Entrevista: “Brasil precisa da Antártica tanto quanto da Amazônia”

Em entrevista exclusiva, glaciólogo gaúcho explica a interdependência entre os pólos e os trópicos

Por Márcia Turcato

Jefferson Cardia Simões, 64 anos, é glaciólogo, estuda o gelo. Foi o primeiro brasileiro a ter essa especialização, ainda na década de 80, quando o Brasil vivia uma ditadura.

Longe de ser um pesquisador caricato, daqueles que aparecem em filmes, Simões é conversador e é um entusiasta da popularização da ciência, por isso sempre oferece exemplos cotidianos para explicar seu trabalho. Ele é casado há 40 anos com Ingrid Lorenz Simões, tem dois filhos e dois netos e é natural de Porto Alegre.

Foi em sua sala de vice-Pró-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que me recebeu por mais de duas horas para falar de seu trabalho mais recente.

O professor retornou dia nove de janeiro da Antártica, uma expedição iniciada no último dia quatro de dezembro. Ele viaja ao Polo Sul desde os anos 90 e também já esteve no Ártico e em outras regiões geladas do planeta. O trabalho consiste, basicamente, na realização de análises químicas da atmosfera e na coleta de testemunhos de gelo, que é uma espécie de paleontologia glacial, ou técnica palio climática.

De acordo com Simões, “o Brasil precisa parar de achar que é um país tropical isolado, isso não existe, é uma fantasia, foi uma fantasia geopolítica das décadas de 50 e 60. Para o meio ambiente global, as regiões polares são tão importantes quanto os trópicos”.

O professor salienta “que não teríamos clima se não houvesse essa diferença de temperatura entre os trópicos e os pólos. Centrar a visão só na Amazônia, evidentemente está errado”.

“A questão da Amazônia é mais ampla porque é território nacional, tem a biodiversidade de fauna e flora e tem população humana, mas nós também temos responsabilidade na Antártica”.

Simões explica que do ponto de vista ambiental, a Antártica e a Amazônia são regiões interdependentes e que mudanças climáticas sempre ocorreram e vão continuar ocorrendo, “mas a estratégia que precisamos adotar é de ações mitigadoras e de adaptação”.

O professor Simões tem graduação em Geologia pela UFRGS. Isso em 1983, quando recebeu uma bolsa do CNPq, e foi estudar Glaciologia em Cambridge, na Inglaterra, onde ficou por seis anos. Chegou a trabalhar no Serviço Antártico Britânico. Naquela época o Programa Antártico Brasileiro – Proantar, era recente, e precisava de especialistas. “Eu cheguei no momento certo e as coisas se encaixaram”.

O gelo antártico tem até 2 km de espessura, são cerca de 27 milhões de km cúbicos de gelo na Antártica, o suficiente para cobrir o Brasil com um manto de gelo de 3 km de espessura em toda a sua extensão. O território brasileiro tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

A pesquisa

Para chegar na Antártica, o custo da viagem de Simões é de 800 mil dólares, enquanto pesquisadores de outros países viajam por cerca de um milhão de dólares e às vezes até o triplo desse valor.

A última expedição do brasileiro contou com parcerias financeiras do CNPq, National Geographic e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS- Fapergs.

As pesquisas feitas pelo Brasil alcançaram um período de três mil anos e as amostras coletadas estão guardadas no Instituto de Mudanças do Clima, no Maine, nos Estados Unidos, na temperatura de 20 graus centígrados negativos.

Cem metros de perfuração no gelo equivalem a 400 anos de tempo. As informações contidas no gelo coletado mostram qual é a concentração de água, isótopos, minerais e outros elementos.

Com isso, os cientistas têm condições de avaliar como era o clima e a vida naquele período, comparar com outras épocas e fazer projeções, por exemplo.

Pesquisas recentes na Antártica indicam que o gelo continha traços de contaminação por urânio, resultado de uma mina a céu aberto na Austrália no século 19. Também foram encontrados traços de cobre no gelo, por conta de minas no Chile, mas que diminuíram graças a intervenção recente do governo de Gabriel Borić  que adotou medidas de mitigação da poluição.

Pesquisadores da França e da Itália já alcançaram testemunhos de gelo de 800 mil anos na Antártica, com perfurações de 3.200 metros na área do Domo C, também conhecido como Dome Circe, Dome Charlie ou Dome Concordia, que está a uma altitude de 3.233 metros acima do nível do mar, é um dos vários cumes ou cúpulas do manto de gelo antártico.

Em breve, pesquisadores da China, em parceria com europeus, pretendem alcançar 1,5 milhão de anos no Domo A, perfurando 4 mil metros no meio do continente Antártico com uma temperatura de  93 graus centígrados negativos durante o inverno.

A água do oceano austral está ficando acidificada por excesso de  CO2, cerca de 30% dele já foi parar nos oceanos desde a primeira Revolução Industrial no século 18, e isso altera toda a flora e fauna dos mares, pode modificar correntes marítimas, mudar a temperatura na costa e tem efeito sobre o clima nos continentes.

“As regiões polares são mais sensíveis às mudanças climáticas e elas nos dão sinais do que está acontecendo”, explica o professor. O derretimento das geleiras expõe as rochas e elas aquecem a região porque propagam calor.

A temperatura subiu no Ártico 3 graus, em relação ao ano de 1900. A navegação marítima é afetada com o degelo no mar, surgem novos portos, novas rotas comerciais, nova geopolítica e até militarização em novas fronteiras.

A expedição

A expedição mais recente de Simões chegou à Antártica no dia 4 de dezembro de 2022, como parte de projetos de redes de pesquisa internacionais. O grupo contribuiu com estudos que monitoram a resposta do gelo da Antártica às mudanças globais e busca  conexões entre o clima do Brasil e o do continente.

A região onde o grupo ficou recebe sua precipitação de dois mares, o de Amundsen, com uma camada de gelo que pode chegar a três metros de espessura, e o de Bellingshausen.  Nesses dois mares se formam grande parte das frentes frias que chegam ao Brasil.

A expedição foi liderada por Simões, com os colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Luiz Fernando Magalhães Reis, 65 anos; Ronaldo Torma Bernardo, 54 anos, e Filipe Ley Lindau, 35 anos. Integram o grupo Ellen de Nazaré Souza Gomes, 50 anos, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Jandyr de Menezes Travassos, 70 anos, da Coppe/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O grupo ficou acampado na geleira da Ilha Pine, no meio do manto de gelo da Antártica Ocidental. O objetivo era obter um testemunho de gelo dos últimos 400 a 500 anos da história climática da região.

Um outro grupo ficou encarregado de fazer a manutenção do módulo Criosfera 1, o laboratório latino-americano mais ao Sul na Terra, a 640 km ao Norte do Pólo Sul Geográfico. O módulo mede dados meteorológicos, concentração de micropartículas, composição da atmosfera, estudos sobre a concentração de gases e raios cósmicos.

