Mergulhadores localizam no Jacuí navio-presídio do tempo da Revolução Farroupilha

O mergulhador Flávio Ramires fez nesta quarta feira 23, as primeiras medições com ecobatímetro para localizar o Presiganga, navio-prisão que existia em Porto Alegre, ancorado no Guaíba e que teria afundado por volta de 1845.

Era comum nas cidades e colônias portuguesas a existência de navios-prisão, e a presença do Presiganga é registrada desde 1830, quando recebeu alguns alemães suspeitos de conspirarem contra o governo, entre eles o major Otto Heise.

Mas foi na Revolução Farroupilha (1835-1845)  que se ampliou a sua sinistra memória.  Ancorado no Guaíba, recebeu tanto os imperiais presos na tomada de Porto Alegre,  quanto os revolucionários presos na sua retomada.

Um dos prisioneiros, quando os farrapos tomaram a cidade, foi o major Manuel Marques de Sousa, futuro conde de Porto Alegre, que sofreu pelo resto da vida de reumatismo adquirido na prisão. Os presos ficavam no porão inundado com água até os joelhos.

Segundo Antonio Pereira Coruja, o mais antigo cronista de Porto Alegre, o coronel Gomes Jardim, Onofre Pires, o jornalista Pedro Boticário e o próprio Bento Gonçalves foram alguns dos farroupilhas que estiveram presos no Presiganga. Gomes Jardim morreu na prisão.

Na época da revolução já era um navio velho, quase sucata. Não se sabe a data em que afundou e não se tinha ideia da localização até que, há alguns anos, o velejador e mergulhador Geraldo Senna, fazendo outro trabalho, encontrou um fragmento do casco.

O antropólogo Marlon Borges já captou imagens via satélite de uma estrutura de uns 60 metros que está a uma profundidade estimada de 9 metros no fundo do Jacuí, a 150 metros da primeira ponte.

A análise dos dados pela varredura do ecobatímetro vai confirmar se é mesmo o Presiganga e indicar com mais precisão a posição do navio. A partir daí será feito um projeto para o resgate por mergulhadores.

Segundo Ramires, da Navegantes do Sul, que toca o projeto em parceria com o Cisne Branco, não será possível tirar o navio do fundo, provavelmente sua estrutura de madeira e ferro se desmancharia. Mas será possível entrar nele e retirar objetos e outros testemunhos.

 

Polícia investiga omissão de socorro ao congolês espancado até a morte na Barra da Tijuca

Ganha repercussão internacional o caso do congolês Moise Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, espancado até a morte na semana passada, no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, na zona Sul do Rio de Janeiro.

Os três homens que atacaram, um deles com um taco de beisebol,  já estão presos, mas a polícia agora investiga se houve “omissão de socorro” por parte da Guarda Municipal e dos que assistiram passivamente as cenas de brutalidade durante 15 minutos.

Pelo menos quatro pessoas que estavam no local já foram identificadas.

Os criminosos tentaram desqualificar a vítima, alegando que Moise estava bêbado e fazendo arruaça.  O 190, telefone de emergência , não foi acionado, e policiais do 31º BPM (Recreio), numa ronda, só pararam  porque viram uma ambulância no local.

“É normal alguém ver uma pessoa apanhando e não fazer nada? Quando eu passo na rua e vejo uma pessoa passando mal, eu compro uma água para ajudar. Tento fazer alguma coisa. Vendo aquela cena (as imagens da câmera do Tropicália, que mostram os três batendo em Moïse e outras pessoas assistindo) parece que, indiretamente, eles participam da morte do meu filho. Não me conformo — desabafou a mãe de Moise, a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, ao chegar à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) para depor nesta quarta-feira.

“Quem assiste a uma pessoa em perigo e nada faz é coparticipante do crime. Eu sinto descaso e falta de humanidade nas pessoas. Não se trata nem um cachorro assim. Somos pretos, africanos, e não sub-humanos. O Rio é uma cidade maravilhosa e não pode se sujar com atitudes como essa”.

Aleson, conhecido como “Dezenove”, alegou que bateu em Moïse com socos, e depois com um taco de beisebol, para “extravasar a raiva que estava sentindo” do congolês, pois ele estaria “perturbando havia alguns dias”.

Além dele, foram presos Fábio Pirineus da Silva, o Belo, e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota e deram a desculpa de que Moïse estaria alcoolizado e que tinha um histórico de confusões com outros funcionários e banhistas. Afirmaram ainda que a briga teria sido iniciada por que o congolês queria consumir bebidas de graça.

Segundo a família, porém, Moïse fora cobrar um pagamento atrasado do dono do quiosque para o qual havia trabalhado.

O advogado Rodrigo Mondego, que defende a família do congolês, rebateu a tentativa de culpar a vítima: “Ele não era uma pessoa aleatória, bêbada, como estão tentando construir”.

Outro a prestar depoimento foi o proprietário do Tropicália, Carlos Fabio da Silva Muzi, que não estava no quiosque no momento do espancamento. Disse que, no dia 19 de janeiro, cinco dias antes do assassinato, teria despedido o congolês, porque ele estaria embriagado no serviço. Disse que não devia nada a Moïse.

