Cleber Dioni
Empresários e representantes de federações e associações de transportadores dos três estados da Região Sul participaram ontem na Assembléia Legislativa do Estado de um seminário promovido pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) para debater projetos e investimentos de infra-estrutura nas diversas modalidades que compõe a malha de transporte brasileira, levando em conta as potencialidades e características locais.
É o quarto de cinco seminários regionais que a CNT está realizando desde o ano passado a fim de formatar um Plano CNT de Logística 2008 para ser apresentado ainda este ano ao Governo Federal. Eventos similares já foram realizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O Plano inclui projetos que abrangem intervenções de adequação, construção e recuperação de infra-estrutura das modalidades hidroviária, ferroviária, rodoviária e aeroportuária inclusive terminais intermodais e portos marítimos. Para a Região Sul, foram propostos 108 projetos cujo total de investimentos mínimos necessários para implementação de cada modal gira chega a R$ 35,17 bilhões.
Na abertura do evento, o vice-presidente da CNT, Newton Gibson, detalhou o setor dos transportes em números para destacar sua importância no desenvolvimento do país e criticou o baixo volume de recursos aplicados pela União. “O setor abriga 70 mil transportadoras, 700 mil transportadores autônomos, gera 2,5 milhões de empregos, nós somos 31 federações, 16 associações nacionais e centenas de sindicatos, então não podemos continuar implorando por investimentos governamentais”, afirmou.
Segundo Gibson, o setor precisa investir R$ 223 bilhões para melhorar sua capacidade logística. “É preciso uma política nacional, por isso, queremos dar a nossa contribuição na busca de uma infra-estrutura ideal através do Plano CNT, que não é um documento que nasceu em gabinetes, mas feito por quem entende do ramo, por quem efetivamente usa a estrutura. O Plano será um marco inicial dos debates”, frisou.
Ainda sobre o panorama nacional, o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista Martins, explicou que o Brasil utiliza entre 60% e 62% para o transporte de cargas através do modal rodoviário, 20% pelas ferrovias e entre 20% e 21% pelo sistema aquaviário, o que, segundo o executivo, representa um sistema similar a países pequenos da Europa, como a Hungria. “Embora seja muito utlizado o modal rodoviário é muito precário, cerca de 42% das estradas são consideradas ruins e apenas 10% são boas”.
Em uma série de slides, Martins mostrou estradas em péssimas condições de trafegabilidade, pontes com erosão, buracos e desníveis, e diversas ferrovias onde a ocupação urbana disputa perigosamente o espaço com os trens.
Quanto aos investimentos, o diretor-executivo da Confederação ressaltou que de 2002 a 20007, o Governo coletou através da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico ), tributo incidente sobre os combustíveis, R$ 45,8 bilhões, sendo que foram utilizados em melhorias nas diversas modalidades de transportes apenas 31% do que foi arrecadado, cerca de R$ 14,1 bilhões. “Além da aplicação de menos da metade dos recursos da CIDE, o Governo vem reduzindo a cada ano a arrecadação desse tributo, então não temos outra alternativa senão apresentar esse documento com os projetos sob a ótica dos transportadores. Porque o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é uma visão do Governo. Existe uma diferença muito grande entre o que é realmente necessário fazer e o que o Governo entende que seja preciso”, afirmou Martins.
Região Sul
Os 108 projetos para a Região Sul, de construção e adequação de acordo com a infra-estrutura, foi distribuído em rodovias (45 projetos), ferrovia (14 projetos), hidrovia (13 projetos), aeroportos (6 projetos), terminais intermodais (17 projetos) e portos (13 projetos).
Para citar o principal modal de transportes da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), a malha rodoviária é formada por 32,6 mil quilômetros de rodovias pavimentadas, destacando as BRs 101 e 116, que atravessa os três estados; a BR-277 que faz a ligação da fronteira com o Paraguai até o litoral do Paraná; a BR-282, que liga a região de Santa Catarina próxima à fronteira com a Argentina; e a BR-290, que corta o RS, de Porto Alegre a Uruguaiana.
Especificamente para o Rio Grande do Sul, o Plano CNT de Logística sugere intervenções em todas as modalidades de transporte, assim como a construção de quatro terminais intermodais localizados nos municípios de Jaguarão, Porto Xavier, Triunfo e Caxias do Sul. O investimento mínimo estimado é de R$ 14,55 bilhões.
Para as rodovias, estão sendo propostas construção de cerca de 428 km, 1.287 km de duplicação, 1.568 km de implantação de faixa adicional, 395 km de pavimentação e 432 km de recuperação do pavimento.
Propõe ainda a ampliação do terminal de cargas e melhoria da pista do aeroporto Salgado Filho, para permitir a decolagem de vôos internacionais de carga; a ampliação da malha metroviária na Grande Porto Alegre e implantação de faixas adicionais na BR-290; a melhoria das hidrovias dos rios Jacuí e Taquari; a otimização das condições de navegabilidade na hidrovia composta pela Lagoa dos Patos e pela Lagoa Mirim e a dragagem e ampliação da área portuária dos portos de Porto Alegre e Rio Grande. Sugere também, em Uruguaiana, a construção entroncamento rodoviário, ferroviário e hidroviário com o Mercosul.
Segundo o presidente da Federação das Empresas de Transportes Urbanos do Rio Grande do Sul, Victorino Saccol, é preciso aumentar a parceria do Governo Federal para solucionar os gargalos regionais. “Dinheiro existe, é só o governo aplicar os recursos existentes”., afirma.