Faz também estudos de micro-organismos encontrados na neve. Todas as pesquisas são essenciais para entender o impacto das mudanças ambientais na Antártica e como elas se refletirão na América do Sul.

Essa equipe foi liderada por Heitor Evangelista, 59 anos, físico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e contou com os pesquisadores Heber Passos, 60 anos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Franco Nadal Junqueira Villela, 46 anos, do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Um terceiro grupo chegou à Antártica no dia 9 de dezembro para complementar a instalação do módulo Criosfera 2, o segundo laboratório remoto brasileiro no interior da Antártica.

Participantes da equipe: o professor Simões, que se juntou ao grupo no dia 30 de dezembro, os gaúchos Francisco Eliseu Aquino, geógrafo e climatologista, 52 anos, professor da UFRGS; a geógrafa Venisse Schossler, 46 anos, pós-doutora da UFRGS; o geógrafo Isaías Ullmann Thoen, 40 anos, técnico em geoquímica e eletrônica, da UFRGS; e o chileno Marcelo Arevalo, 62 anos, engenheiro mecânico.

Amazônia  e gelo

Além dos pólos (Antártica e Ártico), Simões também faz pesquisas em outras regiões geladas, como na cordilheira dos Andes. Ele coletou amostras na maior calota de gelo da América do Sul, a Quelccaya, no Peru, em perfurações de 120 metros, a 5.700 metros de altitude, para avaliar como se dá a circulação atmosférica na amazônia e conhecer como era o clima antes dos portugueses e do espanhóis chegarem à América. O Peru concentra 70% do gelo tropical do mundo.

Esse trabalho é recente, começou em setembro de 2022 e deve trazer muito conhecimento à tona. Quelccaya também é conhecida como a maior geleira tropical do mundo, tem 17 km de extensão, uma área de 44 km quadrados e está apenas 5,1 km da cidade de Cusco, mas o acesso é muito difícil e exige preparo físico. A temperatura média na região é de zero grau. É um lugar muito procurado por turistas praticantes de montanhismo.

A calota de gelo de Quelccaya é a maior área glaciar dos trópicos, cobrindo aproximadamente 44 km² nos Andes peruanos. Desde 1978, Quelccaya perdeu 20% de seu tamanho, fenômeno que costuma ser citado por pesquisadores como um sinal das mudanças climáticas.

Porém, existe a dúvida se o derretimento do glaciar é consequência do aquecimento global ou de alguma outra alteração climática, como a diminuição da precipitação de neve.

Glaciólogos de outros países estudam Quelccaya desde 1970 e já perceberam um forte derretimento do glaciar e um consequente aumento do volume de água dos riachos locais, o que pode até provocar inundações no futuro.

O futuro

“Milagrosamente é preciso dizer que o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) sempre foi muito apoiado pelos governos”, revela o professor, explicando que no primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003 a 2006) os recursos para pesquisas chegavam por intermédio do então Ministério do Meio Ambiente/Ibama e depois pelo Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação  (MCTI). O Proantar é administrado pela Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar.  No entanto, o último edital para pesquisas do Proantar é de 2018, “estamos esperando a publicação de um novo edital para breve”, diz Simões.

O pesquisador explica que a questão do meio ambiente é global e que os pólos estão inseridos na nossa vida, assim como a Amazônia, há uma interdependência.  Mudanças climáticas sempre existirão, mas é necessário reduzir o impacto sobre a sociedade. Mesmo que parassem todas atividades que geram impacto sobre o clima agora, mesmo assim o nível do mar subirá 30 cm até o ano 2100.

Para Simões, “os pesquisadores precisam ter mais interação com o Poder Legislativo porque é lá que as leis são feitas, a comunidade científica não pode ficar isolada. O reconhecimento ao trabalho científico não vem sozinho, o cientista precisa ir à sociedade e falar.  Precisamos inserir a ciência na linha de produção mas, veja, ainda há trabalho análogo à escravidão no Brasil. Estamos muito atrasados.”

E completa:  “precisamos inserir a ciência no Ensino Médio. A crise ambiental faz parte de uma crise civilizatória. Há concentração de renda, trabalho escravo, mas o planeta é finito, não pode ser explorado como se estivesse numa linha de produção. O futuro de qualquer país é o investimento massivo em ciência e tecnologia, não concentrar renda e ter qualidade na educação e na produção”.

De acordo com o professor, toda a comunidade científica está esperando mais recursos e que o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia, criado para financiar a construção do conhecimento, seja de fato implementado com a publicação de editais.

Simões diz que o Brasil precisa financiar projetos inovadores tanto para ciências básicas como para ciência aplicada para o uso de tecnologia na indústria, no agronegócio e na agricultura e pecuária em geral, em diferentes escalas, ter um ensino médio que tenha ciência na sua grade curricular e, para isso, “é necessário acabar com essa reforma ridícula que o governo passado fez, que destruiu a educação”.

O professor Jefferson Cardia Simões é titular de Glaciologia e Geografia Polar da UFRGS, é vice-Pró-Reitor de Pesquisa da UFRGS, Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e é pioneiro da Ciência Glaciológica no Brasil. Atualmente é Vice-Presidente do Scientific Committee on Antarctic Research/Conselho Internacional de Ciências (SCAR/ISC), com sede em Cambridge, Inglaterra. Ele obteve seu PhD pelo Scott Polar Research Institute, University of Cambridge, em 1990. É pós-doutor pelo Laboratoire de Glaciologie et Géophysique de l’Environnement (LGGE) du CNRS/França e pelo Climate Change Institute (CCI), University of Maine, EUA. Leciona e orienta alunos de graduação e pós-graduação em Geociências e Geografia.

Toda sua carreira foi dedicada às Regiões Polares, tendo publicado 210 artigos científicos, principalmente sobre processos criosféricos. Pesquisador do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), é consultor ad-hoc da National Science Foundation – NSF (Office of Polar Programs).

Simões participou de 28 expedições científicas às duas regiões polares, criou o Centro Polar e Climático da UFRGS, a instituição que lidera no Brasil a pesquisa sobre a neve e o gelo. Ele coordena a participação brasileira nas investigações de testemunhos de gelo antárticos e andinos e faz parte do comitê gestor da iniciativa International Partnerships in Ice Core Sciences (IPICS). Recebeu o Prêmio Pesquisador Destaque da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) por sua contribuição à pesquisa antártica.

Fotógrafo registra degelo nas montanhas em todo o mundo; leia entrevista

Por Márcia Turcato

Ele é cidadão do mundo. Mas seus documentos dizem que é brasiliense, apesar de ter nascido em Curitiba e ter parentes em Porto Alegre. Quando menino viajava para a praia de Torres com a família. O diploma universitário, da UnB, entrega que é bacharel em História. Mas ele combina o conhecimento acadêmico com atividades de fotografia, escalada, navegação, organizador de expedições antárticas ou para qualquer outro canto do planeta onde a curiosidade possa provocá-lo.

