Apicultores assumem centro para pesquisar viroses que dizimam abelhas

Seis anos depois da extinção da Fepagro pelo governador Ivo Sartori, a Federação Apícola do RS assumiu a gestão do histórico Centro de Pesquisas de Taquari, que está em ruínas e será recuperado para pesquisas genéticas, formação, treinamento e reciclagem de produtores de
mel.

Estima-se que serão necessários seis meses para limpar a área e retomar projetos abandonados, dando prioridade a problemas sanitários surgidos nos últimos anos.

Além de sofrer com o uso abusivo de agrotóxicos em lavouras, as abelhas estão sendo vítimas de seis espécies de vírus que vêm causando mortandade de 10 a 20% nas colmeias.

“Essas viroses equivalem a uma covid”, disse Ademir Haetinger, ex-presidente da FARGS, que terminou seu
mandato no sábado (6), quando foi substituído por David Vicenço, dirigente da Associação Caxiense de Apicultura.

Como as abelhas são bioindicadoras da sanidade ambiental, é urgente pesquisar causas e remédios para esses problemas. Por isso, será transferido para Taquari um laboratório apícola particular em atividade em Voçoroca, no noroeste do Rio Grande, última base operacional de Haetinger, nascido em 1960 em Ijuí.

O principal cientista envolvido nessas pesquisas é o veterano agrônomo Aroni Satler,  professor da UFRGS
que já foi diretor do centro apícola de Taquari, há mais de 40 anos, quando se iniciava na carreira. Uma das medidas em andamento é a coleta de abelhas em todas as regiões do Estado. “Nós precisamos que os apicultores nos enviem amostras de material para aprofundarmos as
investigações”, disse Haetinger, salientando que somente são válidas amostras com a identificação do apicultor e do local em que o material foi colhido.
Com tudo isso, Taquari retoma seu papel como núcleo apícola profissional iniciado na primeira década do século 20 pelo imigrante alemão Emilio Schenk, que liderou o setor no Rio Grande até falecer em 1945.

O parque tem 460 hectares e já abrigou nos anos 1920 uma faculdade de agronomia de fugaz existência. Parte da sua área deve ser usada para cultivos agrícolas propícios à criação de abelhas.

O município de Taquari foi grande produtor de laranjas, tanto que ali operou um centro de pesquisas em citricultura.  Após o desmanche promovido em 2017, a cambaleante Fepagro foi absorvida pela Secretaria da Agricultura, que acaba de fechar um convênio de dez
anos com a Federação Apícola, organismo privado que representa cerca de 30 mil apicultores.

O veterinário Clovis Schenk Bavaresco, bisneto do
pioneiro, aceitou trabalhar voluntariamente como novo diretor do centro apícola, em cujas dependências passou a infância — ele mora na frente do parque.
A formação de apicultores jovens é considerada fundamental para dar continuidade ao trabalho de uma maioria de produtores que envelheceram na atividade nos últimos 30 anos.

Se não houver renovação, a apicultura gaúcha corre o risco de sofrer um colapso produtivo que pode levar à
intensificação da importação de mel uruguaio, fonte eventual de abastecimento de exportadores estabelecidos nos três estados do Sul.

Chapecó será capital brasileira do mel neste fim de semana

Os três estados do sul respondem por cerca de 40% da produção de mel do Brasil. A região tem 66.554 apicultores e meliponicultores, sendo 12.491 no Paraná, 16.838 em SC e 37.225 no Rio Grande do Sul.

Parte representativa desse universo estará em Chapecó, nesta semana, para participar dos principais eventos técnicos e científicos da cadeia produtiva do mel programados para os dias 30 de junho, 1 e 2 de julho.

Espera-se 1.500 pessoas entre pesquisadores,produtores, universidades, instituições de pesquisa, entidades e autoridades do setor.

As atividades incluem 76 palestras que serão desenvolvidas no Campus da Unichapecó.

Para o dia 30 de junho (das 14 às 18 horas) está programado o Fórum de Integração entre pesquisas, políticas públicas, assistência técnica e extensão no setor de abelhas.

Nos dias 1º de julho (das 8 às 18 horas) e 2 de julho (das 8 às 12 horas) será cumprida a programação do 2º COSBRAPIM (Congresso Sul Brasileiro de Apicultura e Meliponicultura), o 2º Simpósio dos Produtos de Colmeia e o 35º ECAM (Encontro Catarinense de Apicultores e Meliponicultores).

A organização é da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (FAASC) com apoio do Sebrae/SC, Senar/SC, Epagri, UFRGS, Udesc, Unochapecó e Associação dos Apicultores de Chapecó. Entre os participantes estarão produtores e pesquisadores do Chile, Bahia e Mato Grosso do Sul, além de 300 do Paraná e do Rio Grande do Sul.

O coordenador geral, biólogo e presidente da FAASC Ivanir Cella expõe que Santa Catarina se destaca na esfera nacional. É o primeiro estado em produtividade, com 68 kg de mel por quilômetro quadrado, enquanto a média nacional é de apenas 4,8 kg. Dedicam-se à produção de mel e derivados 6.824 produtores rurais que cultivam 315.000 colmeias (50.000 dedicadas à polinização de frutíferas e as demais destinadas à produção de mel) e geram um volume que varia de 6.500 a 8.500 toneladas por ano.

O produto catarinense foi eleito e premiado internacionalmente como o melhor do mundo em cinco concursos sucessivos.

Essa condição resulta de fatores como clima, solo, manejo e principalmente, ausência total de resíduos químicos. Desde 2021 o mel barriga-verde tem selo de produto com indicação geográfica (IG) conferido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O gerente de desenvolvimento regional do Sebrae/SC Paulo Rocha destaca a importância dos eventos como fator de integração e atualização tecnológica de toda a cadeia produtiva do mel e demais produtos derivados das abelhas.

O foco central do Fórum de Integração será o planejamento estratégico para melhorar a eficiência e a otimização de recursos das políticas públicas e das pesquisas, assistência técnica, extensão rural e consultorias na criação de abelhas no sul do Brasil e os planos estaduais de desenvolvimento do setor.

O 2º COSBRAPIM, o 2º Simpósio dos Produtos de Colmeia e o 35º ECAM abordarão um extenso e variado leque de temas, envolvendo perspectivas de mercado, mortalidade de abelhas, legislação & controle de qualidade, nutrição, sanidade, elaboração de produtos das abelhas, transporte de rainhas, multiplicação de colônias, bem-estar, melhoramento genético e integração de meliponicultura em sistemas agroflorestais, entre outros. Também estão na pauta os assuntos própolis, um aliado importante contra a covid-19, mercado de mel e custos de produção.

 

 

S E R V I Ç O

 

Evento I:

Fórum de Integração entre pesquisas, políticas públicas, assistência técnica e extensão no setor de abelhas.

Data: 30 de junho, quinta-feira.

Horário: das 14 às 18 horas.

Local: Campus da Unochapecó.

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Eventos II, III e IV:

2º COSBRAPIM (Congresso Sul Brasileiro de Apicultura e Meliponicultura).

2º Simpósio dos Produtos de Colmeia.

35º ECAM (Encontro Catarinense de Apicultores e Meliponicultores).

Datas: dias 01 e 02 de julho.

Horário: 1º de julho (das 8 às 18 horas) e 2 de julho (das 8 às 12 horas).

Local: Campus da Unochapecó.

 

Festimel espera 60 mil visitantes em Balneário Pinhal

Um programa para o próximo fim de semana é a Festimel, que começa na sexta-feira (4/10) e vai até o outro domingo (13) em Balneário Pinhal, no litoral norte do Rio Grande do Sul, que tem como atração turística o Túnel Verde, formado por alguns quilômetros de eucaliptos que há décadas se debruçam sobre a RS-040, a rodovia que liga Porto Alegre a Tramandaí.
Na prefeitura de Balneário Pinhal, todos concordam com a prefeita Márcia Tedesco de Oliveira, que espera receber 60 mil visitantes, cinco vezes mais do que a população municipal.
Na primeira Festimel, realizada em 1997, apenas dois anos depois da emancipação do município antes pertencente a Cidreira, a cidade teve 50 mil visitantes pagantes, quando a população total de Balneário Pinhal não passava de 3 mil habitantes, distribuídos entre duas praias (Pinhal e Magistério) e o bairro Túnel Verde.
Este ano a festa será realizada na Praça Cidadão, com área de 6 mil metros quadrados, sendo 3 775 metros cobertos, onde estarão 77 expositores, entre eles 17 apícolas, 12 da agricultura familiar, 12 de artesanato, 13 comerciais e 14 de alimentação.
Referência para quem transita pelo litoral norte,  o Túnel Verde é um fenômeno criado por moradores da antiga Fazenda Pinhal, adquirida no final dos anos 1960 pelo grupo Renner Hermann, que implantou ali a Flosul, um dos maiores projetos de reflorestamento do Estado, com mais de 6 mil hectares de eucaliptos. Vem daí a tradição pinhalense de produzir mel, produto que se tornou um mote promocional do município.
Em 1976 a Flosul tinha tanto eucalipto plantado com incentivos fiscais que o diretor Raul Enech criou um departamento de apicultura para explorar a matéria-prima floral dos seus hortos florestais e de áreas de preservação natural.
No início era apenas um apiário próprio, cuidado pela família Valim, oriunda do interior de Osório. Nos anos seguintes foram admitidos apicultores-parceiros que já nos primeiros anos da década de 1980 mantinham dentro das áreas da empresa centenas de colmeias produzindo até 23 mil quilos de mel por ano. Quem mais se desenvolveu na apicultura dentro dos eucaliptos da Flosul foi a família Haupenthal, nome que virou marca conhecida de produtos apícolas até hoje produzidos nos eucaliptais de Capivari do Sul, Tramandaí e Palmares do Sul.
Embalado em potes de um e cinco quilos numa casa-de-mel construída pela própria Flosul, o mel de Pinhal era vendido na beira das estradas e colocado em consignação em bares e mercearias.
Segundo lembranças de Claudio Obino, engenheiro agrônomo que começou na empresa em 1983 como estagiário e se aposentou como diretor nos anos 2010, as sobras de mel dos anos de boas safras, guardadas em bombonas de 280 quilos, eram entregues a preço de liquidação para uma centenária fábrica de doces de Cachoeirinha.
Após um período de baixa atividade, a apicultura foi retomada na Flosul a partir de 2017/18 graças à iniciativa do recém-contratado engenheiro José Marcio Bizon, que trabalhara anteriormente na área florestal da Celulose Riograndense, onde os apicultores eram bem vindos. Entre os novos parceiros instalados dentro dos 6 400 hectares da empresa florestal-madeireira, destaca-se Edmilson Barrufi Camargo, membro de uma família da vizinha Osório tradicionalmente engajada na apicultura.
A volta da Festimel ao calendário turístico do litoral reflete o entusiamo da população pinhalense com a atividade apícola. Num Estado em que existem 90 associações em 597 municípios, Pinhal possui duas. A mais ativa é a de Túnel Verde, que elegeu como presidente, este ano, o veterano José Cunha, ex-presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) e vice-presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (FARGS), entidade que preparou para os últimos dias da Festimel o seu 23º seminário estadual, evento técnico durante o qual serão debatidas as perspectivas da apicultura no Estado e no Brasil no momento em que insetos polinizadores, especialmente as abelhas, estão sendo exterminados pelo uso abusivo de agrotóxicos em lavouras e pomares. (G.H.)