Privatizações

Devo advertir meus eventuais leitores que não sou por princípio ou convicção ideológica contra transferência empresas ou atribuições do poder público para a dita “iniciativa privada”.

Apenas sou rodrigueano e acho que “toda a unânimidade é burra”.

Essa opinião única que viceja na mídia de que a saída para a crise do setor público é a privatização ou a concessão temporária de ativos públicos para o investidor privado, me deixa com o pé atrás da orelha.

Primeiro que é uma falácia essa história de que a iniciativa privada é sempre mais eficiente do que o agente público. Eficiente para quem? Para o empreendedor privado ou para o interesse público? A Vale está aí para quem quer ver.

Segundo, essa pressa. Iluminação, água, lixo, praças, carris, HPS, CEEE, Sulgás, CRM, estradas, portos, aeroportos…de cambulhada. Como é que a gente demorou tanto para descobrir que a iniciativa privada estava aí para resolver todos os nossos problemas?

Terceiro, temos clamorosos exemplos de fracasso de transferência de serviços públicos para a iniciativa privada. Cito um, poderia citar dez:

A concessão de estradas estaduais e federais no Rio Grande do Sul no governo de Antônio Britto, cercada de todas as boas intenções e justificativas.

O governo investiu boa parte do que arrecadou com a venda da CRT e parte da CEEE para entregar em boas condições as estradas aos concessionários.

Passaram-se 20 anos, os concessionários tiveram um lucro líquido de R$ 2,4 bilhões e as estradas foram devolvidas ao Estado nas mesmas condições e em pouco tempo estavam deterioradas. Até a Zero Hora reconheceu em editorial que aquele contrato foi um mau negócio para o Estado.

Olha aí o caso do Cais Mauá. Não são os “caranguejos”. É um contrato torto desde o início, resulta em prejuízos incalculáveis para o Estado.

Quero dizer: privatização, concessão, terceirização, não é panaceia. Tem que estar exposta à crítica e tem que ter transparência, que é o que mais falta nesses negócios entre o público e o privado.