O dono desse perfil é João Paulo Barbosa, 49 anos de idade, primogênito do químico Antônio e da advogada Joy, tem três irmãos, casado com a professora Aline Bacelar, pai do pré-adolescente Ian, e atualmente tendo a capital paulista como endereço residencial.

João Paulo atuou como pesquisador convidado da Faculdade de Educação da UnB e foi curador do Museu Virtual de Ciência e Tecnologia. Desde 1999, promove cursos, palestras e expedições ao redor do mundo.

Seu trabalho foi premiado, exibido e publicado em cerca de 50 países e reconhecido pela National Geographic Society (EUA, Alemanha e Itália), Smithsonian Institution (EUA), Bruckmann (Alemanha), Banff Centre (Canadá), CICI (Coreia do Sul), The Guardian (Inglaterra),  Glénat (França), Patagon Journal  (Chile) e ICMBio, WWF e Greenpeace no Brasil, entre outros.

Suas fotografias fazem parte de coleções particulares e de acervos como o National Museum of the American Indian, em Washington DC, Museu de Fotografia de Fortaleza (Ceará), Instituto Moreira Salles, Itamaraty e Memorial dos Povos Indígenas.

A partir de 2011, João Paulo começou a fazer viagens rotineiras à Antártica e atualmente está dedicado à documentação fotográfica e histórica das zonas frias do planeta para registrar as alterações provocadas pela ação humana.

Tem 10 livros publicados. O último, de crônicas de viagem, é Caminhos Imprevisíveis, edição limitada, onde ele diz “se eu tivesse que ter apenas um livro, teria um Atlas”.

Conheci o João Paulo há cerca de 30 anos. Estávamos no mesmo grupo que fazia uma trilha de jeep pelo Cerrado. Ele ainda era estudante de História e desde já apaixonado pela Antártica, onde eu já estivera para escrever ampla reportagem para a revista Isto É (edição 582, de 17 de fevereiro de 1988)  e este foi nosso laço em comum. Também estivemos juntos em algumas competições off road e numa reportagem sobre turismo de aventura no Amapá.

Depois perdemos o contato porque João Paulo não parou mais de viajar. E se fosse possível percorrer a galáxia, com certeza ele já teria feito.

Por tudo isso, foi um enorme prazer reencontrá-lo e fazer essa entrevista para que os leitores do JÁ possam conhecê-lo e também o  trabalho que realiza.

JÁ- Qual o principal foco das tuas viagens?

JP-Faço viagens e faço expedições. As expedições envolvem muita logística, equipamentos e pessoas, também tomam mais tempo de preparação e organização.  Varia muito o meu foco, às vezes eu estou participando de um projeto para fazer um livro ou uma exposição fotográfica. Às vezes eu viajo só para fazer uma escalada, como aconteceu recentemente no Paquistão. Mas preciso destacar que a viagem para o Paquistão também envolveu a relação com o clima, porque estou envolvido em um projeto sobre o gelo, é um projeto de quatro anos, estou fotografando o gelo ao redor do mundo e os glaciares do Paquistão fazem parte do projeto. Também faço viagens com cunho social porque  trabalho para algumas organizações não governamentais (ongs), principalmente inglesas, para fazer reportagens. Já participei de expedições científicas, como o projeto Darwin, programas antárticos do Brasil e também do Chile, e projetos com universidades. É bem variado meu leque de temas mas todos eles têm viagens.

JÁ- Como é esse projeto sobre o gelo no mundo?

JP-  O N’Ice Planet​ é um projeto pessoal e consiste na realização, ao longo de quatro anos, ​de ​expedições ao redor do mundo para documentar zonas frias e divulgar as principais questões relativas ao gelo, como os dilemas populacionais​, as migrações por conta de mudanças climáticas e o risco de extinção dos povos árticos. Também mostro ativistas​ ambienta​is que trazem mensagens importantes​​, que fazem alertas sobre os riscos que o planeta experimenta, relato conversas com cientistas e mostro trabalhos de geoengenharia que eles desenvolvem, e também procuro documentar o que está sendo feito para mitigar os efeitos do aquecimento global e o consequente derretimento do gelo. É um projeto inédito e relevante por sua proposta abrangente e popular. Os conteúdos produzidos serão divulgados ​regularmente em redes sociais e diversas mídias com o objetivo de instigar o público a refletir, discutir, indagar e atuar por soluções junto aos governantes.

Documentar a urbanização das mais altas montanhas geladas do planeta é dos mais tristes temas que compõem a minha pesquisa sobre o gelo no Antropoceno (termo empregado pelo químico holandes Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de química de 1995, para designar uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra).

Será que logo mais haverá um hotel sofisticado na montanha K2 (também chamada Qogir Feng, no Himalaia), a exemplo do que já acontece no Aconcágua e no Everest? O black carbon (concentração de fuligem na atmosfera) acelera o derretimento das geleiras. Há 30 mil refugiados do clima na região do Himalaia apenas no último Verão.

JÁ- Qual foi a tua primeira grande viagem?

JP- A primeira grande viagem foi o nascimento, a segunda grande viagem foi minha adoção (João Paulo foi adotado em Curitiba quando tinha  pouco mais de um ano de idade, e veio com os pais  para Brasília. Se considera brasiliense.) A terceira grande viagem  foram os sete meses que vivi na França (João Paulo acompanhou a família durante o pós-doutorado do pai em Paris). Depois disso vieram inúmeras viagens, todas também importantes e inesquecíveis.

JÁ- Quais as melhores viagens e qual a sua região preferida?

JP- Existem muitas melhores viagens. Inclusive a da imaginação, que é viajar quietinho. A viagem a Ásia, que comento em meu último livro (“Caminhos Imprevisíveis”, Editora Caseira e Ateliê Casa das Ideias), foi entre 2007 e 2008.  Fiz uma viagem de 480 dias que foi muito importante pra mim, quando vi o Himalaia pela primeira vez e fiquei alguns meses na região, mas eu gosto muito do deserto do Atacama, gostei muito das duas expedições que fiz ao Pico da Neblina, em Roraima, na área Yanomami, que chamamos de Yaripo, que significa Montanha do Vento. A Patagônia, principalmente os fiordes da Terra do Fogo, que são lugares em que eu frequento de veleiro, é um lugar lindíssimo (veleiro Kotik, de 40 toneladas,  60 pés, cinco camarotes e  espaço para  10 pessoas). E claro, meu lugar preferido é a Antártica, a Península Antártica e a costa oeste da península, que acho muito especial.

JÁ- Quantas vezes você esteve na Antártica?

JP- Neste mês de fevereiro de 2023 eu vou participar da minha nona expedição antártica e será minha sétima embarcado no  veleiro Kotik, do comandante francês Igor Bely.

JÁ- Qual a melhor experiência que você experimentou numa dessas viagens?