Um casal de namorados que testemunhou a agressão também já foi ouvido pela polícia. A jovem, que aparece no vídeo após as agressões, disse ter chamado dois guardas municipais, em ronda na praia, que não teriam ido averiguar a denúncia.

Os três agressores trabalhavam na praia. Belo e Tota atendiam em barracas na areia. “Dezenove” era funcionário de um quiosque vizinho ao Tropicália. A Justiça decretou as prisões temporárias dos três, acusados de homicídio duplamente qualificado.

A promotora Bianca Chagas ressaltou a crueldade do crime. “Frise-se, ainda, que as imagens comprovam toda a ação delituosa em seu mais alto grau de crueldade, perversidade e desprezo pela vida”, escreveu ela.

Dois dos suspeitos preso pelo espancamento e morte de Moïse Kabagambe tem antecedentes criminais.

Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, foi condenado pelos crimes de extorsão, porte de arma de fogo e corrupção de menores, cujas penas somadas deram oito anos de prisão.

Segundo reportagem do jornal Extra, ele participou de um sequestro na Barra da Tijuca em 2014, em companhia de um menor de idade. Numa ronda rotineira, na noite do dia 27 de maio de 2014, agentes da polícia militar suspeitaram de um veículo Ford Ka na Avenida das Américas e pararam o carro. Dois homens e uma mulher, que aparentava estar nervosa, foram obrigados a desembarcar.

Ao revistarem Patricia Pimenta Costa, os policiais verificaram que em sua bolsa havia um revólver calibre 38 com numeração raspada. A moça começou a chorar e disse que estava sendo mantida refém por Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e o menor J. S. C., que foram presos em flagrante.

A dupla abordou Patrícia num semáforo na altura do condomínio Flamboyants. Entraram no carro e pretendiam levá-la para Santa Cruz para que fazer saques em caixas eletrônicos e depois a liberariam.

Aleson foi condenado em 9 de setembro de 2015. Ele cumpriu um sexto da pena, o equivalente a um ano e dez meses, no Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói. Foi solto em liberdade condicional em julho de 2017.

Já Fabio Pirineus da Silva, o Belo, possui registro por falta de pagamento de pensão alimentícia e ameaça contra a ex-mulher.

Preso pela morte de Moise, Aleson foi levado junto aos dois outros suspeitos para a cadeia pública de Benfica. Em seu depoimento na Divisão de Homicídios, ele disse ser garçom e cozinheiro no quiosque Biruta e justificou sua participação no crime alegando que bateu na vítima com um taco de Beisebol para “extravasar a raiva que estava sentindo” do congolês, pois o estava “perturbando há alguns dias”. Após as agressões, ele contou ter ligado para o Samu, e permanecido no local, enquanto os demais autores fugiram.

O proprietário do quiosque Tropicália, Carlos Fabio da Silva Muzi, disse em seu depoimento que recebeu uma mensagem de áudio do barraqueiro Fábio Pirineus da Silva, o Belo, pouco depois das 23h de 24 de janeiro, contando o que aconteceu com o congolês naquela noite e perguntando se as câmeras do estabelecimento “estavam gravando”. Desconfiado da pergunta, o empresário respondeu a Belo que os equipamentos não estavam funcionando e o rapaz demonstrou então estar “aliviado”.

Recado de Lula é claro: o vice é escolha do candidato e o nome dele é Geraldo Alckmin

O fato político da semana foi a entrevista do ex-presidente Lula, na quarta-feira, 19, a oito jornalistas*  da mídia alternativa.

Por razões óbvias, teve pouca repercussão na mídia empresarial, embora o Valor tenha vinculado a queda do dólar e a alta na bolsa, naquele dia, ao tom moderado do discurso do líder nas pesquisas para a presidência.da República.

Lula começou dizendo que não seria “uma entrevista convencional” mas “uma conversa verdadeira” , com profissionais que defenderam sua inocência quando toda a imprensa se pautava-se pela Operação Lava Jato, que o levou à prisão.

Na verdade, foi um discurso programático, de duas horas, em que o pré-candidato petista traçou as linhas gerais do governo que pretende fazer se for eleito.

E deixou um recado bem claro: ele quer ser candidato, está imbuído da missão de reconstruir o Brasil, mas só vai em condições de vencer e governar.

As perguntas, quase todas longas e cheias de voltas, ele as usou como “escada” para encadear seu bem articulado discurso e o que se viu foi um líder de massas no melhor de sua forma, aos 76 anos.

A questão do vice, que divide opiniões no PT e na esquerda, foi levantada já na primeira pergunta, de Laura Capriglione, do “Jornalistas Livres”.

Ela enumerou as razões por que uma parcela do PT e da esquerda  rechaça o nome de Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula: “o massacre do Pinheirinho, a repressão a estudantes, perseguição a professores, as chacinas na periferia em 2016”. E perguntou: “É possível compor uma aliança com um cara desses?”

