e segmentos sociais. “Acredito que temos um tempo sério pela frente em que as alternativas que conhecemos, esses corpos e práticas podem ser reativos a esses movimentos de partidos populistas.”
Benedito Tadeu Cesar, cientista político, favorável à Reforma Política antes da Reforma das Comunicações, destacou que a crise das instituições é mundial, que a roda da história pode sim andar para trás, que o momento é de transformação e isso gera perplexidade e não se deve deixar de levar em consideração que os partidos se burocratizaram, todos eles.
“Eu fui um dos fundadores do PT, militei e estudei o PT, mas não posso deixar de dizer que esse partido também se burocratizou.” DO FUNDÃO
Na plateia diversas manifestações e questionamentos sobre o modus operandi do seminário. Veio à baila a questão de gênero, em cada mesa apenas uma mulher, uma delas moderadora, palestrantes só duas num total de 23 convidados. O espaço para debate com a plateia foi curto, com formação de cadeiras no palco e tom formal.
A galera reclamou ainda do personalismo característico de um velho tempo, da falta de horizontalidades, mas no final correu para buscar seus certificados de presença, algo que representa no mínimo um desejo de se adequar ao sistema do jeitinho que ele é.
O coquetel de encerramento foi aberto aos palestrantes e participantes sem distinção e isso parece ter contentado a todos, foi o diferencial desse tipo de evento. O QUE FICOU NO AR
Se sabemos que o Facebook elimina páginas, entrega IPs de acordo com a conveniência política e de capital, se sabemos que existe um alto controle de acessos via Estado ou até mesmo por meio de cidadãos, se existem possibilidades de manipulação da opinião pública pelos meios digitais, se é possível rastrear, espionar e manipular, como podemos crer que a participação popular via novas tecnologias será respeitada?
O Seminário Crise da Representação e Renovação da Democracia foi promovido pelo Gabinete Digital- Democracia em rede. Criado em maio de 2011, é um canal digital – www.gabinetedigital.rs.gov.br – de participação e diálogo entre a sociedade civil e o Governo do Rio Grande do Sul.
O objetivo é permitir que os cidadãos influenciem na gestão pública e exerçam maior controle social sobre o Estado por meio de mecanismos relacionados às novas tecnologias de informação e comunicação.
Apoiaram o evento a Casa de Cultura Digital, a Alter Brasil –Instituto de Ideias, a Granpal, as Universidades Unisinos, UFRGS, PUC, Feevale, a Fundação Perseu Abramo, a Fundação Maurício Grabois, Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, Fundação João Mangabeira e o jornal A Hora do Povo.
Trazer a diversidade cultural brasileira para a TV aberta, com produções locais, parece simples e está há mais de vinte anos na constituição.
Semana passada, foi lançada na Câmara dos Deputados, a campanha #QueroMeVerNaTV, em defesa da regionalização da produção de rádio e TV. É uma das ações articuladas entre a sociedade civil, parlamentares e gestores públicos para trazer à tona esta discussão e mobilizar os atores em defesa de uma regionalização plural e democrática.
Um abaixo-assinado pode ser acessado no site www.queromevernatv.com.br.
Para Renata Mielli, coordenadora executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o projeto de lei 5992/2013, que aguarda votação em plenário, é um golpe e descaracteriza a regionalização. “Repudiamos esse PL e a forma como ele foi aprovado”, diz.
No dia 11 de julho, a Comissão Especial Mista de Consolidação da Legislação Federal e Regulamentação de Dispositivos da Constituição Federal (CMCLF) aprovou no Senado Federal o relatório do senador Romero Jucá (PMDB/RR) – precedido de sub-relatório do deputado federal Sérgio Zveiter (PSD/RJ) – com uma proposta de regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal. Sai a produção independente
O texto – que chegou à Câmara sob nº PL 5992/2013 – ignorou um processo de construção conjunta de mais de 20 anos e fortalece os grandes conglomerados de mídia. Entre os retrocessos do PL 5992/2013 apontados pela campanha, estão a redução do tempo de programação regional; a inserção de conteúdos religiosos, como missas e cultos, pronunciamentos em rede nacional e propaganda eleitoral para cumprimento da cota; exclusão da obrigatoriedade de contratação da produção independente.