JP- Quando eu tinha 18 anos de idade e estava no norte do Canadá,  em Quebec, e vi a aurora boreal foi uma experiência fantástica, eu estava acampado com seis amigos. A aurora boreal durou horas, muito colorida, foi emocionante. Os primeiros mergulhos utilizando garrafa (cilindro com oxigênio) também foram emocionantes. Escalar o Aconcágua (maior montanha da cordilheira do Andes, na Argentina, com 6.961 metros de altura), sozinho, aos 20 anos, também foi muito emocionante. Em 2014, na minha terceira viagem para Antártica a bordo do veleiro Kotik foi incrível porque eu sonhava em viajar nesse barco e com uma galera que eu sonhava muito em estar junto. Durante muito tempo eu chorei de emoção ao chegar na Antártica e chorava de tristeza quando tinha de ir embora. Também preciso falar de uma outra  experiência ótima, quando subo montanhas e vulcões com amigos, sem mídia, sem publicidade, só por amizade e com esforço físico. Em 2020 eu tive a experiência de remar por nove dias, na Antártica, numa canoa polinésia para três pessoas, a V3, e eu remei com dois campeões brasileiros de canoa.  Inclusive eles são representantes do Brasil no campeonato mundial de canoagem  (os remadores  Marcelo Bosi e Rudah Caribe).  Isso foi muito bom.

JÁ- Qual a maior dificuldade que você experimentou?

JP- Essa é fácil. É o estreito de Drake (também chamado de mar ou passagem). Passar o estreito de Drake em um veleiro não é brincadeira não. Eu já passei quase 20 vezes, contando ida e volta. A travessia leva cerca de quatro dias, então é inevitável passar por pelo menos uma grande tormenta. Três vezes foram terríveis, de terror e pânico. Pensei que ia morrer, mas lembrei que estava num barco feito para essa situação adversa, com mono casco de aço, feito por um ex-cientista da Nasa, com uma tripulação incrível, e então não me entreguei emocionalmente, reagi. O corpo fica acabado, mas o espírito aguenta. O estreito de Drake é o maior perrengue da galáxia.

JÁ- Qual a melhor forma de viajar, sozinho ou em grupo?

JP- Eu tenho quatro formas de viajar: sozinho, com a família, com  amigos e por conta do trabalho. Todas são muito legais. Mas eu gosto muito de viajar sozinho e recomendo que todo mundo tenha essa experiência. É muito importante viajar sozinho para aprender, para se misturar com a população local. Entretanto, tem lugares que é muito bom viajar com um grupo de amigos para se divertir com eles, como eu fiz nos fiordes da Terra do Fogo.

JÁ- Você tem parentes em Porto Alegre. Como é essa relação?

JP- Eu tenho uma tia avó, Marília Escosteguy, ela tem 102 anos de idade, mora na rua Jacinto Gomes, no bairro Santana. Ela é uma mulher fantástica, ela apresentava um programa na antiga TV Tupi, quando viveu no Rio de Janeiro. Foi casada com o artista plástico e escritor Pedro Geraldo Escosteguy – de Santana do Livramento-  que também é médico, já falecido. O Pedro tinha um acervo literário e artístico incrível, e que agora está disponível ao público no Departamento de Literatura da UFRGS.

Eu aprendi muitas coisas com a minha avó e também viajei com ela para praias gaúchas, lembro bem de Torres. Aprendi principalmente a ter cuidado com as coisas, a ter carinho com os objetos e com tudo, com as pessoas também, obviamente. Na casa dela tudo é muito cuidado, tudo merece respeito, uma coisa meio assim oriental. E por conta dela eu tenho muito carinho por Porto Alegre.

O MAR DE DRAKE

Mar onde há mudanças bruscas nas condições de temperatura, visibilidade e, principalmente, do vento.  Comandantes de aeronaves e de navios passam por processo de treinamento especial para operar nessa área. O Mar de Drake é o terror dos navegantes. Estima-se que 800 embarcações tenham naufragado em suas águas.

É o ponto mais austral da América do Sul e mais próximo da Península Antártica, com 650 km de extensão e quase cinco mil metros de profundidade, onde os oceanos Atlântico e Pacífico se encontram, se afunilam e se confrontam num grande espetáculo, provocando ondas gigantes.  Até a base brasileira, a Comandante Ferraz, são 900 km de distância.

Mais informações no Instagram: @ joaopaulobarbosaphotography

157 países encaram a guerra à poluição plástica na Assembleia da ONU para o Meio Ambiente

Representantes de 175 nações aprovaram hoje uma resolução histórica na Assembleia da ONU para o Meio Ambiente (UNEA-5), em Nairóbi, pelo Fim da Poluição Plástica. A resolução visa a estabelecer um acordo internacional juridicamente vinculante até 2024. Além disso, aborda todo o ciclo de vida do plástico, incluindo sua produção, design e descarte.

“No cenário atual de turbulência geopolítica, a Assembleia da ONU para o Meio Ambiente mostra o melhor da cooperação multilateral”, disse o Presidente da UNEA-5 e Ministro de Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide. “A poluição plástica se transformou em uma epidemia. Com a resolução de hoje, estamos oficialmente no caminho certo para uma cura”.

A resolução, que se baseia em três propostas iniciais de várias nações, estabelece um Comitê Intergovernamental de Negociação (INC, na sigla em inglês), que entrará em funcionamento em 2022, com a meta de concretizar uma proposta para um acordo global juridicamente vinculante até o fim de 2024.

A expectativa é de que seja apresentado um instrumento juridicamente vinculante, que atenda a diversas alternativas para abordar todo o ciclo de vida do plástico, o design de produtos e materiais reutilizáveis e recicláveis, e a necessidade de uma maior colaboração internacional para facilitar o acesso à tecnologia, à capacitação e à cooperação científica e técnica.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) convocará, até o final de 2022, um fórum aberto a todas as partes interessadas, em conjunto com a primeira sessão do INC, para trocar conhecimentos e melhores práticas entre as diferentes partes do mundo. O fórum facilitará discussões abertas e garantirá que estas serão fomentadas pela ciência, com registros quanto aos progressos atingidos ao longo dos próximos dois anos. Por fim, ao fim do trabalho do INC, o PNUMA organizará uma conferência diplomática para a aprovação do resultado e disponibilizará as assinaturas.

“O dia de hoje marca um triunfo para o planeta com relação aos plásticos de uso único. Este é o acordo ambiental multilateral mais importante desde o acordo de Paris. É uma política de seguro para esta geração e outras futuras, para que possam viver com o plástico e não ser condenados por ele”, afirmou Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA.

“Que fique claro que o mandato do INC não permite a nenhuma parte interessada uma pausa de dois anos”. Em negociações paralelas sobre um acordo juridicamente vinculante, o PNUMA trabalhará em conjunto com todos os governos e empresas interessados que estejam envolvidos na cadeia de valor para substituir os plásticos de uso único, assim como para mobilizar o financiamento privado e remover barreiras de investimento na pesquisa e em uma nova economia circular do plástico”, acrescentou a diretora.

A produção de plástico subiu de dois milhões de toneladas em 1950 para 348 milhões em 2017, tornando-se uma indústria global avaliada em 522,6 bilhões de dólares, e esse número está previsto para duplicar até 2040. Os impactos da produção do plástico e da poluição resultante na tripla crise planetária de mudança climática, perda da natureza e poluição são uma catástrofe prestes a acontecer:

A resolução histórica, denominada “Fim da Poluição Plástica: rumo a um instrumento internacional juridicamente vinculante” foi adotada com a conclusão da reunião de três dias da UNEA-5.2, na qual participaram mais de 3.400 pessoas presencialmente e 1.500 de forma on-line, oriundas de 175 Estados membros da ONU – incluindo 79 ministros e 17 funcionários de alto nível.

A Assembleia será sucedida pelo “PNUMAaos50”, uma sessão extraordinária de dois dias da Assembleia que celebrará o aniversário de 50 anos do PNUMA, no qual Estados membros deverão abordar como construir um mundo pós-pandêmico resiliente e inclusivo.

Leia a resolução aprovada na íntegra.

PNUMA aos 50: Um momento para refletir sobre o passado e imaginar o futuro

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972 em Estocolmo, Suécia, foi a primeira da ONU cujo título trouxe a palavra “meio ambiente”. A criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi um dos resultados mais notórios dessa conferência, que teve diversas iniciativas pioneiras. O PNUMA foi criado basicamente para ser a consciência ambiental da ONU e do mundo. As atividades que ocorrerão ao longo de 2022 analisarão os avanços relevantes já realizados, bem como o que está por vir nas próximas décadas.

Fonte: Envolverde

Mapa mostra navios petroleiros “encalhados” ao redor do mundo

Este mapa mostra a posição atual dos navios petroleiros. Estão “encalhados” ao redor do mundo por não ter como descarregar, já que armazéns em terra estão lotados, tubulações estão lotadas, e sem fluxo, pela baixa demanda do petróleo.

Embora o óleo hoje valha zero, mantê-los nessas condições (detidos) custa cerca de 30.000 dólares diários por navio. Não há quem compre petróleo se os aviões não voam, se os veículos não transitam na cidade.

Nunca na história contemporânea, aconteceu uma redução tão drástica do consumo de combustíveis fósseis. O petróleo está parado, hoje, sobre a superfície dos oceanos (nos tanques dos navios), nos depósitos que há em terra e dentro dos canos que normalmente são usados para transporte.

Não tem índice mais claro para entender a magnitude da paralisia e os problemas que o capitalismo moderno enfrenta, já que o lastro do dólar é esse, parado, boiando nos oceanos.

Água acumulada na usina nuclear de Fukushima é desafio para cientistas

Um painel de especialistas foi criado pelo governo do Japão, para estudar como deve ser feito o descarte de água radioativa acumulada na usina nuclear Fukushima.
Os técnicos trabalham com duas opções para o descarte da água contaminada: nos oceanos ou no ar.
O painel de especialistas criado pelo Ministério da Economia, Comércio e Indústria apresentou o esboço da proposta inicial.
A água utilizada para resfriar o combustível nuclear derretido no acidente de março de 2011 é tratada para que a maior parte das substâncias radioativas seja retirada, mas algumas partículas, como o trítio, não podem ser removidas.
Ao todo, 1,2 milhão de tonelada de água contaminada encontra-se em tanques no complexo da usina, com a quantidade aumentando 170 toneladas por dia.
Uma das possibilidades para o despojo é misturar a água contaminada com água do mar para reduzir os níveis de radiação antes de descartar a mistura no mar.
A outra alternativa seria aquecer a água contaminada até cerca de mil graus Celsius, deixando o vapor resultante evaporar através do sistema de ventilação. Membros do painel também teriam avaliado três outras opções, descartadas por falta de viabilidade.
O painel chamou a atenção para o fato de que, independentemente de qual método seja implementado, a decisão irá impactar negativamente a imagem da região.
O governo, responsável pela decisão final, irá levar em consideração a proposta do painel para redigir seu relatório sobre o problema.
No entanto, o descarte da água contaminada no meio ambiente irá contar com uma forte oposição, principalmente de trabalhadores da indústria pesqueira e residentes locais.
(Com informações da Agência Brasil)

Concentração de gases do efeito estufa na atmosfera é a maior já registrada

A concentração dos principais gases do efeito estufa na atmosfera alcançou em 2018, os maiores níveis já registrados, segundo boletim da Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).
Os dados foram divulgados nesta segunda feira, 25.
“Não há indícios de desaceleração visíveis”, registra o boletim. Os gases em questão são os principais causadores das mudanças climáticas.
O  alerta foi divulgado poucos dias antes do início da reunião anual da ONU sobre a luta contra a mudança climática, a COP25, que ocorre de 2 a 13 de dezembro, em Madri.
“Não há indícios de que vá acontecer uma desaceleração, e muito menos uma redução, da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, apesar de todos os compromissos assumidos no Acordo de Paris sobre a mudança climática”, disse o secretário-geral OMM, Petteri Taalas, por ocasião da publicação do boletim anual sobre concentrações de gases do efeito estufa.
De acordo com os cientistas, o dióxido de carbono (CO2), que está associado às atividades humanas e é o principal gás causador do efeito estufa que permanece na atmosfera, bateu um novo recorde de concentração em 2018, de 407,8 partes por milhão (ppm). Ou seja, nível 147% maior que o pré-industrial de 1750.
“Cabe recordar que a última vez que a Terra registrou uma concentração de CO2 comparável foi entre 3 e 5 milhões de anos atrás. Na época, a temperatura era de 2 a 3 °C mais quente e o nível do mar era entre 10 e 20 metros superior ao atual”, afirmou Taalas em um comunicado.
Década mais quente da história
Além disso, a OMM destacou que o aumento anual da concentração de CO2, que persiste durante séculos na atmosfera e ainda mais tempo nos oceanos, foi superior à taxa média de crescimento dos últimos 10 anos.
De acordo com as observações dos cientistas, as concentrações de metano (CH4), que aparece em segundo lugar entre os gases do efeito estufa com maior persistência, e de óxido nitroso (N2O) também aumentaram mais que a média anual da última década.
O metano, cujas emissões são provocadas em 60% pela atividade humana (gado, cultivo de arroz, exploração de combustíveis fósseis, aterros, etc), e o óxido nitroso, com 40% das emissões de origem humano (fertilizantes, processos industriais…), também alcançaram níveis máximos de concentração.
O óxido nitroso, além disso, tem um forte impacto na destruição da camada de ozônio, que filtra os raios ultravioleta.
Diante da emergência climática, os países se comprometeram, em 2015 em Paris, a adotar planos de redução das emissões de gases do efeito estufa, mas as emissões mundiais não param de crescer.
Petteri Taalas pediu aos países a “cumprir os compromissos em ação e aumentar o nível de ambição em nome do bem-estar futuro da humanidade”.
No início de novembro, no entanto, o governo do presidente Donald Trump oficializou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris.
Os quatro maiores emissores de gases do efeito estufa – China, Estados Unidos, União Europeia e Índia – representam 56% das emissões globais.
Apenas a UE (9% do total) está a caminho de cumprir, ou até superar, seus objetivos, de acordo com um estudo recente da ONG americana Fundação Ecológica Universal (FEU-US).

