Grupo estuda viabilidade econômica de alternativa para Cais Mauá

Naira Hofmeister*
Empenhado em estimular um debate público sobre o destino do Cais Mauá, no Centro Histórico de Poro Alegre, um grupo de moradores da cidade prepara um estudo de viabilidade econômica para um projeto alternativo ao apresentado por um consórcio – que pretende transformar o local em um complexo com shopping center, hotéis, centro de eventos e torres de escritório.
O empreendedor também deverá restaurar o patrimônio histórico e abrir a área para o público.
“Todos queremos a revitalização da área, apenas achamos que a solução apresentada não é a única possibilidade”, justifica a jornalista Katia Suman, uma das integrantes do coletivo Cais Mauá de Todos, que promove um debate sobre o tema.
No último sábado (18), o grupo reuniu 500 pessoas na avenida Sepúlveda, diante do pórtico central do antigo porto da Capital, para apresentar um projeto considerado o modelo ideal para o local.
O estudo é uma criação da arquiteta Helena Cavalheiro, que o apresentou como trabalho final da graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2008.
“O pressuposto é como imaginamos uma ocupação ideal para o cais”, explica a arquiteta, que atualmente vive e trabalha em São Paulo.
O projeto de Helena tem como base três ações principais: eliminar as barreiras entre o Guaíba e a cidade, restaurar o patrimônio histórico e repensar a mobilidade urbana e a acessibilidade do local.
Patrimônio estaria protegido
A arquiteta prevê a derrubada do atual muro da Mauá, construído como proteção contra cheias após a enchente de 1941. Sua sugestão é que seja substituído por uma estrutura móvel, manipulada mecanicamente para ter bastante durabilidade, que permaneceria “deitada” junto ao chão, sendo erguida apenas em caso de necessidade.
Além de reintegrar a paisagem do cais completamente ao Centro Histórico da Capital, a arquiteta lembra que da forma como está hoje, o muro não protege o patrimônio histórico, que alagaria em caso de cheias. “Isso inviabiliza a instalação de qualquer atividade ou instituição permanente nos armazéns, como bibliotecas ou museus”, argumenta, sublinhando que o seu modelo priorizaria este tipo de ocupação para a área.
Por último, a  Avenida Mauá daria lugar a uma grande área de convivência com prioridade para pedestres e vias de trânsito de baixa velocidade apenas para acesso local de automóveis. A via rápida ficaria em um túnel, sob o passeio. “Talvez hoje eu fosse até mais radical e previsse a eliminação completa da circulação de carros”, sugere, referindo-se ao fato de o projeto datar de sete anos atrás.
Helena vê ainda necessidade de desativar a estação Mercado Público do Trensurb, cuja linha encerraria na Rodoviária. Para suprir a demanda dos passageiros, a arquiteta sugere instalar uma linha de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que circularia até a Usina do Gasômetro.
A arquiteta salienta que suas sugestões não são definitivas e que o projeto está aberto à discussão. “É apenas um manifesto que busca mexer com o nosso imaginário”, explica.
Iniciativa privada poderia participar
Além de propor um uso diferente daquele idealizado pelo consórcio Cais Mauá do Brasil, a intenção do coletivo Cais Mauá de Todos é estimular um debate sobre a alternativa encontrada pela Prefeitura de Porto Alegre para recuperar o espaço – a exploração comercial da área pela iniciativa privada.
“O projeto parte de um plano de negócios. É especulação imobiliária com o patrimônio histórico e sentimental da cidade”, critica o sociólogo e líder comunitário, João Volino Correa, outro dos ativistas mais participativos.
O grupo rechaça a afirmação recorrente de que não há recursos públicos para restaurar a área e entregá-la novamente à população. “Para alargar avenidas ou construir viadutos nunca falta dinheiro. E são obras caras”, compara Kátia Sumam.
De qualquer maneira, os ativistas não se opõem à participação da iniciativa privada. “O que não pode é a empresa ter um poder de decisão sem debate ou consulta à população”, pondera a arquiteta Helena Cavalheiro.
Katia recorre ao seu projeto de conclusão de curso da arquiteta para sugerir também alternativas financeiras para viabilizar o restauro da área. Helena pensou, por exemplo, em ocupar alguns armazéns com uma escola de gastronomia vinculada ao chamado Sistema S, que inclui os serviços sociais e de aprendizagem de instituições vinculadas a setores industriais ou do comércio, como é o caso de Sesi ou Senac.
“Em São Paulo, há muitas unidades culturais do Sesc que são lugares maravilhosos”, observa a jornalista.
“Talvez o nosso grande desafio seja pensar um modelo que ainda não existe de parceria público-privada para gerir o Cais”, complementa Helena.
Para aprofundar o debate, o grupo se propôs a fazer agora um estudo de viabilidade financeira do projeto de Helena. “Contamos com a ajuda do Sindicato dos Engenheiros, que se somou ao grupo e fará cargo desta tarefa”, conclui a jornalista.
* Colaborou Camila Benvegnú
 

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