Governo do Estado recebe propostas para linha de barcos no Guaiba

Por Geraldo Hasse
O enguiço por quatro horas da ponte Getúlio Vargas, às vésperas das eleições de 3 de outubro, esquentou a campanha pela construção de uma nova ponte sobre o rio Jacuí e colocou na ordem do dia a volta do serviço de barca ligando Porto Alegre ao outro lado do lago Guaíba.
Houve tantas coincidências em torno do mesmo tema que pareceu armação eleitoral.
No Armazém 3B do cais do porto, dia 30 de setembro, armou-se um palco para formalizar o lançamento do edital de licitação do serviço de transporte hidroviário de passageiros entre a capital e Guaíba.
O prazo para a entrega de propostas expira no dia 30 de outubro. O governo do estado exige que o serviço seja feito em barcos catamarã (casco duplo) com capacidade para transportar 120 pessoas sentadas.
Levando em conta contatos feitos há pouco mais de um ano, quando a governadora Yeda Crusius foi levada a passear de catamarã no Guaíba, a licitação do serviço tem a proa apontada para a Ouro e Prata, empresa gaúcha que explora eficientemente o transporte rodoviário há mais de 50 anos e tem interesse no modal hidroviário, uma opção óbvia na região metropolitana gaúcha, cercada de água por quase todos os lados.
O diretor-presidente da Ouro e Prata, Hugo Fleck, disse à imprensa que está disposto a criar uma empresa exclusiva para fazer a travessia do Guaíba.
Para ganhar a concorrência por 30 anos, o operador precisa investir um mínimo de R$ 2 milhões por barco, mantendo-se duas unidades em operação e uma de reserva.
Na capital, o embarque e desembarque de passageiros serão feitos num trapiche flutuante no Armazém 3B, onde haverá um estacionamento para os veículos dos usuários do serviço.
A travessia do Guaíba por barcas (para veículos e passageiros) foi interrompida em 1960, depois da inauguração do sistema de pontes sobre os rios formadores do lago da capital.
Foi retomada temporariamente em 1980 e ensaiada novamente em 2006, quando não apareceram candidatos ao serviço ofertado em edital.
Segundo estimativa dos responsáveis, haveria pelo menos 4 mil pessoas dispostas a fazer diariamente a travessia no tempo de 25 minutos. Se 60% desse potencial optar pelas barcas, teríamos 20 viagens diárias ida e outras tantas de volta.
O número de passageiros será provavelmente maior, dado o crescimento econômico das cidades situadas do outro lado do lago.
Segundo o mesmo levantamento oficial , os ônibus entre Guaíba e Porto Alegre transportam diariamente 24 mil pessoas, com tarifa de 4 a 5 reais.
Não se sabe o movimento de outras cidades como Eldorado do Sul, mas todos esses passageiros e veículos correm riscos crescentes de congestionamentos na BR-116 e no acesso ao centro da capital, especialmente quando o tráfego se interrompe para dar passagem a algum barco sob o vão móvel da Ponte Getúlio Vargas, inaugurada no finalzinho de 1958.
Segundo a campanha pela nova ponte, o vão móvel é uma antiguidade prestes a enguiçar para sempre. Há quase dez anos cresce no eixo Porto Alegre-Eldorado do Sul uma associação de vítimas do vão móvel.
É nesta última cidade que se concentra o maior clamor contra o “descalabro”.
Na realidade, o problema cresceu com a expansão do transporte rodoviário de cargas e de passageiros.
Cinquenta anos atrás, os motoristas da reduzida frota então existente toleravam a paralisação de meia hora ou pouco mais, para a passagem de um barco, pelo menos uma vez por dia.
Agora, formam-se rapidamente filas de quilômetros cujos exaltados membros reclamam o fechamento da hidrovia acima da ponte, o que contraria os direitos da navegação.
O crescimento do transporte em geral estabeleceu um impasse no maior símbolo da modernidade de Porto Alegre, a ponte.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *