Refletindo a crise do mercado do mel, reduziu-se a menos da metade o público que costuma comparecer aos concorridos seminários técnicos promovidos pelo Departamento de Apicultura da UFRGS. No sábado passado, dia 25, a foto sob a figueira do campus rural em Eldorado do Sul registrou um dos menores quoruns desde 2013.
No market place do Facebook, na Internet, apareceu esta semana em Porto Alegre uma oferta de mel puro a R$ 15 o quilo em embalagens plásticas (custam R$ 1 cada). Eis aí um dos indícios da crise mercadológica que assola tanto os apicultores como os intermediários, especialmente os exportadores, assediados atualmente por ofertas assustadoramente baixas.
Para vender mel por R$ 15 com algum lucro no mercado interno, o atacadista do market place deve ter comprado o produto por menos de R$ 8, tido como o custo médio de produção no interior gaúcho, onde os apicultores estão recebendo ofertas de compra por R$ 4 o quilo (alguns apicultores mais eficientes conseguem produzir a esse custo, mas operam sem lucro).
R$ 4 por quilo é o mesmo valor nominal de 2013, ano-piso de uma onda de alta que teve seu auge em 2017, quando os produtores chegaram a receber R$ 12 por quilo de mel orgânico. Agregue-se a inflação do período 2013-2019 e se verá a que ponto chegou o mercado. Além de ter dificuldade de vender seu produto, muitos apicultores perderam colmeias por morte de abelhas contaminadas por agrotóxicos.
A baixa atingiu também os exportadores brasileiros. Em 2017, eles chegaram a embarcar mel orgânico a US$ 4750 por tonelada, o teto histórico para esse produto então relativamente raro no mercado internacional. A partir daí, “movido pela ganância”, “o mercado virou uma bagunça”, disse um exportador catarinense, que dias atrás aceitou uma oferta de US$ 1950 por tonelada de mel orgânico. Ele está tendo prejuízo mas precisa desovar estoques acumulados nos dois últimos anos.A única notícia boa do momento é que em maio os importadores começam a fazer compras para atender ao Hemisfério Norte durante o inverno, período em que mais se consome mel nos países ricos.
Sensível à queda do poder aquisitivo dos consumidores, o mercado internacional desabou não apenas porque há estoques elevados nos países produtores e nas grandes praças consumidoras, mas por dois motivos emergentes: a produção de mel (registrado como) orgânico aumentou em outros países e surgiram denúncias de que amostras do mel brasileiro (em 2018, teria sido comprado de contrabando no Uruguai) apresentaram traços de agrotóxicos e antibióticos. Por isso, os importadores estão mandando fazer análises bioquímicas para checar se há glifosato e outros venenos nas amostras de mel. Dando positivo, não sai negócio.
Excelente matéria. Elucidativa.