Lula respondeu paternal: “Sinto que você construiu uma série de defeitos para poder falar do Alckmin”.  E, em tom condescendente: “Deixa eu te dizer uma coisa:  todo o mundo fala dessa questão do vice, só não têm falado do assunto o Alckmin e eu, por uma razão muito simples: o Alckmin está sem partido, ainda não se definiu e eu ainda não defini se vou ser candidato”.

Em seguida mandou o recado aos dissidentes, que rejeitam Alckmin como vice.  Explicou que não vai ser “protagonista”. Se for candidato é para ganhar e para fazer mudanças, por isso está “construindo” parcerias, entre as quais está Geraldo Alckmin.

Relatou seu relacionamento com Alckmin,  como governador de São Paulo, nos quatro anos do seu primeiro mandato de presidente: “Não tivemos nenhuma divergência, nem ele, nem eu. Foi uma relação extraordinária”.

E emendou: “Não terei nenhum problema se tiver que fazer uma aliança com o Alckmin para ganhar, nenhum problema. Vamos trabalhar em cima de um programa voltado para os interesses do povo”.

Minimizou os fatos passados e disse que  Alckmin assumiu “oposição definitiva” ao governo Bolsonaro e ao “dorismo” (do governador João Dória, pré-candidato do PSDB) e que hoje representa o PSDB social-democrata de Mario Covas, José Serra, Fernando Henrique e Franco Montoro”.

“As pessoas podem evoluir”, sentenciou. E lembrou Teotônio Villela, o senador alagoano que se tornou um símbolo da luta pelas eleições diretas em 1984.

“O Teotônio tinha uma metralhadora  para atirar nos comunistas em Maceió na época do golpe de 64… depois foi um grande líder da campanha das (eleições) diretas”.

Disse que vai ganhar as eleições com um programa definido e claro, com o qual o vice-presidente e todos os aliados vão estar comprometidos:  “Só não posso dizer que vou fazer (a aliança com o Alckmin) porque ele ainda não tem partido e o meu partido precisa definir se vou realmente ser candidato”.

Rematou o recado contando “uma  história exemplar”: a maneira  como escolheu o empresário José Alencar para vice-presidente em 2002.

Alencar dono de um grupo que tinha 17 mil funcionários estava comemorando 50 anos de vida empresarial, Lula foi convidado. “Não estava a fim de ir. Esse cara é um burguesão lá de Minas, o que vou fazer lá?”.

Acabou indo e sentindo-se deslocado na festa, mas no fim o anfitrião fez um discurso, contou sua vida e ele gostou muito do que ouviu: “Eu disse ao Zé Dirceu: achei o meu vice”.  Não conhecia o Alencar.

Segundo Lula, José Alencar, escolha pessoal sua,  foi um vice dos sonhos “Duvido, que alguém tenha a sorte que tive de ter um vice como o Zé. O Alckmin terá que ser igual ou melhor que o Zé Alencar”.

  • Entrevistadores:

Laura Capriglione / Jornalistas Livres

Luiz Nassif / jornal GGN

Mauro Lopes/ Brasil 247

José Cassio / DCM

Ivan Longo / Revista Fórum

Eduardo Guimarães / Blog da Cidadania

Rodolfo Lucena / Tutameia

Paulo Donizetti / Rede Brasil Atual e Brasil de Fato

 

Jornada Lula Livre reúne multidão na UFRGS

Nesta sexta-feira, 5, ocorreu em Porto Alegre a inauguração da “Jornada Internacional Lula Livre”, movimento que se levanta para protestar, mais uma vez, contra a prisão do ex-presidente Lula, que completa um ano no domingo, 7.
Lideranças políticas e militantes do PT consideram que a prisão de Lula possui “caráter político” e exigem sua libertação imediata.
O ato, que reuniu uma multidão de militantes, foi organizado no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e contou com a presença do ex-presidenciável Fernando Haddad (PT), e a ex-deputada Manuela D’Avila (PCdoB).
Manifestantes exigem a libertação do ex-presidente Lula, que seria “preso político” (Foto: Ricardo Stricher)

Os políticos não pouparam críticas ao governo de Jair Bolsonaro, que completa, hoje, 100 dias. O Ministro da Justiça e Segurança pública, Sergio Moro, na época juiz responsável pela condenação em primeira instância de Lula, também foi criticado: “ele sempre quis entrar para a história às custas da história grandiosa de Lula”, opinou Manuela sobre Moro.
“Ele tem medo de tudo que não se parece com ele. Por isso que ele exalta a ditadura militar: porque é a negação da diferença. Ele tem uma dificuldade de exercer a presidência em ambiente democrático, por isso que todo dia solta uma ameaça”, disse Haddad sobre Bolsonaro.
A militância prosseguiu para o largo Glênio Peres onde protestaram contra a reforma da Previdência.
“É um retrocesso de mais de 100 anos”, declarou Haddad.

Amanhã, 6, a Jornada estará em Florianópolis (SC). Domingo é a vez de Curitiba (PR). A organização estima atos em outros 20 Estados e em 15 países.