O silêncio dos inocentes

A sociedade precisa de um gigantesco tratamento psicológico.
O aterramento de um poço com 15 metros de profundidade exige uma mão de obra que nunca deixará de chamar a atenção de pessoas que vizinham com o local. No entanto, um casal, assassinado por traficantes de drogas, foi sepultado nesse local no início deste mês. Houve o aterramento e as pessoas que notaram o movimento ficaram silenciosas. Isso aconteceu em Gravataí, numa área sabidamente usada por bandidos. Somente quarta-feira última houve o resgate que, evidentemente, foi possível através de informantes cuja identidade deve permanecer no mais absoluto sigilo. Foram necessárias duas escavadeiras num trabalho desenvolvido por mais de três horas até que aparecessem os corpos de José Oscar dos Santos, 41 anos, e de Sandra Naira dos Anjos da Silva, 41 anos. Sandra era viúva de um traficante e, José, trabalhava para ela. Ambos estavam algemados, amordaçados e com os rostos cobertos com sacos plásticos, nos estilo que foi ensinado pelo melhor filme brasileiro do ano, Tropa de Elite. Sigam-me.
Tratamento
O retardamento da denúncia sobre o local onde os corpos foram enterrados pode ser considerado normal. A população, de um modo geral, está com medo. E esta sensação se agrava nos locais em que a bandidagem se instala para gerir o tráfico de drogas e de armas. Envolver-se num episódio como o que ocorreu em Gravataí corresponde a colocar a vida em jogo. Há quem defenda que a criminalidade indica que a sociedade está doente. O criminoso, segundo este raciocínio, é um enfermo e assim deve ser tratado. Mas há o outro lado. As vítimas da violência e da criminalidade, reféns de traficantes, de assaltantes, de vândalos, de ladrões de casaca, também estão doentes. O medo de denunciar se espalha como um veneno em todas as classes sociais que terminam se omitindo quando não se tornam cúmplices do flagelo. A sociedade precisa de um gigantesco tratamento psicológico paralelamente ao que possa ser feito na área policial.
Errata
Ontem, equivocadamente, citei como Marco Aurélio, o ex-presidente do Tribunal de Justiça do RS, desembargador aposentado e, hoje, advogado e comunicador Marco Antonio Barbosa Leal, chamado de Marcão por seus amigos mais próximos. Trata-se de um tropeço imperdoável que, vez por outra, cometo ao referir-me a celebridades.
Brigada
A governadora Yeda Crusius prestigiou, ontem, a cerimônia de posse do coronel João Carlos Trindade no comando geral da Brigada Militar. Trindade sucede no posto ao coronel Paulo Roberto Mendes, alçado a juiz do Tribunal de Justiça Militar do Estado.
Agulha
O sigilo em torno das investigações o assassinato do médico Marco Antonio Becker, crime ocorrido no dia 4 deste mês, foi solicitado pela própria polícia e referendado pelo judiciário. Esse sigilo deveria ocorrer a partir do primeiro momento da investigação, sem a bengala da Justiça. Parece-me que a própria policia fez o palheiro para procurar a agulha.
Homicídio
Em Caxias do Sul, no bairro Nossa Senhora das Graças, durante uma discussão, um homem ainda não identificado atirou 5 vezes contra Maurício Maciel dos Santos, de 21 anos. A vítima ainda gritou por socorro, mas morreu momentos depois. O criminoso fugiu em uma moto.
Meninos
Policiais encontraram o rifle, calibre 38, usado para balear a menina Kerem Apucci Niches Braga, de 11 anos, em Canoas. A arma estava na casa de um adolescente de 13 anos, amigo dos outros quatro adolescentes envolvidos no crime. A criança foi atingida na cabeça e está internada no HPS do município.
Bancos
O total de ataques a banco no estado, em dezembro, já superou o acumulado no período em 2007. Foram 10 casos em 19 dias, três em Porto Alegre e sete no interior. Nos 31 dias de dezembro de 2007, foram oito registros, sete no interior e um na capital, conforme o Sindicato dos Bancários. O décimo ataque ocorreu ontem em uma agência do Bradesco em Gravataí. Quatro homens levaram 15 mil reais e fugiram em um Astra preto.
Presídios
O Tribunal de Justiça mandou interditar o alojamento anexo do Presídio de Bagé, devido a superlotação. Mais de 100 presos estavam em situação ilegal dividindo cela com detentos de outros regimes. Além disso, havia mulheres cumprindo pena em selas masculinas. Das 92 unidades prisionais gaúchas 19 já foram interditadas ou semi-interditadas.