“Destruiu-se tudo para servir a quem?”, pergunta a deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), presidente da Comissão de Cultura e autora do mais antigo projeto que trata da regionalização na Câmara, o PL 256/1991.
Estiveram presentes ao lançamento da campanha os deputados NilmárioMiranda (PT/MG), Jorge Bittar (PT/RJ), Luciana Santos (PCdoB/PE), Jean Wyllys (PSOL/RJ), Paulo Rubem Santiago (PDT/PE), Artur Bruno (PT/CE) e José Stédile (PSB/RS). Também participaram Paulo Miranda, presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCOM); Paulo Dantas, da Movie & Art Produções Cinematográficas e diretor do Sindicato da Indústria Audiovisual de São Paulo (Siaesp); Ernesto Scatena, da Movie Rental System S/A e diretor financeiro da Siesp; Luiz Henrique Romanholli, da Associação de Produtores Independentes de Rádio.
Em 7 de agosto, foi lançado o Manifesto em Defesa da Regionalização da Programação na Radiodifusão, assinado por diversas entidades. Leia abaixo:
“Rio Branco, terça-feira, 22h30. Uma família sentada em frente à televisão assiste ao programa Louco Por Elas, transmitido pela Rede Amazônica, afiliada da TV Globo. Em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o mesmo programa está sintonizado na RBS. A série mostra o cotidiano de uma família de classe média carioca.
Roraima, 17 horas. A TV Imperial – afiliada da Record – transmite o Cidade Alerta. O mesmo programa é veiculado pela RIC TV, na cidade de Xanxerê, interior de Santa Catarina. O programa jornalístico da Record faz a cobertura do que acontece nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Essa realidade se repete em todo o Brasil e vale para todas as emissoras de televisão. Ou seja, não importa onde você esteja, excluindo as edições locais dos jornais vespertinos e matutinos (em algumas emissoras os matinais), mais de 90% da grade de programação destas emissoras é composta por conteúdos produzidos no eixo Rio-São Paulo (novelas, seriados, programas de lazer, infantis, culturais, shows, variedades). Ninguém se vê
Os acreanos não se vêem na TV, assim como não se vêem os amazonenses, baianos, pernambucanos, gaúchos, mineiros e assim por diante. Não vemos na TV a riqueza da cultura do centro-oeste brasileiro, como é a vida dos ribeirinhos, ou dos agricultores do interior. Como é a realidade de quem vive nas pequenas cidades. Não temos acesso à produção cultural independente que fervilha em todo o Brasil, que é bloqueada pela homogeneização cultural do eixo Rio-São Paulo.
A luta para mudar este cenário, garantindo que os brasileiros dos múltiplos Brasis tenham representação na mídia, é uma das principais bandeiras dos movimentos que lutam pela democratização dos meios de comunicação. É uma reivindicação de artistas, produtores culturais e da sociedade.
A garantia de conteúdo regional e independente na radiodifusão é prevista no texto Constitucional de 1988, em seu artigo 221. Mas, até hoje, o Congresso Nacional não regulamentou este dispositivo, principalmente em razão de interesses políticos e econômicos das grandes cadeias de TV.
Para se ter uma ideia do bloqueio imposto à regulamentação do art. 221, há quase 20 anos, um projeto de lei sobre o tema, de autoria da deputada Jandira Feghali, aguarda para ser votado. No Senado o PL já tramita há 10 anos.