Base da Antartida será reinaugurada sem verba para pesquisas

O presidente Jair Messias Bolsonaro fará no próximo dia 12 uma visita relâmpago de 25 minutos à estação de pesquisa Comandante Ferraz, restaurada parcialmente do incêndio que a destruiu em 2011, na Antártica.
Conformados com o evento de reinauguração, que deverá mobilizar um grande aparato de logística e segurança, os cientistas que pesquisam no local, onde se revezam para manter sempre ocupadas as instalações da base num container de aço, esperam que a visita presidencial sirva para despertar o governo quanto à necessidade de garantir verbas para pesquisas.
É exatamente por escassez de recursos que a estação de pesquisas ainda não foi reconstruída totalmente.
O aperto financeiro se agravou com a crise política no Chile, país que deixou de depositar dias atrás o valor da quota periódica que lhe caberia honrar como parceiro do empreendimento.
Uma das pesquisas mais antigas e importantes da base é sobre as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento da Terra em consequência da acumulação de partículas dispersas na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis e de biomassa.
Preparado para passar uma nova temporada na base de pesquisa recém-restaurada na Antártica, o geógrafo Francisco Eliseu Aquino, do Centro Polar da UFRGS, que conduz estudos sobre a influência das mudanças climáticas nos desastres naturais do Sul do Brasil – o maior deles, o furacão Catarina em 2004 –, diz que os cientistas estão preocupados com o aquecimento global não apenas porque se trata de um fenômeno real, confirmado pelos meteorologistas de todo o mundo, mas porque se acumulam evidências de que as coisas estão se agravando:
1 – O degelo dos pólos é preocupante, já que a função do gelo e da neve é resfriar a Terra, sabendo-se que a Antártica contém 90% do gelo da Terra, enquanto o Ártico está derretendo
2 – A elevação do nível dos oceanos ameaça cidades litorâneas. Na ilha de Tuvalu, com cerca de 15 mil habitantes, as autoridades iniciaram conversações com o governo da Austrália com o objetivo de promover uma migração de sua população
3 – O ano de 2016 foi o mais quente do século XXI
4 – De 1880 a 1920, a temperatura média da Terra foi de 14°C; nos últimos 100 anos, a temperatura média terrestre subiu 1°C
5 – Os eventos climáticos das últimas quatro a cinco décadas são mais fortes e mais frequentes do que antes
6 – O regime de chuvas está mudando no Rio Grande do Sul, com 9% mais chuvas na primavera e 17% mais chuvas no verão
7 – A Bacia do Prata, incluído o RS, tem a maior concentração de CCM (complexos convectivos de mesoescala), sigla pela qual são conhecidos os ciclones como o que de 29 de janeiro de 2016, quando Porto Alegre sofreu um CCM (originário da Antártica) que destruiu de 4 mil a 5 mil árvores.
8 – Não faz muito tempo, foi confirmado por pesquisas que nas camadas de gelo da Antártica se acumulam registros e sinais de tudo o que aconteceu na Terra ao longo da civilização humana, particularmente a “pegada de carbono” dos últimos 200 anos, quando se iniciou a queima de grandes volumes de carvão mineral para geração de energia, ao que se seguiu o uso do petróleo. “O vento desloca para o Polo Sul um infinidade de partículas como grãos de areia do Saara e grãos de sal do Atacama”, diz Francisco Eliseu Aquino, que faz parte de uma equipe de cerca de 30 cientistas com pesquisas na Antártica. Uma delas estuda a capacidade de cicatrização de animais que vivem no gelo.
 

Os cinco anos mais quentes da história

Na véspera da reunião de líderes mundiais sobre o aquecimento global na ONU, um relatório divulgado neste domingo eleva a temperatura do debate sobre as mudanças climáticas.

Segundo o estudo, a temperatura média de 2015 a 2019 deve ser a mais alta já registrada num período de cinco anos.

O relatório é da agência da Organização das Nações Unidas que se dedica à observação do clima. A cúpula do clima vem ocorrendo desde sábado-feira e vai até segunda.

São esperados os líderes europeus Emmanuel Macron, presidente francês; Boris Johnson, primeiro-ministro inglês; e a chanceler alemã Angela Merkel. Índia e China também mandarão representantes para a cúpula.

Os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, do Brasil, não participarão não participarão.

“Atualmente, calcula-se que estamos 1,1ºC acima da era pré-industrial (1850-1900) e 0,2ºC acima de 2011-2015”, diz o relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Segundo o documento, isso representa um aumento expressivo demais para poucos anos. A elevação das temperaturas, o aumento do nível do mar e a poluição com carbono se aceleraram.

Isso quer dizer que, para cumprir as metas assumidas pela comunidade internacional, o aquecimento teria que ser contido — bem mais do que vem sendo feito atualmente.

Os cientistas afirmam que aumento do nível dos oceanos se acelera e o ritmo subiu na última década a quatro milímetros por ano, em vez de três, em consequência do derretimento acelerado das calotas polares no Norte e Sul, algo confirmado por diversos estudos e análises de satélite.

As indústrias de carvão, petróleo e gás prosseguiram com seu avanço em 2018. As emissões de gases do efeito estufa também aumentaram e em 2019 serão “no mínimo tão elevadas” quanto no ano passado, preveem os cientistas que coordenaram o relatório.

Ampliar os esforços

Em 2009, líderes mundiais assumiram o compromisso de manter o aquecimento global em apenas 2ºC, considerando os padrões pré-industriais. Em 2015, uma segunda meta, mais rígida, foi assumida: a de manter o aquecimento em apenas 1,5ºC.

Os esforços para reduzir as emissões de carbono teriam que ser triplicados para evitar que o mundo se aqueça 2ºC , de acordo com a OMM. Para que não se chegue à marca de 1,5ºC seria preciso ainda mais rigor. As iniciativas de redução de emissões teriam que ser ampliadas em cinco vezes.

“Existe um reconhecimento crescente de que os impactos do clima estão nos atingindo de maneira mais forte e mais cedo do que as avaliações climáticas indicavam apenas uma década atrás”, diz a página 28 do relatório.

Os últimos dados confirmam a tendência dos quatro anos anteriores, que já foram os mais quentes desde 1850, quando a temperatura média mundial começou a ser registrada. Julho de 2019, quando várias ondas de calor afetaram a Europa, foi o mês mais quente da história.

Na quarta-feira (25) um novo relatório deve ser divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), considerando também os impactos do aquecimento global sobre as geleiras e os oceanos.