Para nossa surpresa, sem qualquer debate mais amplo com a sociedade, uma comissão mista do Congresso Nacional criada há pouco mais de dois meses para analisar projetos de lei que visem a regulamentação da Constituição – composta por seis deputados e seis senadores – aprovou um relatório sobre o tema em menos de cinco minutos, alterando a redação do projeto de lei da deputada Jandira Feghali e desvirtuando os objetivos que devem ser alcançados com a regionalização – garantir mais espaço na grade de programação das emissoras para a produção de conteúdos locais, produzidos localmente, com artistas e profissionais da região, incentivando a produção independente.
Esta proposta aprovada na Comissão Mista será agora apreciada pelo plenário da Câmara dos Deputados, onde poderá receber emendas dos parlamentares no sentido de resgatar este objetivo.
Nós – representantes de entidades do movimento social, artistas, produtores culturais e cidadãos – exigimos que os deputados federais, que representam a população dos vários estados brasileiros, apresentem emendas para garantir que o projeto efetive o direito à comunicação, assegurando de fato espaços na programação das emissoras para a produção local, regional e independente.
Você, que não se vê na TV e que luta para que exista mais pluralidade e diversidade nos meios de comunicação venha se somar a esta luta!
Votar pela aprovação do projeto tal como está é dar às costas ao povo!”
Assinam este manifesto:
Associação Brasileira de Canais Comunitários – ABCCOM
Associação Brasileira de Documentaristas – seccional PE
Associação Brasileira de Rádios Comunitárias – ABRAÇO – Nacional
ABRAÇO-BA
ABRAÇO-GO
Associação de Entidades Usuárias do Canal Comunitário de Ponta Grossa (TVCom PG)
Associação Pernambucana de Cineastas (ABD/APECI)
Andi – Comunicação e Direitos
ARCO-RJ
Arpub – Associação de Rádios Públicas do Brasil
Blogoosfero – Plataforma Livre e Colaborativa desenvolvida em Software Livre Brasileiro
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Centro de Cultura Luiz Freire
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
Conselho Comunitário de Maricá – CCM-CONSELHO
COMPOP
Clube de Engenharia
Conceição Lemes – blogueira
Conceição Oliveira – Blog da Maria Frô
Conselho Comunitário de Aricá-RJ
Conselho Federal de Psicologia – CFP
Edison Munhoz, secretário de comunicação da CUT-RJ
Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar – Fetraf
FNDC- Comitê BA
Fundação Maurício Grabois
Fundação Perseu Abramo
Intervozes
Instituto Patrícia Galvão
Instituto Telecom
Luana Bonone, presidenta da Associação Nacional de Pós-graduandos
Movimento Nacional de Rádios Comunitárias – MNRC
Paraná Blogs – Coletivo de Blogueir@s e Ativistas Digitais do Paraná
Rádio Comunitária Pop-Goiaba
Sindicato dos Radialistas de São Paulo
Sociedade Civil Acauã
TIE-Brasil – Troca de Informações sobre Empresas Transnacionais
TV Cidade Livre DF
União Geral dos Trabalhadores – UGT
O Sindicato dos Jornalistas está considerando “omissão e desrespeito” a atitude do sindicado das empresas de comunicação do Rio Grande do Sul, que se recusa à negociação coletiva para tratar do piso salarial da categoria. Há três meses tentando marcar uma reunião, o sindicato dos empregados não recebe nem resposta. A indiferença dos patrões se apoia na passividade das redações, assombradas pela falta de oportunidades. Veja aqui a nota publicada no site do Sindicato: A omissão e o desrespeito do sindicato patronal aos seus trabalhadores permanece. Assim como ocorreu no ano passado, quando o acordo foi finalizado em dezembro, até o momento não foi agendada nenhuma reunião de negociação, mesmo com os contatos e pedidos feitos pela diretoria do Sindicato dos Jornalistas.
“A pauta de reivindicações foi entregue no mês de maio. Já tiveram tempo demais para avaliar nossas demandas. Mas o que se temos como resposta é o silêncio”, afirma o presidente Milton Simas. Na segunda-feira houve um contato pedindo um agendamento, até agora não se teve retorno.
O piso proposto, unificado para todo o Rio Grande do Sul, é de R$ 2.824,92, com vigência desde 1º de junho de 2013. A partir de 1º de dezembro, passa a R$ 4.068, como referência do piso nacional da categoria. Trata-se de um valor estimado pelo DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos – apenas para cobrir as despesas dos jornalistas.
A campanha de Negociação Coletiva 2013 está nas ruas e redes sociais. Spots também estão sendo divulgados em rádios do Interior. O tema é O Trabalho do Jornalista vale mais! Sem Jornalista não tem Informação. Confira cursos e prêmios com inscrições abertas em agosto
Estão abertas as inscrições para os cursos de jornalismo cultural, oferecido pela Unisinos, e de desinibição textual, da Feevale. Junto com o VII Prêmio Visibilidade de Políticas Sociais e do Serviço Social 2013, promovido pelo Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (CRESS/RJ), são opções para os jornalistas qualificarem seu currículo.
O blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito, foi encontrado morto ontem à tarde na sua casa, na grande Florianópolis. Estava enforcado, e o caso está sendo tratado como suicídio. A notícia se explalhou rapidamente pela internet e logo a morte do blogueiro era o assunto mais citado no twitter do Brasil.
Seu blog Tijoladas do Mosquito estava proibido de ir ao ar. Ele denunciava sistematicamente casos de corrupção e outros crimes envolvendo políticos e integrantes do Judiciário de Santa Catarina. Figura polêmica, não media palavras para denunciar corruptos e poderosos omissos.
Era popular e sensacionalista, na linha dos antigos pasquins que circulavam na ilha. Enfrentava mais de 50 processos na Justiça. Sua cobertura para o caso de um estupro que envolveu um menor da familia Sirotsky, no ano passado, rendeu 200 mil acessos num dia.
A polícia abriu investigação. Quem dá detalhes é o Cangablog, do jornalista Sérgio Rubim. O sepultamento será às 15 horas, no cemitério do Itacorubi, em Florianópolis.
A RBS Participações está questionando junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) o registro da marca “JÁ”, pedido pela empresa Já Porto Alegre Editores, que edita os jornais “JÁ” e “JÁ Bom Fim”, além de ter publicados mais de quarenta títulos de livros com o selo “JÁ Editores”.
Segundo a representação, o registro da Já Editores “conflita com os direitos da RBS sobre o sinal JA”, pois ambas atuam no “segmento mercadológico afim”, caracterizando “concorrência desleal”, com “sério prejuízo ao público consumidor”.
A RBS usa as letras JÁ, identificadas foneticamente como “jota-a”, como sigla do Jornal do Almoço, e tem seu registro no INPI desde 2009, na categoria 41 (“serviços de produção de rádio ou televisão”).
O jornal JÁ circula em Porto Alegre desde 1985 e tem uma edição on-line desde 2003 mas o pedido de registro da marca só foi depositado no início de 2010 e, no início desde ano, publicado na Revista de Propriedade Industrial, na categoria 16 (“jornais, livros, revistas ou periódicos”).
Segundo o editor do JÁ, Elmar Bones, a marca estava registrada pelo Diário Popular de São Paulo, mas ficou livre no final de 2009. “O jornal pelo que sei foi vendido e os novos proprietários se desinteressaram pela marca. No inicio de 2010 fiquei sabendo que estava livre e encaminhei o pedido de registro, que foi acolhido e publicado na revista do INPI com 60 dias para oposições. Aí surgiu a dona RBS dizendo que o JÁ tem (novo) dono”.
A Já Editores encaminhou sua defesa ao INPI, alegando anterioridade de uso da marca e inexistência de conflito, uma vez que os registros estão em categorias distintas e não há relação entre elas.