Repercussão do relatório

O relatório, publicado dois dias depois das grandes manifestações de estudantes pelo clima em todo o planeta e na véspera do encontro de líderes mundiais em Nova York para a Assembleia Geral anual da ONU, faz um balanço da falta de ação dos Estados para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

O climatologista Michael Mann, da Universidade do Estado da Pennsylvania, afirmou à agência “Associated Press” que o objetivo de comparar as temperaturas atuais com os níveis pré-industriais já é excessivamente otimista. Segundo ele, a redução nas emissões deveria ser ainda maior, pois mesmo no séculos 18 e 19 houve aquecimento causado pela ação humana. Portanto, na sua opinião, o parâmetro usado é alto demais.

Já a climatologista da agência espacial americana (Nasa) Cynthia Rosenzweig afirmou em uma sessão na ONU que, se o mundo buscar a meta de 1,5ºC, em vez de 2ºC, 420 milhões de pessoas deixariam de ser expostas a ondas de calor.
Além disso, 10 milhões de pessoas ficariam menos vulneráveis à elevação do nível do mar.

A também climatologista Natalie Mahowald, da Universidade Cornell, espera que o novo relatório da OMM desperte a atenção para que se façam mais progressos na redução das emissões de dióxido de carbono. “Espero que a Cúpula do Clima da ONU motive mais ação”, afirmou à AP.

A concentração de CO2 na atmosfera deve alcançar um novo recorde no fim do ano, 410 partículas por milhão, de acordo com dados preliminares.

Para o professor Dave Reay, da Universidade de Edimburgo, esta é a pior notícia do informe.

“É como receber uma conta de cartão de crédito depois de cinco anos de gastos sem pagar”, escreveu. E seguindo com a metáfora bancária, ele completa: “Alcançamos o máximo mundial de nosso crédito de carbono. Se as emissões não começarem a cair, o preço será infernal”.

Cúpula do Clima

A Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) começou no sábado (21) com jovens discutindo o futuro do planeta. A reunião termina na segunda-feira (23) e terá a presença de cerca de 60 chefes de estado.

Mais de 500 jovens foram selecionados pelas Nações Unidas para participar da cúpula.

Já a climatologista da agência espacial americana (Nasa) Cynthia Rosenzweig afirmou em uma sessão na ONU que, se o mundo buscar a meta de 1,5ºC, em vez de 2ºC, 420 milhões de pessoas deixariam de ser expostas a ondas de calor. Além disso, 10 milhões de pessoas ficariam menos vulneráveis à elevação do nível do mar.

Entenda o que está em jogo com o limite de aumento da temperatura média do planeta em 1.5 º C

 
Nós ouvimos e lemos diariamente que o aquecimento global e as mudanças climáticas são o grande desafio deste século. Os noticiários, volta e meia, estampam os alertas emitidos em relatórios do grupo formado por centenas de cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que dão o suporte aos governos de pelo menos 195 países, nas negociações nas Conferências das Partes da Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima (COPs).
Inúmeras vezes, somos impactados por uma mensagem, que vem sendo repetida, desde o Acordo de Paris, na COP 21, em 2015. – “Os países se comprometeram a fazer esforços para limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até o final do século, por meio da diminuição das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs)”. Afinal, o que estará, então, em jogo, na COP 25, em dezembro, no Chile?
Compromissos brasileiros no Acordo de Paris
Abrindo parênteses, não podemos esquecer qual é o papel do Brasil neste cenário geopolítico ambiental, não é? O governo brasileiro ratificou o Acordo de Paris, por aqui, em setembro de 2016, após a aprovação pelo Congresso. E a promulgação foi estabelecida com o Decreto nº 9073, de 2017.
Com o que nos comprometemos mesmo?
A reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. (Fonte: Ministério do Meio Ambiente – MMA)
“O Brasil tem de cumprir seus compromissos, será cobrado pelas metas e pela situação atual de desmatamento. Na área de matriz elétrica e energética, a combinação com energia solar e eólica tem sido um bom caminho no país, que tem de ser ampliado”, analisa o Doutor em Meteorologia, especialista em Modelagem Climática José Marengo, que foi um dos revisores do relatório especial do IPCC sobre o Aquecimento Global de 1,5 °C, divulgado no final do ano passado.
“Com a estação seca agora, um dos problemas no país ocorreu com a diminuição da fiscalização em um período que historicamente tem aumento de incêndios e queimadas. Devemos lembrar que é uma situação urgente não só aqui, mas na Pan-Amazônia, que atinge a Bolívia e no norte do Paraguai. Os aerossóis originados com o fogo não têm fronteiras, que afetam o ciclo hidrológico. É um processo que tem de ser controlado”, analisa.
Segundo Marengo, é importante frisar que é necessário haver a redução do desmatamento em todo o mundo, nesta contabilidade de GEEs. Dados da Global Forest Watch apontam que de 2001 a 2018, houve um total de 361 Mha de perda de cobertura arbórea globalmente, o equivalente a uma redução de 9.0% desde 2000 e 98.7Gt de emissões de CO₂.
E que tal compreendermos o que são, de fato, os GEEs?
Primeiramente é necessário compreender que o efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para a preservação da vida na Terra, porque tem o papel de manter o planeta aquecido e habitável ao permitir que parte da radiação solar refletida de volta para o espaço seja absorvida pela Terra.
O que acontece, desde o início do período industrial até hoje, é que os GEEs estão sendo produzidos de forma cada vez mais descontrolada, tanto pela emissão provocada por combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás natural e derivados) para transporte e produção de energia, e decorrentes do desmatamento e do mau uso da terra (iniciativas extensivas agropecuárias, de mineração) e, inclusive, da destinação que damos aos nossos resíduos. Com isso, acarretam as mudanças climáticas e o aquecimento global. E quais são os principais gases em questão? Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso (N20) e Hidrofluorcarbonetos (HFCs), entre outros.
O caminho para a revolução climática está calcado justamente na mudança dos padrões das matrizes energéticas. Segundo o secretário-geral da ONU António Guterres, em todo o mundo, mais da metade da nova geração de energia vem de fontes renováveis, sendo que este percentual é de 90% na Europa. Este esforço vem ao encontro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos pelos países, no âmbito da ONU, para serem cumpridos até 2030.
Os 17 propósitos principais dos ODS tratam de temas importantes, como erradicação da pobreza, energia limpa e acessível, cidades e comunidades sustentáveis e ação contra a mudança global do clima.
Quem mais emite GEEs?
– China;
– EUA;
– União Europeia;
– Índia;
Atualmente, o Brasil figura em 7º lugar.
Qual é a quantidade de GEEs atualmente no planeta?
A concentração na atmosfera do planeta estava na casa de 300 partes por milhão (ppm), no início do século XX. Já em maio deste ano estava em 415 ppm, segundo a NASA. O limite seguro à saúde, de acordo com os cientistas, é de no máximo 350 ppm. Bem, é só fazer as contas. A situação está complicada já em 2019, não é?
Ação antrópica está no centro do desafio
Cientistas brasileiros do IPCC destacam que os principais desafios que estão colocados à mesa e alternativas para revertê-los giram em torno justamente da ação antrópica, ou seja, de nós, seres humanos. Não estamos falando do outro, mas de nós mesmos e da figura institucional dos governos, dos poderes legislativos e judiciários, das empresas, das organizações não governamentais municipais e federais. O que está em xeque é o modelo de desenvolvimento que queremos e como afetará as atuais e futuras gerações.
“A atividade humana já provocou um Aquecimento Global, entre 0,82 a 1,05 graus C. No Ártico, por exemplo, em algumas estações do ano, atinge 3,5 vezes mais que 1,5 graus C”, alerta a vice-presidente do IPCC, a cientista Thelma Krug, Segundo ela, nem um centésimo de aumento pode ser desprezado. “Cada pedacinho tem um efeito. Quanto mais forem retardadas ações de mitigação (redução de danos), teremos mais dificuldades de atingir as metas do Acordo de Paris”, diz. Atualmente o que se observa é o aumento de 0,2º por década. Neste ritmo, atingir a temperatura média de 1,5º C pode ocorrer antes da metade do século.
“De 20 a 40% da população global já vivem em regiões que na última década experienciou um aquecimento de mais de 1,5º C acima do nível pré-industrial”, diz a Doutora em Ecologia Humana Patrícia do Pinho, uma das cientistas brasileiras que integrou a equipe que elaborou o relatório 1.5º C do IPCC. Ela analisa que grupos humanos que menos contribuíram para o aumento dos GEEs sofrem as maiores consequências. Assim é possível identificar que entre as regiões mais vulneráveis estão os continentes africano e sul-americano.
O contexto urbano tem cada vez mais um papel relevante nesta análise, porque a projeção é de que até 2040, 90% da população mundial estará vivendo nas cidades. Isso implica também necessidade de mudanças no estilo de vida na sociedade, que parte desde a dieta alimentar ao uso sustentável de energia, além das ações de governança.
Mitigação e adaptação são as palavras da vez
Pois é, o que vimos agora, é que o que está em questão a todo momento gira em torno de duas palavras: mitigação e adaptação, no caso daquilo que não podemos frear, como comprometimentos de eventos climáticos extremos. Estamos falando de aumento do número de ocorrências de ciclones, tornados, furacões, secas, processos de desertificação, enchentes, deslizamentos em decorrência destes eventos.
“A mitigação é um enfoque que deve ser buscado ao máximo, independentemente de podermos ou não nos adaptar aos impactos considerados irreversíveis. A adaptação, por outro lado, não se limita somente às medidas para lidar com eventos climáticos extremos: está relacionada com os impactos irreversíveis e ou não evitáveis, independentemente de serem eventos extremos (tópicos/ agudos) ou problemas ‘crônicos’ “, avalia Rubens Born, diretor interino da 350.org Brasil e América Latina.
As combinações de todos estes fatores levam a projeções maiores, que são a grande preocupação mundial na atualidade, num limiar de aumento populacional na casa de 10 bilhões de pessoas até a metade deste século: segurança alimentar, acesso à água potável, poluição do ar, degradação da terra e dos oceanos e extinção de espécies, entre outras. A lista é longa e tem a ver com toda nossa dinâmica de vida.
Refugiados climáticos
Os problemas já podem ser identificados na atualidade, e tem rostos e histórias de vida. “Podemos exemplificar o caso da Síria. Parte da crise política começou com uma seca, causando fome e falta de alimentos. O que detectamos no Brasil é principalmente no Nordeste. A seca atingindo pequenos agricultores no sertão, no semiárido. Não conseguem sobreviver lá e migram para grandes cidades. Mas as capitais já têm problemas sociais suficientes e estas questões são ampliadas nestas áreas mais carentes”, diz Marengo. Já em São Paulo e no Rio de Janeiro, ele alerta que extremos de chuva têm aumentado.
“As pessoas são deslocadas forçadas pelas mudanças climáticas. Em regiões como a Amazônia, a resposta adaptativa é muito baixa”, explica Patrícia. E alerta que as megacidades já correm o risco de exposição de pessoas a calor letal, um contingente de mais de 350 milhões de cidadãos.
Sobre a 350.org Brasil e a causa climática e indígena
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima.

Julho de 2019 foi o mês mais quente da história

O mês de julho foi o mais quente no planeta nos últimos 140 anos, informou ontem a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA na sigla em inglês). Os dados da agência americana confirmam conclusões divulgadas no início do mês pelo serviço europeu Copernicus sobre mudança climática, que também havia apontado julho deste ano como o mês mais quente já registrado.
Segundo os cientistas da instituição americana, durante o mês de julho a média global das temperaturas foi 0,95°C superior à média de todo o século 20, que foi 15,77°C, o que torna julho de 2019 o mês mais quente nos registros da agência, que começaram em 1880. No relatório, a NOAA lembrou que nove dos dez meses de julho mais quentes da história foram registrados desde 2005, sendo os dos últimos cinco anos os que tiveram as maiores temperaturas. O calor sem precedentes em julho reduziu o gelo nos Oceanos Ártico e Antártico a mínimos históricos. O gelo do Oceano Ártico atingiu uma baixa recorde em julho, ficando 19,8% abaixo da média – superando a baixa histórica anterior, de julho de 2012. O gelo marinho médio da Antártica, por sua vez, ficou 4,3% abaixo da média de 1981-2010, atingindo seu menor tamanho para julho nos registros de 41 anos.
A NOAA afirmou que 2019 foi o ano com maiores temperaturas até o momento em partes da América do Sul e do Norte, Ásia, Austrália e Nova Zelândia, assim como na metade meridional da África e em porções do oeste do Oceano Pacífico, do oeste do Oceano Índico e no Oceano Atlântico. O Alasca teve seu mês de julho mais quente desde que começou a fazer registros, em 2005. Recordes de temperatura também foram quebrados em diversos países europeus, como a Alemanha, Bélgica ou Holanda. Em Paris, por exemplo, os termômetros marcaram 42,6°C, a temperatura mais alta já registrada na capital francesa, ultrapassando o recorde anterior de 40,4°C alcançado em 1947.
Nesse sentido, o relatório americano ressaltou que entre janeiro e julho deste ano, a temperatura global esteve 0,95 graus acima da média do século passado, que foi de 13,83 graus centígrados, empatando com 2017 como o segundo ano mais quente até o momento (2016 é considerado até hoje o ano mais quente). As conclusões confirmaram os dados divulgados pelo Serviço de Mudança Climática Copernicus, da União Europeia, em 5 de agosto, embora a margem do novo recorde em comparação com o último, em julho de 2016, tenha sido maior de acordo com os dados dos Estados Unidos.
O novo recorde é ainda mais notável porque o anterior seguiu um forte El Niño, que aumenta a temperatura média do planeta independentemente do impacto do aquecimento global.